sábado, 1 de setembro de 2007

Aluguel: vale mesmo a pena se livrar dele?

Para economistas, nem sempre usar economias na casa própria é a melhor opção. Colocar dinheiro em uma boa aplicação pode ser mais rentável.

O restante do artigo está em:

http://g1.globo.com/Noticias/Economia/0,,MUL96523-5599-2818,00.html

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Na prévia de agosto, Bolsa perde 2,4% e dólar sobe 5%

Gazeta Mercantil
31/8/2007

Alessandra Bellotto

O mercado vai continuar volátil, operando em cima dos dados externos, dizem analistas. A volatilidade nos mercados financeiros vai continuar alta. Essa é a expectativa de boa parte dos analistas, diante da crise no setor imobiliário americano. E a aplicação em Bolsa de Valores, até pelo maior grau de risco, é a mais afetada nesse cenário de incertezas. A um dia do encerramento do mês, a Bovespa acumula perda de 2,44%, figurando na lanterninha do ranking de rentabilidade. O prejuízo pode até ser anulado hoje - dia de discurso do presidente do Federal Reserve (o BC americano) -, mas dificilmente o mercado de ações superará a variação registrada pelo dólar, que sobe mais de 5% em agosto.
No acumulado do ano, porém, a Bolsa ainda lidera com folga os ganhos, subindo 18,85% até ontem. O dólar, ao contrário, está com perda de 7,50%. O CDI, tradicional referência para a renda fixa, registra variação de 0,99% no mês e de 8,09% em 2007.
Segundo a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, há uma grande incerteza em relação ao impacto dos problemas envolvendo o subprime (empréstimos imobiliários de alto risco) nos Estados Unidos para a economia real. "A extensão parece maior do que se imaginava, com a crise no subprime já contagiando o mercado de derivativos e de commercial papers dos bancos nos Estados Unidos e Europa", afirma.
Até que se tenha uma melhor definição dos estragos provocados pela crise do subprime, os mercados estarão à mercê dos próximos indicadores americanos e também do resultado da reunião de setembro do comitê de política monetário do Fed para decidir a nova taxa de juros do país. "O mercado vai continuar volátil, operando em cima dos dados externos. Não há tendência para os ativos", diz Gustavo Teixeira Coelho, responsável pela área de alocação de recursos da Arsenal Investimentos.
Quanto maior a incerteza, maior a aversão ao risco. E isso significa uma redução do apetite para investir em países emergentes como o Brasil e em ativos mais arriscados como a Bolsa, lembra Sandra. A economista ressalta, porém, que o Brasil vem suportando bem essa volatilidade, que na sua visão vai prevalecer pelo próximo mês. "O Brasil, entre os emergentes, é um dos mercados com maior chance de recuperação rápida. As condições macroeconômicas do País são completamente diferentes do passado", afirma. Ela diz, ainda, que a economia doméstica vive um ciclo positivo de aquecimento, o que deve se refletir nos balanços das empresas.
Para Coelho, apesar das turbulências, a Bolsa ainda é o melhor investimento, com destaque para as empresas voltadas para a economia interna. Ele acrescenta que o cenário continua positivo. "Além de o mundo continuar crescendo, a economia global está menos dependente dos Estados Unidos (origem da crise imobiliária), o que significa que uma eventual desaceleração do país pode ser compensada pelo crescimento de outros, como China, Japão e Europa", diz.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Planejamento financeiro ajuda a aproveitar a vida. Confira os 10 mandamentos!

http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/infomoney/2007/08/29/ult4040u6516.jhtm

Mutuário deve fazer as contas

Correio Braziliense
30/8/2007


Marcelo Tokarski

Prazos maiores para pagar financiamento da casa própria oferecidos pela Caixa Econômica facilitarão a aquisição, mas vão aumentar o valor desembolsado pelo imóvel. Regras começam a valer em setembro

O alongamento do prazo do financiamento habitacional de 20 anos para até 30 anos, anunciado pela Caixa Econômica Federal, deve facilitar o acesso dos consumidores aos imóveis, por reduzir o tamanho da prestação mensal e permitir que ela se encaixe no orçamento familiar. No entanto, o comprador deve ficar atento. Após pagar as 360 prestações, o mutuário poderá ter desembolsado até 25% a mais do que se optasse por pagar o mesmo imóvel em 240 vezes. O alerta é da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH) e da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

De acordo com cálculos da Anefac, no caso de um financiamento de R$ 280 mil, para um imóvel avaliado em R$ 400 mil, ao fim de 20 anos o mutuário pagaria R$ 722,1 mil pelo bem — 2,5 vezes o valor do empréstimo. Em um contrato de 30 anos, o desembolso total chegaria a 892,9 mil. A diferença é de 23,6%, ou R$ 170,8 mil, pouco mais de 60% dos R$ 280 mil financiados. “O imóvel ficará mais caro por conta de uma quantidade maior de juros”, explica o vice-presidente da Anefac, Miguel José de Oliveira.

“É uma política pontual, que não amplia o acesso à moradia”, critica José Geraldo Tardin, presidente da ABMH. Segundo ele, apenas 8% das 8 milhões de famílias sem moradia no país ganham acima de cinco salários mínimos por mês (R$ 1.900), podendo se encaixar no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Tardin está preocupado com os prazos maiores: “Em um país onde não se tem certeza de como estará a economia daqui a um ano, o que podemos esperar de 30 anos?”

Prestação acessível

Se por um lado fará o mutuário pagar bem mais ao final, o alongamento do prazo para 30 anos vai reduzir a prestação mensal do financiamento habitacional em 11%, na média. Os cálculos são da Anefac. “Esse é o ponto que atrai o consumidor. Na maioria das vezes, o consumidor está preocupado se a prestação mensal cabe ou não no orçamento. Com essa redução, mais gente acabará fazendo financiamentos”, avalia o economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo especialistas, o consumidor deve ser conservador na hora de assinar o contrato. O ideal é comprar primeiro um imóvel de menor valor, para depois trocá-lo por um de maior porte. O Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) recomenda ainda que o mutuário nunca comprometa mais de 10% da sua renda com o pagamento da prestação mensal, apesar de a legislação permitir até 30%. “Comprometendo apenas 10%, caso haja imprevistos a pessoa terá a certeza de conseguir pagar o financiamento”, explica o presidente da ABMH, José Geraldo Tardin.

O economista Miguel José de Oliveira, da Anefac, também recomenda que a prestação seja paga por meio de débito em conta corrente ou descontada diretamente do salário do mutuário. Segundo ele, a taxa de juros mensal pode ser até 1 ponto percentual menor. No caso de um imóvel avaliado em R$ 130 mil, com R$ 91 mil sendo financiados, o consumidor poderia economizar mais de 6% ao longo de 30 anos. O valor total pago após 360 meses cairia de R$ 245,1 mil para R$ 230 mil, uma economia de R$ 15 mil.

Impulso
Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady, a extensão do prazo para 30 anos anunciada pela Caixa Econômica Federal deve movimentar o mercado imobiliário. “As medidas são ousadas e vão fazer com que o setor privado corra atrás, para não perder mercado”, aposta. Segundo ele, o segmento é hoje o principal vetor de expansão da construção civil, que este ano deve crescer 5%. “O setor imobiliário já cresceu 70% este ano, de forma equilibrada”, afirma. Segundo ele, o segmento responde por um quarto de toda a construção civil brasileira.

Jovens preferem gastar a investir, diz estudo

Gazeta Mercantil
30/8/2007


Ana Cristina Góes

Pesquisa ouviu 400 adolescentes da classe A entre 14 e 17 anos em São Paulo e no Rio. Quando o assunto é dinheiro, os jovens brasileiros pensam no futuro por iniciativa própria, consideram que investir é ter uma caderneta de poupança, mas ainda preferem gastar a guardar. É o que revela a pesquisa "Os Jovens e os Investimentos" realizada pela Quórum Brasil , com 400 adolescentes da classe A entre 14 e 17 anos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro entre os dias 5 e 15 de agosto.
Entre os entrevistados, 86% dos jovens paulistanos dizem que pensam no futuro porque eles mesmos consideram importante, contra 14% que dizem pensar no futuro porque os pais acham importante. No Rio de Janeiro, 72% pensam no futuro por considerar importante, enquanto 28% o fazem por influência dos pais.
Consumo em alta
A pesquisa mostrou ainda que o consumismo está em alta entre os adolescentes nas duas metrópoles. Em São Paulo, 63% deles acham que dinheiro é bom para gastar, contra 37% que afirmam que dinheiro é bom para poupar. No Rio de Janeiro, 74% preferem gastar e 26% se preocupam em poupar. "Os dados da sondagem mostram que o consumismo é ainda maior no Rio de Janeiro do que em São Paulo", afirma o sócio consultor da Quórum Brasil, Claudio Silveira.
Mulheres conscientesA análise dos dados da pesquisa por sexo revelou que as mulheres se preocupam mais em poupar do que os homens. Entre as entrevistadas, 35% acham que o dinheiro é bom para guardar, contra 27% dos homens. Na contramão, 65% delas preferem gastar, contra 73% dos homens.
A grande maioria dos jovens de São Paulo (87%) conversa sobre investimento com os pais, outros 8% falam com os amigos, enquanto 3% com parentes. No Rio de Janeiro, 79% conversam com os pais, 17% com os amigos e 8% com parentes. Na hora de buscar informações sobre investimentos, os pais são a fonte preferida de 31% dos homens e de 28% das mulheres; os amigos são procurados por 24% dos homens e por 21% das mulheres.
Apesar de a internet estar presente no universo dos adolescentes, ela não é usada para a busca de informações sobre investimento. A rede aparece apenas em terceiro lugar como fonte de informação sobre o tema. "Os jovens usam a internet para uma série de coisas, menos para se informar sobre dinheiro. Talvez por não existir sites de finanças com uma linguagem adequada a eles", diz Silveira.
Falar sobre dinheiro e investimento é algo mais rotineiro entre jovens paulistanos. A sondagem mostrou que a maioria deles (68%) conversa sobre investimentos, contra 46% dos jovens cariocas. A separação por sexo revelou que as mulheres falam mais sobre investimento do que os homens. A maioria das mulheres (55%) afirma conversar sobre o assunto, contra 40% dos homens. Os homens que não conversam sobre o tema somam 60%, contra 45% das mulheres.
"A pesquisa mostrou que dinheiro também é assunto de mulher. Elas se preocupam mais com o futuro, são mais conservadoras, conversam mais sobre investimento e preferem poupar do que consumir. Isto tudo é conseqüência do aumento da presença das mulheres no mercado de trabalho. Como as entrevistadas são de classe A, elas se interessam por dinheiro por influência das mães", resume Silveira.
Investimento é sinônimo de guardar dinheiro para usar no futuro para 57% dos jovens paulistanos e para 29% dos jovens cariocas. Apenas 11% dos jovens em São Paulo entendem que investimento é guardar dinheiro para receber algum rendimento, contra 29% das respostas dadas pelos jovens cariocas. "Os jovens de São Paulo são mais conservadores do que os jovens cariocas, eles pensam mais no longo prazo. Já os cariocas entendem o investimento como uma ferramenta para obter retorno mais rápido", afirma Silveira.
A preocupação dos adolescentes com o futuro inclui guardar dinheiro para comprar bens. Poupar para comprar automóvel e casa é a intenção de 26% dos jovens de São Paulo e de 20% dos jovens do Rio. Poupar para investir nos estudos aparece em segundo lugar como uma preocupação de 9% dos paulistanos e de 3% dos cariocas. Comprar roupas e viajar é objetivo de apenas 4% dos jovens paulistanos e de 7% dos cariocas têm esse objetivo.
Poupança é a preferida
A caderneta de poupança ainda é o investimento preferido dos jovens nas duas metrópoles. No entanto, os planos de previdência privada têm mais adeptos entre os jovens de São Paulo do que no Rio de Janeiro. Em São Paulo, dos 63% que afirmam ter algum tipo de investimento, 83% têm recursos na caderneta de poupança e 17% aplicam em planos de previdência privada. No Rio de Janeiro, dos 58% que investem, 93% possuem caderneta de poupança e 7% têm um plano de previdência privada.
"Como os pais são a principal fonte de informação sobre investimentos para os adolescentes, concluímos que o hábito de aplicar na caderneta de poupança é algo que passa de pai para filho", diz Silveira.
kicker: Dinheiro é assunto para 68% dos adolescentes paulistanos e 46% dos cariocas. Nas duas metrópoles, jovens gostam de consumir

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Casa própria a perder de vista

Globo
29/8/2007


Geralda Doca

Caixa amplia de 20 para 30 anos prazo de financiamento, com prestação até 17% menor

Para enfrentar a concorrência com os bancos privados, que já estão oferecendo condições mais facilitadas nos empréstimos da casa própria, a Caixa Econômica Federal anunciou ontem a ampliação, em dez anos, do prazo de pagamentos do crédito imobiliário pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Em vez de 240 meses (20 anos), o mutuário terá 360 meses (30 anos) para quitar o contrato, o que pode baratear em até 17% as prestações. A medida beneficia famílias com renda mensal acima de R$1.875 e entrará em vigor na próxima semana, aplicada somente nos contratos novos. Valerá para as linhas de crédito com recursos tanto do FGTS quanto da poupança (SBPE), para aquisição de imóveis novos, usados e em construção.

De olho na classe média, a Caixa também criou mais uma faixa intermediária na linha de crédito com recursos da poupança - que não tem limite de renda - para imóveis avaliados entre R$130 mil e R$200 mil, com taxa de 10,5% ao ano mais a TR, em caso de débito automático em conta ou na folha de pagamento. Com isso, houve recuo de um ponto percentual nos juros cobrados.

- São medidas para a classe média baixa e média. São medidas importantes porque o mercado está crescendo nessa faixa - afirmou o vice-presidente de Desenvolvimento Urbano da Caixa, Jorge Hereda.

Ele explicou que, com o aumento no prazo, a prestação vai cair e poderá caber mais facilmente no orçamento. Mas não significa que o mutuário desembolsará menos pelo imóvel. Ao contrário, pagará mais, pois levará mais tempo para quitá-lo.

Executivo descarta riscos no sistema

Segundo cálculos da Caixa, a parcela de um empréstimo de R$80 mil dentro na modalidade Carta de Crédito do FGTS - para famílias com renda até R$4,9 mil - cairá de R$992,79, pelas regras anteriores, para R$824,69 com o novo prazo, uma redução de 16,93%. Pelo FGTS, é possível financiar imóveis avaliados em até R$130 mil.

Pelo sistema da poupança, em um empréstimo de R$140 mil para um imóvel avaliado em R$200 mil, o mutuário pagará mensalidade de R$1.699,02 durante 30 anos. Na simulação pelas regras anteriores, o valor seria de R$1.999,04, o que representa uma redução na prestação de 15,01%.

Para as famílias com renda inferior a R$1.875, a Caixa aumentou em apenas 60 meses, para 25 anos, o prazo de pagamento dos empréstimos com recursos do FGTS. Segundo Hereda, além do risco ser maior nas faixas de renda de menor poder aquisitivo, essas famílias já recebem subsídios do Fundo em outras linhas de crédito.

Ainda no programa do FGTS, a Caixa anunciou a redução na taxa de administração, de R$25 para R$21,43, e corte de 35% no valor do prêmio do seguro. As duas tarifas são cobradas mensalmente, embutidas no valor da prestação.

As novas regras da Caixa para a linha com recursos do Fundo pegaram carona nas mudanças autorizadas pelo Conselho Curador do FGTS no início do mês, quando se decidiu por uma redução de 8,66% para 8,16% na taxa de juros desses empréstimos e pela ampliação de cem mil reais para R$130 mil no valor do imóvel a ser financiado. O preço passou a ser referência no Rio, em São Paulo e no Distrito Federal. Nas capitais do Sul e Sudeste, foi fixado em cem mil reais, e no restante do país, em R$80 mil.

Para deslanchar a linha de financiamento para imóveis comerciais por empresas, a Caixa reduziu em dois pontos percentuais os juros desse empréstimo, de 15% ao ano para 13%. Mas manteve o prazo em 120 meses. Não há restrições de renda ou valor do bem nessa modalidade, que também tem a poupança como fonte.

Até o fim do ano, a Caixa espera emprestar R$5,8 bilhões com recursos da caderneta para financiar a compra da casa própria.

- Estamos dispostos a colocar o quanto for necessário - disse Hereda, acrescentando que ainda há R$2,5 bilhões em recursos do FGTS disponíveis.

Apesar da crise no setor imobiliário dos EUA, devido a créditos podres, Hereda garantiu que não há riscos na nova metodologia da Caixa. Isso porque o Brasil está muito aquém da sofisticação do modelo americano. Ele explicou que os prazos foram ampliados, mas a contrapartida do mutuário foi elevada (pagará mais):


- Se tem uma coisa que a Caixa faz é originar seus créditos com muito cuidado.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Ameaça do Leão

Valor Econômico 28/08/2007

Por Marta Watanabe e Adriana Cotias






Num momento em que os fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs, os chamados fundos de recebíveis) se popularizam e ganham versões para a alta renda, uma manifestação da delegacia regional de São Paulo da Receita Federal lança dúvidas sobre a forma de tributação das carteiras. Uma resposta à consulta de um contribuinte, publicada no "Diário Oficial da União" no início do mês, informa que fundos de longo prazo, indistintamente abertos ou fechados, têm de ter a incidência do imposto de renda semestral, aquilo que ficou conhecido no mercado como come-cotas por subtrair a parcela relativa à alíquota de 15% do rendimento do aplicador no período.


Se prevalecer, a explicação da delegacia da Receita muda as regras do jogo. Até aqui, os estruturadores e administradores de carteiras de recebíveis tinham o entendimento de que, num fundo fechado, a tributação incide nas amortizações de juros ou principal - quando o aplicador começa, de fato, a receber os rendimentos e parte do capital - ou no vencimento.



A situação mais delicada, diz a advogada Andréa Bazzo, do escritório Mattos Filho Advogados, refere-se à cobrança do que a Receita pode entender que deveria ter sido pago no passado. O come-cotas passou a ser semestral a partir de outubro de 2004. O contribuinte efetivo do IR é o investidor, mas o responsável pela retenção e pelo recolhimento é o administrador do fundo. Caso haja uma autuação, os fundos ficariam sujeitos à cobrança não só do imposto, como também de multa de 75% sobre o valor, mais os juros, explica Paulo Vaz, do escritório Levy & Salomão, especializado em tributação na área financeira.


A manifestação da Receita, diz Andréa, tem sido discutida no mercado. "Já chegamos a fazer exposição sobre o assunto a bancos de investimento", diz. Por enquanto, explica, os fundos estão em compasso de espera. "Essa é uma manifestação de uma das delegacias da Receita", acrescenta Vaz. "Ainda não sabemos se todo o órgão tem essa interpretação sobre a legislação." O assunto ainda deve ser muito discutido. Por isso, não há recomendação para que os administradores comecem a tributar o come-cotas, explica Andréa. "Por enquanto, estamos discutindo se a questão merece alguma mudança nos prospectos de lançamento dos novos investimentos, talvez seja necessária uma ressalva, mas isso ainda está em debate", diz ela.


Apesar da manifestação da Receita, os tributaristas continuam defendendo que o os fundos fechados de longo prazo não estão sujeitos à antecipação do IR. Um dos argumentos é relacionado à natureza desses fundos. "Não há lógica em cobrar come-cotas num fundo em que ninguém entra ou sai durante determinado período de tempo", diz Vaz.


A antecipação do tributo nesses portfólios com carência longa, normalmente superior a um ano para os primeiros resgates, diminuiria a competitividade dos FIDCs junto aos clientes do segmento de private banking, diz Carlos Fagundes, sócio da Integral Trust, consultoria especializada na estruturação de FIDCs. "O aplicador que se submete a ficar sem liquidez por estar lidando com um ativo de longo prazo não vai querer pagar o imposto antes, e os FIDCs ficam em desvantagem quando comparados com outras opções de renda fixa, como debêntures ou certificados de recebíveis imobiliários (CRI)", compara.


A interpretação da regional da Receita surpreende porque nos fundos fechados de longo prazo - cuja maturação dos ativos se dá em períodos superiores a um ano - não há a necessidade de se apurar a cota diariamente, acrescenta Fernando Meibak, o sócio recém-chegado à Integral Trust para estruturar os fundos de FIDCs, que aceitarão aplicações a partir de R$ 100 mil. Ele diz que, para os investidores institucionais, como fundos de pensão ou ainda os estrangeiros - os grandes grupos compradores de cotas de FIDCs - , não há maiores repercussões, pois essas classes de aplicadores estão submetidas a regimes próprios de tributação. Para a pessoa física, se houver a incidência do come-cotas, as carteiras fechadas ficam, entretanto, mais parecidas com os outros fundos de renda fixa tradicionais do mercado.


"O IR retido na fonte significa que o investidor terá de calcular o quanto deixou de ganhar por ter antecipado aquela parcela, qual o seu custo de oportunidade", diz Meibak. "E, com o mercado se alongando para prazos de cinco, sete anos e os juros caindo, isso passa a ser relevante em qualquer fundo." Ele não considera, porém, que uma eventual mudança na tributação represente um freio no apetite dos aplicadores ou nas captações das empresas. "Do ponto de vista do risco e do retorno, os FIDCs são interessantes em relação aos fundos abertos, e não é o imposto que desmotivaria o investimento porque qualquer comparação é feita pelo retorno bruto."


Enquanto um FIDC garante retornos na casa dos 110% do CDI, os fundos de renda fixa abertos rendem, na média, 101%. As taxas de administração são mais convidativas também, muitas vezes não chegando 0,2% ao ano, enquanto as carteiras de renda fixa destinadas à alta renda cobram entre 1% e 1,5%. Pelos dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), só neste ano foram lançados 43 FIDCs, que giraram R$ 5,956 bilhões, 47% do que foi captado via fundos de recebíveis em todo ano passado.


Caso a leitura da delegacia da Receita de São Paulo prospere, os administradores de FIDCs terão de constituir reservas nos períodos anteriores ao recolhimento do come-cotas, em maio e novembro, diz o diretor da BER Capital, Antonio Corrêa Bosco. "Num FIDC bem administrado, o caixa fica próximo de zero, porque a carteira está toda investida em direitos de crédito e isso é incompatível com a diminuição periódica do número de cotas."


Ele exemplifica que há situações ainda mais complicadas nesse tipo de carteira, como um fundo com vencimento em dois anos e que tenha como ativo um único contrato que será pago ao final daquele prazo. "Durante esse período, há apropriação de receitas, mas não existe movimentação financeira", afirma. "Para cumprir o come-cotas, o administrador teria de vender um pedaço da carteira."

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Crédito atrai comprador novo para carro

Valor Econômico 27/08/2007

Marli Olmos


A pergunta que muita gente faz, mas que executivos de montadoras, concessionárias e analistas não sabem responder com certeza é: quanto da atual expansão nas vendas de carros zero- quilômetro representa o ingresso de novos consumidores nesse mercado? A sensibilidade de quem trabalha nesse setor indica que a maior parte do aumento de vendas vem do tradicional comprador de carro zero, mas há também, graças ao crédito, consumidor novo.


Com a enxurrada de facilidades para financiar um carro hoje, tornam-se cada vez mais comuns casos de quem vai à loja com a intenção de comprar um carro usado e sai com um zero-quilômetro. "O valor da prestação do novo às vezes fica tão próxima que o cliente se anima a comprar o modelo zero, que ele nem tinha a pretensão de ter", explica Marcos Leite, gerente de vendas da Primo Rossi, concessionária de São Paulo.


Isso acontece como resultado do surgimento dos planos com prazos mais longos. Pagar por um Gol novo, que custa R$ 24,5 mil em 72 meses resulta em uma prestação de R$ 554. Um carro semelhante com um ano de uso sai por R$ 522. Nos dois casos, os carros podem ser adquiridos sem entrada.


O exemplo do concessionário que vê o cliente desistir da compra de um carro usado porque tem a possibilidade de assumir a prestação de um novinho mostra que há gente nova no mercado de zero quilômetro. Parte desse contingente é formada pelos que protelaram a troca do carro em dois ou três anos por insegurança em assumir um financiamento. Há três anos, os juros cobrados nos financiamentos de carros novos encostavam em 2%. Na semana passada, o mercado trabalhava com médias de 1,36% a 1,40%. Desde 2003, os bancos também esticaram os prazos máximos, de 48 para 72 meses. Recentemente, a Ford lançou um plano de até 84 meses.


O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, diz estar certo de que há gente nova no mercado do carro zero-quilômetro. Mas, observa que a indústria precisaria se debruçar em uma grande pesquisa nacional para ter dados seguros a respeito do tema. Segundo a empresa Ipsos, apenas 18% dos brasileiros têm carro.


A série histórica da frota brasileira também ajuda a mostrar que o universo de compradores de carros zero-quilômetro cresce. Em 1996 havia 9,4 habitantes por veículo. No ano passado, quando a frota chegou a 24 milhões de veículos, essa relação caiu para 7,7. É , porém, um movimento ainda lento, incapaz de colocar no automóvel a grande massa de brasileiros que depende exclusivamente do transporte público.


O consultor Francisco Trivelatto, especialista em mercado de veículos, diz que muitos consumidores adiaram a troca do carro "e, hoje, diante das vantagens no financiamento, boa parte está optando por modelos mais caros". Mas pondera que "por outro lado, diante de um crescimento de vendas tão elevado seria incorreto não admitir que gente nova entrou no mercado".


No primeiro semestre, as vendas de carros de passeio aumentaram 25,9%. Isso significou acréscimo de 211 mil veículos novos ao total de 861,2 mil unidades vendidas nos primeiros seis meses de 2006.

Juro baixo é desafio para fundos, diz ex-BC

Folha de S Paulo 27/08/2007

Para Gustavo Franco, queda da taxa deve fazer com que recursos em fundos DI migrem para outros investimentos, como CDBs

Poupança também deverá deixar de ser a principal fonte de recursos para o financiamento da casa própria, afirma Franco

TONI SCIARRETTA
ENVIADO A CAMPOS DO JORDÃO

A indústria brasileira de fundos e os bancos sofrerão o seu maior baque quando os juros brasileiros recuarem para a casa de um dígito, fato largamente aguardado no país e que deve acontecer no mais tardar até o fim de 2008, segundo o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco (1997-1999), que comandou a política monetária brasileira com taxas de mais de 40% ao ano à época da crise asiática, em 1997. Hoje a taxa Selic está em 11,5%.
A mudança, disse Franco, levará a uma completa migração dos recursos hoje dos fundos DI, a aplicação financeira mais popular no Brasil, para investimentos como a poupança, os CDBs e os fundos multimercados. Levará ainda a uma diminuição das taxas de administração e de tarifas e irá expor os altos impostos incidentes sobre as aplicações financeiras.
"Sabe-se lá o que vai acontecer. Levamos toda uma geração para ter uma taxa de juros de um dígito. E isso agora causará uma encrenca para os fundos e o sistema financeiro. O que vai acontecer quando a Selic [taxa básica de juros do BC] estiver em 7%? Descontados impostos e taxas, a poupança renderá mais [que os fundos DI]."
Acostumado aos antigos juros do "overnight", com rendimento diário, o investidor brasileiros terá de se acostumar a retornos baixos e a abrir mão da liquidez diária dos fundos, que permite resgates a qualquer momento, disse Franco.
"Os fundos terão de ter liquidez semestral ou anual. Mas o brasileiro não abre mão da liquidez diária e do rendimento alto dos juros. O Tesouro emite papéis mais curtos, que dá menos trabalho. Mas não terá escolha além de alongar o prazo da dívida pública. Os papéis de curto prazo são um resquício da época de inflação" afirmou.
A visão é compartilhado pelo professor Ney Ottoni Britto, da UFRJ. Para justificar as altas taxas de administração, afirma, os fundos terão de "mostrar serviço" para os cotistas.
Ele prevê uma mudança estrutural na indústria, com os fundos deixando de oferecer produtos massificados, como os DI, para atender a necessidades mais personalizadas de retorno, risco e liquidez dos cotistas. "Os gestores terão de ouvir o que o cotista quer e oferecer o melhor produto para ele."

Poupança
Para o ex-presidente do BC, a poupança também deverá deixar de ser a principal fonte de recursos para o financiamento da casa própria, como acontece hoje. Franco prevê um rendimento ainda menor da caderneta, possivelmente com o fim da TR. "Não teria mal nenhum [em abolir a TR]. É muito baixa, já está no chão."
Para deslanchar o crédito imobiliário, que hoje é de apenas 2% do PIB, Franco afirma que os bancos terão de encontrar novas fontes de captação além da poupança. "O crédito imobiliário depende da capacidade de o sistema bancário de captar recursos mais longos. A [captação da] poupança representa um teto para o financiamento imobiliário no país. Para crescer, o crédito imobiliário deve ser desamarrado."
Ele defende que as instituições financeiras busquem esse dinheiro com os investidores com interesse em tomar o chamado risco imobiliário, que surgirão quando os juros recuarem para menos de 10% ao ano.
Franco citou instrumentos alternativos de captação, como as letras hipotecárias, os fundos imobiliários e os de recebíveis de prestações das construtoras, que já começam a aparecer no Brasil, como aconteceu no México e no Chile.

domingo, 26 de agosto de 2007

VALOR REFORMADO

Folha de S Paulo 26/08/2007

Preço de venda do imóvel sobe 10% com pintura nova e troca de piso


MARIANA DESIMONE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Antes de vender um imóvel, investir em reformas, mesmo que pequenas, ajuda a melhorar também o aspecto das propostas feitas pelo comprador.
Para os especialistas consultados pela Folha, soluções simples, como trocar o piso e renovar a tinta das paredes, valorizam o bem em cerca de 10%.
"Pintura nova e um piso, de madeira ou frio, em bom estado, contam, e muito, para impressionar o cliente", afirma Valentina Caran, dona da imobiliária de mesmo nome.
"Evita que o comprador pense que já vai ter o trabalho de trocá-los", argumenta Alberto Du Plessis, vice-presidente de tecnologia do Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário).
A mudança é mais necessária quando se trata de itens que não estão entre os preferidos pelo comprador. É o caso de carpetes e de cores carregadas nas paredes, que devem ser trocadas por tons claros.
Os retoques geralmente compensam na hora de vender o bem. O administrador João Paulo Gonçalves, 53, conta que eles custaram menos que a valorização do seu imóvel.
"Gastei cerca de R$ 5.000 em pintura e na troca dos pisos da cozinha e do banheiro. A casa já ficou bem mais apresentável, e sua avaliação subiu mais de 10%-o que é bem mais do que eu investi em reparos", afirma.

Dobro do preço
O designer Eduardo Garcia, 30, relata que gastou R$ 2.000 em sua quitinete e a vendeu por quase o dobro do preço pelo qual adquiriu o imóvel.
As melhorias incluíram troca do piso do banheiro, arremates de gesso e uma luminária nova na sala. "O comprador vai pelo visual, e ter um conjunto clean ajuda", aponta Garcia.
Quem compra um imóvel por um preço abaixo do de mercado com a intenção de reformá-lo para revender com lucro deve se lembrar de que a "pechincha" costuma pedir gastos estruturais além de reparos superficiais.
Mesmo nesses casos, porém, geralmente a valorização supera as despesas.
O abatimento no preço pedido que a assistente de marketing Melissa Rossi, 26, e o namorado conseguiram ao comprar um apartamento em Pinheiros (zona oeste de São Paulo) foi o investimento para reestruturá-lo: R$ 26 mil.
"Trocamos quase tudo -instalações elétricas e hidráulicas, janelas. Investimos para vender no futuro", diz ela, que calcula uma valorização ainda maior que o gasto despendido
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