quarta-feira, 30 de junho de 2010

Imobiliários seduzem o público

Valor Econômico

30/06/2010

Iolanda Nascimento

Impulsionados pela histórica queda na taxa de juros básica no país e pelo aquecimento da construção civil, os fundos imobiliários estão conquistando aos poucos os investidores, especialmente, aqueles que preferem a segurança do mercado de imóveis e começam a descobrir agora as vantagens dessa modalidade em relação à compra direta do ativo. Até o dia 22 de junho, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) registrou um volume de ofertas de emissões de fundos de investimento imobiliários de R$ 1,39 bilhão, mais que o dobro em relação aos R$ 688,8 milhões do primeiro semestre cheio de 2009 e superior a todo o volume de 2008, de R$ 616,86 milhões.

Do total, R$ 1,16 bilhão foi de emissões primárias nesses primeiros meses de 2010. Os números, segundo os especialistas, mostram uma tendência de desempenho altamente promissor no segmento este ano. Um céu de brigadeiro que só ficará nublado se a Selic aumentar demais, dizem. " Desde a crise, o investidor vem reconhecendo que é um mercado menos volátil e essa demanda por maior segurança tem atraído novos atores " , diz Sérgio Belleza Filho, sócio da Fundo Imobiliário - Consultoria de Investimentos. A maior procura dos investidores tem atraído novos grupos para estruturar e liderar emissões, incluindo os bancos, que antes preferiam outros tipos de operações e agora estão despertando para esse mercado, afirma Fernando Silva Telles, diretor da Coinvalores.

Exemplos são o Bradesco e o Morgan Stanley. " O Bradesco, em apenas 40 dias, captou R$ 192 milhões para o fundo Presidente Vargas, de prédios comerciais no Rio de Janeiro. Com grupos de grande porte, a expectativa é que a indústria tenha um grande crescimento " , observa Telles. O Morgan Stanley estreou no segmento em maio deste ano, liderando a oferta do TRX Realty Logística Renda I, com a expectativa de captar R$ 200 milhões também para imóveis comerciais.

Na Navarro Advogados, que atua na área de operações estruturadas, o volume de trabalho para esse segmento no primeiro semestre já superou o de 2009 inteiro. " Devemos fechar o semestre com 12 fundos estruturados para o público; no ano passado, foram oito " , afirma Alexandre Tadeu Navarro, sócio do escritório, acrescentando que o mercado tem potencial para maior crescimento.

Navarro explica que historicamente o segmento perdeu para outros tipos de investimentos por causa da alta taxa de juros. " Hoje, o rendimento ganha da renda fixa " , diz Telles. Pesquisa da Coinvalores mostra que nos últimos 12 meses até fevereiro a grande maioria dos fundos apresentou rendimento bastante superior ao da poupança, aplicação também considerada bastante segura. As cotas, de acordo com o fundo, também têm valorizado consideravelmente, diz Belleza. Outro atrativo é a isenção de Imposto de Renda para pessoa física que detém cotas de fundos lançados em bolsa, desde que o investidor não tenha mais de 10% do total e o fundo tenha mais de 50 cotistas.

Levantamento realizado pela Fundo Imobiliário indica que, além do maior volume, o valor médio por emissão também tende a crescer este ano, o que mostra o apetite do investidor. Em 2009, a média por emissões ficou em R$ 145 milhões, enquanto este ano já está em R$ 127 milhões. A mesma pesquisa mostra que, ao lado dos certificados de recebíveis imobiliários (47%) e dos certificados de audiovisual (13%), as emissões de fundos imobiliários foram as únicas com variação positiva entre os papéis lançados no mercado no ano passado, com 413% de alta sobre 2008, enquanto ações caíram 5% e debêntures despencaram 70%, para citar apenas alguns exemplos.

No entanto, diante de todo o movimento do mercado de fundos, os imobiliários ainda representam uma pequena fatia do bolo. Até o final de maio, últimos dados disponíveis na CVM, o mercado contabilizava 89 fundos, com patrimônio líquido de R$ 5,76 bilhões. " Mas até meados de 2009 eram apenas 62 fundos e o patrimônio liquido estava um pouco acima de R$ 3 bilhões " , compara Telles. Belleza Filho diz que atualmente apenas um terço dos fundos (cerca de 30) é negociado em bolsa.

Para o professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Ricardo Almeida, esse mercado sofre com a baixa liquidez. " É um grande filão, mas para sair de um fundo o investidor tem de vender as cotas e as negociações ainda são raras " , afirma, observando, contudo, que acredita em expansão do segmento porque o investidor, mesmo que pequeno, pode participar de grandes projetos por meio de fundos, tem a segurança de um lastro imobiliário, mas sem os problemas de ser proprietário de imóveis. Segundo Telles, a procura é grande. " O que ocorre é que quem está não quer sair, não quer vender.

Vantagem do DI depende da taxa de administração

Valor Econômico

30/06/2010

Adriana Aguilar

De janeiro a maio, enquanto os fundos referenciados DI registraram a saída de R$ 6,29 bilhões, a entrada líquida de recursos na caderneta de poupança somou R$ 5,26 bilhões. Pesou na decisão dos investidores conservadores a isenção do Imposto de Renda (IR) no rendimento da caderneta de poupança, que também está livre da taxa de administração cobrada pelos fundos. Mas, dependendo do tempo de aplicação, em quais condições seria vantajoso para o investidor manter o dinheiro na caderneta de poupança?

Segundo cálculos do coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV de São Paulo, William Eid Júnior, a caderneta de poupança renderá 7% nos próximos anos. Nos fundos referenciados DI, o investidor poderia considerar o rendimento bruto em torno de 10% ao ano (atrelado à taxa básica de juro Selic).

Supondo que o investidor deixará o dinheiro aplicado no fundo referenciado DI, com 100% de títulos públicos em carteira, por mais de dois anos, para alcançar a menor alíquota de IR de 15% sobre os rendimentos, então o fator diferencial será a taxa de administração. "Fazendo as contas, chega-se a conclusão que se a taxa de administração cobrada for 1,68% ao ano, o rendimento do fundo DI fica igual ao da poupança", diz.

Nessas condições, só valeria a pena deixar o dinheiro no fundo referenciado DI com taxas de administração inferior a 1,5%, difícil de ser encontrada em produtos de investimentos para pessoas com baixo tíquete de aplicação, até R$ 10 mil. É por isso que a caderneta de poupança continua sendo uma boa alternativa aos pequenos investidores conservadores, atraídos pelos títulos públicos pós-fixados.

Na avaliação de Eid, a pessoa que coloca dinheiro na caderneta de poupança, seja pequeno ou grande investidor, quer um instrumento simples que proporcione proteção do dinheiro e comodidade, sem ter trabalho de ficar acompanhando volatilidade, rendimento, pagamento de imposto e prazos. Pesa ainda a favor da caderneta de poupança a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para depósitos até R$ 60 mil, no quase de quebra da instituição.

Em 2009, o governo até anunciou que iria tributar os rendimentos de aplicações em poupança acima de R$ 50 mil. Mas, a medida não foi aplicada. Por enquanto, a única desvantagem do produto é o saque atrelado à "data de aniversário" da caderneta de poupança. Quem resgata o dinheiro antes do encerramento do mês, ficará sem a rentabilidade proporcional.

Pesquisa feita pelo professor de finanças e macroeconomia do Insper (ex-Ibmec São Paulo), Marcelo Moura, com os fundos de renda fixa - incluindo os referenciados DI - , entre janeiro e 31 de maio de 2010, verificou que de um total de 1.404 fundos, apenas 373 tiveram rendimento líquido acumulado acima da caderneta de poupança nos primeiros cinco meses do ano. No cálculo, foram consideradas as aplicações de 181 a 360 dias, com incidência de alíquota de 20% sobre os rendimentos. Todos os fundos pesquisados estão listados na Comissão de Valores Mobiliários.

Desde a metade de 2005 para cá, a taxa básica de juro (Selic) caiu no acumulado dos anos. Voltou a subir recentemente. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida no início de junho, a taxa foi elevada para 10,25%. Com o aumento e a presença dos títulos públicos na carteira dos fundos referenciados DI, a rentabilidade do produto deve subir no mercado.

A perspectiva da HSBC Global Asset Management é de que 2010 seja encerrado com a taxa em 12,75% ao ano. "Ao longo do primeiro trimestre, a rentabilidade dos fundos referenciados DI aumentou e vai continuar subindo no segundo semestre. Daqui para frente, o ganho ficará mais atrativo", diz o diretor de investimentos, Mário Felisberto.

Ele diz que alguns fundos referenciados DI investem em títulos públicos e títulos emitidos por empresas (debêntures), desde que sejam indexados ao CDI. "Os prêmios que os títulos privados estão pagando são atrativos", explica.

Renda fixa volta a ser a preferida do investidor

Valor Econômico

30/06/2010

Tendências: Juros em alta afastam ameaça de liderança da caderneta

Mario Rocha

Os fundos de renda fixa estão em primeiro lugar na preferência do investidor. Os números de captação de recursos e de patrimônio líquido comprovam este fato. É verdade também que as cadernetas de poupança ameaçaram essa liderança em passado recente, quando a taxa Selic chegou a cair para 8,75% ao ano. Mas com os juros novamente em alta e o mercado de ações vivendo um período de incertezas, os fundos de renda fixa voltaram a ser destaque com boa rentabilidade e segurança aos investidores.

De acordo com relatório da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) referente ao dia 21 de junho, o patrimônio líquido dos fundos de renda fixa somava R$ 420 bilhões (27,8% do total da indústria, de R$ 1,5 trilhão), com captação líquida de R$ 28,300 bilhões este ano e rentabilidade média acumulada no ano de 4,99% (renda fixa) e 4,51% (renda fixa médio e alto risco). Na mesma data, os fundos DI tinham patrimônio de R$ 202 bilhões, com captação líquida negativa de R$ 4,7 bilhões e rentabilidade de 4,07%.

"O cenário na renda fixa é interessante para o investidor. Além dos juros altos, o mercado de títulos corporativos que podem ser incorporados aos fundos também está com taxas atraentes", diz Gilberto Kfouri, diretor de investimentos do BNP Paribas. Pesquisa do Banco Central divulgada no dia 21 de junho mostra uma projeção do mercado financeiro para a Selic dos atuais 10,25% para 12% este ano, recuando um pouco para 11,75% em 2011.

Por conta disso, diz Rogério Bastos, diretor da Sinplan Consultoria e profissional certificado pelo CFP (Certified Financial Planner), "os fundos de renda fixa vão ter rendimento acima da poupança este ano". Segundo ele, os fundos com taxa de administração de 0,5% já rendem mais que a poupança e, com a de alta dos juros, até mesmo os fundos com taxas de administração de 2% a 3% terão rendimento acima da caderneta.

Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management, acredita que o aumento da captação nos fundos de renda fixa não se deu apenas por causa dos juros altos. "O fator principal é a instabilidade mundial, que levou o investidor a buscar aplicações mais conservadoras. Mas essa é uma tendência de curto prazo", diz ele. Para um futuro de médio e longo prazo, o diretor do Modal espera uma queda das taxas de juros. Quando isso acontecer, afirma, o juro de mercado não vai fazer muita diferença entre um fundo e outro. "Os títulos privados que estão na carteira é que vão definir a rentabilidade melhor ou pior de cada um."

Em relação a 2010, Póvoa lembra que haverá eleições. "O Brasil não é mais como antes", diz, mas alguns investidores ainda preferem a cautela. Para Rodrigo Dias, sócio e responsável pela gestão de recursos da Araújo Fontes Asset Management, "dependendo do mandato do fundo, os títulos de crédito privado já apresentam performance atraente e isso pode se estender até o fim do ano".

Além dos juros e dos papéis que estão na carteira, os tributos e a taxa de administração são determinantes na rentabilidade dos fundos de renda fixa. "Se o gestor não cobrar uma taxa mínima de administração, o negócio pode não compensar", afirma André Vainer, gestor da XP Gestão de Recursos. Ele explica que quando os juros no Brasil eram bem mais altos do que hoje, a taxa de administração não afetava o desempenho do fundo como ocorre atualmente. Por outro lado, quando a Selic caiu para 8,75%, a poupança passou a ser mais vantajosa por ser isenta de tributos e taxa de administração.

Para Marcelo Saddi, diretor da SulAmérica Investimentos, a boa captação dos fundos de renda fixa também se deve a recursos que estavam aplicados em CDBs. "Entre 2008 e 2009, os bancos começaram a remunerar melhor os CDBs. Parte disso está vencendo e os recursos estão migrando para os fundos de renda fixa", observa.

Indústria precisa baratear custo para o pequeno cotista

Valor Econômico

30/06/2010

Tendências: Taxas de administração para tíquetes de entrada de R$ 1 mil subiram de 43,9% para 47,3%

Adriana Aguilar, para o Valor, de São Paulo

Os fundos da categoria renda fixa e referenciado DI, com baixo tíquete de entrada, praticamente mantiveram o mesmo percentual de taxa de administração cobrada nos últimos dois anos. No entanto, chama a atenção o aumento do patrimônio de fundos com taxas de administração mais elevadas. O patrimônio líquido dos Fundos Referenciados DI, com taxa de administração de 4%, para tíquetes de entrada até R$ 1 mil, passou de 43,9% para 47,3% do total da categoria entre 2009 até abril de 2010. Foi a maior alta de patrimônio, se comparada todas as faixas dos fundos referenciados DI.

O vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Demosthenes Madureira de Pinho Neto, explica que os fundos com tíquete mais baixo têm mais transações e custo maior do que aqueles com tíquete de entrada mais alto.

Pelas informações obtidas, há gastos com impressão, expedição e publicação de relatórios, correspondência, auditorias em todas as transações e outras exigências do órgão regulador. Tudo isso precisa ser feito para cada um dos cotistas. Como exemplo, um fundo com patrimônio de R$ 1 milhão e tíquete de entrada de R$ 100 mil, teria apenas 10 cotistas. No entanto, o mesmo fundo com patrimônio de R$ 1 milhão e tíquete de entrada de R$ 1 mil, passa a ser composto por 1 mil cotistas.

" A indústria de fundos tem de democratizar o acesso aos fundos para os tíquetes mais baixos, onde o custo unitário de cada transação em relação ao patrimônio fica mais alto", diz o vice-presidente da Anbima.

O superintendente de relações com investidores institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Francisco Santos, reforça dizendo que o motivo das taxas mais altas cobradas aos investidores de varejo deve-se aos custos operacionais relativos de administração de uma base de investidores pulverizada.

Francisco Santos destaca que as taxas de administração dos fundos são um preço de mercado, não havendo qualquer tipo de interferência da CVM nesse aspecto. "Também não há qualquer intenção de regular esse tema de modo diverso", afirma.

Os pequenos investidores estariam preferindo fundos com taxas de administração mais altas para produtos com menos custos no mercado? Por isso, o patrimônio do fundo Referenciado DI, com taxa de administração de 4%, aumentou? Segundo a CVM, a melhor maneira para o investidor se proteger de altas taxas de administração é se informando adequadamente por meio dos prospectos, regulamentos e sites de distribuidores e do investidor, por exemplo.

Outra recomendação é a comparação das características dos diversos produtos ofertados para a decisão daquele que seria o produto mais adequado ao investidor, tendo em vista seu próprio perfil de risco, características e objetivos de investimento.

Para dar mais clareza a essa escolha dos pequenos investidores, a CVM pretende melhorar a transparência na divulgação das informações das taxas de administração e outras despesas para o investidor, por meio de um informe anual mais detalhado do que a informação disponível hoje em dia.

A superintendente de desenvolvimento de mercados da CVM, Luciana Dias, afirma que o assunto será colocado em audiência pública nos próximos meses pela CVM. A proposta de revisão da Instrução 409, que trata da regulação dos fundos de investimento, será aplicada em três pontos principais: informe anual de taxas e despesas, prospecto simplificado e normas para adequar as regras de resgate de um fundo a liquidez de sua carteira.

A previsão é também discutir em audiência pública, a partir do terceiro trimestre de 2010, a padronização do material utilizado para a venda de fundos de investimento. "O que pretendemos com a reforma da instrução é facilitar a vida do investidor na hora de escolher o produto financeiro que ele vai comprar. O prospecto simplificado deve esclarecer as principais informações sobre um fundo e facilitar a comparação entre os diferentes produtos. Assim, o investidor vai poder fazer uma melhor decisão", afirma Luciana Dias.

Por enquanto, para melhorar a informação do investidor, a CVM vem desenvolvendo iniciativas como o site do investidor. O portal permite diversos tipos de consultas sobre fundos de investimento, inclusive a visualização das taxas de administração e a análise de informações de prospectos e regulamentos. "Trata-se de um problema de informação do investidor e não de qualquer tipo de interferência ou limite à fixação de taxas de administração, que permanecem como preço livre de mercado", completa Luciana Dias.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Passado e futuro nas decisões de investimentos em fundos

Valor Econômico

29/06/2010

Marcelo D ' Agosto

A preocupação do investidor quando faz uma aplicação financeira qualquer é com o comportamento futuro de seu investimento. Questões tais como quanto será o retorno, quando os recursos estarão disponíveis para resgate ou qual a chance de alguma coisa dar errado refletem as suas principais inquietações.

No entanto, antes de tomar suas decisões, o investidor tende a gastar um tempo considerável avaliando o comportamento passado das alternativas de investimento disponíveis. Esse comportamento é particularmente marcante nas aplicações em fundos de investimento. A expectativa do investidor é de que a rentabilidade passada do fundo revele, de alguma forma, uma pista sobre como será seu comportamento futuro.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sugere ao investidor cautela com a análise do passado. Por determinação, sempre que o material de divulgação do fundo apresente informações referentes à rentabilidade ocorrida em períodos anteriores, obrigatoriamente aparece em destaque a advertência de que a rentabilidade obtida no passado não representa garantia de resultados futuros. Por outro lado, a análise da rentabilidade passada pode revelar alguns dados intrigantes e dar ao investidor alguma sensibilidade em relação ao futuro.

Uma situação interessante pode ser constatada pelo investidor no reformulado boletim mensal de fundos de investimento preparado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e divulgado no site da associação. Na página 4 do boletim surge em destaque o desempenho médio dos fundos da categoria multimercados long and short - direcional, com rentabilidade de 1,18% em maio. No ano de 2010, entretanto, a rentabilidade média dos fundos dessa categoria foi de 2,86%, inferior ao CDI. Em 12 meses a rentabilidade média foi de 11,42%, inferior à media dos fundos da categoria long and short - neutro, dos multimercados macro e dos fundos de ações. Fica evidenciada as razões para a CVM alertar o investidor sobre os cuidados com a análise da rentabilidade passada.

Mais interessante do que os dados do desempenho médio dos fundos de cada categoria é a tabela de rentabilidade dos principais parâmetros de referência, na mesma página do boletim. A Anbima calcula uma série de indicadores de desempenho baseados em carteiras teóricas de ativos financeiros, entre eles o IMA-S e o IRF-M. O IMA-S mede a rentabilidade média de uma carteira de títulos públicos federais indexados à taxa Selic e o IRF-M mede a rentabilidade de uma carteira de títulos públicos federais prefixados.

Nesses 5 primeiros meses de 2010 um dos principais temas dos analistas foi a necessidade de o Banco Central elevar os juros para controlar o ritmo de crescimento da economia e administrar o comportamento da taxa de inflação. De fato, os dados acabaram mostrando um crescimento acentuado do PIB e a tendência de alta da inflação, o que ocasionou efetivamente a elevação da taxa Selic pelo Banco Central.

Nesse cenário era de se esperar que os títulos indexados à taxa Selic tivessem desempenho superior aos títulos prefixados. Isso porque uma alta da taxa de juros aumenta a remuneração dos títulos indexados à taxa Selic e tende a derrubar o preço dos títulos prefixados. No entanto o IMA-S apresentou alta de 3,48% e o IRF-M teve alta de 4,64%. Apesar das projeções econômicas terem sido confirmadas, o desempenho dos ativos financeiros foi o oposto do esperado.

Ou seja, mesmo que o investidor tivesse uma boa leitura do mercado e apostasse numa estratégia coerente com essa visão, por exemplo por meio da aplicação em fundos DI e saques nos fundos de renda fixa, ele teria um desempenho inferior ao de outro investidor que mantivesse sua carteira distribuída igualmente entre fundos DI e de renda fixa.

Esse ponto, pinçado de uma situação específica, ilustra a dificuldade para o investidor tirar proveito de tendências do mercado, mesmo quando as projeções para o futuro se confirmam. Por outro lado, a busca pela escolha de aplicações que deverão ter o melhor desempenho futuro não pode ser desconsiderada, da mesma forma como a avaliação dos dados passados da aplicação para identificar alguns padrões de comportamento, mesmo que voláteis.

A forma mais segura para o investidor administrar sua carteira é combinar as análises do passado com as projeções futuras. Isso ocorre a partir da determinação de algumas classes de ativos consideradas estratégicas para seus investimentos. Depois o investidor pode fazer alguns desvios táticos, buscando ganhos com apostas em determinadas aplicações por um prazo relativamente curto.

Marcelo D " Agosto é consultor de investimentos e autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento"

segunda-feira, 28 de junho de 2010

CVM manda parar a oferta do "clube dos vencedores"

Valor Econômico

28/06/2010

Fiscalização: Aplicação é oferecida por empresa de Belo Horizonte que não tem autorização para distribuir investimentos e que promete "renda fixa garantida".

Por Antonio Perez, de São Paulo

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) alertou o mercado na sexta-feira para a oferta irregular de investimentos da Firv Consultoria e Administração de Recursos, de Belo Horizonte (MG). A empresa oferecia, sem autorização da CVM, uma aplicação batizada de Ficap - Fundo de Investimento Capitalizado, que se auto-denomina "o clube dos vencedores".

Decisão do colegiado da CVM, no último dia 22, determinou que os sócios da Firv, Thales Emanuelle Maioline, Iany Marcia Maioline e Oseias Marques Ventura suspendam imediatamente a oferta, já que não possuem autorização para distribuir e administrar valores mobiliários. Eles estarão sujeitos a multa diária de R$ 5 mil. A suspensão da oferta, contudo, não os exime das penas previstas em lei.

No site da empresa ( www.firv.com.br ), o Ficap é apresentado como um clube de investimentos que oferece "uma renda fixa garantida" a partir de transações de "arbitragem". Não há, porém, informações sobre quais ativos são utilizados nessas operações. Tampouco há dados sobre a rentabilidade, o patrimônio e a política de investimentos.

Em uma página no site de relacionamento Facebook, uma pessoa que se diz investidor do clube escreve que o Firv oferece "rentabilidade garantida de 5% ao mês". Em alguns casos, o rendimento mensal poderia ultrapassar 7%. O investimento mínimo seria de R$ 2.500. Por meio de mensagens eletrônicas, esse investidor disse ao Valor que aplica há dois anos no Ficap e não tem reclamações. Para maiores informações, ele recomendou acessar a página da companhia na internet. O clube, segundo consta no site da Firv, só admite investidores que sejam apresentados por outros integrantes.

A reportagem do Valor procurou os sócios da companhia nos telefones que constam na seção "Ouvidoria" do site, mas não conseguiu localizá-los. Ao ligar para um número de telefone celular divulgado no site, o Valor foi atendido por um homem que alegou que apenas trabalhava como professor nos cursos sobre investimento em ações oferecidos pela Firv.

Além de promover cursos, a Firv publica em seu site artigos sobre investimentos de diversos autores. O site é repleto também de frases de caráter motivacional, como "o medo é a dádiva do fracassado" ou "fé e medo não se dão bem, onde um estiver, o outro não estará". Na seção "Rentabilidade", em lugar de números de desempenho, a Firv propõe a seguinte questão: "Se o negócio é bom, porque (sic) todo mundo não investe?". A explicação é singela: "se todas as pessoas tivessem um negócio como este, não teríamos mais profissionais em outras áreas para trabalharem para nós, muita gente ia querer viver de renda". (Colaborou Angelo Pavini)

Ensino de finanças avança nas escolas

O Estado de São Paulo

28/06/2010

Escolas particulares incluem educação financeira na grade curricular; crianças aprendem, por exemplo, a organizar orçamento

Roberta Scrivano

Na aula de português, o verbo poupar no lugar de correr. Em arte, o desenho de um cofrinho e não do pôr-do-sol. Nos problemas de matemática, reais em vez de laranjas. Iniciativas simples como essas, que inserem a educação financeira no cotidiano das crianças, são cada vez mais comuns em escolas particulares.

Especialistas e educadores dizem que o interesse dos pais, sobretudo os mais jovens, já é grande, assim como o de universitários, o que tem estimulado o aparecimento da educação financeira em escolas e faculdades.

Uma das iniciativas mais recentes foi implementada na escola Castelo Branco, no bairro paulistano da Bela Vista, que inseriu o tema como disciplina obrigatória para os alunos entre 6 e 11 anos. "A aula é semanal, para todas as séries. Não há nota, mas a presença é obrigatória", conta Silvia Alambert, coordenadora do projeto The Money Camp, originado nos Estados Unidos.

Silvia é a representante do projeto, que, além de ter seu próprio quadro de professores ? que podem ser contratados pelas escolas, por exemplo ? oferece capacitação de profissionais.

Em geral, as iniciativas há mais tempo aplicadas se dão em escolas bilíngues ou com alguma influência internacional, como a Stance Dual, também na Bela Vista. "Educação financeira é um diferencial da nossa escola", diz Luciana Lapa, coordenadora do ensino fundamental.

Na Stance Dual, o tema é abordado de 15 em 15 dias sob o título educação financeira há três anos. "Além disso, em todas as outras matérias incluímos o assunto como tema transversal", explica Luciana.

O projeto implementado nessa escola é da educadora financeira Cássia D" Aquino e está embasado em quatro pilares: ganhar, poupar, gastar e doar. "Trazemos nessa aula assuntos do cotidiano, problemas e, sobretudo, formamos os valores da crianças em relação ao tema consumo", explica Luciana.

Empreendedor mirim. Há unidades de ensino que tratam o tema com mais requinte, como a Escola Internacional de Alphaville, que aplica metade de toda a grade curricular em inglês. "Educação financeira está no nosso módulo de empreendedorismo, que é dado para o ensino médio", explica Stevens Beringhs, sociólogo e coordenador do colégio.

Com uma mensalidade de R$ 2,3 mil, os alunos, para ter esses diferenciais, ficam na escola das 7h30 às 15h30. "Estamos em uma escola de alta elite e o intuito principal dessas aulas é a manutenção do patrimônio", completa o coordenador. Poupança e investimento são o foco das aulas.

E não são só as escolas que estão de olho na educação financeira. Há quatro anos, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) oferece o tema Finanças Pessoais como matéria eletiva aos estudantes de administração. Maria do Carmo Scwandner Ferreira, coordenadora de finanças da PUC, conta que essa é uma das matérias mais procuradas pelos alunos. "Mesmo sendo estudantes de administração, dificilmente você encontra alguém que saiba como fazer o orçamento mensal."

domingo, 27 de junho de 2010

Classes A e B financiam mais imóveis

Folha de São Paulo

27/06/2010

Com juro e prazo favoráveis, cresce uso de crédito em residência acima de R$ 500 mil; cliente prefere manter aplicações
Financiamento para imóvel com valor acima de R$ 500 mil na Cyrela, por exemplo, ficou dez vezes maior em 3 anos
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO
Depois que a mulher engravidou, Renato Tomei, 35, piloto de avião, precisava embarcar na compra de um apartamento maior.
Aquele onde o casal morava tinha 100 m2, mas só uma suíte. A ideia era encontrar um com mais quartos.
O escolhido fica em um condomínio no Brooklin, zona sul de São Paulo. São 143 m2, no valor de R$ 800 mil.
"Financiamos R$ 400 mil em dez anos e a intenção era amortizar essa dívida depois da venda do imóvel anterior, avaliado em R$ 610 mil", afirma Tomei.
Mas os planos mudaram. "Com a boa taxa de juros que conseguimos (9,7% ao ano), decidimos manter o financiamento e investir o dinheiro da venda", revela o piloto.
Esse tipo de decisão tem se tornado mais comum entre os compradores de imóveis acima de R$ 500 mil, de acordo com construtoras, imobiliárias e bancos.
Com juros menores e mais prazo para pagar, os consumidores das classes A e B passam a enxergar o crédito imobiliário como estratégia financeira.
MANTER APLICAÇÕES
"Esse tipo de crédito costumava ser atrelado à necessidade, e não à oportunidade. Hoje, muitos clientes nossos que podem comprar à vista imóveis acima desse valor preferem manter as aplicações e fazer um financiamento", diz Max Basile, superintendente de produtos pessoa física do Citi.
A construtora Cyrela viu o volume de financiamentos desembolsado na compra de imóveis acima de R$ 500 mil ficar quase dez vezes maior entre 2006 e o ano passado: passou de R$ 65 milhões para R$ 700 milhões.
Luis Largman, diretor de relações com investidores da empresa, ressalta que o Brasil "rompeu uma inércia em relação ao financiamento imobiliário".
Ele aposta que o uso desse tipo de crédito continuará crescendo nos próximos cinco anos, assim como os preços e a quantidade de imóveis. "Há uma demanda reprimida muito grande."
Ainda no segmento de construção, a Tecnisa diz que as vendas de imóveis acima de R$ 500 mil com financiamento bancário eram quase nulas há três anos e hoje representam 90% dos negócios. Na Brookfield, a fatia passou de 10% a 20% em 2008 para 60% agora.
FINANCIAMENTO DIRETO
"Antigamente, as próprias construtoras tinham de financiar os imóveis para conseguir vender porque os bancos não faziam. Hoje, o financiamento direto não é mais uma prática", diz Luiz Rogélio Tolosa, diretor-executivo de relações institucionais da Brookfield Incorporações.
Na Gafisa, o financiamento bancário, considerando todas as faixas de preços de imóveis, passou de 16% em 2005 para 82% em 2009.
"As compras de unidades acima de R$ 500 mil contribuíram para isso. Os clientes estão bem mais confiantes. A economia está estabilizada, e o emprego, crescendo", diz Duílio Calciolari, diretor financeiro da empresa.
"Nesse cenário, a idade média do comprador do imóvel nessa faixa de preço baixou de 40 a 45 anos para entre 30 e 35 anos. São jovens com maior capacidade de endividamento", afirma Cyro Naufel, diretor de atendimento da imobiliária Lopes.

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