quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Proteção ou aposta na compra de NTN-B?

Valor Econômico

19/08/2010

Eduardo Campos



Mercado vê aumento de demanda por títulos ligados à inflação, mas não há consenso sobre a causa desse movimento

O recente aumento na demanda por títulos atrelados a inflação levantou algumas teorias.

Uma delas sugere que, embora o mercado compre o cenário traçado pelo Banco Central (BC) de inflação convergindo à meta e juros menores, não deixa de fazer algum seguro contra uma possível alta nos preços no futuro.

O sinal disso, segundo o analista econômico da Mercatto Investimento, Gabriel Goulart, é que os agentes apostam em Selic mais baixa via mercado de juros futuros (Depósito Interfinanceiro), mas buscam algum tipo de proteção comprando Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B), título atrelado ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Segundo o especialista, o raciocínio do investidor, nesse caso, é o seguinte: juro menor resulta em crescimento maior, o que eleva o risco de inflação mais à frente.

Tal preocupação também ganha algum respaldo no calendário eleitoral. Afinal, não se sabe que tipo de gestão fiscal e monetária o país terá a partir de 2011.

O vice-presidente de tesouraria do banco WestLB, Ures Folchini, não descarta completamente que esse aumento na demanda por NTN-B tenha caráter de proteção contra uma disparada na inflação. Afinal, o Banco Central é reacionário a um ciclo de alta de preços, então o investidor está protegido.

No entanto, pondera o especialista, essa compra de NTN-B também pode ser vista como um sinal de aposta em um Brasil que está melhorando, com juros reais cada vez menores. Então, esse agente tenta aproveitar o ganho que o papel ainda oferece, considerando o cupom mais a variação da inflação.

Com avaliação diferente, o trader de renda fixa e câmbio do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella, não acredita que o mercado esteja mostrando algum tipo de preocupação com a inflação.

Sinal claro disso é o comportamento dos contratos de juros futuros, que continuam caindo de forma acentuada na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). "A curva longa segue perdendo prêmio de risco. Isso não é sinal de um mercado que acredita que o BC vá errar."

Ainda de acordo com o especialista, o mercado começa a mostrar que o ciclo de alta de juros já foi de fato encerrado e que o BC não estaria muito disposto a elevar a Selic em 2011.

Na visão de Portella, o que explica esse aumento de demanda por NTN-Bs é um movimento de recomposição de posições após o vencimento de R$ 35 bilhões desses títulos que aconteceu na segunda-feira.

Outra ponderação relevante feita por Portella é que os investidores internacionais estão atrás de retorno.

Algo natural se levarmos em conta que as taxas de juros ao redor do mundo devem continuar próximas de zero por um longo período de tempo. Ele diz que é visível esse aumento de demanda, tanto pelo comportamento dos contratos de juros futuros mais longos, quanto pela facilidade com que o Tesouro vende Letras do Tesouro Nacional (LTN) a taxas decrescentes.

Uma prova disso pode ser obtida hoje, já que serão ofertadas LTNs com vencimento em outubro de 2011 e julho de 2012.

Segundo Portella, fica difícil saber com clareza se toda essa devolução de prêmio tem fundamentação ou se é uma distorção provocada por esse excesso de demanda.

Na agenda desta quinta-feira, atenção à segunda prévia do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de agosto. Para a Máxima Asset, a inflação deve avançar de 0,03% para 0,5%, reflexo do reajuste no minério de ferro.

Eduardo Campos é repórter

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Carteira própria é opção de aposentadoria

Folha de São Paulo

16/08/2010 

Consultores dizem que gerir investimentos garante rentabilidade maior do que plano privado de previdência

Taxas cobradas por fundos diminuem ganhos, mas investir por conta própria exige tempo e conhecimento

MARIANA SCHREIBER

 
 

SÃO PAULO

 
 

 
 

Preocupado em garantir uma aposentadoria tranquila, o brasileiro investe cada vez mais em fundos de previdência privada.

Segundo a FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), o mercado de previdência privada aberta arrecadou R$ 19,84 bilhões no primeiro semestre deste ano -alta de 18,1% em relação ao mesmo período de 2009.

No entanto, consultores e professores de finanças consideram que nem sempre essa é a melhor opção para aumentar a rentabilidade das economias pessoais.

Montar a própria carteira de investimento (com ativos como ações, títulos públicos, CDBs e cotas de fundos de capital protegido) tende a ser mais rentável, afirmam, embora isso exija mais tempo e conhecimento do aplicador.

"Quem tem interesse em maximizar lucro deve montar sua própria carteira. Mas fazer isso sem conhecimento pode ser muito arriscado", afirma o professor de finanças da FGV Marcos Heringer.

O principal vilão dos fundos de previdência é a taxa de carregamento, que, diz a FenaPrevi, é cobrada para cobrir os custos de comercialização do produto. Ela implica um desconto sobre o valor aplicado. Se a taxa for de 2% e o investidor depositar R$ 100, só R$ 98 entrarão efetivamente na conta.

Assim como outros tipos de fundo, os de previdência também cobram taxas de administração, que remuneram os gestores do dinheiro.

"As taxas destroem a rentabilidade. Fica muito difícil ganhar de quem faz o dever de casa por conta própria", diz o consultor Mauro Calil.

Segundo ele, as taxas de carregamento mais comuns cobradas de pequenos investidores variam de 2,5% a 5%. Já o vice-presidente da FenaPrevi, Renato Russo, diz que não passam de 2,5% e que há uma tendência de queda.

 
 

VANTAGENS

 
 

Russo argumenta que os fundos de previdência apresentam vantagens fiscais.

Ao contrário dos fundos tradicionais, cuja rentabilidade é taxada semestralmente, nos de previdência o IR é cobrado só na retirada do dinheiro. Nesse intervalo, os recursos rendem e fazem elevar o patrimônio.

E, no caso da escolha da tabela de IR regressiva, o imposto cai de 35% nos primeiros dois anos para 10% após dez anos de aplicação.

O plano de previdência PGBL, menos adotado no país que o VGBL, oferece ainda a possibilidade de adiar o pagamento do IR sobre a renda, afirma Luís Coelho, da SulAmérica Investimentos.

Ele afirma que até 12% da renda bruta aplicada no plano é dedutível do Imposto de Renda. Por outro lado, no PGBL, tanto a rentabilidade como o patrimônio do fundo são taxados no resgate.

"Além de esse valor acumular rendimento ao longo da aplicação, quem está nas faixas mais altas de contribuição (15%, 22,5% e 27,5%) pode pagar um imposto menor depois, caso tenha optado pela tabela regressiva."

O professor de jiu-jítsu Marcelo Gheler, 40, fez um plano de previdência para se aposentar em 20 anos. Ele diz que não tem tempo ou conhecimento para diversificar seus investimentos.

"Não entendo nada disso. Tenho a previdência e guardo um pouco na poupança para emergências.

domingo, 15 de agosto de 2010

Livro ensina como planejar aposentadoria


15/08/2010

Obra não foge da matemática para ensinar a calcular benefício ou contratar operações financeiras complexas
"Ideia é que, no final, o leitor seja um pouco economista também", diz Fabio Giambiagi, economista e coautor

PAULA LEITE
EDITORA-ASSISTENTE DE MERCADO
Quem compra um livro de finanças pessoais e logo se depara com explicações sobre progressões aritméticas e progressões geométricas pode se assustar. Mas a matemática aparentemente desafiadora está lá para que o leitor de "O Futuro é Hoje" perca o medo de pegar na calculadora e na planilha e possa defender seu dinheiro na hora de contratar operações financeiras complexas, como financiamento habitacional e previdência privada.
"A ideia é que no final da leitura do livro o leitor seja um pouco economista também", diz Fabio Giambiagi, economista do BNDES, especialista em previdência e coautor do livro.
"Ele mesmo pode fazer as contas relevantes para seu futuro, sem depender da assessoria de ninguém", afirma ele. Para Roberto Zentgraf, coordenador de programas de MBA do Ibmec-RJ e coautor do livro, "a ideia não é ser consultor financeiro nem ensinar a ganhar dinheiro".
Mas ele alerta: "Quem vai cuidar do seu dinheiro é você, não o gerente do banco". A matemática envolvida no cálculo das prestações de uma dívida, entre juros e amortização (pagamento do principal), compõe a primeira parte do livro.
Depois, os autores entram na questão da inflação, explicando que a forma como são feitos os reajustes em uma dívida de prazo mais longo podem gerar impactos financeiros importantes. Os capítulos seguintes são dedicados àquelas que são provavelmente as duas grandes decisões financeiras da vida do brasileiro de classe média: o financiamento da casa própria e a contratação de um plano de previdência privada.
FINANCIAMENTO
Seguindo a ideia de que cada um tem de tomar a melhor decisão para o seu bolso, os autores mostram vários exemplos de diferentes financiamentos imobiliários, com prazos distintos, diferentes tipos de reajuste inflacionário e diferentes tabelas de amortização.
Eles evitam, por exemplo, posicionar-se contra ou a favor da tabela SAC (Sistema de Amortização Constante) ou da tabela Price.
"Há esquemas que são mais onerosos no começo, mas aliviam a conta depois, e há esquemas em que o ônus se distribui equitativamente ao longo do tempo. Cada pessoa vai lidar com isso conforme suas preferências", diz Giambiagi.
Ou seja, o leitor que espera orientações do tipo "prefira o financiamento X com o prazo Y e a tabela Z" não as encontrará no livro.
PREVIDÊNCIA
No livro, Giambiagi e Zentgraf tocam na questão da dificuldade de convencer jovens a pensar na aposentadoria, já que a maioria das pessoas deixa para se preocupar com a velhice já próximo dela.
"[Queremos que] o leitor se convença da importância crucial que poderá ter na sua vida o exercício de uma disciplina financeira que o leve, chova ou faça sol, a separar todo mês, durante 30 ou 40 anos, um certo valor", diz Giambiagi.
Mas o livro também não oferece soluções fáceis para resolver esse dilema.
Zentgraf, por exemplo, diz que é contra sistemas propostos por alguns economistas pelos quais as pessoas são automaticamente inscritas em planos de previdência privada quando entram em uma empresa, por exemplo, podendo optar posteriormente por não contribuir.
"Em empresas, por exemplo, poderia haver uma tentativa de orientar o funcionário no momento em que ele é contratado, mas sei que muita gente não vai fazer [previdência privada]", diz.


O FUTURO É HOJE
AUTORES Fabio Giambiagi e Roberto Zentgraf
EDITORA Campus
QUANTO R$ 57 (183 págs.)
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