quarta-feira, 9 de março de 2011

Poucos com tanto...

Valor Econômico

09/03/2011

Daniele Camba e Luciana Monteiro | De São Paulo


Concentração é a marca do mercado de gestão de recursos no Brasil. As dez maiores assets respondem hoje por nada menos do que 77,6% do patrimônio do setor de fundos de investimentos. Um percentual ainda bastante elevado, apesar de ligeiramente abaixo dos 79,8% do fim de 2009. O levantamento foi feito pelo Valor com base nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Essa concentração traz um efeito perverso para o investidor, que fica à mercê de taxas de administração altas, mesmo para carteiras conservadoras, e poucas opções de aplicação, especialmente no varejo. Para aplicações de R$ 100,00 em fundos renda fixa e DI, por exemplo, os grandes bancos de varejo cobram, em média, de 3,5% a 5% ao ano. Como resultado, após a tributação, eles chegam a render menos que a poupança.

As seis primeiras colocações ainda são ocupadas pelos grandes bancos de varejo, que detêm 67,6% do mercado de gestão de fundos, número que chegava a 70,2% no fim de 2009. Mas, enquanto os grandes perdem um pouco, as assets independentes ganham espaço, ainda que também lentamente. Os números levam em conta o patrimônio total do setor em fundos de investimento, sem seguradoras.

Algumas instituições, em especial, vêm sofrendo mais nesse processo de perda gradual de participação. É o caso do Itaú, que se fundiu com o Unibanco em novembro de 2008. Em dezembro daquele ano, juntando-se os recursos geridos pelos dois bancos, a participação no setor de fundos era de 16,87%. Dois anos depois, já com o processo de integração concluído, a fatia caiu para 14,83%.

A perda de fatia de mercado chama ainda mais a atenção no caso do Itaú Unibanco por conta do bom resultado do setor de fundos no ano passado, que registrou captação recorde de R$ 108,7 bilhões. O segmento cresceu 18% ante 2009, atingindo patrimônio líquido de R$ 1,618 trilhão. Mas, apesar do ano tão positivo, o maior banco privado brasileiro encerrou 2010 com resgates de R$ 4,257 bilhões.

Num processo de fusão, é natural que ocorram perdas, já que grande parte dos investidores institucionais mantém limites de concentração nas instituições, explica o consultor Marcelo D"Agosto, autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento". Nesses casos, há um corte nas aplicações, não uma soma, diz.

Um executivo que pediu para não ser citado observa, no entanto, que o ranking de gestão da Anbima leva em conta também os fundos de direitos creditórios (FIDCs), cujo patrimônio oscila muito. E os números revelam que o Itaú Unibanco teve resgates concentrados justamente nesse seguimento em 2010. Os fundos de recebíveis da instituição registraram saques de R$ 3,898 bilhões dos R$ 4,257 bilhões perdidos no período.

Os números do banco também teriam sido afetados pela estratégia de um fundo de pensão administrado pelo banco que, por uma questão de custos, preferiu migrar R$ 3 bilhões de fundos para carteiras administradas, cujos dados não aparecem no ranking.

Mas, no mercado, comenta-se que a perda de participação no ranking e os resgates têm a ver com o processo de fusão. Segundo uma fonte que acompanhou o processo de perto, houve um choque entre as culturas de gestão do Itaú e do Unibanco, resultando na saída de vários profissionais experientes.

Outro executivo que também acompanhou a fusão lembra que o processo decisório ficou muito mais concentrado nas mãos de poucos, que estão na cúpula, tirando agilidade da gestão. Ele afirma que esse perfil de alta concentração é muito mais resquício da herança da gestora do Unibanco, que acabou predominando. Vários cargos-chave ficaram com profissionais que vieram do Unibanco. Já no Itaú, antes da fusão, as decisões eram descentralizadas, com cada gestor tendo muito mais autonomia para responder por sua estratégia. Procurado, o Itaú Unibanco preferiu não se manifestar.

Enquanto o Itaú Unibanco perde espaço, a gestora do BTG Pactual foi a que mais recebeu recursos no ano passado, depois do gigante Banco do Brasil. A asset do banco de André Esteves captou R$ 9,632 bilhões em 2010, e ocupa o sétimo lugar no ranking dos maiores gestores, com patrimônio de R$ 65,355 bilhões. Com isso, a instituição passou a deter 4,08% do setor de fundos, ante 3,75% em 2009. A gestora do BTG cresceu principalmente em fundos de participações e multimercados.

O Banco do Brasil (BB) ainda ocupa a colocação de maior gestora, com patrimônio de R$ 363,211 bilhões até janeiro deste ano. Os números da BB DTVM já levam em conta os fundos da Nossa Caixa, adquirida em novembro de 2008.

Líder de captação no ano passado, com ingresso de R$ 18,552 bilhões, a BB DTVM atraiu R$ 44,470 bilhões para a previdência. Mas a gestora teve pesados resgates em fundos de renda fixa e curto prazo, de R$ 3,931 bilhões e R$ 2,041 bilhões, respectivamente. A asset fechou 2010 respondendo por 21,55% dos ativos sob gestão em fundos - fatia praticamente igual à de 2009, que somava 21,57%.

Essa concentração do setor de fundos é ruim especialmente para os investidores de varejo, que possuem pouco poder de barganha e condições de se movimentar rumo a outros gestores, diz o professor de finanças do Insper Ricardo José de Almeida. "Essa falta de poder se reflete em taxas de administração que ainda são altas para o varejo."

O professor lembra que a Instrução 409 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre fundos dá ao investidor o direito de pedir a abertura dos custos que estão embutidos dentro da taxa de administração. Essa medida deveria, em tese, acabar com as cobranças abusivas. O detalhe é que o pequeno investidor nem sabe desse direito e, portanto, essa fiscalização adicional não acontece na prática.

Para o professor do Insper, o fato de os bancos de varejo não oferecerem na rede de agências produtos de outros gestores contribui para que as taxas de administração continuem salgadas. "Nenhum banco tem interesse em levar a concorrência para dentro da sua própria casa", completa Almeida.

O setor de fundos no Brasil também é concentrado por conta do tipo de ativo demandado pelos investidores, que focam na renda fixa. "Os grandes bancos são justamente os maiores na gestão de fundos de renda fixa", lembra Francisco Costa, sócio da Capital Investimentos. "Mas à medida que os segmentos de multimercados e de ações cresçam, esse processo de concentração deve ficar menor."

Contribui para esse panorama o fato de as corretoras de valores não atuarem fortemente no mercado de distribuição de fundos, avalia o consultor. "As corretoras ainda são muito voltadas para estimular a negociação de ações e não a aplicação em fundos, em que o investidor tende a permanecer por mais tempo", diz o consultor D"Agosto.

Para os gestores independentes, é difícil fugir da "máquina de venda" dos bancos de varejo, já que as áreas "private" dos grandes bancos são os maiores distribuidores de fundos do país.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Clubes de investimento terão mais controle


07/03/2011

 

SEU BOLSO

Para evitar que clubes de investimentos virem fundos “disfarçados’’, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prepara uma nova regulamentação, que deve entrar em vigor em cerca de 30 dias. Segundo o diretor do órgão, Otávio Yazbek, as versões finais da regulamentação estão em fase de discussão interna.
No Brasil, há 3.054 clubes, com um patrimônio líquido total de R$ 11,4 bilhões e 131.521 participantes, segundo a Bovespa.
Por meio dos clubes, é possível entrar na Bolsa com R$ 200. Para aplicações individuais, o valor é baixo. Mas, com esse montante e um grupo de pessoas com um objetivo em comum, é possível organizar um clube.
– Aquelas pessoas que conhecem pouco e têm medo do risco investem coletivamente, colocando um pouquinho de dinheiro na aplicação. Conforme aprendem, alteram a quantia – explica Tércia Rocha, consultora da Bovespa.
Em geral, um clube pode ter entre três e 150 pessoas e deve ter um representante. Os integrantes podem ser, por exemplo, de uma mesma empresa ou família. No caso de funcionários de uma mesma empresa ou entidade, pode ser um grupo até maior.
As principais mudanças, explicou Yazbek, devem ser justamente em relação à restrição no limite do número de cotistas e à exigência de assembleias, que poderão ser realizadas por meio de ferramentas eletrônicas, pois envolvem menos custos para as corretoras de valores.
O objetivo é valorizar o caráter pedagógico e fortalecer o controle sem aumentar demais os custos. Conforme Yazbek, um dos motivos que levaram a criar a nova regulamentação foi um mal-estar em relação a clubes que viravam fundos:
– É o que se chama de arbitragem regulatória. Usar um meio mais barato para atingir aquilo que é mais caro. Se quiser desconto regulatório, terá de ser uma estrutura diferente. Não pode ser um fundo disfarçado.

Recuo na criação

- A criação de clubes teve desaceleração no último ano:

- Em 2009, houve avanço de 6,4% na quantidade de clubes em relação ao ano anterior.

- No ano passado, a alta foi de só 3,3% em relação a 2009.

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