quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Mercado sugere conservadorismo

AGÊNCIA ESTADO

31/12/2009

Fundos DI e títulos do Tesouro ficarão mais atraentes com uma possível alta da Selic, apostam analistas

Rita Tavares

Quando analisam opções de investimento para 2010, os especialistas têm duas certezas. A primeira que o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, não terá um novo ano dourado, como ocorreu em 2009, com a estupenda valorização de mais de 80%. A outra que a taxa básica de juros, a Selic, vai subir, aumentando a atratividade de investimentos conservadores, como fundos que aplicam em contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) e títulos públicos do Tesouro Direto.

Mas os desdobramentos práticos dessas duas certezas são variados. Por exemplo: qual será o ritmo e o tamanho da elevação dos juros? Não há consenso, com projeções para a Selic (atualmente em 8,75% ao ano), que oscilam entre 9,5% e 12% para o fim de 2010. Se os juros subirem lentamente, a atratividade de investimentos conservadores, com exceção da poupança, fica prejudicada.

As opiniões sobre o comportamento do mercado acionário brasileiro também divergem, o que faz com que a alternativa da Bolsa venha embrulhada numa mensagem de cautela. O sócio-diretor do Banco Geração Futuro de Investimento, Wagner Salaverry, prevê alta de 25% para o Ibovespa em 2010.

Para as cerca de 70 mil pessoas físicas que aplicam em fundos e clubes de investimento do banco, ele mantém a recomendação de papéis de empresas produtoras de commodities e do setor financeiro.

MERCADO INTERNO

Para ganhar na Bolsa, será necessário fazer bem a lição de casa, com análise caso a caso. Quais ações podem dar bons lucros em 2010? Não há campeões por antecipação, alertam os especialistas. Mas papéis de empresas voltadas para o mercado interno são sempre lembrados como boas alternativas. Alguns analistas apostam que as compras e fusões de grandes companhias, como as que foram anunciadas durante o ano 2009, devem continuar, turbinando o valor dos papéis das empresas envolvidas. Na mira desses profissionais, estão os setores de comércio, bancos e construção civil.

Por trás das incertezas sobre os rumos da economia que influenciarão as decisões de investimento em 2010, há consenso de que o Brasil crescerá de forma vigorosa. Alguns economistas projetam alta de até 6% para o PIB brasileiro.

O crescimento acelerado pode trazer de volta a ameaça de alta da inflação. A inflação pode se aproximar ou superar 5%, mas ainda dentro do intervalo de dois pontos porcentuais acima ou abaixo da meta fixada pelo governo, segundo previsões de analistas.

JUROS

Essa dobradinha crescimento-inflação, associada ao aumento de gastos públicos, determinará a velocidade e a intensidade de alta dos juros. "O comportamento da inflação preocupa", diz o economista da LLA Investimentos, Sérgio Manoel Correia, explicando que os negócios com contratos de juros futuros revelavam, em dezembro, expectativa de alta forte e até rápida.

Muitos economistas apostam na elevação da taxa no primeiro trimestre, mas outros apenas no segundo semestre. De todo modo, os economistas lembram que, olhando para o histórico de aumento das taxas, o próximo ciclo de alta deve ser suave. "Não vamos ter mais a remuneração da renda fixa do passado", alerta Salaverry.

POUPANÇA

Os gestores de investimentos estão certos de que o governo Lula não desengavetará, em 2010, o projeto, apresentado em maio passado, que previa a cobrança de Imposto de Renda para aplicações na caderneta de poupança com saldo a partir de R$ 50 mil. "A medida é impopular e seria usada pela oposição contra o governo Lula", afirma Correia.

A partir dessa perspectiva, a poupança continua como opção de investimento se a alta dos juros vier suavemente, para quem possui recursos limitados ou pretende usar o dinheiro no curto prazo. Mas, ao contrário, se a taxa subir veloz e intensamente, a atratividade dos fundos DI aumenta.

Os gestores acreditam que os fundos multimercados, campeões em captação em 2009, principalmente pelo movimento registrado nos últimos meses, continuarão atrativos. À medida que podem incluir na carteira de investimentos um leque amplo de ativos, os multimercados apresentam rentabilidade superior a dos fundos conservadores, como DI, renda fixa e curto prazo que patinaram em 2009.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Diferença de até 122% nos preços

Jornal da Tarde

30/12/2009

Marília Almeida, marilia.almeida@grupoestado.com.br

O aluguel de imóveis residenciais de padrão semelhante localizados em um mesmo bairro pode oscilar até 122% na cidade de São Paulo. É o que aponta levantamento realizado pela administradora imobiliária Lello.

A maior oscilação foi verificada na Vila Nova Conceição, na zona sul da cidade, onde o aluguel de imóveis de dois dormitórios custa de R$ 18/m² a R$ 40/m². Em Moema, o preço do aluguel também pode dobrar, variando de R$ 15/m² a R$ 30/m². Diferença semelhante também pode ser observada no Campo Belo, onde o valor mínimo de aluguel é de R$ 12/m² e o máximo, de R$ 25/m².

Já as menores oscilações no valor do aluguel de imóveis de padrão semelhante foram encontradas em Santana, com mínimo de R$ 13/m² e máximo de R$ 15/m², Tucuruvi (R$ 11/m² a R$ 12,50/m²) e Jardim Paulista (R$ 26/m² a R$ 28/m²).

“Em uma mesma rua podem ser encontrados três preços diferentes por metro quadrado. O que impulsiona essas variações são, principalmente, a localização e a segurança”, explica a gerente de locação da Lello, Roseli Hernandes. Tipo de construção, lazer e vaga de garagem também contribuem para a valorização ou desvalorização do metro quadrado, aponta a gerente.

Segundo José Augusto Viana, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), as diferenças tendem a se acentuar devido à falta de espaço na cidade para novas construções.

“Os preços tendem a supervalorizar em zonas nas quais já não é possível construir e há poucas opções do tipo de imóvel. A escassez do mercado permite que os preços flutuem mais”, afirma ele.

Ao procurar um apartamento de três dormitórios para alugar, o relações públicas Bruno Sugui, 27 anos, percebeu a variação dos preços. “Pesquisei imóveis na Vila Madalena e o aluguel chega a dobrar se comparamos imóveis com perfil semelhante próximos de Pinheiros com aqueles perto da Lapa”.

O estudo abrangeu 18 bairros da capital, com base em informações das 11 filiais da administradora. Como parâmetro foram avaliados apartamentos de dois dormitórios e 65 metros quadrados, exceto em Higienópolis, Itaim Bibi, Pompeia e Perdizes, onde os imóveis disponíveis possuem metragens superiores.

Deflação severa pode retardar alta da Selic

Valor Econômico

30/12/2009

Luiz Sérgio Guimarães


Depois de encontrar o fundo do poço em junho, a 4,90%, o juro real vinha ensaiando retornar aos 6% do início do ano. Mas, pelo critério mais utilizado pelos economistas do mercado - o que desconta o IPCA projetado para 12 meses pelo Focus da taxa do swap de 360 dias -, caiu ontem a 5,74%. Deveria ter caído muito mais. O recuo sofrido pela taxa do contrato de swap pré/DI, de 10,44% para 10,42%, foi desproporcionalmente pequeno em relação ao tamanho da justificativa: a pesada e inesperada deflação registrada este mês pelo IGP-M. O índice caiu 0,26%, quando a mediana das expectativas era de -0,15%. As implicações para o futuro da severa deflação acumulada pelo indicador em 2009 - de 1,72%, a maior da história de 20 anos do IGP-M - tornariam obrigatória uma queda mais firme e acentuada do swap de 360 dias. Mas os players do mercado futuro de juros da BM&F se recusam a retirar prêmio da estrutura a termo por causa de fatores cuja conexão com o IPCA é indireta e remota. São eles as mudanças em curso na diretoria do Banco Central, as eleições presidenciais e as estratégias de saída da crise empreendidas atualmente nos EUA. O mercado não sabe se teme mais o "novo desenvolvimentismo" supostamente professado pela candidata Dilma Rousseff ou a defesa do juro baixo e do real fraco encampada com notável coerência ao longo da atual década pelo governador José Serra.

Os grandes investidores relutam em emprestar dinheiro a taxas prefixadas - exigindo para tanto prêmios visivelmente inchados - por causa do crescente esvaziamento, na diretoria do BC, das ideias neoliberais. Já que o presidente Henrique Meirelles, embora oriundo do mercado, só representa a si mesmo depois que abraçou a carreira política, o único representante do mercado que ainda resta no Copom - o diretor de Política Econômica, Mário Mesquita -, deve sair do BC no começo de 2010 - antes da desincompatibilização de Meirelles, em março. Já no início do segundo trimestre do ano, o Copom terá uma cara diferente da atual, se não heterodoxa, menos conservadora. Se a inflação não constitui hoje uma ameaça real ao patrimônio desses investidores, poderá vir a tornar-se no futuro caso a nova diretoria do BC não mova pronto ataque às pressões de demanda.

Mesmo sendo difícil, diante da deflação do IGP-M, imaginar o retorno triunfal do dragão inflacionário, os players preferem não arriscar. Isso trava o DI. Apesar do declínio do swap de 360 dias, o contrato mais negociado, com vencimento no final do governo Lula, permaneceu estável em 10,44%. E, na véspera do último pregão do ano, não há liquidez suficiente para que a ala dos "vendidos" em taxa faça prevalecer os sinais emitidos pelo IGP-M. Para Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, a importância maior dessa deflação está nos benefícios futuros que ela pode trazer para os IPCs em 2010. O economista raciocina que, além do peso que o IGP-M tem nos preços administrados, não se deve esquecer que dois itens que fazem parte dos serviços - aluguéis e condomínios - também são influenciados por esse indicador. "Podemos também acrescentar como impacto benigno desse resultado, o fato do IPA industrial ter fechado 2009 com uma deflação de 4,74%, tornando muito mais difícil vermos uma rápida pressão dos preços industriais sobre a inflação no varejo, o que seria a característica do início de uma inflação de demanda", diz Leal. Os preços no atacado indicam pouca pressão na cadeia produtiva e a própria inércia reduzida da inflação passada ajuda na formação das expectativas da inflação futura. O economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo da Silveira, diz que os dados da FGV retiram parte das preocupações no início de 2010. Para ele, a onda deflacionista, fruto da ociosidade existente na indústria e do câmbio valorizado, deve persistir mais um pouco no país.

O mercado de câmbio recebeu escassa influência dos indicadores americanos do dia. Tanto o índice de preços de casas calculado pelo S&P Case Shiller (queda de 0,05% em outubro), quanto o índice de confiança do consumidor medido pelo Conference Board (que subiu de 50,6 em novembro para 52,9 em dezembro) ficaram dentro das expectativas. E o dólar interrompeu sequência de quatro quedas, subindo 0,11%, para R$ 1,7430, porque o mercado entendeu, sem confirmação oficial, que o governo tinha autorizado o Tesouro a comprar dólares para o Fundo Soberano do Brasil.

Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças

E-mail: luiz.guimaraes@valor.com.br

Ensina-me a gastar

Valor Econômico

30/12/2009

Por Janes Rocha, do Rio

Desde que deu início, em 2008, a um programa de educação financeira e previdenciária junto aos 40 mil funcionários da patrocinadora Vale do Rio Doce, a Valia, fundo de pensão dos empregados da mineradora, viu aumentar em quase 60% o número de consultas ao canal direto de comunicação dos participantes, o "Fale Conosco".

Porém, mais importante que o número é a "qualidade" das consultas, na opinião Eustáquio Coelho Lott, presidente da Valia. "Eles (os funcionários) acompanham as notícias da bolsa, querem saber por que o nosso fundo rendeu tanto e a bolsa tanto, por que aplicamos em tais ações", relata Lott.

Há alguns anos, iniciativas como a da Valia estão se espalhando pelo país. Só no setor bancário e de mercado de capitais são 17 instituições que já oferecem algum tipo de programa de educação financeira, seja presencial, seja "on line", seja pela TV, calcula o superintendente de Proteção e Orientação a Investidores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), José Alexandre Vasco.

Entre elas estão as associações de bancos, de corretoras e a bolsa. A BM&FBovespa, por exemplo, está expandindo seu programa televisivo para a rede nacional de TV educativa, diz Paulo Oliveira, diretor executivo de Desenvolvimento e Fomento de Negócios da bolsa.

"Temos conhecimento que existem muitas iniciativas de educação financeira no Brasil, mas são pontuais", diz Alzira Reis e Silva, assistente da Diretoria de Educação Integral do Ministério da Educação (MEC). Agora, o Ministério espera integrar as ações em um grande programa nacional de educação financeira nas escolas, que será lançado neste início de 2010 por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O resultado de programas como o da Vale aparece no nível das perguntas dos funcionários, que subiu muito, diz Elisabete Silveira Teixeira, diretora de Seguridade da Valia. "Antes, no máximo, queriam saber quanto tinham para receber". O salto nas consultas, de 4.265 para 5.584, se deu já entre 2007 e 2008, o que, para Elisabete, reflete os efeitos das "aulas" de orçamento e planejamento financeiro pessoal organizadas pela Valia e a área de Recursos Humanos da Vale por meio de um jornalzinho interno e da intranet.

Embora não disponha de números exatos, Elisabete acredita que a preparação para o equilíbrio financeiro potencializou o interesse dos funcionários por um projeto lançado recentemente, em setembro, chamado "perfil de investimentos". Por esta ação, os participantes do fundo (mais de 90% dos funcionários da Vale) são convidados a escolher o perfil individual de aplicações da carteira entre conservador, moderado e agressivo - ou seja, com mais ou menos peso dos ativos de renda variável. Neste fim de ano, o número de consultas ao Fale Conosco da fundação atingiu 6.698.

O programa do governo, a cargo do MEC e do Coremec, comitê que envolve os principais órgãos supervisores do mercado bancário e financeiro, ganhou apoio do Banco Mundial. A instituição vai emprestar US$ 800 mil para financiar a avaliação dos resultados e o estudo de impacto nos alunos e suas famílias. A avaliação será aplicada desde o primeiro dia de aula nos Estados do Distrito Federal e Tocantins, afirmou Vasco, da CVM. A CVM é um dos integrantes do Coremec junto com Banco Central (BC), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

O programa também tem apoio do Instituto Unibanco que contratou as consultoras independentes em pedagogia Heloisa Padilha e Laura Coutinho. Elas trabalham no projeto pedagógico voltado para o ensino médio e que será conteúdo de um livro que o MEC vai distribuir às escolas a partir de março.

Segundo Laura e Heloisa, o primeiro documento já foi elaborado, consiste em sete objetivos e 140 ações em 73 situações pedagógicas. Em linhas gerais, dizem as consultoras, o projeto trata a educação financeira não como mais uma matéria do currículo escolar, mas como parte em várias matérias. O conhecimento será dividido em duas dimensões, a individual e a social.

"Os alunos vão aprender a anotar suas despesas, os cuidados na hora de ir ao supermercado, olhar os anúncios publicitários com espírito crítico", explica Laura. Além disso, completa Heloisa, parte das ações terá como objetivo inserir os alunos no contexto macroeconômico do país, com noções que vão desde trabalho e empreendedorismo até bens e serviços públicos. Nessa etapa, o aluno refletirá sobre como o dinheiro dos impostos retorna (ou deveria) em forma de bens e serviços que ele encontra no seu dia a dia, do poste de luz à coleta de lixo.

O programa de educação financeira do governo federal é um dos dez "microcampos" de investimentos dentro do orçamento geral do programa Mais Educação, que tem perto de R$ 1 bilhão, explica Alzira Reis e Silva, do MEC. Segundo ela, até 1.650 escolas de ensino médio do país poderão adotar, em 2010, a disciplina de educação financeira, além de outros 1.200 colégios públicos e privados, em um universo de cinco mil instituições de ensino que estão aptas a participar do programa.

O programa, que conta com o apoio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), está em estudo desde 2007. No decreto do presidente que o tornará política nacional, devem ser criados dois comitês que coordenarão o sistema de educação financeira, um voltado para a estrutura organizacional e outro voltado para o apoio pedagógico.

Para o economista Haroldo Torres, da consultoria Plano CDE, não há dúvida sobre a necessidade de aumentar a cultura financeira no Brasil, principalmente quando se pensa em inclusão bancária e popularização do mercado de ações, dois argumentos que vêm embalando as iniciativas no âmbito privado.

Especializado em pesquisas sobre a base da pirâmide social, Torres alerta, porém, para a importância de identificar "o que funciona e o que não", visando a mudar a atitude das pessoas frente ao dinheiro. Ele diz que "não está convencido de que ações educacionais funcionem isoladamente" e sugere que talvez seja o caso de analisar a adoção a combinação de educação, comunicação e repressão aos abusos de bancos e lojas, a exemplo de políticas de saúde bem-sucedidas de combate ao cigarro ou de uso de preservativo.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Renda fixa mais sedutora

Valor Econômico

29/12/2009


Por Adriana Cotias, de São Paulo

O mercado de renda fixa entra em 2010 com duas convicções: 1) os juros tendem a subir; 2) será uma fase de volatilidade, longe dos ganhos certeiros com papéis prefixados como se observou em 2009. Mais do que nunca, antecipar a que tempo o Comitê de Política Monetária (Copom) pode iniciar o ciclo de elevação da Selic será tão importante quanto calcular o tamanho do ajuste. Nesse ambiente de correção da taxa básica brasileira - e de uma possível rodada de elevações mundo afora -, os portfólios compostos por títulos de dívida pública e crédito privado ganham, porém, atratividade na disputa pelo bolso do investidor e devem registrar entrada de dinheiro novo. Em 2009, a captação líquida da categoria resumia-se a R$ 6,6 bilhões até o dia 22, segundo a Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Com a China puxando a economia global, os países desenvolvidos ensejando uma recuperação e o Brasil crescendo a taxas expressivas, a curva de juros - dada pela formação de uma tendência entre os vencimentos dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) - vai se mover conforme a dinâmica esperada para os índices de custo de vida e para o fim dos estímulos monetários e fiscais. "No mundo inteiro, os bancos centrais estarão reagindo contra possíveis pressões inflacionárias, tirando o excesso de liquidez e, eventualmente, subindo os juros", resume o superintendente de Renda Fixa do Itaú Unibanco, Ronaldo Patah. "Será um ano mais volátil do que 2009, os gestores vão ter de se posicionar de acordo com o cenário e alternar a carteira com papéis pré e pós com mais frequência."

Embora os títulos de dívida corporativa ainda sustentem parcela importante nos resultados das carteiras, a remuneração, acrescenta Patah, já não é mais uma barganha, obrigando os gestores a serem mais criteriosos na escolha dos riscos. "No começo de 2009, o mercado estava bom para o comprador, agora está melhor para o vendedor (emissor)." Entre os papéis federais, são as Notas do Tesouro Nacional (NTN-B, atreladas ao IPCA) que ele considera a melhor opção para os portfólios. Isso por que o Itaú Unibanco tem um cenário mais conservador do que a média do mercado para as variáveis inflação e Selic. A instituição calcula que, com a atividade mais forte, crescendo a um ritmo de 6%, o IPCA fechará 2010 em 5%, acima da meta de 4,5%. Nesse contexto, a taxa primária brasileira subiria a 11,50% ao ano.

Na ponta mais otimista está a Bradesco Asset Management (BRAM), que projeta a Selic em 10,25% ao ano em dezembro, com as correções, se necessárias, empreendidas no fim do primeiro semestre, segundo o superintendente de Renda Fixa, Luís Roberto Zaratin Soares. O especialista considera que, além dos papéis corporativos ocuparem espaço relevante nos portfólios, serão os títulos indexados à inflação que garantirão um juro real para investidor nenhum "botar defeito".

"Há papéis com prazo de dez anos pagando 6,5%, 6,7% ao ano, o que é um retorno fenomenal." Dependendo do cenário traçado, os prefixados também são alternativa, com um prêmio (remuneração acima da Selic projetada) implícito de 1% a 1,5% no prazo de um ano, acrescenta. Ontem, as Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em janeiro de 2011 tinham, por exemplo, ofertas a 10,45% no secundário. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato de DI de mesmo vencimento embutia uma taxa efetiva de 10,44%. "Quando a tendência do juros é para cima, isso sugere mais "trading" do que posicionamento", explica Soares.

Pela última pesquisa do Banco Central (BC) junto ao mercado (Focus), publicada ontem, a Selic deve encerrar 2010 em 10,75% ao ano. O relatório de inflação, divulgado na semana passada com projeções consideradas benignas para os indicadores de atividade e de custo de vida, não chegou a alterar tal estimativa, apenas impondo recuo das taxas longas e alta dos vencimentos mais curtos na BM&F.

Se, para os gestores, a vida tende a ser mais difícil, para o investidor individual que quiser fazer posições estruturais, de longo prazo, os papéis prefixados ainda são uma boa pedida, diz o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello. "O mercado vai titubear em relação a que momento o BC vai começar esse movimento (de elevação da Selic), se no fim do primeiro trimestre ou se no início do segundo semestre, vai ser um mercado volátil e essa situação favorece as posições prefixadas", afirma. Para o aplicador que vê espaço para a inflação subir, os papéis corrigidos pelo IPCA são uma boa forma de proteger a carteira.

A simples perspectiva de que, em algum momento do ano, os juros vão subir já torna os investimentos em renda fixa mais atraentes do que em 2009, diz o diretor de Renda Fixa da HSBC Global Asset Management, Renato Ramos. "Será pelo motivo bom que as taxas nominais e reais vão subir, para conter um crescimento da economia que está muito forte", afirma. "É um cenário que favorece tanto a renda fixa quanto os investimentos de maior risco, como a bolsa ou os fundos multimercados."

A capacidade da gestão de aumentar e diminuir posições nas horas mais apropriadas é que vai trazer rentabilidade adicional aos fundos nesse período mais volátil, acrescenta Ramos. O vaivém de preços, em certa medida também ocasionado pelo clima pré-eleitoral, com possível mudança no comando do BC, estará, porém, muito distante do que foi no conturbado 2008 - após a quebra do Lehman Brothers, alguns papéis chegaram a exibir prejuízos comparáveis à renda variável. As projeções da casa apontam para um ajuste de 2,50 pontos percentuais na Selic, com os ajustes a partir do segundo trimestre. "Mas o mercado não está muito homogêneo, há desde casas que acreditam que o primeiro aumento vem em março como as que acham que não virá nada o ano inteiro." Nesse contexto, o especialista sugere que o investidor divida o seu capital entre fundos DI e carteiras de renda fixa com gestão ativa.

Com a melhora do nível de atividade, é natural que o mercado de renda fixa passe a pedir mais prêmio nos ativos de renda fixa, o ano será bom, mas não com os mesmos retornos observados em 2009, diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo da Silveira. "É de se esperar que o BC retire os estímulos e um deles é a taxa de juros, mais efetivo do que mexer em compulsórios, que são instrumentos de exceção". Ele não compartilha da tese de que o processo eleitoral possa impor algum risco à condução da política monetária. Mas reconhece que isso servirá de munição para mais volatilidade.

Banco público tem juro menor

Jornal da Tarde

29/12/2009

Taxas cobradas de clientes novos são mais baixas do que nas instituições privadas

Marcos Burghi, marcos.burghi@grupoestado.com.br

Caixa Econômica Federal tem os menores juros no cheque especial e no crédito pessoal, de acordo com a pesquisa





Os bancos públicos oferecem as taxas de juros mais baixas também a clientes novos e aqueles que têm poucos ou nenhum investimento nas instituições. A conclusão está na comparação entre as pesquisas mensais de juros da Fundação Procon de São Paulo (Procon-SP) referentes a janeiro e dezembro deste ano. Segundo o levantamento de dezembro, divulgado ontem, a Caixa Econômica Federal é a instituição que tem a taxa mais baixa para clientes deste perfil em 2009 nas modalidades analisadas: crédito pessoal e cheque especial.

No crédito pessoal, a Caixa chegou a dezembro com taxa de 4,39% ao mês ante 4,44% apurados em janeiro, queda de 0,05 ponto porcentual. De acordo com a aferição, o Banco do Brasil (BB) cobra de clientes não preferenciais, cujas taxas balizam a pesquisa, 4,48% ao mês, cerca de meio ponto porcentual menos que o praticado em janeiro (4,99%). A terceira instituição do ranking na modalidade é a Nossa Caixa, que reduziu de 4,9% para 4,48% o juro médio cobrado deste nicho da clientela (veja quadro ao lado).

No caso do cheque especial, a outra modalidade de crédito cujas taxas são pesquisadas mensalmente pelo Procon-SP, a Caixa também teve, em dezembro, o menor juro, 6,72% ao mês, após iniciar o ano na casa dos 7,99% para este segmento de clientes. No cheque especial, BB e Nossa Caixa, que atualmente são uma única instituição, chegaram empatados, com média de 7,65% ao mês, segundo o Procon-SP.

Diógenes Donizete, assistente de direção do Procon-SP, classifica como “mistério” o fato de as taxas não apresentarem redução maior. “Ainda há muita gordura para ser queimada”, acredita.

Ele afirma que os bancos costumam jogar a culpa no spread bancário, diferença entre as taxas que as instituições oferecem para captar recursos no mercado e os porcentuais que cobram para emprestá-los aos clientes.

O diretor do Procon-SP avalia que as instituições deveriam melhorar a forma de concessão de crédito com o objetivo de evitar que os consumidores se endividassem. Na opinião de Donizete, a melhora das condições econômicas ao longo do ano permitiria uma baixa mais expressiva dos juros. “Apesar disso, se o consumo aumentar a tendência é de que as taxas subam”, diz.

Luiz Jurandir Simões, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), afirma que o cheque especial é um dinheiro de alto risco, seja para quem usa como para quem concede, o que dificulta a redução das taxas de juros. “Embora a competição entre os bancos tenha ajudado nas baixas, o grau de risco do crédito impede reduções mais significativas”, afirma. Na avaliação do professor, o cheque especial é uma linha de financiamento que só deve ser utilizada em emergência. “As pessoas usam muito mal o cheque especial”, afirma.

Marcos Crivelaro, professor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), acredita que ao longo de 2010 as taxas devem se estabilizar nos patamares atuais ou mesmo subir. Ele lembra, ainda, que os juros menores praticados pelos bancos públicos são uma orientação política, como parte dos incentivos para a retomada da economia.

Além disso, observa Crivelaro, o tipo de cliente para os quais são oferecidas as taxas pesquisadas pelo Procon-SP não pressupõe que ainda haja uma fidelidade com a instituição, o que influi nos juros.



Inadimplência e custos compõem as taxas

O Jornal da Tarde abriu espaço para manifestação de todos os bancos que fazem parte da pesquisa e que foram citados na reportagem. Em nota, a Nossa Caixa afirma que as taxas de juros de empréstimo pessoal e de cheque especial para pessoa física estão entre as mais baixas no universo pesquisado.

O HSBC informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que são considerados alguns fatores para a composição da taxa de juros: o custo do dinheiro, a perspectiva de inadimplência, o relacionamento do cliente com a instituição e a expectativa do mercado, entre outros. “Diante da alteração de qualquer um desses critérios, a taxa de juros pode variar tanto para cima quanto para baixo”, acrescentou a assessoria em nota. Os demais bancos não enviaram resposta até o fechamento da edição.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Arigatô, Brasil

Revista Exame

26/12/2009


Acostumados com aplicações de baixíssimo retorno, investidores japoneses começam a descobrir as oportunidades do mercado brasileiro -- e isso é uma ótima notícia para as empresas e o governo.

Guilherme Fogaça

Masahiro Morita, o japonês de 31 anos que aparece na foto acima, está feliz da vida por ter descoberto as oportunidades de investimentos disponíveis no Brasil. Funcionário da área de marketing da gestora de recursos Mitsubishi UFJ, em Tóquio, Morita foi um dos primeiros a aplicar no fundo de renda fixa que o Bradesco lançou no Japão, há cerca de um ano. Hoje ele é um dos 9 000 cotistas impressionados com a rentabilidade alcançada. Em 2009, o Bradesco Brazil Saiken Fund deu um retorno de 45% em iene. Se aplicasse num fundo de renda fixa japonês, Morita teria de esperar mais de 370 anos -- é isso mesmo, 370 anos -- para acumular um retorno dessa magnitude. Em razão da perspectiva de crescimento econômico, a opção Brasil é cada vez mais atraente aos olhos dos japoneses. O fato de o país ter a nota "grau de investimento" das principais agências de risco acalmou parte dos investidores. Com taxas de retorno de dois dígitos, o Brasil parece um eldorado para aplicadores como Morita.

É verdade que a Selic caiu no decorrer de 2009, mas o juro brasileiro -- em 8,75% -- é gigantesco para os padrões japoneses. A taxa básica de juro da economia japonesa, que se arrasta há quase duas décadas, é de 0,1% ao ano. Na bolsa de Tóquio, a situação também não tem sido muito alentadora. O Nikkei 225, principal índice do mercado de capital japonês, está no mesmo patamar de 1984. Para completar a lista de vantagens atribuídas ao Brasil, há a questão do câmbio. O real, quem diria, é uma das moedas que mais se valorizaram no mundo neste ano. Em relação ao iene, a alta foi superior a 30% desde janeiro -- o que ajuda a explicar o rendimento de 45% do fundo do Bradesco. "Tenho dinheiro em fundos que investem em outros países emergentes, mas são aplicações em dólar. O único país em que invisto na moeda local é o Brasil", diz Morita

O aumento do interesse dos japoneses pelo Brasil fica evidente quando se acompanha a cobertura dos grandes jornais de Tóquio. "A demanda por informações realmente cresceu e, durante a crise, fui muito questionado sobre a situação do país", diz Makoto Danjo, correspondente para América Latina e Caribe do Nihon Keizai Shimbun, um dos principais jornais japoneses, com tiragem diária de 3 milhões de exemplares. "A economia brasileira não se destaca mais apenas pela produção de commodities", diz Danjo, que fica baseado em São Paulo e recentemente produziu um especial de cinco páginas sobre o Brasil. O desembarque dos fundos no Japão a partir de 2007 chamou a atenção pela maneira como aconteceu. De forma geral, não foram os bancos brasileiros que perceberam uma oportunidade do outro lado do mundo. Foram os investidores japoneses que começaram a se interessar pelo mercado, entraram em contato com suas corretoras locais, que, por sua vez, procuraram bancos com operações no Brasil, como Credit Suisse e HSBC. É como se os fundos tivessem sido comprados pelos japoneses -- e não vendidos pelos brasileiros.

Mesmo com a predisposição favorável ao Brasil, os gestores sabem que precisam respeitar certos ritos para garantir que a intenção se transforme em investimento efetivo. O diretor responsável pelos clientes globais do Itaú Unibanco, Roberto Nishikawa, sempre reserva um dia para jogar golfe com os representantes das corretoras locais quando vai ao Japão. Na maioria das vezes, não trocam uma palavra sobre investimentos. "Não é a hora. Os japoneses querem avaliar minha personalidade nos pequenos atos, como a minha reação ao dar uma tacada errada. Eles consideram fundamental fazer esses encontros pessoais para construir uma relação de confiança", diz Nishikawa. O Itaú Unibanco lançou em novembro o fundo de ações Rio Wind e captou 1,2 bilhão de dólares em apenas 20 dias -- um recorde entre os fundos brasileiros na Ásia.

De acordo com os executivos que viajam periodicamente ao Japão, parte dos investidores que buscam mais informações sobre o Brasil fica surpresa com o que descobre. Um dos fenômenos que mais chamam a atenção é o crescimento do consumo interno. Outro fator que causa boa impressão é a existência de empresas de alta tecnologia -- nesse quesito, o destaque é a Embraer. "O Brasil deu um salto", diz Kenji Yamamoto, executivo responsável pela comercialização e pelo marketing dos fundos brasileiros do HSBC no Japão. Yamamoto morou no Brasil na década de 80 e ficou maravilhado quando visitou São Paulo em 2008. "Quando pisei na avenida Faria Lima parecia que estava em outro país. Vários carros são mais novos do que os que rodam no Japão e há restaurantes com preços de Nova York que estão sempre lotados", diz Yamamoto.

Algumas gestoras já estão sofisticando as opções de investimento. Na categoria dos fundos de renda variável, a quase totalidade deles é composta pelos de ações que seguem um índice, como o Ibovespa, e os que podem aplicar em qualquer papel listado na bolsa brasileira. Como a demanda é forte, o BNY Mellon Arx, gestora de recursos do grupo americano BNY Mellon no Brasil, pretende abrir o leque. Está previsto para janeiro o lançamento de um fundo de ações setorial voltado para as áreas de infraestrutura e consumo. "Existe a expectativa de que esses setores sejam dois importantes vetores de crescimento da economia brasileira nos próximos anos", diz Alexander Gorra, diretor da plataforma internacional do BNY Mellon Arx. Há dois anos, a participação dos japoneses no patrimônio da gestora era zero. Agora, estima-se que ela chegue a 30% até o final de 2012.

Um território ainda a desbravar no mercado japonês são os fundos de pensão e outros grandes investidores. Embora reconheçam o bom momento vivido pelo país, parte deles exige um histórico positivo dos investimentos de, no mínimo, cinco anos antes de qualquer aporte. Já os investidores comuns são menos criteriosos e, no total, contam com uma poupança de cerca de 16 trilhões de dólares. É claro que apenas uma pequena parcela desse montante realmente aterrissará em solo brasileiro -- mas o que vier será muito bem-vindo. Embora os aplicadores estrangeiros pressionem o câmbio, o dinheiro que trazem ajuda a capitalizar as empresas, inclusive as do estratégico setor de infraestrutura. Além disso, o capital internacional poderá ter um efeito positivo na gestão da dívida pública. "À medida que a demanda dos estrangeiros aumentar, o governo poderá pensar em lançar papéis com prazos maiores", diz Cristiano Souza, economista do Santander, outro banco presente no Japão. Se depender de investidores como Morita, a demanda não vai cair. "Por mais que procure, sei que é quase impossível encontrar outro lugar para investir que tenha essas taxas de retorno. Vou continuar com esse dinheiro aplicado por mais 40 anos", diz ele. O Brasil está igualmente satisfeito.

Ainda dá para reduzir o IR 2010

Jornal da Tarde
18/12/2009


Despesas como previdência privada e doações, feitas até dia 31, poderão ser incluídas

Paulo Justus, paulo.justus@grupoestado.com.br

Ainda dá tempo para reduzir o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) que será pago no ano que vem. Ou então aumentar o imposto a restituir. Para isso, é preciso realizar despesas dedutíveis do tributo até 31 de dezembro. São gastos como aplicações em previdência privada e doações, que podem ser abatidas do tributo a ser recolhido.

No caso dos planos de previdência complementar, a dedução é permitida para o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) até o limite de 12% do rendimento pessoal bruto no ano. Para que a dedução seja válida, também é preciso que a pessoa contribua com a previdência estatal. O investimento pode ser feito ao longo do ano ou sob a forma de um aporte único. Esse dinheiro deixa de ir para o Fisco e acaba voltando futuramente para o contribuinte, sob a forma de previdência complementar.

Mas é preciso ter em mente que o investimento vai ser para um resgate futuro. “É importante fazer a aplicação dentro de um planejamento pessoal, não apenas para pagar menos tributo”, explica o diretor tributário da consultoria contábil Confirp, Welinton Mota.

Já no caso de doações, a dedução de impostos é menor, limitada a 6% do imposto a ser cobrado no ano. Para que o abatimento de imposto seja válido, é preciso que a entidade beneficiada esteja cadastrada no Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fumcad).

Nesse caso, o contribuinte destina parte do pagamento do imposto diretamente a uma instituição de caridade. Trata-se de uma maneira de fazer o dinheiro chegar mais rápido a quem precisa, sem ter de passar antes pelo governo.

Em São Paulo, é possível fazer doações às entidades cadastradas no Fumcad pelo site http://fumcad.prefeitura.sp.gov.br. Lá o contribuinte seleciona a entidade que vai receber a doação e emite um boleto bancário para o pagamento. Ele também pode simular as doações de modo que sejam totalmente abatidas do Imposto de renda. Para um rendimento tributável de R$ 30 mil ao ano, por exemplo, a dedução máxima para doações é de R$ 190,39. Valores acima dos dedutíveis não são abatidos do imposto e se transformam em doação direta à entidade selecionada.

Tanto no caso da previdência privada quanto na doação, o contribuinte deve prestar atenção para os recibos. Isso porque a Receita aumentou as exigências de comprovação de deduções para o Imposto de Renda. O contribuinte que não comprovar o gasto dedutível está sujeito a multa equivalente a 75% do tributo devido.

O consultor tributário do Centro de Orientação Fiscal (Cenofisco), Lázaro Rosa da Silva, explica que o recibo tem de ter pelo menos o CNPJ da instituição com o endereço e todos os dados, além do valor da despesa e a assinatura do responsável pela instituição. Essa regra vale também para outros gastos, como educação e despesas com saúde, que podem ser abatidos do imposto de renda.

O contribuinte deve realmente tomar cuidado pois a Receita também passa a exigir dos profissionais de saúde o preenchimento de um documento (Dmed), para aumentar mais a fiscalização.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Descontos de até 76% no pós-Natal

Lojas virtuais já planejam suas queimas de estoque a partir da zero hora do dia 26 de dezembro

Jornal da Tarde

23/12/2009

LUCIELE VELLUTO, luciele.velluto@grupoestado.com.br

Descontos de até 76% a partir das 0h do dia 26 de dezembro, mas só pela internet. São as lojas virtuais na disputa pelo cliente que costuma esperar passar o Natal para comprar mais barato.

Uma das novidades da liquidação deste final do ano é o lançamento do site Saldão na Internet (www.saldaonainternet.com.br), que irá reunir 40 lojas e 200 tipos de produtos com promoções exclusivas. A loja vai ao ar na primeira hora de sábado e funcionará até 15 de janeiro.

Alguns participantes são Lojas Marisa, Ricardo Eletro, Le Postiche, NetShoes, Comprafácil.com, PortCasa, Bayard, Giuliana Flores, entre outras. Os descontos vão de 10% a 76% e há a possibilidade de parcelar em até 12 vezes sem juros. Por uma questão de estratégia de marketing, os produtos em oferta ainda não foram divulgados.

A expectativa é que o site de liquidação alcance um faturamento de R$ 15 milhões e receba 1 milhão de visitas em 20 dias de operação. O investimento é de R$ 1,2 milhão. "A ideia é que o Saldão na Internet entre no ar sempre após datas comemorativas. Já planejamos para o Dia da Mães", explica Renann Fortes, coordenador de projeto da Braspag, empresa de soluções de pagamento virtual que está promovendo a ação.

Nas grandes lojas virtuais, o dia 26 também deverá ser o início da queima de estoque. O Submarino planeja colocar 500 produtos em promoção no sábado. A Americanas.com terá saldão que começa no mesmo dia e vai até segunda-feira, com descontos em todos os departamentos.

O PontoFrio.com começa o seu saldão também no sábado e o estende até janeiro, com preços até 50% mais baixos e possibilidade de parcelamento em 18 vezes sem juros no cartão da loja ou 12 vezes sem juros no cartão de crédito.

Para quem não quer esperar as liquidações de Natal, já existem promoções de alguns produtos na internet. O PontoFrio.com, por exemplo, oferece descontos especiais para o cliente que optar pelo pagamento por meio do tradicional boleto bancário.

Outras lojas virtuais, como Americanas.com e Submarino, garantem que quem fizer compras hoje ainda pode receber o produto antes da 0h do dia 25 de dezembro. Os sites montaram uma lista de ofertas para serem entregues dentro do prazo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um benefício muito além do desconto no imposto de renda


 


Valor Econômico

Alexandre Canalini


22/12/2009

Dezembro é tradicionalmente marcado por uma intensa campanha por parte de seguradoras e bancos sobre planos de previdência. Isso ocorre por ser esta a última oportunidade do ano para que as contribuições em planos de previdência PGBL possam ser usadas para abatimento no imposto de renda a ser declarado no ano seguinte.

A adesão a este tipo de plano é indicada para aqueles que fazem a declaração do imposto de renda pelo modelo completo, pois permite o benefício de descontar as contribuições realizadas até 12% da renda anual bruta tributável. Este benefício, além de possibilitar um diferimento fiscal, possibilita uma redução do imposto de renda dependendo do modo de tributação do plano e o tempo de permanência dos recursos aplicados.

Apesar de entender a relevância deste tipo de campanha nesta época do ano, acredito que tanto os planos de previdência PGBL quanto VGBL deveriam ser oferecidos à população em geral durante o ano todo, pois proporcionam os benefícios citados acima e outros que serão mencionados em seguida.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou recentemente a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2008. A pesquisa mostra que o país possui 21 milhões de idosos. Destes, 11% possuem renda média inferior a um salário mínimo e 33,3% moram com os filhos. O relatório final nos permite concluir que um terço da população idosa depende de parentes para se manter. Outra parte significativa da população analisada continua trabalhando e somente uma minoria consegue se sustentar com os próprios recursos.

Esses dados - somados ao fato de que o teto máximo do benefício pago pelo INSS atualmente é de R$ 3.218,90 e de que a maioria dos beneficiados recebe um salário mínimo ou pouco mais - mostram que o aposentado brasileiro não tem uma vida fácil. Portanto, a necessidade de um plano complementar de aposentadoria fica cada vez mais evidente.

A utilização de planos complementares como meio de acumular capital para uso futuro apresenta vantagens em relação aos demais ativos financeiros. A tributação ocorre somente no resgate dos recursos e sobre eles não incide o imposto semestral cobrado dos fundos de investimento, nem mesmo numa data específica de vencimento como nos casos de ativos públicos e privados.

Além disso, há a possibilidade de o investidor optar pelo regime de tributação regressivo, cuja alíquota é de 35% no primeiro biênio, decresce 5% a cada biênio seguinte, chegando ao valor mínimo de 10% após 10 anos de permanência.

A questão sucessória e o planejamento da passagem do patrimônio para herdeiros sempre foi um assunto muito abordado em todo mundo em função dos custos tributários. Países como Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e França possuem alíquotas de imposto sobre herança de 70%, 50%, 46%, 40% respectivamente. No Brasil, o imposto sobre herança é o ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação), cuja alíquota pode variar de um Estado para outro. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, o ITCMD é de 4%.

Com o objetivo de reduzir esses custos sucessórios, iniciou-se uma procura intensa por planos de previdência nos últimos anos, uma vez que sobre os recursos investidos não incide o ITCMD e também não são sujeitos aos processos de inventário. Usando premissas conservadoras, estima-se que a economia de se efetuar um processo sucessório via plano de previdência pode chegar a 20% do patrimônio que, de outra forma, seria gasto com os custos judiciais cobrados pelos estados, honorários pagos aos advogados, mais o ITCMD e o imposto periódico cobrado em outros ativos financeiros.

A livre indicação e modificação de beneficiários e a agilidade no pagamento de recursos decorrentes de sinistros são outras vantagens que um plano de previdência oferece ao investidor. Beneficiar um indivíduo que esteja fora da linha sucessória do código civil geralmente torna necessária a elaboração de um testamento, enquanto que via plano de previdência basta a indicação da pessoa e o percentual de sua participação no volume acumulado. Além disso, os bancos e as seguradoras que distribuem planos de previdência pagam aos beneficiários cerca de dez dias após a apresentação da documentação que comprove a ocorrência do sinistro, o que é significativamente mais rápido do que os processos de inventário.

Previdência é uma necessidade de todos e é muito importante lembrar-se do tema em dezembro, mas é ainda mais importante aderir a um plano quando ainda não precisamos dele.

Alexandre de Almeida Canalini é planejador financeiro pessoal e possui a certificação Certified Financial Planner (CFP)

E-mail: alexandrecanalini@hotmail.com


 

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Novo papel acirra a briga pelo investidor


 

Valor Econômico

Carolina Mandl e Altamiro da Silva Junior, de São Paulo
21/12/2009

As recém-criadas letras financeiras, títulos de renda fixa que serão emitidos pelos bancos, vão roubar espaço hoje ocupado por outros títulos de renda fixa privados, principalmente Certificados de Depositado Bancário (CDBs), também emitidos pelos bancos, e debêntures, ofertadas pelas empresas. Banqueiros e gestores de fundos ouvidos pelo Valor afirmam que haverá uma realocação dos ativos nas carteiras, tornando a disputa pelo bolso do investidor mais acirrada.

Hoje, depois dos títulos públicos federais, o CDB é o papel de maior total nas mãos dos investidores do mercado de renda fixa. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o estoque de CDBs somava R$ 831 bilhões no fim de novembro, ante R$ 276 bilhões de debêntures.

Porém, o lançamento das letras financeiras trará novas características às captações bancárias. Ao contrário da maioria dos CDBs, os novos títulos não possuem liquidez diária - permitindo captações de mais longo prazo. Além disso, podem embutir garantias reais ao investidor e serem vendidos em ofertas públicas.

 

 

Para Fabio Mazzeo, presidente do Metrus, fundo de pensão dos funcionários do Metrô de São Paulo, as letras podem se tornar para as fundações um ativo mais atrativo do que um CDB. "As notas podem ser interessantes, principalmente como alternativa de aplicação de mais longo prazo, por causa da garantia extra." O CDB só conta com o Fundo Garantidor de Crédito até o limite de R$ 60 mil.

Outro fator que deve atrair os investidores é a maior facilidade de comparação entre as taxas que os bancos pagam para captar recursos. "Por ser um valor mobiliário, haverá um mercado mais transparente de dívida bancária. Hoje, para descobrir o quanto cada instituição paga, o investidor precisa ficar ligando de banco em banco", avalia Arturo Profili, gestor de crédito privado da Capitânia.

A expectativa dos investidores é de que as letras financeiras venham a ter um mercado secundário, algo ainda bastante incipiente entre as debêntures. Os CDBs não podem ser negociados no mercado secundário. Para os bancos, desenvolver a revenda das letras é interessante, pois permite que eles criem uma referência de preços para captações.

São essas características que devem fazer a letra financeira roubar o espaço que o CDB tem dentro dos ativos de renda fixa. "Mas isso não significa que o CDB vai morrer. Esses dois tipos de captação vão se tornar complementares. Alguns investidores vão continuar preferindo ter a possibilidade de resgate a qualquer momento", afirma Márcio Hamilton Ferreira, diretor de finanças do Banco do Brasil. As instituições financeiras avaliam, por exemplo, que as pessoas físicas vão continuar comprando CDBs.

A concorrência com as debêntures, no entanto, já não deve ser tão pacífica, avaliam analistas. No ano passado, de um total de R$ 40 bilhões captado por todo o mercado, só os bancos angariaram R$ 30 bilhões com a emissão de debêntures por meio de suas empresas de leasing. Esse tipo de operação, porém, deixou de ser interessante desde que passou a ser exigido o recolhimento de compulsório nas operações interbancárias com as leasings.

Por lei, os bancos não podem emitir debêntures. Mas o novo papel possui características quase idênticas a elas. Por isso, empresas chegaram a manifestar à Federação Brasileira de Bancos (Febraban) seu descontentamento com o lançamento da letra. O receio das companhias é que a emissão dos bancos concorra com as debêntures que elas ofertam. Por outro lado, muitas debêntures são, na verdade, empréstimos bancários, e nesse sentido, o alongamento do prazo de captação dos bancos pode até ajudar. "Não dá para dizer qual fatia dos recursos dos investidores a letra pegará, mas haverá uma maior concorrência entre os emissores", afirma Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).

As debêntures permitem a captação de recursos sem a intermediação bancária, ao passo que, com os recursos atraídos com as letras, os bancos é que vão poder financiar mais projetos. "Acredito que para o investidor é natural enxergar o banco como um captador de poupança, que repassa dinheiro ao setor produtivo, enquanto a função da empresa é outra", avalia Isacson Casiuch, sócio do banco Modal.

O que pode amenizar a disputa pelo bolso do investidor é a queda dos juros básicos, movimento que levará à transferência dos recursos dos títulos públicos para os privados.

Em alguns casos, as letras vão poder trazer como garantia carteiras securitizadas de recebíveis das empresas, o que as deixa ainda mais parecidas com as debêntures. "Vai ser um título com risco de banco, mas com garantia de empresa", diz Camila Goldberg Cavalcanti, sócia da área de mercado financeiro do escritório Barbosa, Müssnich.

As letras financeiras foram criadas por medida provisória na semana passada, mas sua regulamentação deve ser divulgada pelo Ministério da Fazenda em meados de janeiro, quando o ministro Guido Mantega retorna de férias. A expectativa, no governo, é que esses novos títulos só comecem a aparecer no mercado a partir de março. (Colaborou Claudia Safatle, de Brasília)

Só metade do corte do ICMS é repassada ao consumidor

Valor Econômico

21/12/2009


No máximo 50% das desonerações de ICMS sobre dez produtos da cesta básica ficaram no bolso do consumidor entre os anos de 1994 e 2008. Ou seja, de cada R$ 1 de redução no imposto, na melhor das hipóteses R$ 0,50 foram repassados no preço ao consumidor final, segundo estudo elaborado pela Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.

O levantamento, de autoria dos pesquisadores Enlinson Henrique Carvalho de Mattos e Ricardo Politi, mostra que nem sempre o benefício fiscal de políticas de redução de impostos — como o corte de alíquotas de IPI adotado recentemente pelo governo federal para automóveis, linha branca e materiais de construção — beneficiam integralmente o consumidor final. Quando não há competição perfeita, a indústria ou o varejo podem aproveitar a redução do tributo para recompor parte de suas margens.

Apenas uma parte do corte de impostos chega ao consumidor

Marta Watanabe, de São Paulo
21/12/2009

Em tempos de crise, são comuns políticas públicas que reduzem impostos, como forma de aumentar a demanda e aquecer a economia. Em 2009, o governo federal reduziu alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e linha branca. Nem sempre, porém, a queda nas alíquotas tributárias beneficia integralmente o consumidor final. Quando não há competição perfeita, a indústria ou o varejo podem aproveitar a redução para recompor parte de suas margens.

Essa é a conclusão de um estudo realizado pela Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP). A pesquisa analisou quanto das alterações de alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) chega a ser transmitido ao preço cobrado do consumidor final. Foram analisados os efeitos das variações do imposto em dez itens da cesta básica entre junho de 1994 e junho do ano passado. Em sete dos dez bens pesquisados o índice de transmissão variou de 22% a 50%, em média. Ou seja, de cada R$ 1 de redução de ICMS resultante da alteração tributária, apenas R$ 0,22 a R$ 0,50 chegaram a ser repassados, em média, ao preço ao consumidor final. Em três produtos, nenhum centavo de redução chegou ao preço final.

No açúcar, por exemplo, a cada R$ 1 de queda do imposto resultante de alteração tributária, apenas 47%, em média, foram repassados ao preço final. No arroz foram 43%. No óleo, 22%. Na carne e farinha, a transmissão foi zero.

De autoria dos pesquisadores Enlinson Henrique Carvalho de Mattos e Ricardo Politi, o estudo buscou verificar o impacto das reduções e elevações do imposto estadual sobre o preço final. No período analisado, porém, 70% das alterações tributárias geraram redução do imposto. Mattos explica que o período foi escolhido porque a partir de 1992 o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) permitiu que os Estados passassem a reduzir a base de cálculo do ICMS nas vendas internas de produtos da cesta básica. Isso ocasionou diversas alterações na carga tributária do imposto.

 

 

A pesquisa também levou em consideração especificidades do ICMS, como sua forma de recolhimento não cumulativo e sua apuração, que leva em consideração a inclusão do próprio imposto na base de cálculo.

"Conclui-se que o benefício de desoneração dos bens da cesta básica não atingiu os consumidores na mesma proporção", diz Mattos. Para ele, o impacto diferenciado nos preços sugere que os mercados não apresentam competição perfeita e a indústria ou varejo podem ter aproveitado a redução de ICMS para recompor parte de suas margens.

Os produtos pesquisados foram açúcar, arroz, café, carne, farinha, feijão, leite, manteiga, óleo e pão. Mattos lembra que os resultados para carne, leite e pão são afetados por grande número de varejistas que usam o Simples Nacional, sistema de pagamento de tributos destinado a pequenas empresas. Por isso, estabelecimentos como açougues e padarias recolhem os tributos de forma unificado. Para esses produtos, portanto, a pesquisa captou o efeito do ICMS para grandes estabelecimentos como supermercados e hipermercados. Há alguns segmentos também com elevada informalidade, aponta Mattos, como o de carnes.

Foram analisados preços de 16 capitais do país - Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio, Salvador, São Paulo e Vitória. O estudo controlou custos locais, preços das matérias-primas, entre outras variáveis, além da repercussão de tributos federais na carga tributária de ICMS.

Para Mattos, o fato de a transmissão da redução de impostos não ser integral ao consumidor final é significativo para políticas publicas. "Em mercados com concorrência imperfeita, outros mecanismos devem ser considerados", sugere o professor.

Desde abril, alguns produtos beneficiados pela desoneração de IPI tiveram seus preços reduzidos. Entre abril e novembro, o preço médio da geladeira recuou 8,02% dentro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Na mesma comparação, contudo, o preço dos fornos de micro-ondas, produto de linha branca não beneficiado com a redução de IPI, ficou 5,51% menor.

Júlio de Oliveira, tributarista do Machado Associados, acredita que vários fatores podem ter influenciado a falta de transmissão integral da redução de ICMS. "Mercadorias que passam por muitas etapas de produção e comercialização, por exemplo, correm mais riscos de ter parte da desoneração perdida e agregada às margens de lucro das empresas", diz. Muitas vezes, acredita, indústrias e varejistas também podem deixar de repassar o benefício porque, em períodos passados, por questões de mercado, acabaram arcando com elevação de custos tributários.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dívidas: cartão é o maior vilão em SP

Jornal da Tarde


 

18/12/2009

Pesquisa da Associação Comercial mostra que mulheres são as mais endividadas

Luciele Velluto, luciele.velluto@grupoestado.com.br


 

O cartão de crédito é o maior vilão do endividamento dos paulistanos e as mulheres são as que mais estão "penduradas" nas dívidas. É o que revela pesquisa feita pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) realizada no mês passado. As mulheres são as mais endividados - 57,1% das entrevistadas disseram estar com alto grau de endividamento e apontam o dinheiro de plástico como o culpado.

De acordo com o levantamento, entre as mulheres que estão com contas em atraso, 37% não conseguiram pagar a fatura do cartão de crédito do mês, aparecendo como a principal causa de descontrole financeiro. Para os homens o cartão também aparece em primeiro lugar entre as causas de dívidas, mas em menor proporção, com 23,3% dos entrevistados endividados.

O presidente da ACSP, Alencar Burti, acredita que o brasileiro não sabe usar o cartão de crédito. "As pessoas ainda precisam se ajustar a esse meio de pagamento. O cartão é com carro sem freio em uma ladeira. Quando a pessoa quiser frear, já bateu."

Para Burti, falta ao brasileiro educação e cultura para o crédito fácil. "É diferente o cheque do cartão. Mas o controle tem de ser o mesmo para não cair no rotativo e pagar juros altos", explica.

O dirigente acredita que a pesquisa também mostra que o maior grau de endividamento das mulheres ocorre por causa do avanço da posição de líder da casa por elas, que muitas vezes são responsáveis pelas compras e manutenção do lar. No entanto, a maioria dos homens (85,6%) e das mulheres (92,2%) acredita que suas famílias se encontrarão em situação financeira melhor daqui a um ano, o que mostra alto nível de otimismo do consumidor.

Dívida mais barata

No caso de ficar endividado com o cartão de crédito, a melhor saída para se livrar dessa pendência financeira é buscar um crédito mais barato, com o consignado ou o pessoal, para quitar o valor devido. "O juros do cartão de crédito está em 10% a 12%. Com um crédito de juros menor - deve se excluir o cheque especial, que também tem juros alto - a pessoa pode pagar o que deve e pagar menos pelo empréstimo", diz Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios.

O professor do Laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Ricardo Humberto Rocha, defende que o cartão de crédito só deve ser usado pelas famílias de menor renda em caso de necessidade, como gastos em saúde que estão fora do orçamento.

Para famílias de maior renda, o cartão pode ser usado como aliado se o consumidor for organizado e disciplinado. "Ele pode programar para que o pagamento seja feito no melhor dia apropriado e até deixar o dinheiro render jogando as contas para o próximo mês. Mesmo assim, é preciso cuidado porque haverá contas no futuro", comenta o professor.

SAINDO DA CRISE
Para quem já está endividado com o cartão de crédito, a dica dos especialistas é procurar um crédito com juros menores, como consignado ou empréstimo pessoal, para quitar o valor devido a empresa do plástico. Com juros menores, a conta sairá menor no final
Pagar o valor mínimo não ajuda a abater a dívida integral. Apenas aumenta o tamanho do problema

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Educação financeira poderá ser disciplina em escolas públicas

Valor Econômico

Por Rafael Rosas, do Rio
17/12/2009

O governo brasileiro e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acreditam que até 1.650 escolas de ensino médio do país poderão adotar, em 2010, a disciplina de educação financeira. O projeto, que conta com o apoio da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), está em estudo desde 2007 e será avaliado anualmente a fim de mensurar os efeitos das aulas não só nos alunos, mas nos núcleos familiares.

No ano que vem, um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá criar dois comitês que coordenarão o sistema de educação financeira do país, um voltado para a estrutura organizacional e outro voltado para o apoio pedagógico.

O superintendente de proteção e orientação aos investidores da CVM, José Alexandre Vasco, afirmou que a definição das escolas que adotarão a disciplina sairá no começo de 2010. Segundo ele, 150 escolas públicas serão escolhidas a partir do "Mais Educação", programa do Ministério da Educação que amplia o tempo dos alunos na escola. Outros 300 colégios serão escolhidos entre os que têm parceria com o Instituto Unibanco, que será o responsável pelas aulas de educação financeira nessas unidades.

A técnica de planejamento e gestão educacional do Ministério da Educação, Alzira Silva, acredita que outros 1.200 colégios públicos e particulares de todo o país poderão optar por oferecer aulas ligadas às finanças dentro de um universo de 5 mil unidades aptas a entrar no processo, cujo cadastro vai até 20 de dezembro.

A iniciativa conta no Brasil com a organização do Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (Coremec), formado por CVM, Banco Central, Secretaria de Previdência Complementar (SPC) e Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Enquanto a CVM será a responsável por coordenar a adoção da disciplina nos colégios, o BC será encarregado de organizar a iniciativa para adultos. Nesse sentido, as primeiras turmas serão dedicadas, a partir de março, ao ensino nas Forças Armadas, enquanto se estuda também a ampliação da iniciativa para os beneficiários do Bolsa Família.

"A ideia é ampliar produtos para o beneficiário do Bolsa Família, como a abertura de conta simplificada, mas a medida ainda está em negociação", frisou Sérgio Lima, consultor do presidência do BC.

A partir de meados do ano que vem, as aulas poderão ser estendidas às escolas de nível fundamental com base nos resultados obtidos no primeiro semestre nas escolas de nível médio, afirma Vasco, da CVM. De acordo com ele, a avaliação anual nas escolas poderá custar cerca de US$ 800 mil, gasto que terá financiamento apoiado, em parte, pelo Banco Mundial.

Para Aart de Geus, vice-secretário geral da OCDE, a melhor avaliação do programa será feita em 2012, quando os estudantes de 15 anos farão o Programme for International Student Assessment (Pisa), que avaliará alunos de todo o mundo, com ênfase em matemática, com questões de educação financeira na prova. Segundo ele, o nível de conhecimento no Brasil é relativamente baixo quando comparado aos países da OCDE.

De Geus citou o estudo apresentado por Vasco que aponta que 82% dos brasileiros não sabem quais os juros pagos quando entram em um financiamento ou que 87% das famílias do país não poupam para o futuro. "Mas o Brasil conseguiu coordenar suas instituições para desenvolver o programa (de educação financeira), o que parece fácil, mas não. Muitos países não conseguem", frisou De Geus.

Usar parte do FGTS pode ser bom negócio. Mas é preciso cautela

 O Estado de São Paulo

17/12/2009

Especialistas alertam que retorno em infraestrutura não será o mesmo obtido com Vale e Petrobrás

Renée Pereira

A possibilidade de investir parte do saldo do Fundo de Garantia (FGTS) tem se mostrado um ótimo negócio para o trabalhador. Isso porque a remuneração do FGTS nos últimos anos tem ficado abaixo até mesmo da inflação. Por isso, especialistas acreditam que a alternativa aberta esta semana pelo governo de permitir a aplicação de até 30% do FGTS em cotas do FI-FGTS (um fundo que aplica em projetos de infraestrutura) terá uma grande demanda.

Mas não se deve esperar a mesma remuneração dos investimentos feitos em ações da Vale e da Petrobrás, destaca o advogado Flávio Porta, do escritório Libertuci Advogados Associados. Ele calcula que quem aplicou em ações da Petrobrás ganhou 13 vezes mais que a remuneração do fundo entre 10 de agosto de 2000 e 10 de dezembro de 2009 - 892,22% contra 61,29%. Já na Vale, o ganho foi de 988,2%, ante 49,33% do fundo, entre 10 de abril de 2002 e 10 de dezembro de 2009.

No caso do FI-FGTS, a remuneração nos últimos 14 meses foi de 11,7%. Embora distante dos resultados em ações, os números se mostram vantajosos. Além de poder ganhar mais, ele estará diversificando a carteira de investimentos, afirma o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa, Alexandre Chaia.

Ele destaca, porém, que cada um precisa avaliar seus objetivos. "No longo prazo, o investimento tende a ser vantajoso. Mas, para quem está perto da aposentadoria, pode não ser um bom negócio." De acordo com a regra estipulada pelo governo, o dinheiro terá de ficar aplicado no FI-FGTS durante, pelo menos, 12 meses.

Outro alerta dado pelos especialistas refere-se aos riscos. O fundo vai investir em um projeto ou empresa do setor de infraestrutura, como energia e transporte. Portanto, os ganhos do trabalhador estarão associados ao sucesso do empreendimento. "É a mesma lógica de investir no papel de uma empresa. O ganho está vinculado aos lucros que a companhia tiver", diz Chaia. "Por isso, é preciso estar ciente que você pode ganhar, perder da inflação ou perder parte do capital investido", completa Porta.

Mas, como as previsões em relação à economia são positivas, haverá uma demanda grande por infraestrutura. Os aportes dos trabalhadores estarão limitados a um montante de R$ 2 bilhões. Caso a demanda supere esse valor, haverá rateio entre os participantes, nos mesmos moldes daquele que ocorreu na compra das ações da Petrobrás e Vale.




PRINCIPAIS DÚVIDAS

Como será o investimento?
O trabalhador vai comprar cotas do FI-FGTS. Inicialmente serão investidos R$ 2 bilhões

Quanto do FGTS poderá ser investido no novo fundo?
Até 30% do saldo da conta do FGTS

A aplicação pode superar os 30% do saldo do FGTS?
Na realidade, pode até ser inferior, pois se a demanda superar os R$ 2 bilhões haverá rateio proporcional entre os trabalhadores

Onde serão aplicados os recursos?
Em obras do nos setores de energia, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e saneamento

Qual será o rendimento do novo fundo?

Ainda não dá para saber, mas, segundo o governo, uma carteira hipotética projetada para o FI-FGTS apresenta uma rentabilidade em torno de 9%, mais a TR

Há riscos para o trabalhador?
Sim. É uma aplicação financeira como outra qualquer e não tem, como o FGTS, a garantia de rendimento de 3% mais TR

A partir de quando poderá ser feita a aplicação?
Entre março e abril deve ocorrer a primeira oferta pública, pois a operação ainda depende de aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

O trabalhador poderá sacar a qualquer momento?
Não. Feita a aplicação, precisará permanecer 12 meses no fundo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O investidor busca formas de proteção

Valor Econômico

16/12/2009

Daniele Camba

Ao mesmo tempo que o Índice Bovespa alegra os investidores ao rondar os 70 mil pontos, aumentam as preocupações sobre uma possível correção de preços no curto prazo. O raciocínio é o seguinte: quanto mais a bolsa sobe, maiores são as chances de uma "barrigada" nesse processo de valorização, o que faz todo sentido se cogitar. Se o Ibovespa já subiu 84,58% no ano, ele pode perfeitamente voltar alguns pontos percentuais. Com o temor de que isso ocorra, os investidores estão buscando formas de proteger suas carteiras de ações de solavancos de curto prazo. Entre elas estão as opções de venda sobre Ibovespa futuro, negociado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Quem compra opções de venda de Ibovespa futuro tem o direito de vender a cesta do índice pelo preço combinado. Isso parece bom negócio quando existe a expectativa de queda das ações, uma vez que quem comprou essas opções poderá vender o Ibovespa por um preço (no caso do índice, por uma pontuação) maior combinado anteriormente.

A Link Investimentos - uma corretora bastante atuante tanto em pessoa física quanto em institucionais - vem percebendo um aumento na procura por opções de venda desde a semana passada. Segundo o chefe da área comercial de ações da Link, Adriano Yamamoto, cresceu muito, principalmente, a procura por informações sobre as opções de venda. "Os investidores estão ligando para saber como funcionam essas opções, como fazê-las e quais os custos", explica Yamamoto.

Ele explica que essa procura vem ocorrendo tanto por parte de pessoas físicas quanto de grandes investidores institucionais, como gestoras de recursos e fundos de pensão. Apesar de esse movimento estar bem no começo, ele é um importante sinal de que os investidores estão buscando formas de se proteger de futuras quedas. "Essas opções são uma espécie de seguro contra uma correção de preços", diz o executivo da Link.

Além da grande valorização da bolsa em 2009, o fato de estarmos no fim do ano justifica ainda mais a escolha por essa espécie de seguro, afirma o diretor de renda variável da Link, Frederico Meinberg. Como existe o tradicional rali de fim de ano, muitas ações sobem de forma exagerada, inclusive papéis com pouquíssima liquidez (as "small caps"), algumas até sem fundamento para tal alta. "Quando essa euforia de fim de ano terminar, muitas dessas ações podem cair bem, portanto, vale a pena fazer algum tipo de proteção", diz Meinberg.

Apesar da procura estar no começo, já é possivel perceber um aumento no volume financeiro das opções de venda de Ibovespa futuro. No dia 4 deste mês, por exemplo, o volume de negócios com esses papéis foi de apenas R$ 519 mil. Já no dia 10, subiu para R$ 3,7 milhões e, no dia seguinte, para R$ 4,3 milhões . Vale destacar que hoje ocorre o vencimento de índice futuro e os negócios costumam ganhar força nos dias anteriores.

Outras alternativas

As opções de Ibovespa podem ser uma forma de proteção, mas há várias ressalvas para as pessoas físicas. Primeiro porque são mais caras do que as opções de ações - o prêmio delas pode custar mais de R$ 1 mil, enquanto as opções de ações, muita vezes, valem alguns centavos. Além disso, possuem baixíssima liquidez. Segundo o sócio da InvestCerto Consultoria Financeira e de Investimentos, Luiz Francisco Rogé Ferreira, vender as ações que o investidor possui e comprar uma opção de compra dos mesmos papéis (ter o direito de comprar o papel) podem ser uma forma mais fácil e mais barata de se proteger das quedas. "Se a bolsa cair, o investidor já se desfez do papel antes e ele não exerce o direito de comprá-lo novamente", explica Rogé. "Já se o mercado subir, ele consegue comprá-lo de volta por um preço abaixo do que está no mercado", completa ele. Num dia de baixo volume, o Ibovespa ontem fechou em leve queda de 0,06%, aos 69.310 pontos.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

Trabalhador vai poder aplicar FGTS em fundo

O Estado de São Paulo

16/12/2009

Os trabalhadores poderão investir 30% do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no FI-FGTS, que é um fundo de investimento em infraestrutura administrado pela Caixa Econômica Federal. O limite global de investimento, aprovado ontem pelo Conselho Curador do FGTS, é de R$ 2 bilhões para garantir a saúde financeira do FGTS.

Nos últimos 14 meses, o FI-FGTS teve rentabilidade de 11,7%, bem acima do ganho proporcionado pelo FGTS , de apenas a Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano. Portanto, a aplicação pode ser vantajosa para o trabalhador. Mas a aplicação não terá garantia de rentabilidade e o trabalhador corre o risco de perder o recurso.

A operação ainda depende de aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A expectativa do ministro do Trabalho, Carlos Lupi , é de que isso ocorra entre os meses de março e abril. Pelas regras acatadas ontem pelo Conselho Curador, a Caixa realizará uma oferta pública para compra de cotas de um Fundo de Investimentos em Contas (FIC) para aquisição de participação do FI-FGTS. Os interessados deverão manifestar o interesse ao banco - modelo semelhante à operação que autorizou os trabalhadores a aplicarem o FGTS em ações da Petrobrás e da Vale.

Para garantir a presença de quem tem contas com valores baixos no FGTS, o vice-presidente de Fundos de Governo da Caixa, Welligton Moreira Franco, disse que se a demanda ultrapassar R$ 2 bilhões haverá regras de rateio. "O valor de R$ 2 bilhões é uma trava. Se houver uma procura grande vai haver rateio para que todos possam participar", afirmou.

Lupi acrescentou que, em uma segunda etapa, o valor de aplicação dos trabalhadores no FI-FGTS poderá ser ampliado e chegar a R$ 5 bilhões. Os trabalhadores que aplicarem o FGTS estão obrigados a manter o investimento por 12 meses. "Esse prazo existe porque não estamos falando de investimento em bolsa, que você entra hoje e sai amanhã", frisou Lupi. Caso o investidor queira sair, terá de fazer uma comunicação à Caixa.

Mas as regras de saque serão as mesmas que valem para o FGTS - o saque só é liberado quando a pessoa é demitida ou se aposenta. Em caso de desastres ambientais, a pessoa está autorizada a retirar do FGTS até R$ 4,6 mil. O investimento também pode ser sacado para a compra da casa própria.

Moreira Franco alertou que o trabalhador precisa estar consciente de que é um investimento de risco. Ressaltou, no entanto, que os recursos do FI-FGTS são destinados para investimentos em áreas como energia elétrica e transportes, onde há elevada demanda por recursos e alta rentabilidade.

Ainda ontem, o Conselho Curador do FGTS aprovou um novo aporte direto de R$ 5 bilhões no FI-FGTS. É o quarto nesse mesmo valor.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Programa ensinará educação financeira para os militares

Valor Econômico

Por Janes Rocha, do Rio
11/12/2009

Está marcada para 8 de março a primeira aula de educação financeira do Banco Central (BC) para os militares da Aeronáutica. O curso será numa sede da Aeronáutica no Rio, que está para ser definida, e os militares vão receber treinamento sobre como lidar com o dinheiro, organizar o orçamento pessoal, como evitar as armadilhas do crédito e aplicar o excedente financeiro.

O BC também vai levar o curso para o Exército e a Marinha. A ideia é que eles formem grupos que, no futuro, vão levar orientação financeira para os lugares remotos do país aonde só eles chegam. "O curso é bem simples", explica Sergio Lima, consultor da presidência do BC e coordenador do grupo de trabalho de educação financeira do banco. "A ideia não é transferir conhecimentos técnicos sofisticados, mas sensibilizar as pessoas para que consumam de forma mais consciente", diz Lima.

O projeto faz parte do programa de educação financeira do governo federal, que está em elaboração e envolve o Ministério da Educação e quatro órgãos relacionados com as finanças - BC, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Secretaria de Previdência Complementar (SPC).

O grupo nasceu de um decreto de 2007, que criou um comitê de fiscalização da área financeira, o Coremec. Uma das tarefas do comitê é propor um programa nacional de educação financeiro como política pública nacional. Na divisão de funções dentro do projeto, a CVM ficou de levar a educação para crianças e adolescentes nas escolas e o BC, ao público adulto.

A aproximação com os militares se deu durante a busca por parceiros que fossem "multiplicadores" do programa de educação financeira que o BC já tinha, mas que não conta com estrutura própria para se difundir, explicou Lima. Com a mesma finalidade foram contatados centros acadêmicos como a Unesp, Instituto Militar de Engenharia, a Universidade Católica de Petrópolis, e instituições de outros ramos como o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e a Associação de Prefeituras do Vale do São Francisco.

O objetivo final, explica o consultor do BC, é dar conta de um enorme desafio que vem pela frente: atender o programa do governo de levar serviços financeiros para os 12,4 milhões de titulares da bolsa família.

Os beneficiários do programa de complementação de renda do governo já estão de posse de cartões de débito e a Caixa Econômica Federal (CEF) já abriu conta corrente para dois milhões deles. A Caixa tem manifestado que o próximo passo será dar acesso a produtos financeiros como crédito e microsseguros por meio dessas contas.

José Alexandre Vasco, superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores da CVM e coordenador do grupo dentro da autarquia, completa que há também uma preocupação com a entrada maciça de investidores no mercado. Só na área da comissão, já são 552 mil investidores no mercado de ações e 13 milhões de cotistas de fundos de investimentos.

A população inserida no mundo financeiro conta ainda com 92 milhões de aplicadores nas cadernetas de poupança e um número não calculado de tomadores de crédito. "O movimento de redistribuição de renda que estamos assistindo, e que se espera que continue, fará com que cada vez mais pessoas ingressem no mundo das finanças", diz Vasco.

Para o coordenador da CVM, "é por meio da escola que vamos construir uma relação saudável dessas pessoas com o dinheiro". Vasco diz que o projeto também tem um aspecto importante que é não apenas evitar o superendividamento, que leva à inadimplência, mas também as captações irregulares (como as pirâmides) e as fraudes contra os investidores.

A preocupação não é só no Brasil. Na próxima terça-feira, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai realizar uma conferência internacional no Rio, junto com a CVM, para discutir educação financeira. A conferência será nos dias 15 e 16 de dezembro de 2009 no Hotel Sofitel. Serão seis sessões de debates, divididas entre os dois dias de evento, com representantes de reguladores e outras entidades relacionadas à educação financeira de todo o mundo.

Análise de perfil do investidor chega ao varejo em janeiro

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
11/12/2009

O dinamismo do mercado de capitais aumentou o trabalho da área de regulação e melhores práticas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na agenda de 2010, destaca-se, por exemplo, a supervisão da implantação da Análise de Perfil do Investidor (API, nome adotado no Brasil para o conceito de "suitability") no varejo bancário de todo o país já a partir de janeiro.

Esse trabalho de verificar a adequação das recomendações de investimento ao perfil do cliente começou a ser desenvolvido nas áreas private, em julho de 2008. Naquele momento, foram definidas as políticas, procedimentos e prazos para que as instituições apresentassem suas metodologias. O processo de verificação do perfil do investidor no varejo deverá ser aplicado inicialmente para aquisição de cotas de fundos de ações, multimercados ou de renda fixa com crédito privado.

"O mercado brasileiro evoluiu, é preciso avançar", disse o presidente da Anbima, Marcelo Giufrida. O juro baixo tem levado investidores a buscar alternativas com potencial de ganho maior e, muitas vezes, mais sofisticadas. "A implantação da API no varejo mostra o cuidado com o investimento da pessoa física", reforçou o vice-presidente da Anbima, Demosthenes Madureira de Pinho Neto. Além disso, segundo ele, traz mais transparência e elementos para que o processo de decisão seja tomado de forma consciente.

Os bancos deverão confrontar o perfil do investidor com as características das aplicações. Caso o investidor opte por um fundo que, em tese, não se enquadra ao seu perfil, terá de registrar sua intenção por escrito, disse Giufrida. Ainda segundo ele, no futuro, a ideia é estender o processo para todos os investimentos.

As áreas de private banking de 18 entidades que já implantaram a "suitability" foram alvo neste ano, de uma supervisão in loco. O objetivo era verificar se a recomendação de investimentos estava adequada. Segundo o superintendente de regulação e melhores práticas da Anbima, José Carlos Doherty, o resultado mostra que os processos foram bem implantados.

A verificação, segundo ele, é por amostragem e envolveu a análise de todo o procedimento adotado pelo banco na oferta de produtos aos clientes, como os questionários aplicados e registros assinados. No varejo, ele reconhece que o desafio será maior, mas o período para a implantação, a fim de cobrir toda a base de clientes, será de pelo menos dois anos.

A Anbima ampliou ainda a supervisão das atividades de fundos. Segundo Doherty, o foco deste ano foi o acompanhamento da participação de títulos de crédito privado nas carteiras dos fundos de investimento. A supervisão temática começou em meados de 2007 com as Cédulas de Crédito Bancário (CCBs). O objetivo era medir a exposição do mercado a esses papéis. O processo continua até para verificar como os administradores fazem a marcação a mercado de títulos de empresas que, por exemplo, entram em recuperação judicial.

Neste ano, a entidade passou a olhar para Certificados de Depósito Bancário (CDBs), debêntures, Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs) e títulos do agronegócio. "A exposição do setor de fundos a títulos privados ainda é pequena", disse. Com CDB, soma 15% do patrimônio. Sem esse ativo, não chega a 5%. Mas a supervisão é importante por conta do risco de imagem. Um problema com um título pode afetar outras carteiras.

Os fundos de recebíveis também entraram no foco da entidade. A Anbima passou a acompanhá-los sob duas óticas: a do administrador/gestor e a do custodiante, que tem responsabilidade em atestar o lastro dos recebíveis.

Neste ano, a Anbima enviou mais de 200 cartas de recomendação, aplicou 149 multas e instaurou 5 processos para apurar irregularidades.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O desafio da educação financeira está em mudar atitudes

Valor Econômico

Haroldo Torres
10/12/2009

Quem nunca ficou enforcado no cartão de crédito ou no cheque especial? Quem conhece os truques da previdência privada? Quem sabe investir na bolsa de valores? Quem lê regularmente a seção de notícias econômicas nos jornais? Se você respondeu positivamente às quatro perguntas acima, sinta-se incluído entre o seleto grupo de brasileiros que possui um produto escasso e considerado de grande importância: educação financeira.

Além de sua óbvia relevância em países de baixa escolaridade como o Brasil, o tema da educação financeira se tornou uma preocupação global. Organizações tão diversas quanto a Financial Consumer Agency, do Canadá, o Banco Central da Áustria, a Comissão de Aposentadoria, da Nova Zelândia, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e a Financial Services Authority , da Inglaterra, estão diligentemente liderando programas de educação financeira.

A intenção é mudar o comportamento de consumidores superendividados, a mudança dos hábitos de poupança de longo prazo e o aumento do conhecimento sobre a grande gama de produtos financeiros atualmente existentes. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD) lançou recentemente um portal de informações (www.financial-education.org) que visa consolidar a experiência sobre o tema entre os diversos governos filiados.

Em tese, educação financeira deveria fazer parte do currículo básico de todo cidadão. Juros compostos, por exemplo, são essenciais para quem tenta construir um raciocínio sobre compras a crédito ou sobre investimentos de longo prazo. No entanto, a maioria dos brasileiros, mesmo os relativamente educados, não entende essa lógica. E, mesmo sem entender, as pessoas tomam decisões sobre esse tema o tempo todo. O que vale mais à pena: financiar três vezes no cartão ou comprar à vista? Como me organizar para quitar a casa própria ou o carro? Qual é a melhor proposta de seguro?

Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento Social anunciou que transformará, em parceria com a Caixa Econômica Federal, o cartão do Programa Bolsa Família (com 12 milhões de beneficiários) em uma conta corrente. Pela primeira vez, a população mais carente do Brasil terá acesso aos benefícios do cartão de débito, da poupança e, possivelmente, do crédito. Apesar dos méritos do projeto, como será que funcionarão esses produtos na mão de um usuário frequentemente analfabeto ou com baixíssima escolaridade?

Entre os especialistas, persistem muitas dúvidas sobre quais ações funcionam e quais não funcionam no campo da educação financeira. Afinal, uma coisa é dar informação e outra é mudar hábitos e atitudes.

Muitos sabem que não devem se endividar excessivamente, mas não resistem quando recebem uma boa proposta de crediário. Quase todos sabem que devem poupar para a velhice, mas são poucos os que se organizam efetivamente para adquirir seguros e planos de previdência privada. Como mudar atitudes? Essa é a principal pergunta do campo de educação financeira. Aliás, como fazer para mudar atitudes quando o varejo e os bancos nos bombardeiam diariamente com ofertas imperdíveis de produtos e serviços com prazos a perder de vista?

E se mudar atitudes é difícil na Austrália e no Canadá, no Brasil o desafio da educação financeira é dobrado, pois a população adulta tem apenas sete anos de escolaridade, em média. Por aqui, precisamos dar educação financeira para quem não tem educação formal. E o nosso tardio processo de inclusão bancária tende a complicar ainda mais essa dinâmica.

As experiências que vem da área de saúde relacionadas ao combate ao hábito de fumar, à promoção do uso da camisinha e ao emprego do cinto de segurança mostram que as iniciativas mais bem-sucedidas em termos de estímulo a mudanças de hábitos considerados socialmente inadequados possuem uma combinação de elementos tão sofisticados e elaborados quanto os das melhores campanhas de marketing de bens de consumo, levando em conta aspectos educativos, promocionais e repressivos.

Mas será que estamos preparados para uma legislação mais dura na área de comunicação de produtos financeiros, a exemplo da verificada com o cigarro e com remédios? Será que deveríamos passar a multar quem deixou o nome sujo pela terceira vez?

Independente da resposta a todas essas perguntas, tudo indica que a educação financeira é um tema que veio para ficar. Bancos, varejistas, governo, mídia e autoridades regulatórias terão de se posicionar sobre o assunto. Qual é a sua posição?

Haroldo Torres é economista, demógrafo e um dos dirigentes da PlanoCDE, empresa especializada em projetos para a base da pirâmide

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

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