quinta-feira, 23 de abril de 2009

Bancos escondem o custo total dos empréstimo

Jornal da Tarde
23/04/2009

Além de juros, outras taxas que entram no cálculo das prestações nem sempre são informadas, o que dificulta a comparação

Marcos Burghi, marcos.burghi@grupoestado.com.br

Apesar da obrigatoriedade, os bancos relutam em informar as taxas de Custo Efetivo Total (CET) na concessão de crédito aos consumidores, limitando-se apenas aos juros. A constatação é do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), que simulou em dez bancos a contratação de um empréstimo de R$ 300 para pagamento em seis meses.

Ione Amorim, economista do Idec, lembra que, na prática, a falta de informação completa pode induzir o consumidor a contratar, sem saber, um empréstimo ou outra operação de crédito por um custo maior, o que deixa o financiamento mais caro. “Às vezes, os juros podem ser menores, mas os demais encargos encarecem o empréstimo.”

Das instituições consultadas, revela o estudo, apenas o Itaú informou a CET espontaneamente . O resultado foi divulgado na edição de abril de uma de suas publicações. O CET é formado pelos juros mais as tarifas que cada instituição cobra para a efetivação da operação financeira, como taxa de abertura de crédito, seguro pela concessão do crédito, Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e avaliação cadastral, entre outras.

De acordo com resolução do Banco Central (BC), em vigor desde março de 2008, bancos e estabelecimentos comerciais devem informar o custo total das operações de crédito e não apenas as taxas de juros.

Segundo Ione Amorim, é fundamental que o consumidor saiba o custo total antes de contratar o empréstimo porque só assim poderá analisar cada oferta e tomar a melhor decisão.

A pesquisa realizada pelo Idec mostra que nem sempre a relação juro menor/CET menor prevalece. O resultado revelou, por exemplo, que embora o Santander oferecesse um juro menor do que alguns concorrentes, o custo total final era maior, consequência de outras tarifas cobradas pela instituição. Pelos R$ 300, ao final de seis meses o tomador do crédito teria desembolsado R$ 439,80 ante R$ 379,50 cobrados pelo Itaú, que tinha taxa de juro maior.

Na opinião de Alexandre Assaf, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e diretor do Instituto Assaf de economia, bancos não têm interesse em detalhar os custos de suas operações para que o consumidor não saiba quem está cobrando mais caro. Ele afirma, ainda, que muitas vezes os próprios funcionários da instituição não estão informados o suficiente e acabam reproduzindo o que está nos prospectos de divulgação ou na tela do computador.

Ele ressalta que, ainda que saibam a taxa do custo total, muitos consumidores não conhecem o mecanismo da conta para cálculo do valor que irão pagar. Assim, o economista recomenda que o consumidor defina o montante do empréstimo e o prazo no qual pretende pagar, pesquise entre os bancos e compare o valor que será solicitado e o total que será pago somando-se as prestações. “Dessa forma é possível avaliar o custo total”, ensina.

Assaf sugere que quem não tem familiaridade com contas procure o banco acompanhado de uma pessoa de confiança que possa ajudar na análise e na negociação.

Assim como editou a resolução que traz a obrigatoriedade da informação da CET, o BC também é o órgão responsável por fiscalizar o cumprimento da regra. Procurado pela reportagem, o BC não se manifestou sobre o assunto, tampouco sobre as sanções que podem ser aplicadas aos infratores.

Ione Amorim observou que a pesquisa, realizada nos primeiros dias de março, foi encaminhada ao BC no dia 6 de março. A resposta deveria ser dada até 6 de abril, mas o órgão pediu prorrogação do prazo para investigação em mais 30 dias. Desse modo, diz Ione Amorim, o Idec espera que a resposta chegue até 6 de maio.


'Comparar o valor solicitado com o total a ser pago no prazo definido em vários bancos é a forma mais simples de conhecer o custo total do empréstimo”

ALEXANDRE ASSAF
ECONOMISTA

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Saber cuidar das finanças também é coisa de criança

Jornal da Tarde
20/04/2009

Jogos, livros e cursos ajudam a educar os filhos para a importância de aprender a lidar com o dinheiro, mas os exemplos dentro de casa são indispensáveis para que eles não cresçam nem como esbanjadores nem como mesquinhos

CAROLINA DALL’OLIO, carolina.dallolio@grupoestado.com.br

Arthur Gesteira Telles, de 10 anos, decidiu por conta própria poupar um terço da mesada. Já guardou R$ 200. Gabriel Dourado Ribeiro, de 11 anos, adquiriu o hábito de comparar preços antes de comprar - não quer gastar mais do que precisa. Já Gabriel Castro, de 12 anos, admite ser um tanto consumista, mas como aprendeu que as coisas não caem do céu, tenta maneirar. “Não fico pedindo as coisas toda hora para o meu pai, e não é porque estou com dinheiro na mão que vou torrar tudo.”

Além de estudarem no mesmo colégio - o Guilherme Dumont Villares, no Morumbi -, os três meninos têm outra coisa em comum: foram ensinados desde pequenos, pelos pais e pela escola, a lidar com o dinheiro. A aprendizagem se traduz em um senso de responsabilidade financeira, muitas vezes difícil de se encontrar até entre os adultos. “Como tudo começou cedo, a relação com o dinheiro já se tornou natural, como ler e escrever”, conta Maria Isabel Telles, avó de Arthur, que ajuda a criá-lo. “Ele nem percebe que está sendo tão responsável, só reproduz os conceitos que já interiorizou.”

Para Álvaro Modernell, educador financeiro especializado em passar esse conceito a crianças, trata-se do caminho certo. “A educação financeira das crianças deve começar o quanto antes e ser natural, gradual e despretensiosa”, sugere. Modernell ressalta a importância dos pais terem consciência de que esse tipo de educação não serve para ensinar as crianças a ficarem ricas. “O importante é ensinar ética no trato com o dinheiro, isso é o principal.”

Modernell ressalta que é tão ruim uma criança tornar-se um adulto mesquinho e pão-duro quanto um esbanjador e irresponsável financeiramente. “É preciso buscar sempre o equilíbrio. Poupança e o consumo responsável devem ser trabalhados e incentivados igualmente”, diz. “É fundamental que ele aprenda que o dinheiro é necessário, mas que também não é a coisa mais importante da vida.”

Tal pai, tal filho

Mas não adianta os pais se valerem de uma boa didática se ela não vier acompanhada do exemplo. “Quem é descontrolado financeiramente nunca vai conseguir fazer com que o filho seja responsável, porque o mau exemplo vai ser mais poderoso do que o que o pai disser”, alerta Patrícia Quadros, gerente de popularização da BMF&Bovespa. “Quem está com as contas no vermelho precisa se corrigir logo - para o seu próprio bem e para ensinar o filho que é preciso viver dentro do padrão que a nossa renda nos oferece.”

Amauri Pedroso, professor do colégio Guilherme Dumont Villares - por lá, os alunos têm aulas de educação financeira e empreendedorismo a partir dos 7 anos -, reforça a importância da participação na aprendizagem. “O aluno pode vivenciar experiências que o ajudem a compreender o valor do dinheiro e o ensinem a ter uma postura empreendedora. Mas se os pais não ensinarem a eles a importância da ética e da responsabilidade, fica difícil que eles adotem um comportamento coerente.”

BRINCADEIRA QUE EDUCA

JOGOS

Banco Imobiliário - Estrela
R$ 68,90
www.americanas.com

Jogo da Vida Feliz - Estrela
R$ 92,90
www.submarino.com.br

Administrando o Seu Dinheiro - Coleção Pais & Filhos
R$ 21,56
www.departamentos.com.br

Corrida à Caixa Forte - Grow
R$ 29,90
www.americanas.com

LIVROS

Como se Fosse Dinheiro
Ruth Rocha - Editora FTD
R$ 19,70
www.submarino.com.br

O Menino do Dinheiro
Reinaldo Domingos - Editora
Gente
R$ 20,90
www.submarino.com.br

Zequinha e a Porquinha
Poupança - Álvaro Modernell
R$ 14,90
www.edufinanceira.com.br

PARA OS PAIS

Curso de educação financeira, módulo Família
Preço sob consulta
www.bovespa.com.br

Fundos na berlinda

Valor Econômico
Angelo Pavini, de São Paulo
20/04/2009


Na semana que vem, dias 28 e 29 de abril, o Copom se reúne e pode baixar o juro básico da economia dos atuais 11,25% para perto de 10% ao ano. Além de reduzir os ganhos de toda a cadeia de investimentos de renda fixa, a medida deverá acentuar a vantagem da caderneta de poupança em relação aos fundos de investimento de renda fixa, DI e curto prazo. Será também o sinal para o governo mudar as regras da caderneta, para tentar evitar uma fuga de recursos dos fundos de investimento, o que traria problemas para a rolagem da dívida pública, já que cerca de 70% do patrimônio de R$ 1,2 trilhão em fundos estão em títulos do Tesouro, lembra Marcia Dessen, da consultoria BankRisk.

Cálculos feitos pela Luz Engenharia Financeira mostram que hoje, considerando um rendimento para a poupança próximo do registrado nos últimos 12 meses, de 8% líquidos, os fundos renda fixa, DI ou curto prazo com taxa de administração maior que 0,75% ao ano já perderiam para a caderneta em aplicações inferiores a seis meses, onde alíquota de imposto de renda é maior, de 22,5%. O estudo foi feito com os fundos de cotas, que em geral são as carteiras oferecidas no varejo e onde as taxas de administração são maiores. Isso significa que 310 fundos com um patrimônio de R$ 185 bilhões seriam afetados pela concorrência.

Considerando o prazo de um ano, onde o imposto cai para 20%, estariam em situação delicada os fundos com taxa de administração maior que 1%, o que atingiria 225 carteiras com patrimônio de R$ 101 bilhões. Se a taxa básica cair para 10%, nenhum dos 477 fundos pesquisados ganharia da poupança em aplicações até seis meses. Levariam vantagem ante a poupança apenas os fundos com taxa de administração de 0,5% e isso para períodos acima de dois anos. "A queda da Selic vai ser boa para a economia, mas péssima para fundos de pensão e de investimentos", diz Edivar Vilela de Queiroz Filho, sócio da Luz Engenharia.

Apesar da queda de competitividade esperada dos fundos, os investidores não estão se mexendo. A captação da poupança no, até dia 13, está em R$ 995 milhões, enquanto os fundos receberam R$ 5,8 bilhões. Além da inércia natural do investidor, há também a expectativa de que o governo mudará as regras da poupança, eliminando uma eventual vantagem de quem entrasse agora na aplicação. "E não tem essa coisa de direito adquirido, se o governo mudar as regras de rentabilidade, o investidor antigo também será afetado", diz Sinara Polycarpo, superintendente executiva de investimentos do Grupo Santander Brasil.

Ela tem recebido consultas de muitos clientes, mas a orientação é pensar bem antes de qualquer mudança. "Grandes investidores já têm hoje acesso a fundos com taxas de administração menores e CDBs com remuneração mais alta, e muitos já têm aplicações com mais de dois anos, com imposto mais baixo, de 15%, e perderiam isso para ir para a poupança e correr o risco de ver as regras mudarem."

Há ainda outras características próprias dos fundos que as cadernetas não oferecem, lembra Sinara, como a rentabilidade diária. "No fundo o investidor pode aplicar por períodos quebrados, sacar e receber o rendimento até o dia anterior, o que não ocorre na caderneta, onde, se sacar antes do dia certo do mês, o aplicador perde a rentabilidade do aniversário anterior até o saque", diz.

Entre as mudanças em discussão, conforme apurou o repórter especial Cristiano Romero, estão limitar novas aplicações a R$ 5 mil por CPF, criar um imposto para maiores valores, mudar o cálculo da Taxa Referencial (TR, que corrige a poupança), reduzir os juros de 0,5% ao mês ou 6,17% ao ano ou ainda indexar a caderneta à Selic.

Mesmo que o governo acabe com a TR - a medida mais simples -, a vantagem da caderneta continua porque o juro de 6,17% ao ano não paga imposto. Neste mês, em vários dias, a TR já ficou em zero, ou seja, a caderneta rendeu apenas 0,5% por conta do menor número de dias úteis, que reduz o ganho nominal da taxa média dos CDBs. É essa taxa que serve de base para o cálculo e aumenta o impacto do redutor da TR. Mesmo sem a TR, fundos com taxa de 1% já começarão a perder da poupança nas aplicações até seis meses se os juros caírem para 9% ao ano, como se espera para junho.

Mas, para Marcia Dessen, a discussão não pode ficar apenas em reduzir a rentabilidade da caderneta. "É preciso que os fundos de investimento também se ajustem a essa nova realidade, de juros mais baixos", diz. "Alguns bancos cobravam 3%, 4%, até 5% ao ano de taxa de administração quando o juro estava em 25% ao ano e continuam com essas taxas hoje", diz. De qualquer maneira, ela observa que o governo não pode admitir um desequilíbrio muito grande entre as aplicações. "A questão não é se o banqueiro que vai perder receita com os fundos, mas sim a rolagem da dívida pública, que ficará mais difícil, o setor de fundos tem um papel importante que precisa ser preservado." Além disso, Marcia lembra que quem pagará o custo maior da poupança será o tomador do crédito imobiliário.

Sobre as mudanças possíveis para a caderneta, Marcia acha que a redução da TR terá pouco efeito uma vez que o indexador hoje já está muito baixo, perto de 1% ao ano. A tributação da caderneta seria mais fácil, uma vez que existe a previsão de cobrança de imposto na legislação que regulamenta a aplicação. "Só que, para a pessoa física, a alíquota é zero, só as empresas pagam imposto na caderneta", diz. O problema é que o imposto só poderia ser cobrado no ano que vem, pelo princípio da anualidade.

Ela acha que a saída será mesmo limitar os valores das aplicações ou reduzir o juro, apesar de toda a impopularidade de uma medida com essa. "O Congresso tem de pensar não só no aplicador, mas na pessoa que toma o empréstimo imobiliário e que vai ser prejudicada pelo custo mais alto e está em situação mais delicada."
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