sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Desaparecem, daqui para a frente, as opções mais óbvias

Folha de São Paulo

31/12/2010

ANÁLISE





 

O BRASIL FICOU MAIS FORTE, RICO E CONFIÁVEL; POR ISSO MESMO, AS AÇÕES JÁ ESTÃO CARAS, OS IMÓVEIS TAMBÉM, E O TESOURO NACIONAL JÁ NÃO PRECISA PAGAR JUROS ALTOS

 



MAURO HALFELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nos anos 1980, os investidores brasileiros viajaram num trem-fantasma.
Foram surpreendidos com planos de estabilização que quebravam regras da noite para o dia e que prometiam o impossível num estalar de dedos. Só que a promessa nunca era entregue porque a indisciplina fiscal do Estado sempre ressuscitava o monstro da inflação.
Naquele período, os juros nominais eram altos, mas não venciam a inflação.
O bloqueio dos ativos financeiros e a troca dos indexadores nas aplicações de renda fixa no Plano Collor de 1990 deram uma paulada na dívida pública, mas deixaram um grande trauma na nação de poupadores.
A partir do Plano Real, os aplicadores em renda fixa voltaram a ser cortejados no Brasil.
Por outro lado, os investimentos em infraestrutura foram adiados por muitos anos para que o governo pudesse fazer sobrar recursos para pagar juros exorbitantes aos corajosos investidores em papéis do Tesouro Nacional.
A economia real e os gastos públicos foram sacrificados. Em compensação, a transparência e a disciplina fiscal começaram a ser implantadas pelo Estado brasileiro, e o monstro da inflação finalmente foi sufocado.
Investidores em renda fixa ganharam muito nos anos FHC. Foi uma recompensa pela coragem de emprestar para um Tesouro Nacional ainda pouco confiável naqueles tempos. Acumularam 218,6% acima da inflação.
Já os acionistas enfrentaram as crises no México, na Ásia, na Rússia, na Nasdaq e na Argentina.
No entanto, contaram com bons momentos na privatização e com a oportunidade para que trabalhadores usassem parte do pouco rentável FGTS na compra de ações da Vale e da Petrobras. Na era FHC, o Ibovespa acumulou 26,8% acima da inflação.
Em 2002, abriu-se a porta do inferno. O dólar disparou, o Ibovespa despencou, e os juros só não subiram mais porque era ano eleitoral.
Parece que Lula não gostou do que viu e decidiu fazer um pacto com o mercado para fugir do inferno que tinha acabado de acolher, calorosamente, a Argentina.
Lula nomeou um habilidoso banqueiro para o Banco Central e, como retribuição, uma profecia, escrita por um grande banco americano que sonhava com um futuro glorioso para os Brics, autorrealizou-se no mercado internacional.
Com Lula, o futuro chegou mais perto do presente no Brasil. A China se tornou uma locomotiva do mundo e levou o Brasil a reboque. Não só comprou matéria-prima daqui como também fez subir o preço de quase tudo o que o Brasil exportava.
Foi uma festa: deu para resolver nossa dívida externa, deu para montar uma invejável reserva de dólares, deu para ajudar os pobres e deu para voltar a acreditar no Brasil gigante.
Nos anos Lula, os aplicadores de renda fixa ganharam 90,6% acima da inflação. Já os acionistas ficaram eufóricos com 295% acumulados no período.
Mais alegres ainda ficaram os investidores em imóveis, que, depois de anos abandonados, viram o eficiente plano Minha Casa, Minha Vida turbinar o setor da construção civil por inteiro.
Infelizmente, minha bola de cristal, que andou muito otimista nos últimos dez anos, não está mostrando vida tão lucrativa para os investidores nos anos Dilma. Tudo porque o Brasil ficou mais forte, rico e confiável.
Por isso mesmo, as ações já estão caras, os imóveis também, e o Tesouro Nacional já não precisa pagar juros altos. Desaparecerão as oportunidades mais óbvias do mercado.
Só vai ganhar dinheiro quem for muito rigoroso nas escolhas e trabalhar duro.
Minhas apostas daqui para a frente estarão no setor de serviços e no de infraestrutura.
Educação, energia e saneamento vão merecer a atenção de empreendedores e de seus fiéis investidores.
No mais, é contentar-se com rendimentos modestos daqui para a frente. Exatamente como os investidores fazem nos países ricos.

MAURO HALFELD, professor e analista de investimentos, é doutor em administração pela USP, com pós-doutorado em finanças no MIT.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

É possível investir em mercados de ações de outros países sem sair do Brasil

O Estado de São Paulo

27/12/2010

Opção de investimento vale a pena somente para grandes investidores, com recursos disponíveis de pelo menos US$ 4 milhões

Roberta Scrivano e Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S.Paulo

Já pensou em negociar ações na bolsa de Nova York, Hong Kong ou Frankfurt? Se o seu volume de recursos para investimento é maior que US$ 4 milhões, poderá transformar a ideia em realidade de forma independente.

O processo é burocrático e demorado, mas pode ser vantajoso se houver foco na negociação, segundo especialistas em finanças pessoais.

"Os grandes especuladores se movimentam de um país para outro. Eles escolhem alguns setores e apostam nisso. Ganham muito mais do que a média", comenta Evaldo Alves, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Abrir uma conta em um banco no país em que se deseja investir é o primeiro passo. "Além disso, é preciso expatriar o dinheiro, ter tradutor juramentado, utilizar o cartório do consulado, agente custodiante aqui e lá, entre outros fatores", diz o consultor e educador financeiro Mauro Calil.

O especialista garante que investimentos abaixo de US$ 4 milhões neste método de aplicação não são vantajosos. "O mercado brasileiro tem ótimas oportunidades para quem tem menos que isso", diz.

Ele explica que, por ano, é procurado pelo menos três vezes por interessados nessa modalidade de investimentos. "E, na maioria das vezes, quando mostro a burocracia e o custo que ela tem, eles desistem", diz.

Alves, da FGV, comenta que esse tipo de investidor, em geral, aplica fora do Brasil com foco em algum negócio específico. Se o investidor tem uma informação com antecedência, por exemplo, de uma oferta de ações que ocorrerá fora do País e que tem boas perspectivas de rentabilidade, ele parte para a outra bolsa de valores estrangeira.

Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper, diz que também há muitas pessoas que fazem isso com o intuito de proteger seu capital. "É mais comum do que parece. Há muitos bancos com sede fora do Brasil, mas com atuação forte aqui, que fazem toda essa burocracia para o interessado."

Conhecimento. Se o investimento em ações na Bovespa exige conhecimento do investidor, para aplicar em papéis fora do País o nível de informação deve ser ainda maior. "São muitas informações. O investidor precisar estar atento tanto nos movimentos econômicos nacionais, quanto nos internacionais", diz Rogério Bastos, da consultoria FinPlan. Além disso, de acordo com Fábio Colombo, administrador de investimentos, pode ser muito mais trabalhoso ter informações das empresas estrangeiras. Os balanços das companhias, por exemplo, são divulgados no idioma local.

"E é por isso que quem vai pra bolsa fora do País tem bastante recurso para investir e parte para fora com um foco específico", reforça o educador financeiro Calil.

Parcerias da Bovespa. Atualmente, a Bovespa possui parceria com 25 bolsas de países diferentes. A última parceria deste tipo foi feita na primeira quinzena de dezembro com a Bolsa de Santiago. Até agora, no entanto, não há integração na negociação de papéis em nem uma das parcerias. Para especialistas em investimentos haverá em breve a integração total desses processos.

Brasil oficializa educação financeira

Folha de São Paulo

27/12/2010

Escolas públicas terão algumas matérias em 2012

TONI SCIARRETTA

DE SÃO PAULO

Orçamento doméstico, poupança, aposentadoria, seguros e financiamentos farão parte oficialmente do currículo das escolas públicas a partir de 2012.
O governo federal editou, na semana passada, um decreto que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, uma série de iniciativas pedagógicas voltadas às escolas e a adultos com o objetivo de erradicar o analfabetismo financeiro no país.
Neste ano, 450 escolas públicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Tocantins e Distrito Federal iniciaram aulas de um projeto-piloto de educação financeira, que deverá chegar a mais de 200 mil instituições de ensino oficial.
Em 2011, o projeto-piloto testará uma metodologia de educação financeira voltada para escolas públicas do ensino fundamental.
Os educadores desenvolveram conteúdos adaptados de educação financeira para todas as nove séries do ensino fundamental e as três do ensino médio.
O conteúdo de educação financeira será distribuído nas aulas de matemática, história, ciências sociais e até português. Não haverá uma disciplina específica para educação financeira.
A educação financeira nas escolas é incentivada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e faz parte do currículo escolar de mais de 60 países.
As diretrizes são resultantes do trabalho conjunto de entidades do mercado de capitais -como Febraban (bancos), Anbima (bancos e gestores) e BM&FBovespa e dos reguladores CVM (ações e títulos de dívida), BC (bancos), Susep (seguros) e Previc (previdência).

CURSOS PARA ADULTOS
Além da educação formal nas escolas, também estão previstas a modulação de cursos à distância e iniciativas de treinamento em finanças pessoais voltadas para adultos.
Segundo José Linaldo Gomes de Aguiar, secretário de relações institucionais do Banco Central, serão criados cursos a distância voltados para adultos, que ensinem a organizar o orçamento doméstico, a planejar a aposentadoria e a utilizar bem os financiamentos.
O BC tem um curso presencial modulado de 20 horas, que leva a universidades e a organizações.
"O importante é que as pessoas sejam bem informadas e tenham consciência de suas decisões. São assuntos simples, que fazem muita diferença para algumas pessoas", disse Aguiar.
Uma pesquisa nacional realizada em 2008 com apoio da BM&FBovespa mostrou que é muito baixo o grau de educação financeira da população brasileira.
Na pesquisa, três em cada dez entrevistados declararam pagar apenas o valor mínimo da fatura do cartão de crédito quando a situação aperta. Já algum tipo de restrição cadastral por falta de pagamento na praça foi a situação observada em 25% dos entrevistados.
Por outro lado, 69% dos pesquisados afirmaram fazer algum tipo de planilha para acompanhar os gastos da família, e 66% disseram que guardam os comprovantes de suas compras.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Título de empresa fica atraente para pessoa física


 


 

Folha de São Paulo

17/12/2010


Incentivo ao crédito de longo prazo cria oportunidade para pequeno investidor

Juros serão superiores aos da dívida pública, mas especialistas dizem que operações não são livres de risco

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

O pacote de estímulo ao financiamento de longo prazo, que zera o Imposto de Renda para papéis que financiarem obras de infraestrutura, abrirá ao pequeno investidor uma oportunidade de aplicação com ganhos superiores aos pagos pela dívida do governo, que compõem a maioria dos fundos em renda fixa.
Como são papéis de empresas, os juros serão sempre superiores aos da dívida pública, considerado o menor risco de quebra no país.
Já o risco da operação poderá não ser tão superior assim, uma vez que esses papéis passarão pelo crivo do governo e do BNDES.
As últimas debêntures (papéis de dívida privada que rendem juro) de três anos do BNDESPar, lançadas na semana passada, por exemplo, saíram a 12,5% ao ano -acima da Selic (10,75%).
A expectativa é que os futuros papéis de infraestrutura tenham taxas superiores também às pagas pelas debêntures do BNDESpar.

DIFICULDADES
O ponto negativo é a dificuldade de vender esses papéis antes do vencimento, apesar de o próprio BNDES trabalhar para facilitar a "revenda".
"O risco é até baixo, mas a liquidez desses papéis é apenas uma promessa. O BNDES já mentiu sobre isso na emissão de suas próprias debêntures", disse Ricardo Almeida, professor de finanças do Insper, referindo-se à baixa liquidez das debêntures do banco de investimento.
Segundo Fabio Colombo, administrador de investimentos pessoais, há dúvidas se os atuais fundos de investimento poderão comprar esses papéis e repassar o benefício fiscal ao cotista.
Isso porque a Receita obriga o recolhimento de IR na fonte a cada seis meses, o chamado "come-cotas".
"Da maneira que estão estruturados hoje, os fundos provavelmente não vão conseguir aproveitar isso. Talvez tenham que ser criados outros fundos. Precisamos ver a regulamentação dessas medidas", disse Colombo.
Para ele, os novos papéis de infraestrutura não devem competir com investimentos mais simples, como a poupança e os fundos de investimento. O maior concorrente será o Tesouro Direto, site do governo para venda de papéis públicos.
"Não se pode esquecer que há, sim, risco de crédito [calote]. Tem que estar bem informado. E isso é complicado para pessoas que aplicam em fundos normais."

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O que sobra do consumo acaba na poupança

Jornal do Brasil

13/10/2010

Caderneta atrai R$ 5,7 bilhões com o décimo terceiro, mas há investimentos melhores 

 Antonio Puga 

 A caderneta de poupança sempre foi a principal forma encontrada por boa parte dos assalariados brasileiros para economizar algum dinheiro. Só a Caixa Econômica Federal agrega mais de 37 milhões de poupadores. Isso significa cerca de 300 mil novas contas abertas a cada mês. Segundo um levantamento do instituto Data Popular, somente as classes C, D e E aplicarão na poupança R$ 5,7 bilhões neste fim de ano, por conta do 13º salário.

 Apesar de toda a segurança, essa modalidade de investimento vem sendo questionada por economistas e especialistas do mercado financeiro, que defendem outras formas de aplicar o dinheiro. Para o coach financeiro da Trader Brasil Escola de Investidores, Alan Soares, o brasileiro procura a poupança por não conhecer outras formas de aplicação.

 – Boa parte da população não entende conceitos de finanças, e isso traz problemas na hora de criar um plano de investimentos.
 A poupança é corrigida pela taxa referencial mais 0,5% e não perde nada para o imposto de renda. Mas só oferece garantia com relação aos depósitos de até R$ 60 mil. Só que essa salvaguarda se estende a diversos outros tipos de investimento, como o certificado de depósito bancário (CDB).
 

Ao final de um ano, o rendimento total da poupança fica em torno de 6%, enquanto o CDB, que é uma aplicação de baixo risco, pode chegar a 10%.
 O mérito da poupança é não ter limite de investimento. O estudante Ricardo Saldanha, 18 anos, tem a sua caderneta.
 

– Do dinheiro que ganho no estágio, destino uma parte para poupança. Sei que não rende muito, mas é uma forma de ter algum rendimento. Com o dinheiro que juntei já comprei um computador – conta.
 

Mulheres são mais da metade dos poupadores 

Por mais que existam outras formas de aplicações, a importância da poupança pode ser medida em números. No acumulado de janeiro a novembro deste ano, segundo dados do Banco Central, a caderneta teve uma captação líquida (depósitos menos retiradas) de R$ 32,3 bilhões.
 

Um levantamento da Caixa Econômica Federal sobre o perfil dos poupadores mostra que 41% estão na faixa de 21 a 40 anos, sendo que as mulheres predominam no segmento de menor renda, respondendo por 54%. Já os homens são maioria no patamar de maior renda, com 60%.
 

A opção pela poupança tem explicação: apesar do baixo rendimento que oferece, abrir uma conta não exige grandes somas, e há isenção de imposto e de taxa de manutenção.
 Para abrir a conta, basta ter um documento de identidade, CPF e um comprovante de residência. O valor do depósito inicial varia de banco para banco.

Fundo do Ibovespa vira blue chip da Bolsa

  
 


 

Folha de São Paulo

13/10/2010


Papel já está entre os 15 mais negociados

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Dois anos após estrear timidamente no Brasil, os fundos do Ibovespa, que se tornaram uma febre entre os pequenos investidores nos EUA e na Europa, já aparecem entre os papéis mais populares da BM&FBovespa.
O fundo que replica a variação do índice já movimenta diariamente cerca de R$ 60 milhões e figura entre os 15 papéis mais negociados na Bolsa brasileira.
Esses fundos recebem um código -no caso, Bova 11, nome pelo qual ficou conhecido- e suas cotas são negociadas no pregão exatamente como uma ação da Vale ou da Petrobras.
Aos poucos, o Bova 11 se torna uma blue chip, nome dado às ações de empresas gigantes e de posição monopolista nas áreas em que atuam, como as americanas Microsoft, Apple e Exxon.
No último dia 19, o fundo do Ibovespa girou R$ 66 milhões -foi o 14º papel mais negociado no dia.
Desde o início do ano, esse fundo inicia diariamente os negócios na Bolsa com um leilão de pré-abertura, como ocorre com Vale, Petrobras, Itaú e Bradesco.
Segundo Saulo Mendes, diretor comercial da Blackrock, gestora desses fundos no Brasil, o Bova 11 despertou o interesse dos fundos de pensão e de investidores que viram no produto uma forma barata de diversificar e complementar sua estratégia de gestão.
"O volume de negócios aumentou muito ao longo do ano. Vimos os tíquetes negociados caindo a cada dia com a entrada do pequeno investidor pessoa física", disse.
O fundo do Ibovespa tem taxa de administração de 0,54%, enquanto os fundos de ações passivos, que buscam desempenho próximo ao índice de mercado, cobram até 2,5%.
Já os fundos de gestão ativa, que buscam rendimentos superiores ao índice de referência, cobram até 4%.

FEBRE
Com a gestão feita por computadores, esses fundos mudaram a cara do mercado de ações. Há mais de 6.000 fundos no mundo seguindo índices das principais bolsas globais e de preços de petróleo, ouro, prata, imóveis, moedas e até renda fixa.
Os fundos de índice chegam a movimentar mais da metade do volume diário da Bolsa do México, onde há mais cem desses fundos, incluindo de ações brasileiras.
Nos EUA responderam por 35% das transações na Bolsa de Nova York durante a crise, ocupando espaço dos bancos e dos fundos de hedge.
O fundo "brasileiro" mais negociado, na verdade, é o estrangeiro MSCI Brazil, o índice de ações de emergentes do banco Morgan Stanley.
O produto tornou-se uma forma de seguir o desempenho de setores como bancário, varejo e farmacêutico.
Além do Bova 11, há outros seis fundos de índice negociados na BM&F Bovespa: índice Brasil-100 (Brax 11), pequenas empresas (Smal 11), empresas médias (Mila 11), consumo (Csmo 11), imobiliário (Mobi 11) e PIBB, que segue o índice Brasil-50.
Neste ano, o melhor desempenho foi do Smal 11, o fundo de empresas pequenas, que subiu 18,48% -o Bova 11 tem queda de 0,89%, próximo da baixa de 0,36% do Ibovespa.

Títulos atrelados à inflação rendem mais

Folha de São Paulo

folhainvest

13/10/2010


Planos privados que investem em títulos públicos, ainda pouco comuns, têm a maior rentabilidade no ano

Aplicação é indicada para longo prazo, mas apresenta riscos e deve ser mesclada com outros investimentos


  



MARIANA SCHREIBER

DE SÃO PAULO

Os fundos de previdência que investem em títulos públicos atrelados à inflação (NTNs), ainda pouco comuns, são os que somam a maior rentabilidade no ano.
E, com a perspectiva de continuidade de crescimento da economia, o que tende a pressionar os preços, esses ativos representam um meio efetivo de proteger o valor do dinheiro no longo prazo.
Na Icatu Seguros, os dois planos que investem em NTNs são os mais rentáveis entre os de previdência.
Em 2010, o fundo que aplica em títulos atrelados ao IPCA (NTN-Bs) rendeu 15,36% até novembro, e o que acompanha a variação do IGP-M (que não é mais emitido pelo Tesouro Nacional) somou 19,58%. Nos últimos cinco anos, ambos acumulam rendimento superior a 100%.
Os números atraem novos poupadores, mas o gerente comercial da Icatu, Sérgio Prates, afirma que há riscos na aplicação e que o ideal é diversificar os investimentos.
Ele explica que o preço do título varia de acordo com a expectativa de inflação. Se há uma tendência de queda, diminui a procura pelo papéis e eles se desvalorizam.
"Por isso, quem quiser se desfazer do título antes de seu vencimento pode ter perdas. Porém, se mantiver os papéis até o prazo final, a rentabilidade contratada é garantida", disse.
O primeiro plano do tipo lançado pelo Itaú, há um ano, também tem o melhor desempenho no segmento de previdência do banco, em 2010. O Flexprev Índice de Preço, que investe 90% do patrimônio em NTN-Bs, rendeu 13,31% até novembro.

TESOURO DIRETO
Quem quiser aplicar nesses títulos também pode comprá-los diretamente através do Tesouro Direto.
A rentabilidade acumulada em 2010 pelas NTN-Bs varia de 11,79% (papel com vencimento em 2011) a 19,37% (com vencimento em 2045).
Os papéis à venda no momento pagam a variação do IPCA mais uma taxa anual de cerca de 6% -rendimento considerado elevado.
O administrador de investimento Fabio Colombo observa que títulos muito longos representam mais risco.
"Se houver alta do juro real, o investidor pode ter prejuízo. O melhor é diversificar os investimentos entre NTNs e LTNs (que pagam uma taxa pré-fixada)."
O engenheiro e professor da PUC-Rio Luiz Conrado apostou nas duas estratégias para garantir uma boa aposentadoria.
Ele investe desde 2006 em NTN-Bs e LTNs e também contribui, desde 1995, para o fundo de previdência fechado da PUC.
O fundo é administrado por um grande banco, mas ele é o responsável, dentro da universidade, por fiscalizar sua rentabilidade.
Ele conta que a maior parte do patrimônio está em títulos atrelados ao IGP-M. O resto divide-se entre títulos atrelados ao IPCA, à Selic e em ações.
"É um fundo recente para previdência, mas está dando ótima rentabilidade. Quem está se aposentando tem ficado satisfeito", disse.
Ele se aposenta em janeiro com planos de manter os investimentos em títulos públicos e, aos poucos, migrá-los para papéis que paguem rendimentos semestrais.
"Investia em títulos cujo rendimento era reaplicado automaticamente nos mesmo papéis. Agora, vou receber esse valor a cada seis meses para complementar minha renda", explicou.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Poupe para pagar à vista

Correio Braziliense

11/12/2010


Encarecimento do crédito já altera o dia a dia do comércio. Sem o hábito de guardar dinheiro, brasileiros recorrem às aplicações para bancar prestações. Mas especialistas recomendam a quitação total
Victor Martins
Gustavo Henrique Braga
O enxugamento de crédito promovido pelo Banco Central já bateu no bolso dos consumidores, principalmente dos que não têm dinheiro. A autoridade monetária obrigou o brasileiro a algo inusitado: fazer poupança para comprar em prestações. Estão praticamente extintas as linhas de crédito que financiavam bens em inúmeras parcelas e sem a necessidade de entrada. As tabelas de bancos, lojas e concessionárias de veículos também ficaram mais pesadas. Nas compras acima de 24 vezes, os juros abaixo de 1% ao mês deixaram de existir e o consumidor precisa ficar atento às letras miúdas de contratos e anúncios. Outros encargos estão sendo cobrados. Às vezes, sem que o comprador perceba, podem elevar a prestação a mais de 2% mensais.

Na avaliação de Carlos Coradi, presidente da EFC Consultores, o esvaziamento das lojas mostra a eficácia das resoluções tomadas pelo BC. “O reflexo foi imediato. Uma elevação na Selic não teria um efeito tão rápido. Foi um balde de água fria no crescimento”, observou. “A economia já está desacelerando. Basta ir a uma loja para ver. Os juros subiram e os prazos encolheram.” Na tentativa de disfarçar a elevação das taxas e continuar a atrair o consumidor, as lojas de veículos, por exemplo, transformaram em juros mensais diversas despesas da operação e do registro do automóvel. Na propaganda, percentuais de até 0,99% ao mês são estampados em letras garrafais. Na parte minúscula do anúncio, o chamado custo efetivo total ultrapassa os 2%.

Barganha
Consenso entre educadores financeiros, o pagamento à vista é o melhor caminho para os brasileiros fugirem das dívidas, especialmente em um momento como o atual, em que os empréstimos encareceram. Além de escapar dos juros altos, o consumidor que quita a dívida no ato da compra tem melhores condições de barganhar descontos com os lojistas. É o que fez a funcionária pública Raquel Lopes, 26 anos, moradora da Asa Sul. Depois de pesquisar, ela decidiu comprar uma geladeira pela internet, com opção de pagamento por boleto e desconto de 5%. “Vi que o crédito ficou mais caro, mas no meu caso não faz diferença. Só compro parcelado se for sem juros”, disse.

Para o especialista em educação financeira, Emerson Castello Branco Simenes, o encarecimento do crédito obriga as pessoas a planejarem melhor as compras e a formarem uma poupança para dar de entrada. “Quando a prestação é daquelas a perder de vista, a tendência dos consumidores é de comprometerem a renda por muito tempo, sem se darem conta de que podem se complicar. Mas um simples imprevisto pode jogar a pessoa na inadimplência”, disse. O especialista defende a poupança como saída ao encarecimento dos juros.

O técnico em eletrônica Wellington Freitas, 46 anos, segue à risca a orientação dos consultores. Ele quer comprar um forno de parede para a casa e, como já tem o hábito, pagará à vista. “Prefiro assim, para não cair nas dívidas. Vou aproveitar parte do 13º (salário) para melhorar a cozinha”, afirma.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Gastos com aluguel pesam mais que financiamento da casa própria, diz Ipea

O Globo

02/12/2010

Proporção das famílias que alugam imóvel subiu de 13% para 17%



ANTÔNIO MARCOS e Luciana alugam apartamento conjugado por R$450




Fabiana Ribeiro

Os gastos com aluguel pesam bem mais no orçamento das famílias do que as despesas com financiamento do imóvel. É o que aponta estudo do Ipea sobre os dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, referentes aos períodos 2002/2003 e 2008/2009. Pelo estudo, a despesa dos mutuários com financiamento consome 6,66% da sua renda anual. Já o gasto com aluguel compromete quase o dobro do orçamento do ano, 12,14% da renda de quem tem esse custo.

- Está mais barato financiar um imóvel do que pagar o aluguel. Os preços dos aluguéis têm subido absurdamente, a partir de contratos curtos, de 30 meses, que não trazem qualquer proteção ao consumidor. Já o sistema de crédito imobiliário tende a proteger mais o consumidor, inclusive contra especulações. Além disso, o valor das prestações já está estabelecido, mesmo que haja valorização do imóvel - diz Pedro Humberto Carvalho, pesquisador do Ipea, para quem o Minha Casa, Minha Vida procura aumentar o crédito para a população de baixa renda.

Apesar da participação do aluguel no orçamento das famílias ter se mantido praticamente estável, mais brasileiros estão pagando aluguel. De acordo com o Ipea, a proporção das famílias que têm aluguel a pagar subiu de 13% para 17% entre os períodos de 2002/2003 e 2008/2009. Contudo, a desigualdade também aparece nesse quesito. Os dados mostram que o aluguel representa de 15% a 20% da renda familiar dos pagantes mais pobres (renda familiar mensal de até R$913,09). E apenas de 5% a 7% dos mais ricos (com renda familiar mensal de até R$117.219,20). Como efeito dessa distorção, há, para o Instituto, incentivo à informalidade urbana e à autoconstrução ilegal.

O médico Alexandre Marques ainda não tem como fugir do aluguel, mas sonha em ter uma casa própria:

- Amanhã mesmo (hoje) vou ao banco pedir um empréstimo para comprar um apartamento. Os preços de aluguel estão muito altos.

O garçom Antônio Marcos Batista e a balconista Luciana Salkine pensam em dar entrada em um imóvel no futuro. Hoje, alugam um conjugado por R$450.

- Pagamos aluguel há cinco meses. Mas estamos economizando para comprar uma casa - diz Luciana.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Bancos lançam serviço na internet para comparar pacotes de tarifas

Folha de São Paulo

01/12/2010

CONCORRÊNCIA

DE SÃO PAULO - Os clientes dos bancos podem consultar, a partir de hoje, a relação dos pacotes de tarifas oferecidos pelas instituições financeiras.
A nova ferramenta via internet permite a comparação de 72 pacotes de serviços dos 13 maiores bancos do país -Bradesco, Citibank, Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Banrisul, Itaú, Mercantil do Brasil, Safra, Santander, Banestes, BRB, Caixa Econômica Federal e HSBC.
Até ontem, o sistema só comparava as 46 tarifas mais utilizadas pelos consumidores e os pacotes padronizados criados pelo Banco Central.
No sistema, os consumidores podem fazer pesquisas sobre pacotes por parâmetros como preço e quantidade de determinados serviços. Um cliente poderá ver, por exemplo, qual pacote de tarifa mais se encaixa no seu perfil particular de consumo de serviços como emissão de cheques.
Lançado em setembro de 2007, o programa Star (Sistema de Divulgação de Tarifas e Serviços Financeiros) foi a primeira iniciativa conjunta dos bancos na área de autorregulação. Surgiu como resposta às discussões no governo para controlar as tarifas bancárias, cuja regulamentação só começou a valer em abril de 2008.
"O Star aumentou a concorrência e reduziu as reclamações sobre tarifas no BC, nos Procons e nas ouvidorias dos bancos", disse Ademiro Vian, diretor-adjunto de Produtos da Febraban.
O Star fica no endereço www.febraban-star.org.br.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

CDB sob o efeito PanAmericano

Valor Econômico


 

25/11/2010


 

Por Alessandra Bellotto | de São Paulo

 
 

Depois de mais de uma semana de mercado em compasso de espera, desde que um rombo bilionário no Banco PanAmericano veio à tona, os investidores começam a se deparar com ofertas de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) a taxas mais altas. A mudança atinge especialmente títulos de bancos médios - mais vulneráveis a problemas no segmento - e tem como pano de fundo a desconfiança "natural" do investidor em relação à estabilidade das instituições financeiras.

Esse fenômeno, afirmam especialistas, é pontual. E, para alguns, não significa necessariamente uma oportunidade de investimentos. O diretor da Orey Financial, Carlo Moratelli, conta o caso de um cliente do escritório de aconselhamento financeiro que optou por comprar um CDB de um grande banco de origem estrangeira a renovar sua aplicação em uma instituição de menor porte ligada a um conglomerado, mesmo recebendo menos. "Ele trocou 107% do CDI por 103% para o mesmo prazo de dois anos", diz.

Moratelli ressalta que os 107% oferecidos na renovação do CDB já embutiam um adicional de prêmio em relação à aplicação anterior, apesar do ambiente de alta liquidez. Por quê? Efeito PanAmericano. "Os bancos médios estão enfrentando o receio do investidor de que pode haver outros desequilíbrios", afirma, referindo-se às "inconsistências contábeis" descobertas no PanAmericano, que resultaram no rombo de R$ 2,5 bilhões.

Em uma outra situação, a Orey foi abordada por um banco médio oferecendo um depósito a prazo com garantia especial (DPGE) de um ano a 110% do CDI. Esses títulos foram criados em abril de 2009, logo após a crise financeira global, para restabelecer a liquidez dos bancos médios. Como tem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o limite de R$ 20 milhões, o custo para a emissão é mais alto e, portanto, o banco tende a evitá-lo. Isso é mais um sinal de que há alguma restrição de liquidez.

É natural que um evento como o do PanAmericano tenha provocado um aumento da aversão a risco em relação a instituições menores e, consequentemente, elevado o custo de captação desses bancos, afirma o sócio da Capital Investimentos, Francisco Costa. "Seria leviano afirmar que outros bancos adotam as mesmas práticas do PanAmericano, mas o caso abre a possibilidade de questionamento por parte do investidor", diz.

Costa destaca, contudo, que o aumento das taxas pagas pelos CDBs de bancos médios foi pequeno, de dois a três pontos percentuais acima do que pagavam. "Não houve pânico, até porque foi encontrada uma solução rápida e favorável para o caso PanAmericano", afirma.

Para Moratelli, da Orey, apesar de o episódio ter sido pontual e não representar risco nem para o banco nem para o sistema, os prêmios oferecidos não valem o risco de crédito. "O problema (com o PanAmericano) serviu para alertar o investidor de que há risco", diz. E, para se proteger desse risco, no caso de crédito privado de instituições menores, a taxa tem de ser de, pelo menos, 120% do CDI, acredita Moratelli.

Ele afirma, ainda, que o investidor deve ficar atento ao cenário macroeconômico. Segundo Moratelli, as atuais pressões inflacionárias fatalmente serão combatidas via aumento de juros e, sempre que isso acontece, há o risco de desencadeamento de um processo de inadimplência. "O crédito privado pode se tornar mais arriscado", diz.

Costa, da Capital, também acredita que o episódio do PanAmericano acendeu uma luz amarela para os riscos. "O momento é mais do que oportuno para o investidor parar para avaliar se tem segurança na instituição para quem está dando crédito ao comprar um CDB, olhar a tradição e o histórico do banco e sempre observar o limite de R$ 60 mil, garantido pelo FGC", diz. Não dá para colocar todos os bancos na mesmo cesta do PanAmericano, mas o investidor precisa ser seletivo, segundo Costa.

O superintendente executivo de investimentos do Santander, Edson Franco, afirma que não notou mudanças relevantes no mercado de CDBs depois do caso PanAmericano, nem em termos de volume nem de taxas. "Pode ter havido alguma alteração pontual, nada generalizado", diz. Segundo ele, em momentos de incerteza, é natural que bancos médios paguem prêmios maiores, assim como investidores busquem proteção, deflagrando um movimento conhecido como "flight to quality". "Bancos maiores podem ser privilegiados."

Mas, no universo das grandes instituições, Franco afirma que o mercado é muito parecido, já que a concorrência é grande. Para o investidor de menor porte, segundo ele, as taxas dos CDBs escalonados, com remunerações progressivas conforme o prazo, são imbatíveis. No Santander, na modalidade que recebeu o nome de Recompensa, as taxas podem chegar a 100% do CDI após quatro anos para investimentos a partir de R$ 1 mil. Para aplicação mínima de R$ 30 mil, a remuneração máxima é 101% do CDI para prazos superiores a três anos. Já a partir de R$ 250 mil, o investidor pode obter um ganho de 102% do CDI acima de três anos.

Edson ressalta, ainda, que o episódio do PanAmericano serviu para mostrar a importância de haver um mecanismo de proteção como FGC. "Isso para o investidor médio é fundamental e pode ser levado em conta na hora de decidir pelo investimento em CDB, juntamente com o nível de confiança na instituição", diz.

Alta da taxa de juros pode reaquecer mercado de CDB

Valor Econômico


 

25/11/2010


 

Por Alessandra Bellotto | De São Paulo

 
 

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), que perdem terreno no segmento de investidores individuais desde meados do ano passado, podem retomar o crescimento diante da perspectiva de alta da taxa de juros para controle da inflação. "Toda vez que há um cenário de elevação de juro, o investidor privilegia aplicações atreladas ao CDI", afirma o superintendente executivo de investimentos do Santander, Edson Franco.

Estimativas do Santander mostram mais resgates do que aplicações em CDBs neste ano no segmento pessoa física. Até outubro, os saques superaram os R$ 11 bilhões. No total, o mercado de CDB teve captação líquida de R$ 31,2 bilhões no mesmo período, segundo levantamento do Valor Data com base em informações do Banco Central. Só em novembro, até o dia 17, as emissões de CDBs já somam R$ 16,4 bilhões.

 
 

Em 2009, o desempenho dos CDBs foi no geral fraco. Considerando todo tipo de investidor, os resgates superaram as aplicações em R$ 6,9 bilhões. Só no segmento pessoa física, apontam as estimativas do Santander, os saques foram de R$ 14,9 bilhões.

O baixo apetite por CDBs, na visão de Franco, tem a ver com a busca do investidor por diversificação, a fim de obter retornos melhores. "Hoje, só com a renda fixa não se consegue mais o 1% ao mês." Tanto que os fundos referenciados DI também vêm sofrendo no último ano. Em 2010, até o dia 19 de novembro, essas carteiras perdem R$ 2,3 bilhões, segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

A discussão entre os bancos, continua Franco, deve sair do âmbito "produto" para "portfólio", com o intuito de oferecer o melhor mix de aplicações e, assim, maximizar a performance dos investimentos do cliente.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Plano de previdência fechada tem custo menor

Folha de São Paulo

22/11/2010


 

Produto é alternativa a fundos empresariais

MAÍRA TEIXERA
ENVIADA ESPECIAL A OLINDA

Em busca de uma aposentadoria mais próspera, o trabalhador tem uma alternativa aos planos PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) oferecidos pelas instituições financeiras: a previdência fechada.
Mas engana-se aquele que pensa que só é possível ter um plano desses se o empregador contribuir e tiver um plano empresarial.
Quando o trabalhador não tem um plano patrocinado pelo empregador pode recorrer aos planos previdenciários instituídos por associações, entidades de classe, sindicatos.
"A grande vantagem desses planos instituídos é que, como as entidades não visam ao lucro, a rentabilidade é transferida direto para o participante", explica Rangel.
Segundo Silvio Rangel, diretor-superintendente da Fibra (Fundação Itaipu-BR de Previdência e Assistência Social), as taxas cobradas pelas instituições que "visam ao lucro", diminuem a rentabilidade dos planos PGBL e VGBL.
"No PGBL e no VGBL, as taxas de administração e de carregamento podem onerar demais o investimento ao longo do tempo. Esses planos [de bancos e seguradoras] são uma opção saudável, que garantem uma boa aposentadoria, mas não são baratos", diz Rangel.
Segundo ele, muitas vezes, dependendo do perfil da contribuição, o banco fica com a metade do benefício. Já os planos fechados têm taxas bem mais baixas, até de 0,5%, afirma.
"Nos planos de previdência instituídos, o rendimento é todo revertido para o poupador", diz o presidente da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas), José de Souza Mendonça.
Para ele, a previdência fechada é importante para que não se chegue à velhice com a renda pela metade da fase economicamente ativa do contribuinte.
Segundo Carlos de Paula, Diretor de Análise Técnica da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), a procura por esse tipo de previdência tem crescido.
"Muitas federações e sindicatos têm dado acesso à previdência complementar a muitas categorias, inclusive aos autônomos."

COMO FAZER
A orientação para o trabalhador que está planejando fazer a previdência complementar é saber se faz parte de alguma entidade de classe, de alguma associação que tenha um plano instituído e buscar conhecer antes de optar por um PGBL e VGBL.
Depois de pesquisar na entidade trabalhista, é hora de comparar os valores cobrados para a administração dos valores poupados (taxas, imposto de renda).
É importante também verificar o histórico de rentabilidade. Não adianta ser barato, se rende abaixo da média de mercado.
Na hora de fazer qualquer previdência complementar, apontam especialistas, é preciso verificar a cobertura que o plano dá, além do benefício. É bom saber se cobre pensão por morte ou por invalidez, por exemplo, e não apenas analisar o benefício.

A jornalista MAÍRA TEIXERA viajou a convite da Abrapp (associação das entidades de previdência complementar)

domingo, 7 de novembro de 2010

Barato lá fora, caro aqui

O Globo

07/11/2010


Produtos no Brasil custam até seis vezes mais que no exterior, devido principalmente a altas margens de lucro e carga tributária

Vivian Oswald e Martha Beck
BRASÍLIA

Aonda de crescimento econômico e o câmbio valorizado despertaram o brasileiro para as compras, mas também revelaram um problema antigo do qual poucos haviam se dado conta: o Brasil é um país cada vez mais caro. Produtos simples podem custar nas lojas brasileiras mais de seis vezes o que saem seus similares no exterior, caso de uma bomba para retirar leite materno.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que uma conjunção perversa de fatores contribui para essa distorção, da carga tributária elevada às margens de lucro exorbitantes, mas também têm forte caráter cultural.

Para baixar custos, a saída de muitos tem sido ir comprar lá fora.

Pesam também o mercado consumidor ainda em desenvolvimento, a abertura recente da economia, a falta de referência de preços e a crença de que importados são produtos de luxo e de melhor qualidade e, por isso, naturalmente mais caros. Tradicionais vilões que também deixam sua marcas são o oligopólio de importadores, a excessiva burocracia e a falta de uma infraestrutura que permita custos de transporte mais baratos num país de dimensões continentais.

A entrada de mais 30 milhões de pessoas na classe média também fez com que as empresas revissem estratégias de marketing e investissem em campanhas que levassem a população a querer comprar o que consumidores de outros países adquirem.

Segundo fontes ligadas ao setor de publicidade, as áreas de marketing costumam avaliar quanto o público-alvo aceitará pagar por um produto na hora de fixar a margem de lucro do fabricante. Quanto mais cobiçado ele for, mais se cobrará.

A brasiliense Cristina Madeira é apenas uma das dezenas de mães recentes que optaram por montar os enxovais de seus filhos fora do Brasil: — Comprei no exterior, porque a qualidade dos produtos é melhor e os preços, muito menores. Comprei carrinho, roupas, cadeirinha para o carro e bebê conforto. Tudo o que trouxe para o Rafael, que vai fazer um ano agora, vai dar nele até os dois anos.

Cristina gastou R$ 5 mil com as compras. No Brasil, só o carrinho de bebê sairia a R$ 2.500.

— Agora, Miami está no meu roteiro — completa.

— Há alguma coisa muito errada quando vale a pena a pessoa tomar um voo de nove horas para fazer compras no país mais rico do mundo para economizar. Para ter uma moeda forte, o país precisa passar por profundas reformas e investir em infraestrutura — avalia o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, cujo setor sofreu com a competição dos importados, mas vem se ajustando.

As operadoras de turismo já identificaram o novo nicho e planejam criar roteiros de compras dedicados às jovens mães em seus pacotes aos Estados Unidos. O consumo já está em alguns roteiros. A CVC, por exemplo, lançou há um ano o pacote “Compras em Buenos Aires” e acaba de incluir na rota de Las Vegas um périplo por outlets com os quais fez acordos para garantir bons descontos aos clientes.

— As pessoas querem viajar. Mas têm manifestado o desejo de comprar também — diz Vitor Bauab, da área de estratégia e novos negócios da CVC.

Os brasileiros estão sujeitos à cota de US$ 500 para passar com suas compras na aduana. Mas muitos consideram que vale a pena pagar o imposto de 50% sobre o que extrapolar.

— Trouxe um laptop último modelo há um ano, paguei o imposto, e ele ainda me saiu R$ 1.500 mais barato — conta o consumidor Henrique Lopes.

Viagens e internet dão noção de preços

Estrangeiros que desembarcam aqui com dinheiro para gastar também se surpreendem com os preços. Não à toa o país acaba de ser eleito o quarto mais caro do mundo, segundo o índice que compara preços de um sanduíche Big Mac em várias economias.

Após quase quatro anos de espera, o PlayStation 3 chegou ao Brasil por R$ 2 mil. Nos EUA, o mesmo equipamento sai a US$ 300, ou cerca de R$ 510. Neste caso, certamente os tributos não chegam a quatro vezes o valor do produto.

É de cerca de 70%.

Pesquisa do Movimento Brasil Eficiente indica que, enquanto um Toyota Corolla XEI 2.0 custa R$ 75 mil no Brasil, sai a R$ 58.740 na África do Sul, R$ 33.782 no Japão e R$ 32.797 nos EUA. O grupo garante que a chave do problema está na alta carga tributária. Mas ela sozinha não explica diferenças.

Estudo do Morgan Stanley feito no ano passado na Inglaterra mostra que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro de suas matrizes e que grande parte disso vem dos carros com aparência de off-road. Os técnicos do banco calcularam que o custo de produção desses carros é 5% a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais no país.

O oligopólio (poucas empresas dominando um mercado) é outro fator que joga contra o consumidor. Este seria o caso dos vinhos. Editor da revista eletrônica EnoEventos, Oscar Daudt diz que as margens de lucro são altas e as diferenças podem chegar a 150% em relação aos mesmos vinhos importados nos EUA.

De 2003 a 2009, o mercado consumidor ganhou um exército de 35 milhões de pessoas que ascenderam às classes A, B e C. As viagens ao exterior (dois milhões a mais foram para fora do país no período) e o acesso crescente à internet foram importantes para dar referências sobre preços, segundo o chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri.

A liberdade para pagar as compras também aumentou nos últimos anos.

O número de cartões de crédito, que em 2000 era de 28,5 milhões, passou a 153,4 milhões em 2010.

Margem até 100% no Brasil, 10% nos EUA

Para agradar os consumidores as empresas vão ter de diminuir as suas margens de lucro. Especialistas afirmam que está começando a mudar a cultura no Brasil de que as empresas podem ter margem de 100%, enquanto em países como os Estados Unidos, por exemplo, isso é impossível. Estimase que as empresas americanas apliquem margens de 5% a 10%.

Apesar de tudo, as importações têm favorecido o consumidor. Mesmo com toda a gritaria do setor têxtil, por exemplo, a abertura da economia permitiu que o item vestuário nos últimos 15 anos subisse menos da metade da inflação média, segundo a FGV.

— A cara do mercado vai mudar com a abertura da economia e o aumento consistente da classe média.

Haverá alternativas para consumo, novos preços e qualidade no futuro, mas de maneira heterogênea. Falta muito para nos aproximarmos de outros países.

Estamos no meio do caminho — diz Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

BC denuncia agiotagem on-line

Correio Braziliense

03/11/2010

A pedido do Banco Central, Ministério Público abre processo contra o site Fairplace, suspeito de crime por oferecer empréstimos sem autorização

Fernando Braga

O Banco Central decidiu agir para conter, ainda no início, o que chama de agiotagem on-line, que pode deixar um rastro de prejuízos país afora. A instituição denunciou ao Ministério Público a Fairplace, que se apresenta com uma rede social na qual quem tem dinheiro pode emprestar para quem precisa a juros menores do que os cobrados no cheque especial ou no cartão de crédito (entre 9% e 10% ao mês). Na avaliação do BC, a Fairplace está transgredindo a lei ao exercer o papel de instituição financeira sem ter autorização para isso. Os responsáveis serão investigados pelo MP e poderão ser enquadrados na Lei nº 7.492, a do Colarinho Branco, por crime contra o sistema financeiro nacional.



Quem vê a propaganda da Fairplace na internet acredita se tratar de um negócio da China. De um lado, o site oferece a quem empresta o dinheiro a possibilidade de receber um rendimento (3,2% ao mês, em média) muito superior ao pago por aplicações tradicionais como a caderneta de poupança e os fundos de renda fixa entre 0,5% e 0,8% mensais. De outro, garante aos tomadores do empréstimo a possibilidade de saírem do sufoco por meio de débitos mais baratos. Para o BC, trata-se de um processo semelhante a uma pirâmide. Bastará alguns dos devedores não honrarem seus compromissos para que uma onda de calote seja detonada. Os próprios responsáveis pela Fairplace garantem que não se responsabilizam por qualquer problema. São meros repassadores de recursos.



As negociações entre emprestadores e tomadores de crédito são fechadas por meio de leilões, um sistema chamado de P2P (ponto a ponto). Vence aquele que aceitar a taxa de juros mais baixa para emprestar os recursos que pode chegar ao valor de R$ 5 mil por operação. Criada há seis meses, a Fairplace já conta com 14 mil pessoas credenciadas e realizou 410 operações, movimentando R$ 1,6 milhão. Com todos esses números, a rede social não se intimidou em propagandear seu sucesso, mesmo ciente de estar operando à margem da lei. No último 23 de outubro, porém, o Correio alertou para os riscos das facilidades oferecidas pela Fairplace. De início, o BC se recusou a se posicionar sobre as irregularidades. Mas acabou reconhecendo que havia denunciado a empresa ao MP em agosto. O processo já foi aberto.


Intermediário

O sistema criado pela Fairplace passa aos interessados um ar de sofisticação. Para tentar um empréstimo, o interessado deve preencher um cadastro, onde é avaliado o seu nível de risco pela conceituada Serasa Experian. Com os dados em mãos, emprestadores realizam um leilão, no qual oferecem o dinheiro com diferentes taxas de juros. Ganha quem propõe a mais baixa. Desse modo, o site recebe 2% de cada parcela recebida pelo emprestador. Já quem assumiu a dívida paga uma comissão que pode variar de 5% a 8% do valor.



O sócio-fundador da Fairplace, Eldes Mattiuzzo, apresenta o site sem constrangimento. Trata-se de uma sociedade prestadora de serviços de intermediação e captação de empréstimos entre particulares por meio virtual, diz. E acrescenta: A Fairplace não faz qualquer tipo de concessão direta de empréstimos ou financiamentos. Apenas usamos nossa plataforma na internet para reunir as pessoas interessadas nos negócios.



Na visão de especialistas, o BC está corretíssimo em agir, para evitar que o modelo usado pela Fairplace se espalhe como uma praga. Para ser intermediário do mercado financeiro é preciso ter o registro de instituição financeira ou de fundo de investimento. Se há um novo meio que ofereça investimentos ao público, ele deve estar cadastrado junto aos órgãos competentes, afirma José Luiz Rodrigues, presidente da Consultoria JL Rodrigues, voltada para o sistema financeiro.



A mesma avaliação é feita pelo professor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC. Captar recursos junto ao público é privativo de instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central ou de fundos de investimentos licenciados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), observa. Para ele, uma entidade que capta recursos de terceiros à margem da legislação gera risco para a poupança popular. (Colaborou Vânia Cristino)




Como funciona




Cadastro

Quem deseja obter o empréstimo faz o cadastro no site e preenche uma ficha com dados pessoais e o valor de que necessita.


Classificação

O site classifica o usuário de acordo com o seu perfil e o risco que ele apresenta em não pagar o empréstimo. Mas o site não se responsabiliza por possíveis calotes.


Leilão

Pessoas que desejam emprestar o dinheiro participam de um leilão, cujo vencedor é o que oferece menores taxas de juros.


Retorno

Se tudo der certo, o emprestador recebe de volta o dinheiro em parcelas com os juros mensais

pré-estabelecidos.


Lucro

Em troca, o site recebe 2% do valor de cada parcela recebida pelo emprestador. Já quem captou o dinheiro paga uma comissão que pode variar de 5% a 8% do montante total.




Dicas para não se dar mal




Veja se o serviço é autorizado

Qualquer um que ofereça investimentos coletivos (como fundos, clubes de investimento e contratos do tipo boi gordo) ou se apresente como intermediário de uma instituição financeira precisa de autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como pessoa física, ou do Banco Central (BC), como pessoa jurídica.


Procure por registros

A CVM mantém o registro de quem atuou de forma irregular no passado. Com CPF ou CNPJ de quem oferece o serviço financeiro, o cidadão pode fazer consultas no site da CVM (www.cvm.gov.br). Basta ir em Atos Declaratórios Suspensão de Atividade Irregular.


Desconfie de depoimentos

Uma tática comum dos criminosos é usar depoimentos de quem parece ter aproveitado a oportunidade e ficado satisfeito. Mas lembre-se: depoimentos de desconhecidos não têm valor para decisões financeiras.


Confira quem são os representantes

Muitos golpistas usam o nome de uma instituição credenciada, mas apresentam dados diferentes para contato. Por isso, é importante checar se o suposto prestador de serviços realmente representa uma determinada empresa do setor.


Tenha calma

Geralmente os fraudadores pressionam as vítimas e tentar impedir que elas avaliem com calma as propostas. O discurso costuma envolver uma chance imperdível e a necessidade de pressa para que ela possa ser realizada.


Tome cuidado em eventos

A CVM recomenda que as pessoas tenham um cuidado especial com abordagens e propostas feitas em eventos, como cursos, feiras de negócios ou mesmo websites.




Lei prevê até prisão





Se a Lei nº 7.492, do Colarinho Branco, for seguida à risca pelo Ministério Público, os responsáveis pela Fairplace poderão estar sujeitos à prisão. A norma considera instituição financeira pessoa jurídica de direito público ou privado, que tenha como atividade a captação, intermediação, administração ou aplicação de recursos financeiros de terceiros. Justamente o que o site afirma que não é. Em casos como esse, o BC tem de agir rápido para evitar que o menor número de pessoas sejam afetadas, afirma um ex-diretor de Organização e Normas do Banco Central.



A legislação brasileira, por meio do Sistema Financeiro Nacional, atribui ao BC as tarefas de conceder autorização, regular e fiscalizar as atividades das instituições financeiras que funcionam no país. A CVM, por sua vez, é responsável por regular o segmento de capitais, protegendo os investidores. Por meio da política conhecida como disclosure, os administradores de fundos são obrigados a divulgarem diariamente informações como patrimônio líquido, investimentos, resgates e número de investidores de cada carteira, explica o superintendente de Relações com Investidores Institucionais da CVM, Francisco José Bastos Santos. Além disso, sempre que um fundo operar de forma irregular, o órgão alertará o mercado por meio de boletins.



Na visão de Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC, apesar de o Banco Central e de a CVM se esforçarem para ser cada vez mais eficientes no que diz respeito a regulação, sempre estão atrás das soluções que surgem no mercado. Com o tempo, as autoridades do sistema financeiro estão se tornando mais eficientes, mas, mesmo assim, é difícil, porque elas sempre ficarão para trás, pois o mercado é muito ágil e criativo, diz. (FB)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Investidor busca lucro com ação em baixa

Folha de São Paulo

01/11/2010


Volume de aluguel de papéis por pessoas físicas bateu recorde em setembro, movimentando R$ 2,1 bilhões

Operação permite obter ganhos com queda de ativos; aumento dos negócios indica maior especulação na Bolsa

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

O investidor pessoa física está mais ousado. Em setembro, pelo segundo mês seguido, o volume de ações que esses aplicadores alugaram de outros investidores (bancos, fundos etc.) bateu recorde. Foram R$ 2,1 bilhões, de acordo com a BM&FBovespa.
Isso significa que mais investidores estão especulando em cima da oscilação dos papéis, buscando lucro em momentos de queda.
"A Bolsa vinha de anos seguidos de alta. Era só comprar a ação e esperar subir. Com esse solavanco [a crise de 2008], o mercado ficou mais difícil", diz Paulo Levy, diretor da corretora Icap.
A operação mais simples consiste em alugar ativos de outro investidor e vendê-los para comprá-los depois e devolvê-los. Quem faz isso acredita que a ação vai cair e por isso vai conseguir recomprá-la por um preço menor depois, embolsando a diferença (veja exemplo no quadro).
"É um jeito de ganhar sem ter o papel na carteira. Mas, se a ação disparar, vai ter de comprar para devolver", resume Marcelo Coutinho, sócio-presidente da Youtrade.
O aluguel de uma ação dura, no mínimo, um dia. Os contratos, geralmente de 30 dias, podem ser renovados.
Quem aluga paga ao dono do papel uma taxa, que varia de acordo com o ativo e a demanda, e é proporcional ao tempo de demora para a devolução. Quando mais gente acredita na queda do papel, a procura pelo aluguel aumenta e o custo, também.
Nas duas últimas semanas, quem alugou a ação ordinária da Petrobras pagou em média 0,54% ao ano.
Entre os dias 15 de setembro 5 de outubro, a taxa média era de 8,46% ao ano.
O aluguel da ação de uma pequena empresa como a Refinaria de Manguinhos saía, em média, por 19,68% ao ano nos últimos 15 dias.

RENDA EXTRA
Alugar ações para outros investidores é uma fonte de renda extra para quem costuma comprar papéis e mantê-los parados.
A maior parte dos investidores pessoas físicas, no entanto, atua na ponta mais conservadora, alugando suas ações para outros operadores. Em setembro, pessoas físicas alugaram R$ 10,9 bilhões para outros investidores. O volume foi recorde em agosto: R$ 13,7 bilhões.
Apesar de o retorno, em geral, ser baixo, o economista Francisco Rocha liga toda semana para sua corretora para alugar seus ativos.
"É um rentabilidade muito reduzida, mas já é alguma coisa. Alugo todas as ações: da Vale, da Petrobras, da Random e da Fosfertil."
"O único risco que o investidor tem é o de perder uma boa oportunidade de venda", observa o educador financeiro Mauro Calil.
Quem aluga o papel de alguém automaticamente deposita garantias (ações, títulos ou dinheiro) na BMF&Bovespa que cobrem mais de 100% do valor alugado.
Isso dá segurança ao "doador" do papel de que o "tomador" terá recursos para recomprar os ativos e devolvê-los. Essa garantia é ajustada diariamente, de acordo com a oscilação do papel.

"INTRA DAY"
Se o investidor quiser ganhar com a queda do papel no "intra day" (num só pregão), ele não precisa alugar as ações.
Pode fazer uma venda a descoberto, ou seja, vender ações que não tem para comprar no mesmo dia. Isso é possível porque, quando um papel é vendido, ele só é efetivamente entregue depois do fechamento do pregão.
O ex-empresário Silvio Vaiano se desfez dos negócios há um ano e meio e desde então faz vendas a descoberto diariamente. "Já tive alguns prejuízos. Meus ganhos por operação ficam entre 0,4% e 0,8%. Ao atingir esse patamar, fecho a operação."

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Investimentos às cegas

Valor Econômico

28/10/2010

Por Luciana Monteiro | de São Paulo


Interessado no mercado acionário, o funcionário público Édson Sabino, de 48 anos, abriu uma conta no ano passado na corretora do Real - mais tarde Santander -, para investir em ações pela primeira vez. Como não é muito dado a computadores, ele ligou diretamente para a mesa de operações da instituição e mandou comprar papéis da Vale.

O papel se valorizou e Sabino, animado, vendeu as ações e ficou esperando por uma outra oportunidade. Depois de quatro meses, viu que os BDRs (recibos de ações de empresas com sede no exterior) da Parmalat/Laep estavam entre os papéis mais negociados da bolsa. Aqui começa o drama do funcionário público.

Interessado, Sabino ligou para a mesa da corretora e pediu para comprar 108 mil BDRs da Laep, na época cotada a R$ 1,12, o que totalizou R$ 121 mil. Mas o papel começou a cair sistematicamente. O investidor, então, ligou para a corretora em busca de um relatório, de preferência técnico, sobre a empresa e foi informado que o Santander não faz a cobertura desse papel. Depois de perder dinheiro dia após dia, Sabino resolveu vender os papéis a R$ 0,71 e amargou um prejuízo de R$ 44 mil.

"Sei que aplicar em bolsa é arriscado, mas acredito que a corretora deveria ter me alertado sobre o risco específico desse papel", reclama. "É como comprar um carro usado e ninguém te avisar que o motor está prestes a fundir", diz o funcionário público. "Ações são investimentos de alto risco, mas em nenhum momento alguém me disse que se tratava de um papel de baixa liquidez." Ele afirma que achou que se tratava de um papel que tinha alta liquidez e alega que não teve o auxílio e assistência da corretora do banco.

O caso do funcionário público não é isolado. É comum investidores iniciantes serem seduzidos por fóruns de discussões que manipulam informações a favor de empresas de baixíssima liquidez e que oscilam fortemente ao sabor dos boatos. Outros, se deixam levar por dicas de conhecidos, que entendem tanto quanto eles de mercado. E, com a bolsa em alta nos últimos anos, criou-se o mito de que o ganho em ações é fácil, rápido e certo, fazendo o iniciante desprezar o estudo e o conhecimento dos papéis.

A situação é mais delicada no momento em que bolsa e corretoras se unem para aumentar o número de investidores. Hoje, são cerca de 630 mil pessoas físicas com contas na bolsa. E o projeto da BM&FBovespa é atingir 5 milhões de investidores em cinco anos. Mas como evitar que uma massa de investidores inexperientes comprometa suas economias?

O caso suscita uma pergunta: a corretora deve alertar o investidor quando ele decide comprar um papel sem liquidez? Eduardo Jurcevic, superintendente-executivo da Santander Corretora, explica que o operador da mesa não pode orientar a compra ou a venda de um papel, mas pode falar com base em um relatório elaborado pela área de pesquisa. "Mas, no caso de um papel que não coberto pela corretora, não é possível fazer qualquer comentário, já que não há no que se basear, não há uma análise", afirma.

O executivo ressalta que a corretora faz a cobertura de 104 empresas, que representam 96% do volume da bolsa. E recomenda: "Quem está começa a investir em bolsa agora deve procurar ações que sejam analisadas pelas corretoras e tenham liquidez alta", diz. Para Jurcevic, é preciso olhar o número de negócios com o papel por mais de um dia, para não ser levado a acreditar que uma ação tem liquidez quando, na verdade, está sendo puxada por especulação.

Mas fica a pergunta: por que essas recomendações não podem ser dadas ao investidor na hora em que ele compra ações ilíquidas na corretora? Até para isentar as instituições - que investem pesado em cursos e palestras de divulgação do mercado - de qualquer problema.

Depois das reclamações, Sabino foi procurado pelo gerente de uma sala de ações do Santander, explicando que ele poderia ter se informado sobre os papéis que comprou com um dos especialistas do serviço. "O problema é que ninguém me disse que havia esse serviço à disposição", diz o funcionário público.

Isso levanta outra discussão, que é a necessidade de integração entre corretora e os gerentes dos bancos, ainda focados em produtos oferecidos pela instituição, como fundos e CDBs. O investidor, no entanto, também precisa fazer a sua parte: no site da corretora do Santander, por exemplo, há uma lista com as cerca de cem salas de ações disponíveis pelo Brasil.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Corretoras ajudam o investidor a calcular IR

Folha de São Paulo

25/10/2010

Serviço é oferecido para atrair clientes

MARIANA SCHREIBER
DE SÃO PAULO

Imposto de Renda: pode ser chato, complicado, mas não há como fugir dele.
Para tornar essa obrigação menos desagradável e atrair clientes, corretoras oferecem cada vez mais serviços que facilitam o acerto de contas dos investidores com o leão.
Até o fim deste mês, a corretora Spinelli passa a calcular mensalmente, sem nenhum custo, quanto os seus 18 mil clientes devem à Receita Federal ou se estão isentos.
O serviço cobrirá todas as operações de renda variável (mercado à vista, opções, termo e derivativos).
Por enquanto, o programa está em fase de testes, atendendo 200 investidores com grande volume de negócios.
Rodrigo Puga, responsável pela área de "home broker" da corretora, afirma que o único trabalho do investidor será pagar o imposto.
"Assim que virar o mês, vamos gerar relatórios com todas as operações realizadas e os lucros e os prejuízos registrados. Se houver imposto a pagar, disponibilizaremos o Darf [Documento de Arrecadação de Receitas Federais] preenchido. O cliente só vai precisar pagar."
Segundo Puga, a corretora se responsabilizará por qualquer erro no cálculo do IR, feito em parceria com a empresa de consultoria tributária Arbor.
Os clientes que operam também em outras corretoras terão de calcular por conta própria se os negócios fora da Spinelli elevam o valor do imposto a pagar ou se permitem abatimentos.
Puga acredita que a comodidade oferecida pela Spi- nelli fará seus clientes concentrarem suas operações na corretora:
"Muita gente não recolhe IR hoje pelo trabalho. Não sabe as regras, o que pode abater ou não. As pessoas não vivem de Bolsa. Trabalham e muitas vezes não têm tempo de cuidar disso".
Os lucros obtidos com renda variável são tributados mensalmente em 15%. Em caso de "daytrade" (operações de compra e venda realizadas no mesmo dia), a alíquota é de 20%. Quem vende menos de R$ 20 mil por mês está isento.
Perdas em meses anteriores podem ser abatidas dos ganhos subsequentes, reduzindo o imposto a pagar.

REGULARIZAÇÃO
A Tema Sistemas, que desde 2007 comercializa uma ferramenta de cálculo do imposto sobre ganhos no mercado à vista, passou a oferecer neste ano um serviço de regularização para investidores em dívida com a Receita.
Erickson Fonseca, diretor da Tema, lembra que o investidor que deixa de pagar imposto em um mês já está irregular. A multa normalmente varia de 75% a 150% sobre o imposto devido, mas pode chegar a 225%, caso a Receita Federal considere que houve má-fé.
"Se o investidor toma a iniciativa de se regularizar antes de a Receita identificar o erro, a multa não passará de 20%", afirma Fonseca.
Até o fim do ano, o sistema servirá também para operações com derivativos.
Dez mil investidores usam o programa da Tema mycapital, que pode ser contratado diretamente na empresa. Sete corretoras já oferecem o serviço e outras cinco estão negociando com a empresa.

Importante é o que lhe interessa

Folha de São Paulo

25/10/2010


Gustavo Cerbasi


Identifique o que menos contribui para você ser feliz; esse é o gasto a cortar para priorizar seu objetivo


DIGAMOS QUE você queira diminuir seus gastos mensais, seja para estancar um desequilíbrio financeiro, seja simplesmente para aumentar a poupança em busca de um desejado objetivo de consumo.
Uma estratégia comum e bastante equivocada é a de começar a apontar os supérfluos e limar diversos focos de consumo corriqueiro.
Essa estratégia deve ser reconsiderada, pois raramente se percebe que os gastos descompromissados de pequeno valor, que alguns insistem em chamar de supérfluos, correspondem à fonte mais frequente de felicidade em nossas vidas.
Os pequenos gastos nem sempre são tão pequenos quanto se imagina quando os somamos ao final de um mês.
Mesmo o mais rudimentar dos controles financeiros nos ajuda a comprovar isso.
Além disso, se chamamos de supérfluo aquele consumo que não nos traz utilidade, é difícil exemplificar um gasto supérfluo.
Não importa se a pessoa comprou 20 pares de sapato ou uma enorme coleção de canecas; se os bens comprados não eram necessários, talvez o ato de consumo tenha sido a necessidade de alguém frustrado com outros aspectos da vida.
Indubitavelmente, a melhor tradução de felicidade está nas grandes conquistas, como o primeiro emprego, ter um filho ou quitar a casa própria. Mas, será que podemos desprezar a felicidade que nos traz um cafezinho, uma revista ou uma "quick massage"? E a felicidade de dispor de parte de nossa renda para ajudar a uma causa humanitária?
Infelizmente, estamos habituados a dar mais importância a aspectos burocráticos de nossas vidas, como o padrão da moradia, do carro e da moda que temos no guarda-roupas, e a deixar em segundo plano aspectos de consumo que realmente individualizam nossa personalidade.
Abomino a ideia de, diante da necessidade de economizar, partirmos para a corrosão da felicidade familiar, sugerindo o banimento de hábitos individuais para viabilizar uma conquista de médio ou longo prazo.
Parece-me mais sensato economizar em poucas e grandes escolhas, trocando o automóvel da família por um mais barato, por exemplo, com o intuito de preservar a multiplicidade de fontes diárias de felicidade.
Pessoas mais felizes vivem melhor, dormem melhor, são mais criativas e produtivas. Isso tem a ver com consumo. Você conhece algum artista ou escritor famoso que não cultive excentricidades?
Por outro lado, você conhece algum relacionamento que resista à falta de hábitos que quebrem a rotina?
Obviamente, em algumas situações precisamos fazer sacrifícios e efetuar cortes radicais de gastos.
Não é má estratégia, desde que seja adotada de forma intensa, por prazo definido e não muito longo, e com o objetivo de alcançar uma grande recompensa. Fiz cortes radicais de gastos para viabilizar uma celebração de casamento especial.
Conheço jovens que poupam radicalmente para viabilizar um intercâmbio cultural. Isso não é problema, pois se trata de uma espécie de gincana -sacrificar-se para ser recompensado.
Porém, quando o sacrifício estende-se por anos, deixa de ser gincana e passa a ser sofrimento.
Inquestionavelmente, o hábito de poupar nos ajuda a multiplicar conquistas na vida. Porém, antes de começar os cortes de gastos, proponha-se a elaborar um ranking de prioridades entre seus hábitos de consumo mensais. É um bom exercício de autoconhecimento.
A ordem desse ranking deve obedecer ao sentimento de realização pessoal que cada hábito lhe traz. Quanto maior o prazer obtido, mais alta a posição no ranking.
Para alguns, estará no topo o cafezinho diário ou a verba do happy hour com os amigos. Para outros, a contribuição à igreja ou a associações assistencialistas. Há quem prefira garantir a verba para comprar roupas e estar na moda. Pouco importa.
O interessante é que, conscientizando-se de forma racional sobre a importância de cada gasto para você, será mais fácil identificar o que menos contribui para sua felicidade. Esse será o gasto a ser cortado para priorizar seus objetivos.
GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar Sua Vida Financeira" (Campus).

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Juros futuros e títulos do Tesouro sentem efeitos do IOF

Valor Econômico

22/10/2010

Enfim, o mercado financeiro levou a sério a determinação do governo de conter o processo de valorização do real frente ao dólar. Depois das mudanças na taxação do capital externo, investidores reagiram à demonstração do Banco Central de que vai fechar as brechas e impedir que os estrangeiros escapem do imposto. Em reação, os juros futuros de longo prazo dispararam na BM&F, o Tesouro diminuiu a oferta de títulos prefixados no leilão e não vendeu os papéis mais longos (NTN-F) com vencimento em 2021, os preferidos pelos estrangeiros. No mercado secundário, os prêmios das NTN-F cresceram.

O mercado entende que, se o ímpeto do estrangeiro diminuir, os juros terão motivos adicionais para subir, entre eles a perspectiva de encarecimento da rolagem da dívida pública e, no limite, dificuldade de financiamento do déficit em conta corrente, que vem se agravando.

Enfim, IOF maior afeta o mercado e juro sobe

Lucinda Pinto e Angela Bittencourt | De São Paulo

Enfim, o mercado levou a sério a determinação do governo brasileiro de conter o processo de valorização do real frente ao dólar. Depois das mudanças na taxação do capital externo, investidores reagiram à demonstração do Banco Central de que vai fechar as brechas e impedir que os estrangeiros escapem do imposto. Em reação, os juros futuros de longo prazo dispararam na BM&F, o Tesouro diminuiu o tamanho dos lotes de títulos prefixados no leilão e não vendeu os mais longos (NTN-F 2021), justamente os preferidos pelos estrangeiros. Reação que demonstra que, enfim, o investidor entendeu que a enxurrada de dólares para comprar ativos prefixados no Brasil vai perder força.

Ontem, o Tesouro fez um leilão de títulos públicos considerado bastante "modesto", compatível com um ambiente de menor apetite do investidor. É bom lembrar que o Tesouro consulta as mesas de operação para avaliar a demanda e, então, definir os lotes. Ontem, foram ofertadas 150 mil unidades para cada um dos três vencimentos - 2015, 2017 e 2021 - das NTN-F, papéis prefixados com pagamento de cupom semestral. Para se ter uma ideia, na semana anterior, os volumes haviam sido de 500 mil, 1 milhão e 150 mil, respectivamente. No caso das LTNs, o volume total de ontem somou 3,5 milhões, contra 5,5 milhões na semana anterior.

O Tesouro pagou mais caro por todos os papéis e, no caso dos títulos 2021 - a menina dos olhos dos estrangeiros - recusou todas as propostas de preço que, segundo o secretário Arno Augustin, não eram "razoáveis". Provavelmente, segundo fontes do mercado, houve muita dispersão entre as taxas pedidas pelos investidores. No mercado secundário, as NTN-F 2021 eram negociadas a uma taxa 0,35 ponto percentual acima do DI de prazo equivalente (chamado prêmio do papel). Na semana anterior, o prêmio era de 0,24 ponto.

Esse prêmio mais elevado foi estabelecido sobre taxas que também já estavam em alta. A primeira reação às medidas do governo foi percebida justamente no mercado de juros futuros, na BM&F, que ajuda a balizar os demais negócios com ativos prefixados.

Todos os contratos registraram alta, mas os mais longos subiram com mais força - o que, no jargão do mercado, é chamado de "inclinação positiva da curva de juros". Isso ocorre porque, no momento, o estrangeiro, o grande aplicador em juros de longo prazo, vai pedir taxa maior para comprar esses contratos, para compensar a perda que terá com o IOF mais alto.

Profissionais de mercado calculam que para levar a mesma rentabilidade que antes no contrato com vencimento em janeiro de 2017, é preciso obter uma taxa 0,40 ponto porcentual maior do que antes do IOF maior. Para um vencimento em 2013, o prêmio seria de 0,5 ponto.

O investidor local, por outro lado, enxerga que as medidas restritivas ao capital externo terão efeito e identifica o risco de que outras ações podem ser adotadas e frear o investimento estrangeiro. E vê, portanto, um cenário de juros mais altos lá na frente.

O mercado entende que, se os estrangeiros deixarem de entrar no mercado brasileiro, os juros por aqui terão motivos adicionais para subir. Entre eles, a perspectiva de encarecimento da rolagem da dívida pública pelo Tesouro e, no limite, dificuldade de financiamento do déficit em conta corrente, que vem se agravando. A aposta de que as taxas continuarão em queda, por causa do ingresso de capital de fora, mudou. Isso justifica uma correção para cima das taxas, tanto dos DIs quanto dos títulos públicos. Um DI com vencimento em 2017 - vedete dos estrangeiros na BM&F - teria de subir 0,35 ponto percentual para compensar a perda com o IOF.

O que não se vê no mercado, entretanto, é uma fuga de capital. Afinal, quem conseguiu escapar do IOF mais salgado vai pensar muitas vezes antes de deixar o mercado. Além disso, esse investidor perdeu rentabilidade em relação à última semana - mas ainda está ganhando muito mais do que na maior parte do mundo.

Nesse ambiente, cresce a aposta de que o Tesouro pode ampliar a oferta de bônus em reais no exterior - que saem mais barato para o governo e suprem parte do apetite do investidor sem pressionar o câmbio. Entre especialistas do mercado, é consenso que essa deve ser a tendência. "Tudo indica que o espaço para grandes lotes de papéis prefixados aqui diminuiu realmente e emitir no exterior pode ser uma boa opção de financiamento mais barata para o Tesouro", afirma um profissional.

Há outros ingredientes pressionando os juros neste momento. Ontem, saiu a taxa de desemprego, que despencou para 6,2% em setembro, a menor em oito anos. O mercado de trabalho aquecido alimenta a aposta de que a taxa Selic vai voltar a subir em 2011. Além disso, o fato de o Tesouro ter feito esta semana uma oferta de R$ 1 bilhão em bônus no exterior pode, de alguma maneira, reduzir o apetite por parte dos estrangeiros por papéis no Brasil.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Tudo pelo investidor

Valor Econômico
19/10/2010
Bolsa prepara para novembro o programa de milhagem para o acionista e uma série de iniciativas para aumentar o número de aplicadores.

Por Angelo Pavini | De São Paulo

A BM&FBovespa está trabalhando a todo vapor para atrair mais investidores pessoa física para o mercado. Além da campanha estrelada pelo rei Pelé, que começou em algumas cidades em setembro e parte agora para todo o Brasil, a bolsa se prepara para começar, em novembro, o programa de milhagem do investidor, o Fica Mais, no qual o acionista ganhará pontos toda virada de mês em que mantiver as ações em custódia ou indicar amigos para o mercado. Os pontos poderão ser trocados por viagens e livros e até por consultoria financeira básica, uma demanda grande detectada pela bolsa.
Essas são apenas algumas ações desenvolvidas dentro do esforço de popularizar o mercado, diz José Antônio Gragnani, diretor-executivo de Desenvolvimento e Fomento de Negócios da BM&FBovespa. Ex-secretário adjunto do Tesouro Nacional, Gragnani traz a experiência de ter montado o sistema de negociação de papéis federais de varejo via internet, o Tesouro Direto.
Além do programa de milhagem, a bolsa se prepara para transformar o Desafio Bovespa, competição entre estudantes de escolas envolvendo noções de mercado, em um programa de auditório. O programa, a ser lançado no ano que vem, será transmitido pela TV Futura, sob coordenação do consultor financeiro Gustavo Cerbasi.
A BM&FBovespa está montando ainda um simulador no Facebook e prepara dois programas de rádio via web, o Desafio Bovespa, para as escolas e jovens, e o Mulheres em Ações, ambos no site da bolsa. Serão 24 horas de programação com música e conteúdo de educação financeira. Essas iniciativas se juntam ao programa de televisão na TV Cultura sobre educação financeira exibido aos sábados.
Já a campanha de divulgação com Pelé, exibida nas cidades de Belo Horizonte, Curitiba e Campinas, estreou neste mês na tevê a cabo - GloboNews, HBO, Telecine, Nat Geo e Discovery - e, no dia 13, na tevê aberta via TV Cultura. Nas próximas semanas, deve ser ampliada para outros canais abertos.
O objetivo da bolsa, diz Gragnani, é aumentar tanto o número de empresas quanto de investidores do mercado. No caso das empresas listadas, a meta são 200 novas em cinco anos. Na parte dos investidores, além de dinamizar a parte internacional, o projeto é chegar a 5 milhões de investidores. "Não é tão difícil se imaginarmos que a China tem 80 milhões de investidores, os Estados Unidos 90 milhões e a Coreia do Sul 5 milhões numa população de 50 milhões", destaca.
Ainda na área de pessoas físicas, Gragnani destaca a parte educacional, voltada para a formação do investidor de todas as idades. Para crianças a partir de sete anos, há o site da Turma da Bolsa, que busca dar noções de equilíbrio financeiro. No ar desde abril, o site já tem 6 mil crianças cadastradas. Outro site, o Quer ser Sócio? já registrou 63 mil visitas desde 20 de agosto.
Gragnani diz que está trabalhando também no projeto de redução das taxas de custódia para valores menores de ações. Hoje o investidor paga no mínimo R$ 120 por ano para guardar os papéis, o que torna inviáveis aplicações menores. O projeto está em discussão com as corretoras.
Outra iniciativa foi a criação de uma ferramenta de pesquisa "Vitrine das Corretoras", que permite ao investidor definir um perfil de instituição de acordo com suas aplicações. O site teve 24 mil acessos desde 13 de setembro.
Uma forma de ajudar indiretamente os investidores é o Programa de Qualificação Operacional da corretoras, o PQO. Ele busca aumentar o nível de exigência e o padrão das instituições que atendem os acionistas. Em sua última versão, divulgada há duas semanas, o PQO definiu um prazo de um dia para a transferência de custódia entre corretoras, fonte de constantes reclamações de investidores. Foi também criada uma categoria de home broker, com exigências específicas para esse serviço, e estabelecidos critérios de controle maior dos agentes autônomos, outra fonte de reclamações dos investidores.
Muita coisa está sendo feita na campanha de popularização, mas o mais importante é a educação financeira, afirma Gragnani. Por isso, a primeira meta de trabalho é aumentar o conhecimento dos investidores e das empresas, diz. Para isso, foi criado um instituto educacional com cursos de derivativos e mercados de capitais para empresários e pessoas físicas. "Há agora duas novas linhas de cursos, uma escola de empreendedores e empresas e uma escola de investidores", explica Gragnani.
No alvo estão as 15 mil empresas menores, com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 400 milhões anuais. "São empresas que não acessam plenamente o mercado", afirma Gragnani. "Queremos mostrar como elas podem chegar à forma ótima na relação entre ações e dívida", diz.
Muitas delas são candidatas naturais a usar o mercado de acesso da bolsa, o Bovespa Mais, que tem menos exigências que o mercado oficial. "No Canadá, o mercado de acesso, chamado de Venture, tem 2.400 empresas e o oficial 1.500, das quais 400 vieram do Venture nos últimos dez anos", diz Gragnani.
O Bovespa Mais tem hoje apenas uma empresa, a Nutriplant. Para Gragnani, o mercado de acesso perdeu espaço na fase áurea da bolsa, antes da crise de 2008, porque era tão fácil lançar empresas na bolsa direto que ninguém se preocupava em passar por uma fase de preparação. Agora, o mercado está mais seletivo e a procura pelo Bovespa Mais cresceu. "Pelo menos dez empresas já nos procuraram mais de uma vez para saber das condições", afirma Gragnani. Ele espera que o Bovespa Mais deslanche a partir da terceira empresa registrada.
A bolsa fez ainda uma parceria na área de empreendedorismo com o Grupo Endeavor para trazer para o Brasil o programa da Kauffman Foundation. Ele foi tropicalizado e transformado no programa Fast Track, que será oferecido a partir deste mês. A bolsa fechou uma parceria com o Babson College, da Universidade de Boston, um dos principais centros de empreendedorismo do mundo, que trará no ano que vem um programa adaptado para o Brasil.
Serão três módulos a partir de março de 2011, buscando levar maior conhecimento do mercado de capitais para o empreendedor. "A proposta é começar de baixo, ajudando desde o plano de negócios, contabilidade, abertura da empresa, marketing, até gerenciamento de risco, governança corporativa, transparência e boas práticas de mercado", diz.
A bolsa também está investindo em um escritório no parque tecnológico de São José dos Campos, que funciona como uma incubadora de projetos de empresas.
Locations of visitors to this page