sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Redução da carga após o fim da CPMF não foi repassada aos preços

O Estado de São Paulo
22/02/2008


Estudo do professor Marcos Cintra (FGV) conclui que, em vez de ficarem mais baratos, alguns produtos até subiram

Lu Aiko Otta

A CPMF acabou, mas o consumidor não viu nenhum benefício nos preços. Pelo contrário: em vez de ficarem mais baratos, como era de se esperar com a redução da carga tributária, alguns produtos até encareceram, segundo levantamento realizado pelo professor Marcos Cintra, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ele mostra que no preço final de um automóvel, por exemplo, 1,69% correspondia à CPMF, cobrada várias vezes durante a produção do bem. Portanto, o fim do tributo, em 1º de janeiro, deveria provocar uma queda da mesma magnitude nos preços. O que se viu, porém, foi uma alta de 0,26%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na pesquisa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro.

Para a indústria farmacêutica, a CPMF pesava 1,49%, mas em janeiro a alta dos preços foi de 0,15%. Nos eletroeletrônicos, o tributo pesava 1,74%, mas os produtos subiram 0,11%. Nos serviços pessoais, a CPMF representava 1,31% dos preços e a alta de janeiro chegou a 0,64%. Nos transportes, o tributo pesava 1,33% e seu fim não impediu uma alta de 0,4%. No café, o peso da CPMF é o mais alto: 2,25%. Em janeiro, o preço do café moído subiu 0,16%.

“Em janeiro, a CPMF deixou de ser cobrada, mas a tendência de alta da inflação foi confirmada”, disse Cintra. “Concluo que ela ficou na margem empresarial.” O professor reconhece que outros fatores podem ter influenciado, mas algum reflexo nos preços deveria ter aparecido. Mas chama a atenção a tendência geral da economia.Segundo ele, na média dos preços, a CPMF pesava 1,61%. Ou seja, houve um choque deflacionário desse valor. Não é um corte pequeno, considerando que a inflação anual é de cerca de 4%.

As empresas não repassaram ao consumidor a queda da CPMF porque a concorrência no País é baixa, avalia Cintra. “Se este fosse um mercado competitivo, o preço deveria cair.” Não foi o que se viu. A inflação, que já vinha numa tendência de alta, continuou com o mesmo comportamento em janeiro, quando o IPCA subiu 0,54%.

Cintra, conhecido por sua militância em prol de um imposto único, não esconde a sua simpatia pela CPMF. Ele acha que a carga tributária é elevada, mas preferia a eliminação de outros tributos em vez da CPMF. “Acho que jogaram o bebê fora junto com a água da banheira.”

LUTA DE CLASSES

“Sabíamos que a derrota da CPMF não iria trazer melhoria para a maioria da população e sim retirar recursos de programas como o SUS (Sistema Único de Saúde) e aposentadoria rural”, disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que usou dados de Cintra para fazer um discurso na segunda-feira.

“O fim da CPMF serviu para concentrar mais renda, pois engordou a margem de lucro das empresas.” Em entrevista ao Estado, ela atacou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. “O Skaf disse que o fim da CPMF não tirou dinheiro dos pobres. Tirou sim, e os ricos embolsaram.”

Classificando Ideli de “viúva da CPMF”, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), que deu parecer contrário no projeto de lei que prorrogaria o tributo, afirmou que o fim da CPMF beneficiou principalmente os mais pobres.

Segundo ela, 60% da arrecadação saía do consumo e a população de menor renda é a que mais paga tributos indiretos em proporção à renda. “Pode não ter tido impacto no preço dos produtos, mas certamente apareceu no bolso das classes C, D e E.”

O alívio tributário proporcionado pelo fim da CPMF, disse Kátia Abreu, está sendo convertido em mais investimentos das empresas. “Nós vamos ver reflexo no crescimento do Produto Interno Bruto, na geração de empregos.”

Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, o setor não reajustou seus preços em janeiro. Os preços estão parados há seis meses e não há negociações com os supermercados para elevá-los. A alta de preços captada pelo IPCA, acredita ele, pode ser explicada pelo fim de promoções no varejo.

Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, atribui à demanda aquecida o fato de os preços ao consumidor não terem caído após o fim da CPMF.

Colhendo o 'fruto' direto na planta

Jornal da Tarde
22/02/2008


Comprar imóvel antes da construção pode ser uma economia de até 40% em relação a usado equivalente

RODRIGO GALLO,
rodrigo.gallo@grupoestado.com.br

Comprar um imóvel na planta pode ser uma alternativa mais vantajosa para quem não tem uma reserva de entrada, pois, afinal, as parcelas costumam ser mais baixas e não há cobrança da taxa de juros durante a fase de obras do empreendimento. Porém, o consumidor não deve se empolgar demais: antes de assinar o contrato é preciso tomar uma série de cuidados, pois há casos de atrasos nos prazos e até mesmo descumprimento de cláusulas contratuais.

O aumento no número de lançamentos na planta pode ser visto com facilidade nos grandes centros urbanos. Basta andar pelas grandes avenidas, sobretudo aos domingos, quando encontra-se inúmeras faixas pelas ruas e funcionários distribuindo folhetos nas esquinas e cruzamentos.

Tanto esforço por parte das empresas realmente consegue atrair compradores, pois as propostas são interessantes: muitas vezes, o preço dos apartamentos chegam a ser até 40% mais barato se comparado com imóveis usados na mesma região. Além disso, há diversas outras facilidades, como a praticidade para fechar o negócio e a aprovação do financiamento bancário.

Algumas construtoras, em parceria com os bancos, financiam as unidades em até 25 anos com juros mais reduzidos e, se o comprador tiver interesse, consegue fechar o negócio em poucos dias.

Contudo, há alguns riscos que devem ser analisados pelos consumidores. O problema é que, ao adquirir um bem usado, é possível se mudar para o local em pouco tempo. Quando a pessoa compra um apartamento ainda em construção, é preciso esperar pelo término da obra - este é uma das questões a ser analisada com cuidado.

O que mais assusta os consumidores é a não entrega da unidade. Na década de 1990, por exemplo, a Encol S.A. foi à falência e deixou cerca de 720 obras inacabadas no País - até hoje há brigas na Justiça entre a massa falida e os prejudicados.

Depois da falência da Encol, criaram-se dispositivos legais, como a Sociedade de Propósito Específico (SPE), que envolve uma empresa separada para cada empreendimento imobiliário, e o patrimônio de afetação, que determina a criação de uma comissão para acompanhar as obras. Essa medida impede que os recursos financeiros sejam utilizados para outras atividades da construtora.

Cuidados

A principal dica da Associação Brasileiras de Empresas de Tecnologia da Construção Civil (Abratec) é para o consumidor certificar-se de que o imóvel realmente será feito com materiais de qualidade.

O primeiro passo é consultar a construtora em questão para saber se a obra do imóvel que será comprado na planta tem controle tecnológico. Esse tipo de serviço é feito por empresas de consultoria no setor da construção, que têm um selo do Inmetro e fazem avaliações quanto à qualidade da sondagem do solo. Isso pode mostrar, por exemplo, o tipo de fundação adequada para o terreno.

O advogado Renato José Mirisola Rodrigues, sócio do escritório Bicalho e Mollica Advogados, explica que as pessoas devem buscar referências sobre a construtora e incorporadora envolvidas no projeto, para conhecer a saúde financeira das empresas e descobrir se elas costumam cumprir os prazos. “Os consumidores devem analisar o ‘Memorial de Incorporação’, disponível nos estandes de venda. Constam nesse documento o registro do imóvel, as certidões da empresa e o alvará.”

Além disso, o advogado explica que todo o material publicitário referente ao empreendimento deve ser guardado. Caso haja problemas, esses papéis podem servir como prova de que realmente houve um descumprimento das cláusulas de contrato.

Fundos em promoção

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
22/02/2008



Está cansado de ver o seu fundo de renda fixa render cada vez menos? O juro caiu, mas seu investimento segue cobrando taxa de administração de 4% ao ano? Pode ser o momento de experimentar olhar para fora do seu banco para encontrar aplicação melhor. Seus problemas podem não acabar de uma hora para outra, mas, com um pouco de vontade e paciência, é possível encontrar fundos DI e de renda fixa com taxas até abaixo de 1% ao ano. Como esses fundos têm poucas diferenças de gestão, a principal distinção na rentabilidade entre eles se dá pela cobrança da taxa de administração. Portanto, quanto mais baixo o custo, maior tende a ser o retorno.


Alguns bancos com menor atuação no varejo, corretoras ou gestores independentes começam a oferecer carteiras de renda fixa a custos altamente competitivos. Em geral, nos grandes bancos, o aplicador de menor porte tem acesso apenas a carteiras com taxas de 4% ou 5% ao ano. Se o volume for maior, acima de R$ 50 mil, é possível conseguir aplicações a custo de 2% e 3% ao ano. Mas até nos private banks é raro o investidor ter fundo a taxa de 1% ao ano.


A um telefonema, porém, qualquer pessoa pode conseguir fundos mais em conta, diz Mariano Mesquita Cirello, superintendente de investimentos da Mapfre DTVM. Ele garante que o aplicador que entrar em contato diretamente com a área comercial da empresa poderá aplicar a partir de R$ 200 nos fundos renda fixa e DI com taxas de 0,75% ao ano. Outra gestora independente, a Geração Futuro, passou a colocar à disposição de qualquer aplicador com R$ 100 um fundo DI com taxa de 0,6%.


O fundo para pessoa física com taxa mais baixa encontrado pela reportagem do Valor é o Daycoval Renda Fixa, que cobra 0,25% ao ano. No entanto, ele só aceita valores ligeiramente mais altos - apesar de recentemente, a aplicação mínima ter sido reduzida, de R$ 50 mil para R$ 5 mil. "Com a queda do juro, não adianta querer cobrar uma taxa alta porque a carteira vai ter de assumir mais risco (para compensar o custo e ter um bom rendimento) e esse não é o objetivo do fundo", diz Roberto Kropp, diretor da Daycoval Asset Management. Em 2007, muitos fundos de varejo tiveram retorno líquido abaixo do da caderneta.


Na renda fixa, as dificuldades de gestão são menores e a taxa pequena (de 0,6% ao ano) é justa, diz Wagner Faccini Salaverry, sócio da Geração, especializada na gestão de renda variável. Segundo ele, a taxa módica banca toda a distribuição do fundo e a gestão, feita pela Votorantim Asset Management (VAM).


Acontece que, em geral, essas instituições com fundos de taxa baixa não fazem alarde sobre a oferta. As corretoras costumam ter essas carteiras para que o aplicador de renda variável deixe por lá mesmo o dinheiro do giro das ações. Mas nada impede que se aplique por mais tempo nesses fundos. As gestoras independentes têm menos recursos para investir em marketing - um dos motivos são as próprias baixas taxas cobradas, que não bancariam esforço maior de divulgação.


Para entender o impacto da taxa no lucro, considere dois fundos que rendam exatamente a Selic atual, 11,25% ao ano: um com taxa de 0,5% ao ano e outro de 4%. Em 12 meses, a carteira com taxa de administração de 0,5% renderá 10,69% no período ou 95% da Selic. A outra, com taxa de 4%, apresentará valorização de apenas 6,80% ou 60% da taxa Selic corrente. Quanto maior a taxa, portanto, mais alta é a parte do ganho do fundo que fica com a instituição gestora.


Esse impacto da taxa de administração no ganho ficou mais evidente à medida que o jurou recuou com força nos últimos anos. Apenas para lembrar, quando o juro médio era de 18% ao ano, a taxa de 4,5% dos fundos DI levava-os a render algo como 71% do juro corrente. Agora, com a Selic atual, essa taxa de 4,5% compromete quase a metade do retorno do investimento.


O argumento recorrente dos bancos para justificar taxas mais elevadas é o custo da distribuição dos fundos. Salaverry, da Geração Futuro, afirma, porém, que a cobrança de 0,6% ao ano compensa os custos da empresa. Ele explica, ainda, que a aproximação da gestora é maior do cliente que já investe ou poderá vir a investir em ações no futuro, o que realmente dá mais retorno a eles. "Mas aceitamos quem queira só aplicar na renda fixa", afirma. O fundo renda fixa da Geração tem patrimônio de R$ 165 milhões.


Cirello, da Mapfre, comenta que os fundos mais baratos da gestora foram criados justamente para ser um diferencial da instituição perante os bancos de varejo e atrair novos clientes.


O aplicador em busca de fundos de instituições menos tradicionais deve, porém, avaliar bem a nova carteira. Embora o risco dos fundos não tenha ligação direta com a saúde financeira da instituição - os títulos que estão no fundo são do cotista, não do banco -, os gestores podem aplicar os recursos em ativos de renda fixa de maior risco ou tentar usar a carteira para comprar papéis do banco. O exemplo mais dramático nos últimos anos foi o da Santos Asset Management, cujos fundos aplicaram maciçamente em papéis de crédito emitidos por credores do Banco Santos. Os papéis não foram pagos e as perdas ficaram com os cotistas. Com algum atraso, fica disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (www.cvm.gov.br) a composição de todos os fundos do país. Lá é possível ver onde eles aplicam e ter uma idéia do risco.


Segundo Kropp, o fundo da Daycoval investe até 30% em papéis privados, como CDBs, ou em fundos de direto creditório (FIDC). "Mas não colocamos uma parcela muito grande em FIDCs para não comprometer a liquidez do fundo", diz. O executivo deixa claro também que não há CDBs do Daycoval no fundo. Para investir, é preciso abrir conta no banco, fazer o cadastro e assinar o termo de adesão. Já o fundo da Geração aplica mais em papéis do governo federal.


Muitos cotistas ainda preferem aplicar em fundos ligados a grandes bancos de varejo pela tradição e pelo tamanho do gestor, apesar de haver alternativas mais baratas disponíveis. Outros argumentos para o aplicador ficar no banco de varejo seriam a comodidade e a possibilidade de consolidação de todo o patrimônio financeiro em um só lugar. Mas o investidor deve ponderar se o valor pago a mais como taxa de administração compensa esse conforto. (Colaborou Luciana Monteiro)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Ovos de Páscoa: quanta diferença!

Jornal da Tarde
21/02/2008


Fomos a cinco grandes redes conferir os preços de dez tipos populares para concluir que é preciso fazer muita pesquisa. A maior disparidade encontrada é de 46%

CHARLISE MORAIS,
charlise.morais@grupoestado.com.br

O consumidor que não quiser gastar além do necessário na Páscoa deste ano deve ficar atento: os ovos de chocolate estão chegando às prateleiras dos supermercados com diferenças de até 46,4% nos preços. Essa foi a conclusão do Jornal da Tarde após pesquisa em cinco estabelecimentos na Capital.

O ovo Ouro Branco, de 375 gramas, da Lacta sai por R$ 23,90 no supermercado Sondas. O mesmo produto é vendido por R$ 34,99 nas Lojas Americanas - 46,4% mais caro. Outra diferença grande de valores ocorre com o Ovo Meninas Super Poderosas, de 180g, da Nestlé, que sai por R$ 17,99 no Pão de Açúcar e R$ 22,60 no Sondas - uma variação de 25,62%.

Portanto, a tradicional pesquisa de preços torna-se mais uma vez indispensável. O programador José Reinaldo, 50 anos, é um desses consumidores. Ao conferir o valor do produto no supermercado, a reação foi de espanto. 'Está caríssimo', afirmou. Para presentear 15 pessoas, ele definiu critérios. 'Tento aliar o gosto de cada um com o preço que posso pagar. Faço uma média e vejo se cabe em meu orçamento', disse.

A 31 dias da Páscoa, a venda dos produtos ainda não deslanchou. 'Agora as pessoas olham mais as novidades e os preços e deixam para comprar mais perto da data', disse uma repositora da Lacta. 'A maioria das vendas agora é de ovos pequenos ou coelhinhos para as crianças que não conseguem esperar', disse. E foi para alegrar a filha Laura, de 4 anos, que a fonoaudióloga Raquel Jadzinsky, 41 anos, comprou um ovo Meninas Super Poderosas - que tem formato de coração, embalagem cor-de-rosa e vem com um chaveiro de brinde. 'Somos judeus, portanto, o ovo de chocolate e a Páscoa não têm significado para nós. Mas compro para alegrar a minha filha que vê as amigas da escola com o doce e pede', diz.

Raquel não sabe dizer se os ovos este ano estão mais caros que em 2007. Mas tem uma receita infalível para fazer economia. 'Como não temos que nos prender à data, espero passar a Páscoa e compro muito mais em conta.'

Novidades

Mais uma vez, as empresas apostam em diferenciais para atrair o consumidor. A Nestlé lançou o ovo Sollys, de chocolate com soja, para quem tem intolerância à lactose, e traz também o ovo Homem Aranha que vem com uma máscara do personagem de brinde. Já a Garoto inovou com o ovo Baton Hopi Hari, que traz um passaporte para o parque e será vendido com exclusividade em São Paulo. A Lacta lançou este ano o ovo Lacta Special, ideal para presentear, vem em uma embalagem que vira bonbonnière.

Fundos sem fronteiras

Valor Econômico
Por Catherine Vieira, Luciana Monteiro e Angelo Pavini, do Rio e de São Paulo
21/02/2008


O mercado de fundos brasileiro já poderá ter fundos que aplicam a totalidade da sua carteira em ativos estrangeiros de outras categorias que não apenas a de dívida externa. A novidade, prevista em regra divulgada ontem pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por enquanto vai ser acessível apenas aos investidores que tiverem pelo menos R$ 1 milhão para investir. A Instrução 465 é, na verdade, uma atualização das regras básicas que regem os fundos de investimentos, determinadas pela Instrução 409, de 2004.


Pelas normas, os administradores poderão criar fundos que apliquem até 100% dos ativos no exterior, desde que a aplicação mínima por cotista seja de R$ 1 milhão, o que os participantes do mercado vêm chamando de "investidor superqualificado". O gerente de acompanhamento de investidores institucionais da CVM, Luis Felipe Lobianco, explica que a instrução não prevê uma nova classe de fundos, mas sim a criação de fundos específicos dentro das diversas classes já existente (multimercados, ações etc) e que poderão aplicar 100% da carteira em ativos no exterior.


"Para isso, o fundo deverá ter em seu nome a extensão 'Investimento no Exterior'", diz Lobianco. "Além disso, será preciso expressar no regulamento qual será a política de investimentos, ou seja, se haverá uso de derivativos ou maior foco em determinado mercado ou ativo". Isso quer dizer que a carteira deverá continuar seguindo a classe escolhida (multimercados, ações ou outros) e adicionar que é de investimento no exterior caso queira.


Desde o ano passado, a CVM vinha promovendo mudanças graduais e tornando mais flexível o investimento em ativos externos pelos fundos. A Instrução 450, de março do ano passado, fez atualizações significativas na regra inicialmente publicada pela CVM permitindo que fundos multimercados apliquem até 20% lá fora. As demais classes ficavam limitadas a 10%. Para isso, os administradores deveriam adaptar os regulamentos com aprovação dos cotistas, no caso dos fundos já existentes. A Instrução estabeleceu, também que os ativos de renda variável sejam marcados a mercado pelo preço de fechamento e não mais preço médio.


De acordo com Lobianco, os fundos que agora poderão investir até a totalidade da carteira no exterior deverão seguir as mesmas regras de aplicação previstas antes para os que já podiam investir 20%. Já os países e mercados nos quais os fundos poderão investir serão aqueles com os quais a autarquia tenha acordo de cooperação ou que seja signatário do memorando de entendimentos da Iosco (entidade que congrega as CVMs no mundo).


As regras estão mudando de forma gradual nesse terreno da aplicação em ativos externos, o que é positivo, avalia Lobianco. Ele lembra que, apesar da possibilidade aberta no ano passado para o investimento dos fundos no exterior, o volume efetivamente aplicado ainda é pequeno. "São mudanças que vão ocorrendo gradualmente, pois é natural que surjam dúvidas, como a questão tributária, por exemplo, que vão sendo esclarecidas ao longo do tempo".


Pela regra anunciada ontem, as carteiras não terão limites de concentração por emissor de papel, como acontece com os fundos voltados para os investidores comuns hoje. Na visão de Rogério Zanini, diretor responsável pelas operações da Gems Investimentos, isso é positivo, já que esses fundos são voltados aos investidores superqualificados, ou seja, que têm pelo menos R$ 1 milhão para investir. "O setor de fundos de investimento cresceu e o investidor qualificado também, que é mais informado", diz. "Por isso, desde que haja transparência, não há problema." A gestora é subsidiária da Gems Global, que administra U$ 6 bilhões lá fora, e prepara o lançamento de uma carteira que aplicará 100% no exterior.


O momento para lançar carteiras lá fora para o investidor de alta renda aqui se mostra bastante interessante, avalia José Eduardo Queiroz, da Mattos Filho Advogados. Para ele a taxa de juros, apesar de ainda alta, deve continuar caindo e, com o juro decrescente, o investimento lá fora torna-se mais atrativo como forma de diversificação. "Será algo muito bom para o setor e confere uma abertura maior do mercado brasileiro".


Os participantes do mercado já aguardavam a nova regra desde meados do ano passado, uma vez que a minuta da nova regra ficou em audiência pública até maio. Porém, a CVM quis discutir o tema com o Banco Central e o Tesouro.

Procura-se alfa, em ritmo de tirar o fôlego

Valor Econômico
Por Cyro Andrade, de São Paulo
21/02/2008



"A História do Mercado de Capitais" - Peter Bernstein.


Bloomberg

Peter Bernstein, teórico e prático: "Não consigo imaginar nenhuma razão para que esse processo chegue ao fim"
Campus Elsevier. 336 págs., R$ 79,90


Em tom que bem reflete o entusiasmo com que costuma se referir às coisas do mercado de capitais, seu universo de vida profissional há décadas, Peter Bernstein escancara sem meias medidas a avaliação que faz das "idéias capitais", como denomina as descobertas acadêmicas mais uma vez protagonistas de um livro de sua autoria, este de agora, publicado 16 anos depois de "Capital Ideas", de 1992: "Não há novas teorias de finanças que se comparem em importância com o paradigma de [Harry] Markowitz para a seleção de portfólios, com as idéias de [Franco] Modigiliani e [Merton] Miller sobre finanças empresariais, com a hipótese do mercado eficiente [de Eugene Fama], com o modelo de precificação de ativos financeiros [de Jack L. Treynor e outros] e com a teoria de precificação de opções" [de Fischer Black, Myron Scholes e Robert Merton].



Bernstein não fala de conquistas datadas, mas de um conjunto de percepções que se valorizam justamente na atemporalidade. "A implementação dessas idéias avança em ritmo de tirar o fôlego, impulsionada e moldada pela teoria e, por sua vez, reformula muitos aspectos da teoria". Teve-se, então, primeiro uma arrancada teórica, entre 1952 e 1973, quando alguns "scholars" americanos desenvolveram hipóteses e modelos que iriam revolucionar as operações de investimento na última década do século passado. Estão aí "as origens improváveis da moderna Wall Street", subtítulo de "Capital Ideas", alusão ao fato de que alguns daqueles acadêmicos nunca haviam possuído uma ação sequer. E criou-se uma espécie de moto contínuo, que dura até hoje, um círculo virtuoso em que teoria e prática se alimentam mutuamente. É como se explica o título da edição original do livro de Bernstein agora traduzido no Brasil, publicado em maio de 2007 nos Estados Unidos - "Capital Ideas Evolving". (Myron Scholes e Robert Merton, é bom lembrar, ficam absolutamente fora da galeria dos inocentes, eles que se associaram no Long-Term Capital Management, fundo de hedge que ao quebrar, em 1998, pôs em risco a estabilidade do sistema financeiro mundial).


"Nada se mantém constante", diz Bernstein. "Novos atores, novas instituições e novos instrumentos financeiros estão levando a novas estratégias para a gestão de riscos, a novos caminhos para a busca do alfa, a novos mercados em todo o mundo - e a novas variações na estrutura da teoria. Experimentos ousados e tecnologias revolucionárias são lugar comum. As idéias se manterão no centro, mas a estrutura em torno delas é dinâmica e instável, caracterizada por um processo incessante e irremissível de evolução darwiniana".


Buscar o alfa, eis a questão representada no pêndulo do acaso, que marca o compasso do "trade-off" entre risco e retorno.


O modelo de precificação de ativos financeiros (ou de capital) decompõe o retorno esperado de um investimento em uma parte "beta", uma commodity que se compra "passivamente", por meio de fundos indexados ao mercado, e outra que é "alfa", de retornos não correlacionados ao mercado. Este é o reino da gestão ativa. Essa separação entre alfa e beta, ela mesma, constitui uma fração das "idéias capitais". De acordo com a teoria do mercado eficiente, é previsível que não será fácil encontrar alfa. Mas não será impossível, ao menos em tese, agora que se podem usar opções e outros derivativos, instrumentos de uma indústria que não pára de desenvolver modos alternativos de investimento - freqüentemente, na esteira de alguma idéia capital.


As idéias estavam disponíveis, com a salutar e amplamente aceita ressalva de que nem sempre a teoria seria validada experimentalmente. Os acadêmicos sabiam que o mundo real era diferente daquele que estavam desenhando. Suas teorias não pretendiam ser conclusivas. Eram um ponto de partida na busca do entendimento mais profundo do funcionamento dos mercados, da interação entre investidores, do papel do risco no processo de investimento.


Em suma, restava descobrir como os conceitos poderiam ajudar gestores ativos a atingir o alfa, "o novo foco" de que fala Bernstein em seu livro. "Em conseqüência, desenvolveu-se poderosa mistura, combinando-se melhor compreensão das idéias capitais com as contribuições das finanças comportamentais" - campos conceituais que, num primeiro momento, mantiveram-se em situação de certo estranhamento. Hoje, tanto os teóricos, quanto os gestores usam essa mescla para criar aplicações engenhosas na gestão de investimentos e para criar "insights" que facilitem a compreensão do processo de investimento, comenta Bernstein.


Como se vê no virar das páginas deste novo livro de Bernstein, (o décimo que ele escreve), as idéias capitais motivaram o avanço do contexto institucional, definiram a estrutura dos mercados financeiros e das estratégias de investimento, estabeleceram "benchmarks" e descortinaram novos panoramas econômicos e financeiros para o desenvolvimento dos mercados.


"Não consigo imaginar nenhuma razão para que esse processo chegue ao fim", diz Bernstein. Em razão do tempo decorrido e de quanto avançaram as inovações financeiras desde o lançamento de 'Capital Ideas', em 1992, a vitalidade espantosa dos conceitos teóricos subjacentes a essas idéias está aí para ser vista por todo mundo. Suas possibilidades de uso parecem ilimitadas."


Bernstein é testemunha e personagem dessa história da revolução das idéias financeiras. Com 89 anos completados em janeiro, tem uma biografia em que soma forte presença no mercado de capitais e alicerces na vida acadêmica, como economista graduado em Harvard e, depois, como professor na New School for Social Research, de Nova York e no Williams College. Também integrou o quadro de pesquisadores do Federal Reserve Bank. Em 1973, fundou a Peter L. Bernstein, Inc., empresa de consultoria econômica para investidores institucionais e empresas de vários países. Foi o primeiro editor do "Journal of Porfolio Management", em 1974, do qual hoje é consultor.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Tentativa e erro

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
20/02/2008



Com 253 gestores e R$ 1,150 trilhão em ativos, a concorrência é cada vez maior no setor de fundos brasileiro. A busca por diferenciação entre os administradores de recurso cresceu nos últimos anos e levou a uma série de lançamentos e novidades. Avançou-se em técnicas comerciais, estratégias de gestão e de risco, e cresceram modalidades antes pouco exploradas. Muitos desses lançamentos conquistaram a clientela, como os fundos long/short, as carteiras que dão prêmios e as que garantem o principal investido em ações, para ficar em poucos exemplos. Outros, nem tanto. Mas podem ser válidos para se avaliar para onde caminha o mercado.


Um desses casos de sucesso questionável que traz uma nova visão sobre a administração de fundos no Brasil é o da família Melhor de 2, do Santander Asset Management. A modalidade chegou a ter patrimônio de cerca de R$ 800 milhões e mais de 28 mil cotistas. As carteiras devolviam parte da taxa de administração cobrada pela gestora para bancar o compromisso de o fundo oferecer o maior retorno entre fundos DI e renda fixa.


Essas carteiras surgiram em outubro de 2006, quando a perspectiva era de queda da taxa de juros, à época em 13,75% ao ano. Os investidores, na ocasião, sentiam certa insegurança sobre se a melhor alternativa seria investir em fundos renda fixa (que aplicam em papéis prefixados) ou nos fundos DI, que seguem o juro diário. O Santander criou então o fundo que ofereceria a estratégia que rendesse mais, alterando sua taxa de administração, que podia variar de zero a 4% ao ano. A primeira edição do fundo captou mais de R$ 500 milhões e a segunda, em março de 2007, mais de R$ 300 milhões.


Ambas as edições do melhor de 2 foram encerradas no dia 18 de janeiro e incorporados ao Top Renda Fixa. Os fundos tiveram rentabilidade acumulada de 70% do CDI no período de existência e, se considerada a rentabilidade líquida, perderam para a caderneta de poupança. Apesar do encerramento e da pouca rentabilidade para quem prometia o melhor do DI e da renda fixa, o Santander inovou nessas carteiras ao prever os rebates de taxa de administração.


O Santander é visto no varejo como o gestor com maior criatividade em fundos, acoplando seguros que preservam certa rentabilidade ou reduzindo taxas conforme o prazos de aplicação, por exemplo.


Mas apenas agora, depois do encerramento dos fundos, Márcio Appel, principal executivo da gestora, explica que a família Melhor de 2 investia em dois fundos - um DI e outro renda fixa - que rebatiam (devolviam) parte da taxa de administração cobrada ao fundo distribuído aos investidores de varejo. Dessa forma, bancava a diferença de rentabilidade entre as duas categorias. A aplicação mínima dos fundos era de R$ 5 mil.


Antes, essa prática de rebate de taxas ocorria em fundos de fundos, que costumam aplicar em carteiras com diferentes custos. Outra ocasião em que ocorre rebate de taxas é no caso da contratação de um alocador, que recebe parte da receita dos fundos que indica.


Apesar da inovação, concorrentes da gestora no mercado reclamaram da falta de transparência sobre o funcionamento do sistema para o investidor. À época do lançamento do fundo, Appel não revelou ao Valor como ofereceria o melhor dos dois mercados. "O mecanismo era segredo industrial", diz Appel. Mas os demais gestores do mercado faziam cara feia para o fundo, sob o temor de que, em um momento de crise, ele pudesse manchar a imagem de todo o setor, por provocar dúvidas entre seus milhares de cotistas.


Mesmo com uma variação branda do mercado e a suspensão da expectativa de corte de taxas, o fundo passou a ter de bancar rotineiramente a melhor rentabilidade entre o DI e a renda fixa aos seus cotistas, conta Appel. Esperava-se que a continuidade dos cortes e, por conseqüência, o maior sucesso dos prefixados, sustentasse com facilidade o menor lucro dos DI. No entanto, "o fundo ficou caro demais" para o Santander, disse Appel. Por isso, as carteiras foram encerradas em janeiro.


Nenhuma norma impede o Santander de devolver parte da taxa de administração cobrada dos investidores, explica Carlos Eduardo Sussekind, superintendente de Relações com Investidores Institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que regula e fiscaliza os fundos. "O importante é ele informar a taxa máxima e respeitar esse limite." Mas ele afirma que a propaganda dos fundos melhor de 2, estrelada por Cláudia Raia e Débora Falabella, não deixava claro como o fundo usava a taxa, o que levantava suspeitas sobre a promessa de rentabilidade. A CVM abriu processo para que o Santander revisse seu material publicitário, o que ocorreu de fato.


Segundo Sussekind, a CVM acompanha a cobrança das taxas pelos administradores, mas como exige apenas que informem o percentual máximo cobrado dos clientes, abre espaço para que eles o joguem para baixo, sem necessidade de haver uma assembléia de cotistas. O prospecto do Melhor de 2 dizia expressamente que "o administrador transferirá ao fundo, no todo ou em parte, a remuneração que receber pela distribuição de cotas dos FICs, a fim de que a rentabilidade do fundo seja equivalente àquela do FIC mais rentável ao final de cada mês." A expressão FIC significa Fundo de Investimento em Cotas, onde o aplicador efetivamente investia. No fim do mês, o administrador reduzia a taxa de uma carteira para bater com a renda da outra vencedora.


Segundo especialistas do mercado, apesar de uma instituição poder reduzir as taxas, a alteração poderia maquiar a rentabilidade da sua carteira. Segundo Appel, no caso do Santander, eram rígidas as regras internas de quando isso poderia ocorrer e em qual intensidade. Portanto, não havia manipulação. "Era uma fórmula matemática." Appel comenta que o Santander não tem planos de replicar a estratégia de cobrança de taxas dos Melhor de 2

Keep It Simple, Says Yale’s Top Investor

Quer ganhar dinheiro com ações? No artigo do New York Times há dicas que valem para o investidor brasileiro. O atalho é:

http://www.nytimes.com/2008/02/17/business/17swensen.html?ref=yourmoney

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Uma conquista em cada fase da vida

Jornal da Tarde
19/02/2008

Formar um patrimônio exige tempo e paciência. O segredo está em identificar as suas prioridades

Fabrício de Castro, fabricio.castro@grupoestado.com.br


Comprar o carro, a casa própria, fazer pós-graduação, ter uma casa na praia e ainda conhecer o mundo. Esses são alguns dos sonhos mais comuns da classe média brasileira. Mas é possível realizar todos eles?

Para os especialistas em finanças pessoais, a aquisição de bens e a formação do patrimônio exige tempo e paciência: você pode até querer comprar um apartamento aos 25 anos de idade para se livrar do aluguel, mas pode não valer a pena financiá-lo por 30 anos.

O consultor Paulo Adriano Freitas Borges explica que, para cada fase da vida, há prioridades financeiras. A pedido do Seu Dinheiro, Borges traçou um roteiro de poupança e investimentos considerando a idade da pessoa.

'Confesso que eu mesmo adquiri minha casa aos 26 anos. Fiz um financiamento de 15 anos e somente agora estou concluindo o pagamento', afirma Borges. 'Se pudesse voltar no tempo, faria bem diferente.'
Até os 30 anos, a pessoa tem mais chances de investir numa pós-graduação ou na consolidação profissional. Para Reinaldo Domingos, autor do livro Terapia Financeira, é possível adiar o sonho da casa própria e até se planejar para comprá-la à vista. A formação do patrimônio leva tempo. 'Ninguém sobe uma escada começando pelo quinto degrau. Para chegar no alto, você precisa subir os primeiros', compara.

O microempresário Roberto Ferreira de Souza, de 28 anos, começou a trabalhar cedo, com apenas 12 anos. Hoje casado com a jornalista Andréa Cordeiro, de 26 anos, ele já possui a casa própria em São Paulo e um sítio próximo a Maringá (PR).

A aquisição dos bens, no entanto, levou tempo. 'Tenho tanto medo de financiamento que, no início de 2005, desisti de fazer um', revela. Na época, Souza chegou a assinar um cheque de R$ 10 mil e a financiar outros R$ 60 mil. Desistiu no dia seguinte. 'Resolvi me apertar um pouco mais e pagar à vista', explica.

Agora, o sonho do casal é sair de São Paulo. 'Queremos montar um negócio em Maringá e estamos nos preparando para isso', diz Souza. Se o planejamento der certo, em oito anos eles terão um negócio próprio em Maringá.

Pagar bens à vista: por que não?

Jornal da Tarde
19/02/2008


Quando você aplica parte da renda, foge das dívidas e faz os juros trabalharem a seu favor


A máxima é comum para muitos brasileiros: 'quem não financia, não forma patrimônio'. Ela serve de desculpa para quem vai fazer dívidas de longo prazo para a compra de bens duráveis ou não. Com a expansão do crédito, a tentação para fazer dívidas é ainda maior.

Pessoas que poupam uma parte do salário, no entanto, mantêm as finanças equilibradas e, com os anos, conseguem adquirir mais bens. De acordo com o consultor financeiro Reinaldo Domingos, o consumidor deve comprar uma casa, um carro ou uma viagem ao exterior apenas se puder pagar à vista. 'Falta dinheiro? Pois não faça um financiamento', ensina.

Domingos defende que até mesmo a aquisição da casa própria pode esperar. Numa simulação feita pelo Seu Dinheiro, com base em planilha elaborada por Domingos, o financiamento de um imóvel de R$ 100 mil, por 20 anos, geraria um custo de quase R$ 257 mil (veja quadro abaixo).

Segundo Domingos, é mais indicado continuar pagando aluguel e, durante alguns anos, manter aplicações regulares de uma parcela da renda.

Em São Paulo, o valor do aluguel de imóveis residenciais gira em torno de 0,7% do valor de venda, dependendo da localização. Assim, para um imóvel de R$ 100 mil, o aluguel mensal seria de R$ 700 - o equivalente a R$ 8,4 mil por ano. Com o mesmo dinheiro gasto no financiamento durante um ano, daria para pagar o aluguel e sobraria renda para fazer aplicações . 'Se economizar, você consegue comprar sua casa em um terço do tempo que levaria com o financiamento.'

Domingos diz ainda que é importante eliminar os desperdícios no orçamento e aumentar a capacidade de poupança. 'Você tem dois carros, mas precisa mesmo dos dois? Todos nós temos de 20% a 30% de desperdício dentro do orçamento', garante. 'Antes de começar a guardar dinheiro, é preciso fazer um diagnóstico do orçamento.'

O consultor Paulo Adriano Freitas Borges acrescenta que, no financiamento, a pessoa paga uma dívida. Ao fazer aplicações, recebe dividendos. 'Numa situação, você está com os juros contra. Na outra, está com eles a favor.'

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sobre o artigo "Maioria paga a casa própria à vista"

Nem sempre é vantajoso pagar à vista a casa própria. Por exemplo, suponha uma família que ganhe R$1.875,00 ou menos por mês. Ela pode conseguir um financiamento na Caixa Econômica Federal com juros menor que 6%+TR, ou seja, até a poupança rende mais! Isso acontece porque o financiamento é feito com recursos do FGTS. Além disso, normalmente os aluguéis de casas baratas são proporcionalmente mais caros do que de imóveis com padrão superior.

Então há duas situações para analisar. A primeira, a família tem o dinheiro para comprar a casa. A melhor estratégia é financiar o máximo possivel e guardar o resto do dinheiro no Tesouro Direto. A segunda, é quando os familiares moram em casa alugada. Se a divisão do preço do aluguel mensal pelo valor da casa for maior ou igual a 0,5%, financie o imóvel usando os recursos do FGTS.

Conclusão, para algumas famílias vale a pena financiar a compra do imóvel, mesmo que elas tenham o dinheiro para pagar à vista.

Maioria paga a casa própria à vista

Jornal da Tarde
18/02/2008

De acordo com o Creci, cerca de 62% dos compradores optou por quitar imóvel à vista em dezembro

RODRIGO GALLO, rodrigo.gallo@grupoestado.com.br


A maioria dos consumidores que comprou imóvel usado em dezembro optou pelo pagamento à vista, em vez de recorrer ao financiamento bancário. Segundo o Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), 62,12% das casas e apartamentos adquiridos no último mês de 2007 no Estado foram pagos no ato. Para isso, vale sacar todas as economias da poupança, 'limpar' a conta corrente e até mesmo vender o carro para juntar o dinheiro e escapar dos juros cobrados nos financiamentos.

A pesquisa mostra ainda que apenas 21,98% dos compradores do Estado recorreram ao financiamento da casa própria pela Caixa Econômica Federal, o banco com maior volume de empréstimos para o setor. Outros 6,97% optaram por pedir os recursos em outras instituições financeiras, enquanto 8,24% dos mutuários fizeram um financiamento direto com o proprietário (veja detalhes no quadro).

De qualquer forma, a principal constatação é de que a maioria dos consumidores preferiu, em dezembro, juntar o dinheiro e quitar o valor do imóvel à vista, para fugir das dívidas longas. Esse, segundo especialistas, é o melhor caminho a ser seguido para evitar problemas. Afinal, as taxas de juros para financiamentos de 30 anos podem chegar a 12% ao ano, o que encarece demais o custo final do bem.

Uma boa parte desses compradores que pagaram à vista já tinha um imóvel próprio e aproveitou o valor da venda para adquirir uma casa ou apartamento novos. Normalmente, isso se deve ao aumento da família, o que torna a residência anterior pequena.

'Claro que nem todos têm dinheiro para comprar o primeiro imóvel à vista', disse o presidente do Creci-SP, José Augusto Viana Neto. 'Mas há uma quantidade razoável de pessoas que compra um apartamento à vista, por exemplo, como forma de aplicação e, logo após a compra, coloca o imóvel para alugar.'

O economista Luís Carlos Ewald, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), argumenta que não apenas a compra da casa própria, mas qualquer tipo de aquisição de bem deve ser feita à vista, quando possível. Mesmo que, para isso, a pessoa seja obrigada a esperar mais tempo até reunir os recursos necessários.

Vale, por exemplo, esvaziar a poupança e 'raspar' todas as economias da conta corrente. Se for preciso, também compensa se desfazer do automóvel e usar o dinheiro na aquisição da casa própria.

O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, lembra de um outro detalhe importante: os trabalhadores devem aproveitar o dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para comprar o imóvel. Caso não seja suficiente para pagar o valor total à vista, pelo menos servirá para garantir uma boa entrada.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Assinatura do fixo sobe 180%

Jornal da Tarde
17/02/2008


Alta, registrada na Capital nos últimos dez anos, supera de longe os 83% de inflação no mesmo período

RODRIGO GALLO, rodrigo.gallo@grupoestado.com.br

O valor da assinatura básica da telefonia fixa na Capital aumentou 180% nos últimos dez anos, pouco abaixo da média nacional, que fechou o período com uma alta superior a 200%, segundo relatório divulgado recentemente pela Ouvidoria da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

O problema dessa alta da assinatura é que, entre 1998 e 2007, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 83%. A tarifa da telefonia ficou bem acima disso - tanto no Estado quanto no País, de forma geral. O IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é usado pelo governo como referência para as metas de inflação.

Em 1998, de acordo com a Telefônica, a assinatura básica custava R$ 13,82. Hoje, está R$ 38,80: exatamente 180,75% mais. A média nacional subiu de R$ 13 para R$ 40, o que representa uma alta de 207,69%.

Isso, de acordo com o advogado Josué Rios, especialista em direito do consumidor, prova o quanto a assinatura pesa no bolso dos brasileiros. 'A cobrança da assinatura é cara para os consumidores e castiga principalmente os mais humildes', disse. 'Quem tem telefone em casa só para uso essencial está pagando mais que o dobro da inflação', completou.

Apesar do índice estar acima da inflação, a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), Maria Inês Dolci, afirma que o reajuste foi bem superior em outros períodos. De acordo com ela, a assinatura média custava R$ 0,61, em 1995, e subiu para R$ 35,50, em 2005. 'Foi um aumento real de 2.300%', disse.

Na época, as concessionárias podiam acrescentar 9% ao índice estipulado pela Anatel, o que encarecia consideravelmente a conta de um ano para o outro.

De acordo com a Anatel, os cálculos utilizados para chegar ao índice de aumento anual são realizados pelo próprio governo e repassados para todas as concessionárias. A data-base dos reajustes é julho.

A cobrança da assinatura básica da telefonia fixa é um tema que gera muita discussão e já foi parar na Justiça, que considerou legal a sua cobrança. Essa sentença foi dada em outubro do ano passado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que criou uma jurisprudência, ou seja, todos os processos deste tipo deverão ser julgados com a mesma orientação.

Os ministros do tribunal consideraram que a cobrança da assinatura é amparada pela lei e, além disso, necessária para a manutenção dos serviços.

Cancelamento da linha

A alfaiate Iraci Maura de Jesus Cândido, 48 anos, tomou uma decisão radical para reduzir os gastos com telefonia fixa. Irritada por ter de pagar contas de R$ 180 ou R$ 200, há seis meses ela simplesmente cancelou a linha e resolveu contratar um plano econômico, que possibilitaria mais controle nos valores gastos. Essa opção, no entanto, a impede de realizar ligações para celular ou interurbanos. 'A assinatura é muito alta e é um absurdo que seja cobrada.'

Iraci também pretende suspender em breve a nova conta. 'Pretendo abandonar o telefone fixo, pois não fica ninguém em casa. Talvez usar só o celular seja mais econômico', afirmou.

Bons ventos para abrir um negócio

Jornal da Tarde
17/02/2008


Ano é favorável para tirar as idéias da gaveta

FABIO LEITE, f.leite@grupoestado.com.br


Ótima notícia para quem sempre sonhou em abrir o próprio negócio mas tinha receio de se dar mal. Os ventos devem soprar a favor dos micro e pequenos empresários este ano, no mínimo, com intensidade semelhante à de 2007, quando o faturamento do segmento no Estado teve aumento real - descontada a inflação - de 4% ante o ano anterior, o maior registrado nos últimos cinco anos. Os dados são do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP).

O cenário promissor foi traçado por especialistas na área, que levaram em consideração na análise o crescimento da economia no ano passado e a perspectiva para os próximos meses. E mesmo para quem desconfia que a crise financeira externa possa afetar o rumo do País, o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella, afirma: 'Ainda que ocorra alguma desaceleração no cenário externo, nossa expectativa é de manter o ritmo de crescimento (do faturamento) em, pelo menos, 4%'.

Para Claudemir Galvani, diretor da consultoria Metha, especializada em micro e pequenas empresas, 2008 desponta como uma boa oportunidade para tirar as idéias da gaveta. 'O momento agora é muito oportuno. Como a economia voltou a crescer, a tendência é que as oportunidades de negócios apareçam com mais freqüência', afirma. Em 2007, segundo o Sebrae, o ganho médio das 1,3 milhão de micro e pequenas empresas do Estado foi de R$ 197 mil. No total, elas faturaram R$ 261,7 bilhões, cerca de R$ 10 bilhões a mais que em 2006.

Comércio em alta

Motivadas com o fechamento positivo de 2007, as empresas estão muito otimistas para, no mínimo, repetir os resultados este ano. Pesquisa feita pelo Sebrae com 2,7 mil micro e pequenos empresários paulistas mostra que 43% acreditam no aumento da receita nos próximos meses, enquanto 47% esperam que o faturamento se mantenha estável. E a crença num caixa mais cheio está em todos os setores.

O diretor administrativo e financeiro do Sebrae-SP, Milton Dallari, explica que o otimismo generalizado deve-se ao bom resultado conquistado em todas as áreas de atuação, com destaque para o comércio, cujo faturamento cresceu 8,6% em 2007. 'O crescimento, de uma forma geral, foi bem distribuído. Os segmentos de alimentação, material de construção e transporte obtiveram bons resultados', comenta.

O crescimento destacado do comércio, explica Dallari, foi reflexo da melhoria da renda média das famílias das classes C, D e E. 'Isso ocasionou a expansão do consumo, que ajudou muito o varejo', afirma. Este cenário, aliás, motivou também muitos trabalhadores autônomos que atuavam na informalidade a abrirem sua própria empresa. 'Encanadores, eletricistas e mestres de obra também aproveitaram o momento para se regularizar', diz Dallari.

Para este ano, Galvani acredita que o setor de alimentação continuará sendo promissor. 'É sempre a última área a ser afetada em caso de recessão.' Outras boas investidas, aconselha, são negócios relacionados a perfumaria e higiene pessoal, ou prestação de serviços, como tratamento de idosos ou animais, que representam nicho novo de mercado. 'É uma opção interessante porque o custo inicial é bem menor', diz. Todo otimismo, porém, não deve minimizar cuidados na hora de criar o próprio negócio. 'O momento é bom, mas é preciso seguir recomendações', diz Dallari

EM NÚMEROS

R$ 10 bilhões a mais foi o que as micro e pequenas empresas de São Paulo faturaram em 2007em relação a 2006, média de R$ 197 mil por negócio

43% dos microempresários acreditam que ganharão mais em 2008 do que no ano anterior, enquanto para 47% os ganhos devem se manter estáveis

COMO COMEÇAR COM O PÉ DIREITO

Faça um bom planejamento prévio e analise as dificuldades relacionadas ao novo negócio

Veja se o perfil do negócio combina com você e certifique-se de que conhece o ramo de atuação

Pesquise a concorrência; copie casos de sucesso e aprenda com os erros dos outros

Calcule o capital necessário para iniciar o negócio e tenha um fundo de reserva para manter-se ao menos pelos três primeiros
meses em atividade

Saiba que um novo negócio exige muito trabalho e dedicação em tempo integral do empresário

Certifique-se de que tem conhecimento mínimo em finanças e questões trabalhistas

O Sebrae-SP oferece cursos de capacitação para microempresários. Informações: www.sebraesp.com.br ou pelo 0800 7280202

Bancos começam a financiar antes do início da obra

O Estado de São Paulo
17/02/2008



Alternativa ao financiamento direto com a construtora tende a se difundir no mercado imobiliário de SP

Renata Gama

Um modelo novo de financiamento do imóvel na planta começa a se difundir no mercado de São Paulo. Construtoras e incorporadoras estão firmando parcerias com bancos para que eles ofereçam o crédito a partir da primeira parcela. Antes, havia apenas a opção de financiamento direto com a construtora, para quem os clientes pagavam parcelas sem juros até a o fim da obra. Somente após o imóvel ficar pronto, optavam pelo financiamento bancário.

“É um mecanismo que o mercado acaba de desenvolver. Uma forma de simplificar o processo para o tomador do crédito”, afirma o superintendente geral da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), José Pereira Gonçalves.

Não há uma receita pronta para esta nova forma de financiamento. “Cada situação é diferente”, diz Gonçalves. Isso explica a grande variedade de tabelas já encontradas no mercado. Uma mesma construtora pode oferecer opções diversas, conforme o empreendimento e o banco parceiro.

Há casos em que não há cobrança de juros durante as obras, como os empreendimentos financiados pela Caixa. Há ainda tabelas com taxas reduzidas durante a construção, mas que aumentam depois da entrega das chaves. Também há tabelas que aplicam os mesmos juros antes e depois da construção da obra.

De acordo com Gonçalves, esta modalidade de financiamento surgiu para atender àqueles compradores que querem evitar transtornos futuros. “No passado, sempre existia a dúvida se ele teria acesso ao financiamento bancário na entrega das chaves. Este processo poderia ocorrer num momento crítico de mercado, em que estivesse fechado ao crédito. Se a pessoa amarra com o banco desde o início, não tem preocupação futura”, explica. Quando a pessoa tem dificuldade de aprovar o crédito no banco e perde o prazo de pagamento à construtora, há incidência de multa sobre o saldo devedor.

O produto é indicado para as pessoas que preferem pagar prestações uniformes e evitar as parcelas intermediárias altas e as taxas na entrega das chaves. E promete desburocratizar a análise de crédito, já que as exigências para a aprovação do empréstimo, neste caso, são menores do que as feitas nas agências.

É que os compradores serão submetidos à análise de crédito quando o imóvel ficar pronto apenas se tiverem deixado de pagar alguma parcela. Se forem bons pagadores, a aprovação é automática. “Quando você conhece o cliente pode flexibilizar, diferente de um cliente desconhecido”, explica Gonçalves.

DESVANTAGENS

No entanto, pagar juros desde o início das obras tem um custo bastante alto. “Do ponto de vista do consumidor, a melhor opção não é essa”, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira. “São dois ou três anos de juros a mais. É muito preferível que se façam pagamentos diretamente com a construtora”, recomenda.

É que na modalidade tradicional de financiamento na planta, a construtora não cobra juros durante a obra, apenas a correção anual pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC). O juro é cobrado apenas após à entrega das chaves.

Segundo uma simulação feita pelo economista, na compra de um apartamento de R$ 100 mil financiado pelo banco desde a primeira parcela, a uma taxa de juros de 12% em 20 anos, as prestações seriam de R$ 1.101,09. O valor total pago pelo imóvel seria de R$ 264.261,60.

Já na opção de financiamento direto com a construtora, o comprador do mesmo apartamento teria um prazo de dois anos para pagar 40% do valor do imóvel (R$ 40 mil) sem juros, o que poderia custar em torno de R$ 1.666 mensais, caso as parcelas fossem iguais, portanto, sem cobrança de intermediárias. O restante, se parcelado num banco a um juros de 12% em 20 anos, seria pago em parcelas de R$ 660,65, o que resultaria num total pago pelo apartamento de R$ 198.556,00.

Cabe ao comprador escolher entre pagar prestações mais apertadas no início para a construtora, ou parcelas menores ao banco porém com um custo maior no final por causa dos juros durante a obra. Na simulação, a diferença seria de R$ 65.705,60.

Na dúvida, o economista recomenda conter a ansiedade. “De um modo geral no crédito, as pessoas devem esperar. A competição está iniciando e quem esperar um pouco, vai encontrar condições melhores que as de hoje”, aconselha.
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