sábado, 21 de junho de 2008

Número de devedores no cartão cresce 66% em SP

Jornal da Tarde
21/06/2008


O número de cartões em circulação vem subindo. Em março de 2007, eram 20,6 milhões de unidades em uso, ante 23,5 milhões no mesmo mês deste ano no Estado de São Paulo. Um dos efeitos disso é o aumento na inadimplência

Marcos Burghi, marcos.burghi@grupoestado.com.br

A inadimplência entre os usuários de cartão de crédito na Capital subiu 66,7% entre março de 2007 e o mesmo mês deste ano, informa a pesquisa de Perfil do Inadimplente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). O aumento é conseqüência do crescimento do volume de plásticos em circulação que, no Estado de São Paulo, aumentou mais de 14% no mesmo período: foi de 20,6 milhões para 23,5 milhões de unidades , segundo a Itaucard com base nas instituições que emitem cartões de bandeiras Amex, Credicard e Visa .

Na pesquisa da ACSP de março de 2007, 12% dos entrevistados se declararam inadimplentes no cartão de crédito. Em março deste ano, 20% dos pesquisados se disseram em dificuldades por causa do dinheiro de plástico.

Para Marcel Solimeo, economista da ACSP, o aumento da inadimplência entre os usuários de cartão de crédito tem relação direta com a facilitação do acesso ao produto. Em todo o País, a emissão aumentou 16,9%, indo de 82,6 milhões para 96,6 milhões de unidades na comparação entre os meses de março de 2007 e 2008.

Solimeo afirma que a popularização do produto fez com que chegasse a consumidores não habituados ao uso, o que leva ao descontrole dos gastos e à inadimplência. O economista observa que no caso do cartão de crédito há ainda o agravante de que é de fácil utilização, o que cria a falsa ilusão do poder de compra em parte dos consumidores. Segundo Solimeo, trata-se de um excelente meio de pagamento, desde que usado com planejamento. Na opinião do economista, uma avaliação equivocada pode induzir ao uso e a despesa terá de ser paga no futuro.

Procurada pela reportagem, a Itaucard não quis se pronunciar sobre o aumento da inadimplência registrada entre os usuários do produto. A assessoria de imprensa informou apenas que a instituição não poderia revelar índices de inadimplência por uma questão de “sigilo de mercado”.

A funcionária pública Maria de Lourdes Ricardo, de 54 anos, está inadimplente há cerca de cinco anos. O valor original da dívida, em dois cartões, é de R$ 640. Com uma renda mensal de R$ 1,2 mil, ela diz que não conseguiu negociar o débito porque adoeceu e necessitou gastar com remédios por conta de uma depressão, fruto de uma malsucedida tentativa de compra de um apartamento. Além disso, diz, com seu salário tem de pagar as contas da casa, onde vive com duas filhas e dois netos. Recuperada, afirma que vai tentar negociar com as administradoras para limpar o nome.

A recepcionista Cristina Costa tem cinco cartões em seu nome. Foi considerada inadimplente por conta de uma dívida de R$ 250 contraída há oito meses, quando ficou desempregada.

Durante o período em que fez pequenos bicos, afirma, não teve condições de saldar a dívida, apenas deixou de usar os cartões. Ela conta que costumava usar o cartão para todo tipo de compra, desde lojas até supermercados. Novamente empregada com carteira assinada, ela conta que vai usar parte do primeiro salário, de R$ 1,3 mil, para tentar acertar o pagamento e tirar seu nome do cadastro negativo.

O operador de máquinas Rui Sacramento, de 45 anos, não teve a mesma sorte. Desempregado desde 2006, ele acumulou dívida de

R$ 4,3 mil em dois cartões. As compras, diz, iam de móveis a combustíveis. Ele afirma que ficou tão desgostoso com a situação que jogou os cartões fora e nunca mais pretende usar esta forma de pagamento. Agora, espera arrumar um novo emprego para que possa negociar os débitos e ter o nome reabilitado.
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