quarta-feira, 30 de junho de 2010

Renda fixa volta a ser a preferida do investidor

Valor Econômico

30/06/2010

Tendências: Juros em alta afastam ameaça de liderança da caderneta

Mario Rocha

Os fundos de renda fixa estão em primeiro lugar na preferência do investidor. Os números de captação de recursos e de patrimônio líquido comprovam este fato. É verdade também que as cadernetas de poupança ameaçaram essa liderança em passado recente, quando a taxa Selic chegou a cair para 8,75% ao ano. Mas com os juros novamente em alta e o mercado de ações vivendo um período de incertezas, os fundos de renda fixa voltaram a ser destaque com boa rentabilidade e segurança aos investidores.

De acordo com relatório da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) referente ao dia 21 de junho, o patrimônio líquido dos fundos de renda fixa somava R$ 420 bilhões (27,8% do total da indústria, de R$ 1,5 trilhão), com captação líquida de R$ 28,300 bilhões este ano e rentabilidade média acumulada no ano de 4,99% (renda fixa) e 4,51% (renda fixa médio e alto risco). Na mesma data, os fundos DI tinham patrimônio de R$ 202 bilhões, com captação líquida negativa de R$ 4,7 bilhões e rentabilidade de 4,07%.

"O cenário na renda fixa é interessante para o investidor. Além dos juros altos, o mercado de títulos corporativos que podem ser incorporados aos fundos também está com taxas atraentes", diz Gilberto Kfouri, diretor de investimentos do BNP Paribas. Pesquisa do Banco Central divulgada no dia 21 de junho mostra uma projeção do mercado financeiro para a Selic dos atuais 10,25% para 12% este ano, recuando um pouco para 11,75% em 2011.

Por conta disso, diz Rogério Bastos, diretor da Sinplan Consultoria e profissional certificado pelo CFP (Certified Financial Planner), "os fundos de renda fixa vão ter rendimento acima da poupança este ano". Segundo ele, os fundos com taxa de administração de 0,5% já rendem mais que a poupança e, com a de alta dos juros, até mesmo os fundos com taxas de administração de 2% a 3% terão rendimento acima da caderneta.

Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management, acredita que o aumento da captação nos fundos de renda fixa não se deu apenas por causa dos juros altos. "O fator principal é a instabilidade mundial, que levou o investidor a buscar aplicações mais conservadoras. Mas essa é uma tendência de curto prazo", diz ele. Para um futuro de médio e longo prazo, o diretor do Modal espera uma queda das taxas de juros. Quando isso acontecer, afirma, o juro de mercado não vai fazer muita diferença entre um fundo e outro. "Os títulos privados que estão na carteira é que vão definir a rentabilidade melhor ou pior de cada um."

Em relação a 2010, Póvoa lembra que haverá eleições. "O Brasil não é mais como antes", diz, mas alguns investidores ainda preferem a cautela. Para Rodrigo Dias, sócio e responsável pela gestão de recursos da Araújo Fontes Asset Management, "dependendo do mandato do fundo, os títulos de crédito privado já apresentam performance atraente e isso pode se estender até o fim do ano".

Além dos juros e dos papéis que estão na carteira, os tributos e a taxa de administração são determinantes na rentabilidade dos fundos de renda fixa. "Se o gestor não cobrar uma taxa mínima de administração, o negócio pode não compensar", afirma André Vainer, gestor da XP Gestão de Recursos. Ele explica que quando os juros no Brasil eram bem mais altos do que hoje, a taxa de administração não afetava o desempenho do fundo como ocorre atualmente. Por outro lado, quando a Selic caiu para 8,75%, a poupança passou a ser mais vantajosa por ser isenta de tributos e taxa de administração.

Para Marcelo Saddi, diretor da SulAmérica Investimentos, a boa captação dos fundos de renda fixa também se deve a recursos que estavam aplicados em CDBs. "Entre 2008 e 2009, os bancos começaram a remunerar melhor os CDBs. Parte disso está vencendo e os recursos estão migrando para os fundos de renda fixa", observa.

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