sexta-feira, 5 de março de 2010

Caderneta mantém ritmo e capta R$ 2,3 bi em fevereiro

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo
05/03/2010

Depois de um mês de janeiro forte, a caderneta de poupança cravou mais um recorde. A captação líquida registrada em fevereiro, de R$ 2,328 bilhões, foi a melhor para esse mês desde o início da série histórica, em janeiro de 1995. Na comparação com fevereiro do ano passado, quando o saldo de aplicações na poupança ficou positivo em R$ 751,4 milhões, houve crescimento superior a 200%. Em janeiro último, a captação tinha sido de R$ 2,619 bilhões.

Os dados do Banco Central mostram depósitos de R$ 80,6 bilhões no mês passado, ante saques de R$ 78,3 bilhões. Os números incluem as cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que destina os recursos para a habitação, e da poupança rural. Contando com o rendimento de R$ 1,424 bilhão - equivalente a TR mais 0,5% ao mês -, o estoque subiu a R$ 326,9 bilhões.

 

 

O aumento de renda da população brasileira com a consequente ascensão social é um dos fatores que explicam o crescimento da caderneta nos últimos anos, afirma o vice-presidente de pessoa física da Caixa Econômica Federal, Fábio Lenza. Tem sobrado recursos para guardar e isso, para as classes de menor renda, significa recorrer a um dos instrumentos mais tradicionais de poupança, diz. Segundo o executivo, na Caixa, dos 39 milhões de clientes de poupança, 65% têm renda de até R$ 700.

Nos dois primeiros meses, a Caixa ganhou 650 mil novas contas, 50 mil a mais do que de costume. Historicamente, são abertas 300 mil contas por mês na instituição. O número surpreende, segundo o executivo, porque ocorreu justamente em um período de férias, em que se concentram gastos com matrícula escolar e impostos.

Lenza informa, ainda, que a região Norte foi um dos grandes destaques do bimestre, com aumento de 28% no número de poupadores, em linha com o crescimento econômico e de renda da localidade. A Caixa tem um saldo de R$ 110 bilhões aplicado na caderneta, o equivalente a 34% do total.

A caderneta também virou opção para o investidor, ressalta Lenza. "Nos níveis atuais de juros, a poupança ganhou rentabilidade relativamente a outras aplicações." Segundo ele, só um fundo de investimento com taxa de administração abaixo de 1% e um Certificado de Depósito Bancário (CDB) que paga taxa acima de 95% do CDI - em geral, essas versões só estão disponíveis para valores maiores - conseguem bater a caderneta.

Além de proporcionar o mesmo retorno para qualquer valor, a poupança oferece fixos 6,17% ao ano (0,5% ao mês capitalizado) mais TR, o que para os 8,75% da taxa básica é bem atraente, compara Lenza. Ele lembra, contudo, que a aplicação não está tirando dinheiro das demais alternativas, mas atraindo parte do dinheiro novo para investir. "Há dois anos temos orientado nossos clientes de média e alta renda a diversificar as aplicações na poupança", conta o executivo. O resultado da estratégia é um crescimento nesse período de mais de 60% da faixa de clientes que ganham entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. "Esse é um público que compra fundo, CDB e agora poupança", diz.

Em fevereiro, os fundos tiveram captação líquida de R$ 8,8 bilhões. Os DI, principais competidores da caderneta, registraram entradas de R$ 888,5 milhões e os fundos de renda fixa receberam R$ 3,2 bilhões. Até os CDBs voltaram a captar: no mês passado até o dia 25 (último dado disponível), a captação estava positiva em R$ 1 bilhão.

Mesmo diante do iminente aperto monetário, Lenza não vê redução no ritmo de captação da poupança. A Caixa espera superar a média anual de captação dos últimos três anos, que foi de R$ 10,5 bilhões, e atingir R$ 12,5 bilhões neste ano. "Olhando a curva de juros de dois, três anos, a poupança ainda vai continuar atrativa", diz.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Minoritários poderão usar até 30% do FGTS para comprar ações da Petrobras

Valor Econômico

04/03/2010

Caio Junqueira, de Brasília

A Câmara aprovou, ontem, em votação simbólica, emenda que permite aos acionistas minoritários utilizar até 30% do saldo vinculado do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para participar do processo de capitalização da Petrobras e que permite o resgate do valor em no mínimo 12 meses, com isenção do Imposto de Renda. Entretanto, só poderão recorrer ao fundo os acionistas que já tenham comprado ações da estatal com recursos do fundo.

O percentual saiu de um acordo entre governo e oposição. No texto-base do projeto original aprovado anteontem, pelo plenário da Casa, a utilização do FGTS estava proibida, sob a justificativa de que os recursos do fundo devem financiar apenas áreas como habitação e saneamento. A saída para os minoritários sugerida pelo governo era colocar dinheiro ou títulos do Tesouro para evitar as perdas com a capitalização da estatal pelo valor equivalente a 5 bilhões de barris de petróleo.

Temendo prejuízos com a classe trabalhadora neste ano eleitoral e remetendo-se ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que em seu processo de capitalização da Petrobras permitiu a utilização dos recursos do FGTS pelos trabalhadores, o governo acabou cedendo, mas restringiu a utilização do fundo.

Mas a oposição ficou satisfeita com a restrição imposta no acordo. Avalia que agora qualquer trabalhador poderá pleitear na Justiça o direito de também poder utilizar recursos do FGTS para comprar ações da Petrobras. "O governo perdeu porque não quis dar continuidade a um processo que começou no governo FHC. Além disso, os acionistas que se sentirem em desigualdade em relação aos outros que poderão utilizar o FGTS terão o direito de recorrer á Justiça e facilmente ganharão", afirmou o líder do DEM, Paulo Bornhausen (SC).

A oposição tentou ainda aprovar outras emendas, mas perdeu em todas elas. Uma das rejeitadas é a que estabelece que o pagamento de participações especiais à União, dos 5 bilhões de barris da capitalização, seja remetido a Estados e municípios. O relatório do deputado João Maia (PR-RN) retirou a incidência dessa cobrança e o plenário também a rejeitou. O DEM sugeriu outra emenda, para destinar um adicional de 5% sobre os royalties da exploração dos 5 bilhões de barris para a constituição de um fundo destinado a compensar as desonerações de tributos pagos pelos cidadãos pobres. Ela também não foi aprovada.

Na Câmara, agora, falta apenas a aprovação da polêmica emenda que rediscute a distribuição dos royalties do pré-sal. Ela será apreciada na próxima semana.

Os outros projetos já seguiram ao Senado, mas, segundo o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, (PT-SP), eles estão parados lá. "O Senado tem que cumprir seu papel. Aqui (na Câmara) temos oposição dura, mas não temos oposição ao país. Acho que o que esta havendo no Senado deve ser um alerta. Até agora, o projeto que enviamos para o Senado está parado na CCJ e os outros que aprovamos também. Não é assim que se faz o debate político. Acho que o Senado está devendo celeridade ao Brasil na votação do pré-sal", afirmou, na tribuna da Câmara. Ele considerou que o governo sofreu apenas uma derrota na Câmara: a proposta que destinava um percentual de recursos da exploração para a Previdência Social.

quarta-feira, 3 de março de 2010

FGTS no consórcio de imóveis

Jornal da Tarde

03/03/2010

A partir do dia 18, Caixa vai liberar os recursos para quem quiser adiantar as parcelas

Paulo Darcie, paulo.darcie@grupoestado.com.br

A partir do dia 18 de março será possível utilizar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para pagar parcelas de consórcio imobiliário. A norma foi aprovada pelo presidente Lula em dezembro, e a Caixa Econômica Federal, responsável por operar o FGTS, tem até o próximo dia 18 para concluir a regulamentação.

Pelas regras atuais, o cotista só pode utilizar o FGTS no momento de dar o lance para adquirir a carta de crédito ou então para, ao fim do pagamento das parcelas, complementar o montante para comprar um imóvel de maior valor.

Terá direito a saque integral ou parcial do saldo do FGTS para pagar uma ou mais parcelas o consorciado já contemplado e com menos de três prestações em atraso. Só no ano passado, 65,1 mil participantes foram contemplados na modalidade, número 8,9% maior do que os 59,8% de 2008. Atualmente há 533 mil consorciados pagando cotas de imóveis.

A mudança só vale caso o titular da cota seja o mesmo da conta do FGTS. Apesar de o sistema de consórcios permitir o uso dos recursos para reforma, aquisição de imóveis comerciais e terrenos, o FGTS não vale para esses fins, somente para a compre de imóvel residencial urbano. Deve ser, ainda, a primeira aquisição do titular e de valor inferior a R$ 500 mil.

Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), Paulo Roberto Rossi, a nova possibilidade não deve alterar significativamente a configuração do mercado de imóveis. "O público é diferente. O consórcio serve para quem não tem urgência de ter o imóvel na hora, diferentemente do financiamento", diz ele.

O funcionamento será semelhante ao de amortização de parcelas de financiamento do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), e os saques deverão respeitar as regras de qualquer outra finalidade do FGTS: só poderão ser feitos por quem tem conta do Fundo há mais de três anos, e as retiradas só poderão ser feitas de três em três anos.

Quase tudo

Além dos consórcios habitacionais, há os de veículos, eletroeletrônicos e, desde março de 2009, o de serviços. Ao todo, eram 3,8 milhões de participantes no Brasil em dezembro de 2009, 4,7% a mais do que no fim de 2008. Os ativos administrados são de R$ 79 bilhões, contra R$ 68 bilhões do ano anterior, e a ABAC espera crescimento de 10% em 2010.

Nos consórcios, diversos cotistas fazem pagamentos mensais, com uma taxa de administração diluída nas parcelas. Depois de começar a pagar, o cotista pode ser sorteado e receber carta de crédito - ou recebê-la ao fim dos pagamentos. Segundo o consultor Reinaldo Domingos, pode ser boa opção, considerando a fraca cultura de poupança no Brasil. "Em tese, o ideal seria conseguir poupar até ter dinheiro para comprar à vista, ou seja, administrar seu próprio dinheiro", diz ele. "Mas, para quem não se organiza ou não controla o consumo, é boa opção."

terça-feira, 2 de março de 2010

Fundo imobiliário de R$ 195 milhões terá aplicação mínima de R$ 5 mil

Valor Econômico

Alessandra Bellotto, de São Paulo
02/03/2010

Mais um fundo imobiliário prepara oferta pública de cotas. Liderada pelo Banco Bradesco BBI, a carteira, batizada de Presidente Vargas, aguarda apenas a autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para dar início à distribuição.

A emissão deve chegar a R$ 195 milhões, em cotas com valor unitário de R$ 1 mil. Para participar da operação, o investidor pessoa física terá de manifestar sua intenção e observar o investimento mínimo de R$ 5 mil .

Os pedidos de reserva das cotas vão do dia 22 de março até o dia 16 de abril. Já as pessoas vinculadas à oferta têm até 7 de abril para fazer a reserva.

Os recursos levantados com a oferta, segundo aviso ao mercado, serão destinados à aquisição, para exploração comercial, dos edifícios Torre Boa Vista e Torre Vargas. Esses empreendimentos estão localizados na Avenida Presidente Vargas, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

A gestão do portfólio de ativos imobiliários ficará a cargo da Latour Capital do Brasil, que informou a intenção de seu grupo empresarial e de profissionais vinculados de subscrever parcela de aproximadamente R$ 20 milhões da oferta.

A expectativa de rentabilidade para a carteira, pela administradora BEM DTVM e pela Latour, é de 9,5% ao ano, atualizada pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), de acordo com os termos dos contratos de locação atualmente em vigor.

Além disso, existe a possibilidade de valorização dos empreendimentos imobiliários e consequente aumento do valor da cota no mercado secundário. As empresas ressaltam, contudo, que não há garantia nenhuma de tal remuneração.

Em comunicado ao mercado, o Bradesco informa que a cotas serão oferecidas por intermédio do Sistema de Distribuição de Ativos DDA - administrado pela BM&FBovespa -, com a participação de um consórcio de corretoras. Caso a demanda dos investidores não institucionais, entre eles a pessoa física, seja superior ao percentual de alocação a ser destinado a esse grupo pelo coordenador da operação, os pedidos de reserva serão atendidos total ou parcialmente.

No rateio, será feita divisão igualitária e sucessiva das cotas entre todos os pedidos de reserva, limitada ao valor individual de cada pedido - até R$ 15 mil ou 15 cotas. As cotas remanescentes serão, então, rateadas entre todos os investidores proporcionalmente ao montante indicado nos pedidos.

A operação admite colocação parcial, caso não se atinja o volume de R$ 195 milhões. O valor mínimo para que não haja cancelamento é de R$ 122 milhões. Nesse caso, os recursos serão usados apenas para a aquisição da Torre Boa Vista pelo fundo. As cotas serão negociadas no mercado secundário de bolsa de valores, por intermédio do Megabolsa.

Juros e inflação prejudicam maioria dos investimentos

Jornal da Tarde

02/03/2010

Rentabilidade em fevereiro foi negativa na maioria das aplicações. A Bolsa de Valores, mesmo sendo a melhor aplicação do mês, deu ganhos reais de apenas 0,51%. É hora de observar o cenário para não perder dinheiro

CAROLINA DALL'OLIO, carolina.dallolio@grupoestado.com.br

Com juros baixos e inflação alta, a rentabilidade da maior parte dos investimentos tem sido reduzida - e, em alguns casos, até mesmo anulada. Em fevereiro, quando o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) ficou em 1,18%, apenas o mercado de ações conseguiu oferecer ganhos ao investidor. Descontada a inflação, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) rendeu 0,51% no mês (veja quadro).

O cenário inspira atenção. Caso o quadro atual permaneça por mais dois ou três meses, é prudente reavaliar quais são os melhores destinos a dar para seu dinheiro. "Em um cenário como o atual, uma opção são os títulos públicos ou fundos atrelados à inflação", recomenda Fábio Colombo, administrador de investimentos. Um exemplo são os títulos do Tesouro Direto. "Mas essas aplicações podem se tornar menos interessantes se o cenário mudar."

E o cenário deve mesmo mudar. A previsão é de que os juros subam até abril e, por consequência, a inflação baixe. Portanto, convém ao investidor se manter onde está - ao menos por enquanto.

"A inflação, neste início de ano, subiu basicamente por três motivos: o dólar estava se valorizando, as chuvas excessivas encareceram os alimentos e o ótimo desempenho recente da economia mostrou que havia espaço para que os preços fossem reajustados", avalia Tharcisio Souza Santos, diretor do MBA de Economia da Faap. "Mas, agora, parte dessas pressões vai se dissipar."

Caso os juros de fato subam, e a inflação caia, a rentabilidade dos investimentos vai melhorar. Porém, os especialistas são unânimes em dizer que os investimentos em renda fixa - em especial a caderneta de poupança - não vão oferecer os mesmos ganhos do passado. "Esse tempo já passou", afirma Ricardo Rocha, professor de Finanças do Centro de Ensino Insper. "Agora, vamos viver um momento interessante, em que as pessoas precisam ter orientação e preparo para saber onde aplicar o dinheiro."

Os investimentos que pressupõem risco sempre oferecerão ganhos maiores. Por isso, as ações, no longo prazo, costumam figurar entre os mais rentáveis. "Porém, ao escolher a aplicação, deve-se analisar o perfil do investidor em primeiro lugar, e não a rentabilidade do investimento", ressalta Rocha. "Isso significa que a pessoa deve saber em quanto tempo quer obter retorno e para que fim."

Com inflação alta e os juros baixos, uma das tendências entre os investidores que possuem capital superior a R$ 100 mil é investir em imóveis. A recente valorização imobiliária aliada à escalada de preços dos aluguéis têm feito dos imóveis uma opção atraente. Porém, além de alguns analistas questionarem se os preços desse mercado já teriam atingido o ápice, há de se considerar também a liquidez desse tipo de investimento. "Quando estiver precisando de dinheiro, nem sempre o investidor vai conseguir vender o imóvel com facilidade", alerta Santos, da Faap.


O QUE FAZER

Antes de investir, defina como vai usar o dinheiro e quando pretende resgatá-lo. Isso vai direcionar a aplicação

Investimentos de renda fixa são menos rentáveis, porém mais seguros e mais fáceis de serem resgatados. Já os de renda variável apresentam mais riscos e menos liquidez, mas oferecem ganhos maiores

Depois de decidir onde investir, confira extratos mensais de suas aplicações e avalie o cenário econômico para ver se é hora de mudar. Por enquanto, especialistas recomendam ficar onde está pelos próximos dois meses

segunda-feira, 1 de março de 2010

Em meio à crise, ouro se torna refúgio

O Estado de São Paulo

01/03/2010

Cotação dispara no Brasil e no exterior, mas analistas alertam: metal é arriscado para pequeno investidor

Roberta Scrivano


ALTA SEDUTORA - Preço do ouro no Brasil avançou 48% desde 2008

A crise financeira mundial fez o preço do ouro disparar no mercado internacional. Saltos na cotação da commodity são comuns em momentos de grande incerteza econômica ou social (como guerras). Muitos investidores, durante esse tipo de turbulência, correm para a segurança que o metal representa.

Há quem afirme que o preço da onça-troy (medida que equivale a 31 gramas de ouro), hoje em US$ 1,1 mil, vai chegar a US$ 2 mil daqui a alguns meses. A maioria dos analistas, no entanto, afirma que essa não é uma seara indicada para o investidor comum. Os que decidirem arriscar mesmo assim devem estudar o tema a fundo.

De agosto de 2008 para cá, os contratos de ouro no mercado internacional subiram mais de 27%, o equivalente a US$ 240. A onça-troy saltou de US$ 860 para os atuais US$ 1,1 mil. No mercado brasileiro, as altas são ainda mais significativas, porque o preço do ouro é função da cotação no exterior e da variação do dólar ante o real. Em agosto de 2008, um grama do metal valia R$ 45. Hoje, está em torno de R$ 67, uma alta de 48%.

Apesar dos bons rendimentos verificados, especialistas alertam que a liquidez é baixa (ou seja, é complicado vender o ativo pela baixa movimentação do mercado) e, para negociar o minério, é preciso muito conhecimento técnico.

Quem tiver interesse, pode comprar ouro no mercado de balcão (por meio de um banco ou de uma corretora), ambiente de negócios em que é possível negociar apenas um grama. Neste caso, porém, o investidor está sujeito a pagar as taxas cobradas pela instituição que administrará o investimento.

O mais recomendado, segundo especialistas, é adquirir o metal no pregão da BM&FBovespa, em que os contratos são de 250 gramas, hoje equivalentes a cerca de R$ 16 mil. É uma operação que, evidentemente, exige altos desembolsos. Mesmo nesse caso, para negociar, é preciso estar associado a uma corretora.

Durante todo o mês de janeiro, a BM&FBovespa negociou 80 contratos de 250 gramas de ouro. Apenas para comparar, em igual período, a bolsa transacionou mais de 72 mil contratos de boi gordo. Segundo Marcos Amaral, diretor da Corretora Spinelli, que opera ouro na bolsa, a baixa movimentação do mês passado comprova a falta de liquidez do ouro no Brasil. "Portanto, não é para qualquer um. Você pode comprar hoje e não necessariamente conseguir vender amanhã", diz.

Fábio Cervone, consultor independente especializado em economia internacional, explica que o enfraquecimento desse mercado no Brasil se deu por conta da estabilização econômica do País. "Com a inflação controlada e com a criação do dólar flutuante, o investidor pode aplicar em recursos não tão reais como o ouro", explica.

Amaral diz ainda que o cenário de pouca liquidez não tem perspectiva de se reverter. "Esse mercado existe de fato apenas nos Estados Unidos. Em Londres, também há liquidez, mas de maneira muito mais tímida", analisa.

Ter experiência em investimentos de risco é um quesito quase obrigatório quando o assunto é ouro. Na opinião de André Nunes, presidente do Grupo Fitta, que, entre outras atividades, também é corretora de valores, o metal é um bom ativo de renda variável que deve ser visto como uma maneira de diversificar o portfólio.

"Portanto, recomendo o ouro apenas para quem já é investidor há algum tempo", frisa. Ele classifica o mercado como "extremamente técnico e rápido", fato que reforça a importância de ingressarem apenas investidores experientes.

Com o atual cenário de valorização, o ouro pode ludibriar o investidor que não é experiente. Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros, observa que, à primeira vista, o investimento em ouro parece mesmo atraente. Segundo ele, a valorização do minério é "um pouco maior" que a do CDI (taxa de juros de referência do mercado financeiro, que segue a taxa básica) no acumulado de 2010. "Quem optou por ouro no lugar do CDI, ganhou", afirma. Desde janeiro, o ouro no Brasil já se valorizou 8%. De outro lado, o CDI ganhou apenas 1,02%.

Ainda assim, o especialista reforça que o mercado é recomendado apenas para alguns perfis específicos. "Para começar bem, o poder aquisitivo deve ser alto", afirma.

Bolsa renova aposta em fundo de índice

Folha de São Paulo

01/03/2010

Febre nos EUA e na Europa, os fundos negociados como ação ainda engatinham no país e giram só 0,4% dos negócios

Para investidor, vantagens são custos inferiores aos dos fundos dos bancos de varejo e facilidade para diversificar aposta em várias aplicações

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo lançou mais três fundos de investimento negociados diretamente no pregão eletrônico como uma ação. Com custo baixo de transação, esses novos fundos espelham a composição de dois índices de setores estratégicos da Bolsa -consumo e imobiliário- e mais o IBrX, termômetro das cem ações mais negociadas no país. O fundo mais popular é o Bova11, que replica o Ibovespa.
A novidade chegou atrasada e ainda engatinha no Brasil, mas é uma febre nos EUA e na Europa entre os investidores pessoa física. Esses fundos chegam a representar mais de 30% dos negócios na Bolsa de Nova York; no Brasil, está em 0,4%.
A maior vantagem é o custo. Como a gestão é feita por supercomputadores, que são previamente programados para seguir passivamente o desempenho de um índice setorial da Bolsa, as taxas de administração são inferiores às cobradas pelos fundos dos bancos.
No Brasil, esses fundos têm taxa de administração de 0,54% (Ibovespa, IBrX e empresas médias/grandes) a 0,69% (consumo, imobiliário e pequenas) -os bancos cobram até 4% de taxa de fundos semelhantes. Nos EUA, as taxas médias estão em 0,15% e 0,16%.
Conhecidos pela sigla ETF ("exchanged traded fund", ou fundo negociado em Bolsa), esses fundos fazem parte da nova leva de produtos que têm revolucionado o mercado global de ações, juntamente com as transações de alta frequência dos supercomputadores que identificam possibilidades de ganho certo na terceira casa decimal.
Por meio dos ETFs, pequenos investidores dos EUA e da Europa têm acesso, do terminal do computador de casa, a aplicações em ações de diferentes países, títulos de dívida pública e privada, moedas e commodities diversas como prata, ouro e alimentos. No mundo, há mais de 6.000 ETFs diferentes.

Brasil para estrangeiro
O ETF "brasileiro" mais popular no mundo é o MSCI Brazil, que não está aberto para o investidor brasileiro, mas que rendeu 113,2% em 2009 para o investidor americano. O fundo replica o índice de ações emergentes do Morgan Stanley.
Negociado desde 2005 na Bolsa de Nova York, o MSCI Brazil se tornou tão popular que chega a girar em um dia US$ 1,77 bilhão -metade do volume diário da Bovespa.
No Brasil, ainda falta a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) regulamentar a criação de ETFs para fundos de renda fixa, commodities, moedas e índices de Bolsas estrangeiras, o que permitiria ao brasileiro buscar oportunidades de ganho no exterior. A popularização dos ETFs sofre resistência dos bancos e da indústria de fundos, que teme perder mercado.
Além do ganho com as transações, a Bolsa também licencia o uso de seus índices nos ETFs. Segundo Julio Ziegelmann, diretor de produtos da BM&F Bovespa, os fundos ETFs deverão cair também no gosto do investidor pessoa física no país. "É um produto muito bom para o pequeno investidor. A gente imagina que o que aconteceu lá fora com o ETF vá acontecer aqui também."
Para Fabio Colombo, administrador de investimentos, o único inconveniente dos ETFs negociados na Bovespa é a diferença ainda alta entre as cotações de compra e de venda dos fundos, como acontece no dólar paralelo. "Como a liquidez é ainda baixa, esse "spread" é alto se comparado com o de outras ações. Só agora é que começa a baixar o "spread" do Bova11 -o ETF do Ibovespa", disse.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

IR e 13º: adiantamento é arriscado

Jornal do Brasil

28/02/2010

Adriana Diniz

RIO - Mal começou o ano e o recebimento das declarações de imposto de renda só começa amanhã, mas vários bancos já estão oferecendo a seus clientes linhas de crédito para antecipar o 13º salário e a restituição do Imposto de Renda. Taxas de juros menores que as praticadas nos empréstimos pessoais (entre 2,25% a 2,9% ao mês) e o vencimento distante, geralmente para a data de recebimento dos benefícios, acabam atraindo os clientes. Mas órgãos de defesa do consumidor alertam: contratar estes empréstimos pode ser arriscado.

Em relação à antecipação da restituição do Imposto de Renda, uma das principais vantagens, o prazo, pode se tornar um problema. Se a Receita Federal atrasar ou, por qualquer motivo, o cliente cair na malha fina, terá que quitar a dívida antes de receber o dinheiro.

– O prazo final para o pagamento fixado pelos bancos costuma ser o mês final da tabela de restituição do IR (dezembro) mas não há garantia de que será possível contar com o dinheiro nessa data, ou de que o declarante receberá exatamente a quantia que previu – explica Ione Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Ione ressalta ainda que a Receita pode atrasar a restituição, ou pagar um valor menor do que o calculado, ou não pagar. "Nesse caso, quem tomou o empréstimo se verá às voltas com uma despesa em geral bem mais alta do que o valor que recebeu antecipadamente, já que é acrescida dos juros normais e pode ser elevada por multa e outros imprevistos".

No Banco do Brasil, o cliente tem até 28 de fevereiro para quitar o empréstimo, enquanto o Santander e o Real informaram apenas que o pagamento deverá ser feito quando o cliente receber a restituição, mas não informou se há uma data limite. O Bradesco oferece crédito apenas para a antecipação do 13º salário.

A economista Hessia Costilla, da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), lembra que o 13º salário geralmente é usado para pagar gastos típicos de início do ano, como IPTU, IPVA e outros impostos, além de ser usado no período das festas de Natal e Ano-Novo. "Sem esta renda adicional, o consumidor pode acabar se endividando no fim do ano", destaca.

Ione Amorim, do Idec, lembra que a possibilidade de ser demitido do emprego não deve ser descartada. "É um dinheiro ilusório aquele que a pessoa acha que tem em mãos quando antecipa. O trabalhador nem sempre pode ter a certeza de que continuará na empresa até o momento de pagar a dívida".

Outra desvantagem apontada por economistas é que, como os créditos são oferecidos somente para correntistas dos bancos e, em alguns casos, só para quem recebe salário na instituição, o consumidor não tem a possibilidade de pesquisar a melhor oferta. Ou seja, tem apenas uma opção, o que diminui o poder de negociação do cliente.

Mas se a pessoa está endividada, estas linhas de crédito podem ser vantajosas, já que os juros cobrados são baixos se comparados a outros empréstimos e financiamentos. As taxas de empréstimo pessoal variam de 4,39% a 5,86%, ao mês; as de cheque especial ficam entre 6,75% e 12,30% mensais; e as de cartão de crédito, 9% a 20% no mês, segundo o Procon-SP.

– Vale a pena trocar uma dívida cara por outra mais barata. Mas qualquer empréstimo deve ser encarado como última opção, para quem não tem poupança ou outros rendimentos para usar – orienta Costilla.

Segundo a economista da Pro Teste, o melhor é verificar com a empresa onde trabalha, se é possível fazer um crédito consignado (desconto em folha de pagamento) que também tem juros baixos e o pagamento da dívida é parcelado.

Luizmar Alves, de 42 anos, trocou a dívida no cartão de crédito por um empréstimo pessoal e não se arrepende. Ele parcelou R$ 1.200 em dez vezes e está conseguindo pagar.

– Os juros do cartão são abusivos, o empréstimo é melhor – conta Alvez, que teve a ajuda do gerente para escolher a linha de crédito mais adequada às suas necessidades.

Quando precisa de um dinheiro extra, a auxiliar administrativa Mônica da Silva, de 46 anos, prefere pedir um adiantamento direto na empresa onde trabalha. Desta forma, ela evita juros e tem maior controle dos gastos, já que o desconto é mensal, direto no contracheque.

– Nunca faço empréstimo em banco. Os juros fazem a dívida virar uma bola de neve. Conheço gente que nunca consegue sair desse ciclo vicioso, fica fazendo empréstimo atrás de empréstimo, trocando uma dívida por outra – diz.

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), cada banco é responsável por suas regras de financiamento. O Itaú-Unibanco e o HSBC, até o momento, não lançaram linhas de crédito para antecipação do 13º salário ou de IR neste ano.

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