sábado, 29 de setembro de 2007

Bovespa lidera ranking de investimentos no mês e no ano

28/09/2007 - 19h09

EPAMINONDAS NETO
da Folha Online


As aplicações vinculadas à Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) lideram com folga o ranking dos investimentos mais rentáveis do mês de setembro. O indicador Ibovespa, referência da maior parte dos fundos de renda variável, também supera os demais no acumulado deste ano.

Setembro foi um mês de virada para a Bolsa de Valores. A crise do mercado de crédito imobiliário americano perdeu muito de sua força já no final de agosto e permitiu que as ações voltassem a valorizar. Dessa forma, o Ibovespa, indicador que acompanha os preços dos ativos mais negociados, valorizou 10,67% no mês.

"Não podemos dizer que a crise financeira acabou, mas temos que admitir que o Federal Reserve [banco central dos EUA] ajudou muito, ao cortar os juros de forma agressiva", avalia o gestor André Delben Silva, da Advisor Asset Management.

Em segundo lugar no rol das aplicações mais rentáveis aparecem os fundos de investimento DI (pós-fixado) e de renda fixa (pré-fixado), com vantagem para o segundo. Segundo relatório da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), os chamados fundos DI tiveram rentabilidade de 0,68%, enquanto os fundos do tipo renda fixa deram retorno de 0,85%. Os dados têm defasagem de três dias.

A caderneta de poupança, a aplicação mais popular do país, tem rentabilidade de 0,64% no mês. Distinta dos fundos, a poupança não tem incidência de IR nem bancos cobram taxas administrativas.

Uma aplicação bem mais restrita para investidores do varejo, a commodity Ouro, teve variação de 3,77%, tendo como referência o contrato negociado na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).

Na "lanterninha" do ranking de investimentos, o dólar comercial, referência dos fundos cambiais, teve queda de 6,6% em setembro. Em agosto, aplicações referenciadas pela moeda americana foram as mais rentáveis.

A inflação do período foi de 0,29%, se calculada pelo IPCA-15, que reflete o custo de vida para famílias com renda mensal até 40 salários mínimos. Se considerado o IGP-M, que considera preços no varejo, no atacado e da construção civil, a inflação foi de 1,29%.

Perspectivas

Especialistas ainda têm perspectivas positivas para a Bolsa no médio prazo. André Delben, da Advisor, confia que o fluxo de investimentos estrangeiros deve continuar nos próximos meses.

André Delben, da Advisor Asset, espera que a Bolsa brasileira ainda atinja os 80 mil pontos (fechou hoje em 60.465) nos próximos 12 meses. Nesta projeção, está embutida a expectativa de que a economia americana não entre em recessão, mas somente desacelere, de forma que a economia mundial siga com a combinação de crescimento global, inflação e juros baixos.

Para o professor de mercado financeiro do Ibmec-SP, Ricardo Rocha, o que pode estragar o "céu de brigadeiro" da Bolsa é o desempenho da economia americana. "E se os EUA crescerem pouco, com uma inflação desconfortável? Provavelmente o Fed vai aumentar os juros e aí teríamos o pior dos mundos. Por enquanto, ainda não é este o cenário que está desenhado", avalia.

"Para o investidor de longo prazo, eu posso dizer que continuamos otimistas sobre a Bolsa num prazo de 6 a 12 meses. Como gestor, quero dizer, como profissional que acompanha a Bovespa diariamente, eu estou um pouco mais preocupado. Nós já reduzimos nossa exposição em Bolsa ao longo do mês", afirma Delben. "Só que isso é mais uma filosofia de gestão. Podemos perder um pouco da próxima valorização, mas já protegemos os ganhos", acrescenta.

Em relação ao dólar, especialistas não vêem mudanças bruscas na tendência predominante de queda. "Podemos ter um pouco mais de volatilidade em outubro, novembro e dezembro. Pela minha experiência, são meses em que muitas empresas fazem remessas de lucros", afirma Luiz Carlos Balden, diretor da corretora Fourtrade.

Sobre a renda fixa, analistas lembram que, mantidas as condições atuais, permanece a tendência declinante dos juros básicos, o que pode afetar a rentabilidade dos fundos DI. E ser favorável para os fundos de renda fixa, que são compostos de títulos com prazo mais longo.

"Apostar em um fundo de renda fixa é uma aposta no mesmo sentido de uma aposta na Bolsa, só que com risco diferente. E apostar na Bolsa e em renda fixa, é o mesmo que apostar contra o dólar", sintetiza Delben.

Rentabilidade anual

O Ibovespa acumula variação de 35,96% no período de janeiro a setembro. No rol dos indicadores que referenciam os fundos de investimentos, é de longe a maior variação.

Em segundo lugar no ranking, os fundos DI têm rentabilidade acumulada de 8,81% no ano, enquanto os fundos renda fixa apresentam retorno de 9,25%, segundo levantamento da Anbid. A caderneta de poupança mostra retorno de 4,61%.

A commodity Ouro (contrato BM&F) teve variação de 1,15% nos nove meses, enquanto o dólar retraiu 14,2% de janeiro a setembro.

A inflação do período, medida pelo IPCA-15, foi de 3,15%. Pelo IGP-M, foi de 4,07%.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Check-up financeiro

Valor Econômico
Por Mara Luquet
28/09/2007



A saúde financeira dos médicos precisa de cuidados especiais. Esse grupo de profissionais chama a atenção de planejadores financeiros e da própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM), regulador do mercado de capitais, porque são presas fáceis de ofertas mirabolantes de investimento.


"É uma categoria peculiar", diz uma fonte da CVM. Eles trabalham muito no início de carreira, em vários empregos. Depois, formam uma clientela, começam a ganhar reconhecimento e são cada vez mais procurados. "Ganham muito dinheiro, mas não dispõem de tempo para sequer saber quanto ganham e se tornam alvos fáceis", acrescenta.


Por isso, os médicos são presas de bancos, de consórcios, de corretores de imóveis, de corretores de valores e de outros fornecedores de produtos de investimentos menos ortodoxos, como os contratos de avestruz, boi e tantos outros.


Para agravar o cenário, os médicos costumam pagar o sofá da sala de espera do consultório com o mesmo cartão de crédito que pagam os almoços de família. Ou seja, tiram do mesmo bolso as despesas pessoais e as do consultório, um erro básico de gestão financeira. "O médico não tem como gastar porque não tem tempo e acaba fazendo barbaridades", diz o médico Walter Lyrio do Valle, diretor técnico da União Nacional das Entidades de Auto Gestão em Saúde. "A primeira providência quando ele ganha dinheiro é comprar um BMW financiado", acrescenta.


Médicos têm poucos fins de semana com a família, férias ou feriados. São muitos raros, portanto, os momentos para lazer, para consumo e menos ainda para cuidar dos seus próprios investimentos. Assim, as decisões de consumo são feitas sem qualquer reflexão, e não há qualquer programação de fluxo de caixa tanto para a receita quanto para a despesa.


A verdade é que os médicos não aprendem a gerir seu próprio negócio. "Os médicos, dentistas e tantos outros profissionais liberais não cursam na faculdade nenhuma matéria de administração, mas eles são verdadeiras empresas", diz Marco Gazel, sócio da M2 Investimentos que tem uma carteira de clientes da área médica. "A primeira coisa que o médico tem de entender é que ele é um homem de negócios, não basta fazer a cirurgia bem feita, ele tem de aprender a cuidar do próprio negócio, caso contrário, terá problemas sérios", adverte.


Na opinião de Gazel, este não é um problema apenas dos médicos, mas de todo profissional liberal, que tem uma entrada de recursos diferente da contabilizada por um assalariado. Se já é um desafio para muitas famílias gerir o orçamento doméstico sabendo previamente quanto receberá e com dia certo para a entrada dos recursos no caixa, imagine manter a disciplina tendo de organizar não apenas as saídas de recursos, mas a receita.


Gazel conhece bem o perfil. É filho e irmão de médicos. Sua irmã, Mariza, clínica geral, deixa sob os cuidados do irmão a gestão dos seus investimentos. "A maioria dos meus amigos deixa o dinheiro parado no banco", conta Mariza. "A medicina toma muito tempo da nossa vida", diz.


Os médicos são o principal alvo dos gerentes que precisam cumprir metas de vendas de planos de previdência, como PGBL e VGBL. Como não costumam pensar na aposentadoria, os médicos são seduzidos por essas ofertas quando elas aparecem e fazem as aplicações sem avaliar bem a relação custo/benefício. Só vão lembrar de fazer novos aportes quando o gerente aparecer de novo com uma oferta. "Aposentadoria é um problema sério", diz Valle, da União Nacional de Auto Gestão em Saúde. "A grande maioria dos médicos não tem um plano de aposentadoria que funcione."


Para fazer um check-up das finanças pessoais, os especialistas recomendam, principalmente aos médicos e para os profissionais liberais em geral, saber o quanto ele ganha por hora e se consegue separar as contas de casa das despesas do consultório. Em seguida, é preciso responder à seguinte pergunta: "Vale a pena investir no consultório?" Além disso, é necessário conhecer seus sonhos de consumo e avaliar como será a aposentadoria.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O carnê da classe média é de plástico

Jornal da Tarde 27/09/2007

Pela primeira vez as compras parceladas no cartão de crédito foram superiores às operações à vista dentro do faturamento das operadoras brasileiras

Marcos Burghi, marcos.burghi@grupoestado.com.br

A classe média tem um novo carnê, de plástico. Estudo divulgado ontem pela Itaucard mostra que entre janeiro e setembro deste ano as compras parceladas no cartão de crédito foram responsáveis por 50,5% do faturamento do setor, que no período atingiu R$ 128,5 bilhões. Para se ter uma idéia da evolução desta forma de pagamento, no mesmo período de 2003 os parcelamentos respondiam por 39,6% do total de operações. O estudo abrange todo o universo de cartões para pessoa física em circulação no País, cerca de 89 milhões.

Do total das compras parceladas no cartão, 49,1% foram feitas sem juros e apenas 1,4% com juros, que podem variar de 2,9% a 11% ao mês. O índice vale para pagamentos feitos no prazo. Quem atrasar paga entre 11,9% e 12,6% sobre o total da fatura. A informação é de Fernando Chacon, diretor de Marketing de Cartões do Banco Itaú.

O estudo identificou que entre os consumidores de baixa renda - que para o setor são aqueles que ganham até R$ 1.499 por mês - o porcentual de parcelamento com cartão chegou a 55% das compras realizadas entre janeiro e setembro, com um valor médio de R$ 181 por compra a prestação. Segundo Chacon, trata-se de um sintoma de que o brasileiro, aos poucos, aprende a consumir de acordo com sua capacidade de pagamento. Segundo o Itaucard, os consumidores de baixa renda detêm 63% dos cartões de crédito emitidos no País, mas não são os principais responsáveis pelo faturamento das operadoras, e sim os consumidores de classe média, que são menos numerosos, mas usam o cartão para compras de maior valor médio.

Preferências

O estudo mostrou, ainda, que os compradores preferem pagar em duas e três vezes: 46% dos entrevistados indicaram que se utilizam desse número de parcelas, com cada prestação entre R$ 100 e R$ 199.

Entre os setores do comércio em que o parcelamento no cartão é mais usado, segundo o levantamento, estão eletroeletrônicos, onde o pagamento a prazo foi a forma escolhida por 86% dos consumidores que pagam com o dinheiro de plástico. Em estabelecimentos de vestuário, calçados e lojas de departamentos, a compra a prazo foi a opção de 82% dos usuários de cartões de crédito. O estudo ressalta, ainda, que 73% das compras com cartão entre janeiro e setembro de 2007 em drogarias, farmácias e óticas foram parceladas.

Até dezembro, a projeção é que as compras divididas no cartão atinjam R$ 93,6 bilhões, um avanço de 23,4% em relação a 2006. As compras à vista também devem crescer , chegando a R$ 87,9 bilhões. 'Confirmada a estimativa, este será o primeiro ano na história do mercado de cartões que o parcelamento sem juros superará o pagamento à vista', diz Chacon

Em relação ao Estado de São Paulo, cuja parcela de faturamento ficou em 30,9% do total - R$ 39,7 bilhões - 42,9% correspondem a compras parceladas, com um valor médio de gasto em torno dos R$ 255.

Em até dez vezes, se puder

O funcionário público Rogério Fratucci diz ser usuário de cartões de crédito há 20 anos. Como a maioria dos consumidores brasileiros, Fratucci conta que é adepto das compras divididas em várias vezes. Assim, costuma utilizar seu cartão principalmente em lojas de eletroeletrônicos. Ele revela que não liga muito para o prazo. Costuma comprar em até dez vezes, quando as lojas oferecem essa opção.


ALGUNS NÚMEROS DO SETOR

A taxa média mensal de juros pagos pelo usuário de cartão de crédito nacional por atraso no
pagamento da fatura é de 12,6%

O número de parcelas que o comércio costuma oferecer varia de dois a dez

A taxa mensal média de juros pagos pelos clientes de cartão de crédito internacional por atraso no pagamento da fatura é de 11,9%

Entre janeiro e setembro deste ano as compras parceladas foram responsáveis por 50,5% do
faturamento do setor de cartões de crédito no Brasil, que no período atingiu R$ 128,5 bilhões O estudo abrange todo o universo de cartões para pessoa física em circulação no País, cerca de 89 milhões

Entre os consumidores de baixa renda - que ganham até R$ 1.499 por mês - o porcentual de parcelamento chegou a 55% das compras feitas de janeiro a setembro, com um valor médio de R$ 181 por compra parcelada

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Histórias de investidor

Valor Econômico
Por Angelo Pavini
25/09/2007



Todos os dias, a numeróloga Simone Limase, consultora da área de recursos humanos, ajuda as empresas a identificar entre vários candidatos aquele que melhor se enquadra em determinada vaga. Para isso, cruza dados como nome e data de nascimento para criar um mapa com 14 números que mostram em que áreas a pessoa tem potencial.


Simone usa a numerologia também para orientar seus recentes investimentos em bolsa. No ano passado, procurando informações sobre o mercado, ela ganhou R$ 1 mil em ações da Vale do Rio Doce numa palestra da empresa durante a Expo Money. "As ações subiram bastante, tenho quase o dobro agora e estou estudando para me atualizar e investir mais a partir de outubro", diz ela, animada.


Simone é um exemplo do exército de novos investidores que aflui para o mercado acionário. Só neste ano, são 53 mil estreantes, que ampliaram para 131 mil o total de usuários do sistema home broker, segundo dados da Bovespa. A maioria está ainda descobrindo o funcionamento da bolsa e procura, ávida, por informações e orientação. Do total, 19 mil ingressaram no sistema em julho, às vésperas da crise do "subprime", o mercado de hipotecas de alto risco americanas, e que fez a bolsa cair quase 10% no dia 16 de agosto. Mas a surpresa positiva é que a maioria não saiu vendendo o pouco de ações que tinha, o que permitiu recuperar as perdas até a semana passada.


A espera de Simone para comprar ações tem sua razão cósmica de ser. Segundo ela, desde seu último aniversário, em outubro, ela está no ano pessoal do balanço, que ocorre a cada nove anos, e que termina quando ela soprar as velinhas novamente este ano. Nesse período, explica, não é bom fazer negócios de longo prazo. "É um período de se livrar do que não serve mais", diz. O ano anterior, o ano pessoal 8, é o da conquista material, explica, quando é provável que a pessoa ganhe coisas, como ocorreu com ela. A partir de 9 de outubro, quando ela entrar novamente no ano 1, começa o perído de avanço material novamente. Ou seja, hora de comprar ações.


Mas manter o sangue-frio durante uma crise nem sempre é possível, como explica Vanilson Mota, funcionário da área operacional da Petrobras em Cubatão. Investidor em ações há oito anos, inicialmente em fundos e depois, a partir de 2003, diretamente em bolsa, achava que estava preparado para tudo. Mota havia comprado papéis da Telesp fixa em 14 de agosto, dois dias antes da grande queda do mercado. "Fui olhar como estava a bolsa no dia 16 e peguei o pior momento, quando a queda do índice estava em quase 10%, e me apavorei", diz. Sem entender direito o que acontecia, ele vendeu os papéis da Telesp no auge do pânico dos mercados. Resultado: o papel se recuperou e ele perdeu dinheiro. A lição que tirou foi que não é fácil pensar racionalmente quando o mercado despenca.


Mota recuperou o controle a tempo, porém, de aproveitar a queda dos papéis e, dois dias depois, comprou ações da Gerdau e da Porto Seguro. Ele se considera um investidor moderado, mantendo um limite de 45% das economias em ações. "Tenho amigos que aplicam 100% em bolsa, o que acho muito arriscado", diz ele, que usa tanto a análise fundamentalista quanto gráfica para decidir onde aplicar. Da parcela de ações, Mota separa metade para papéis com visão de mais longo prazo e característica de boas pagadoras de dividendos, como CPFL, Cemig e Telesp fixa. "Algumas pagam quase 10% de dividendo ao ano, assim, mesmo que o preço do papel caia, tenho um retorno extra, para minha aposentadoria", diz.


Da outra metade, 20% ficam em um fundo de ações da Geração Futuro e os 80% restantes em ações com visão de curto prazo. "Acompanho diariamente a média de preços de cerca de 20 papéis e compro os que caíram demais para vender assim que eles se recuperaram", diz. Hoje ele tem 15 ações nessa carteira e trabalha com duas corretoras, uma com corretagem fixa, a Ágora, e outra variável, a Bradesco. "Dependendo do valor da operação, trabalho com uma para reduzir o custo", diz.


A experiência acaba ajudando investidores não só a atravessarem essas fases críticas como reduzir as perdas usando instrumentos de proteção (hedge). Um exemplo é o pequeno empresário William de Oliveira, dono de uma empresa de logística e entregas. Depois de perder dinheiro em maio do ano passado, na crise da alta dos juros americanos, e em fevereiro deste com a balançada da bolsa chinesa, ele buscou formas de se proteger com operações no mercado futuro. "Não acho que a turbulência acabou, deve vir uma segunda paulada por aí", diz ele, que prefere ser chamado de Dr. Fox, apelido que usa em seu blog, o www.drfox-investidor.blogspot.com.


Oliveira, ou melhor, Dr. Fox, diz que infelizmente o mercado brasileiro não tem muitas opções de proteção para quem investe em bolsa. "O ideal era termos opções de venda, como nos Estados Unidos, mas temos apenas opções de compra (onde o investidor se compromete a vender determinada ação a determinado preço no futuro)". Assim, ele resolveu usar os minicontratos futuros de Ibovespa na BM&F. "Eles não exigem muita margem e são mais baratos do que alugar e vender uma ação", diz. Ele fez o hedge vendendo o Ibovespa quando o índice estava em 54.800 pontos, perdeu enquanto a bolsa subia, mas evitou prejuízos maiores na grande turbulência de agosto. "E não desfiz a proteção, o mercado está muito volátil."


Formado em física pela USP e mestre pela Escola de Administração de Empresas da FGV-SP, Dr. Fox é um seguidor de tendências ou "trend follower". Ele tenta detectar nos gráficos de preços para onde está indo determinada ação a partir do comportamento passado. Antes investidor em CDBs, Dr. Fox começou comprando ações da Petrobras, Bradesco e BCN em 1999, mas, com a correria da empresa, sobrava pouco tempo para o mercado. Ele só voltou a operar há três anos, quando descobriu o home broker, que facilitou o acompanhamento do mercado e as negociações. Hoje ele opera com quatro corretoras.


Apesar do gosto pelo mercado, ele não opera todos os dias. "No máximo faço uma operação por mês, pois quem faz muito negócio só dá lucro para a corretora", diz. As crises ensinaram-no a deixar sempre uma parcela do dinheiro livre para aplicar. "Nessa última queda, eu tinha 20% em caixa para as oportunidades", diz. Ele também evita resgatar mais de R$ 20 mil em ações por mês, para não pagar imposto de renda.


Dr. Fox é um fã da Vale, que ocupa lugar de destaque na carteira ao lado de outras blue chips como Acesita e Bradesco. Nas "small caps", ele tem BR Malls e Randon. Ele diz que não dá bola para relatórios de corretoras e prefere olhar os gráficos para decidir onde aplicar. Quando encontra a empresa que gosta, faz tudo para conhecê-la bem. "Encho o saco do RI até ele pedir socorro, vou nas reuniões com investidores, assembléias, visito a fábrica, estudo balanço, mando fax, e-mail, até me convencer que a empresa é mesmo boa", diz. "Sou o investidor pentelho, quero sentir o cheiro da empresa, se eles sentem que a empresa está crescendo", afirma ele. Só neste ano, oito empresas receberam a visita de Dr. Fox em suas reuniões.


Oliveira e seu personagem financeiro fizeram tanto sucesso nos blogs e fóruns de discussão que ele foi chamado para dar uma palestra este ano na Expo Money. Para quem for, ele deverá passar um cenário nada otimista. "Espero uma correção grande este mês ou no outro, os gráficos mostram que podemos ter uma queda do Ibovespa até os 42 mil pontos ou até menos, 35 mil", diz.

Carteiras populares perdem 193 mil cotistas neste ano

Valor Econômico
Por Danilo Fariello
25/09/2007



Um acompanhamento do site financeiro Fortuna com os 13 maiores fundos de renda fixa, curto prazo e DI populares, com aplicação média de R$ 13,5 mil, mostra que ao longo do ano essas carteiras perderam R$ 2,4 bilhões em resgates, até dia 19. Dos mesmos fundos saíram 193 mil cotistas no mesmo período. Para o site Fortuna, a caderneta de poupança tem liderado essa corrida com os fundos populares pelos recursos dos investidores de varejo. "No passado, a diferença entre a rentabilidade da caderneta e do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, referência dos fundos) era da ordem de 6,5% ao ano, mas, neste ano, a diferença caiu a 2%", diz um relatório do Fortuna. Nos cálculos, foi considerado o imposto máximo de 22,5% sobre o retorno dos fundos. A caderneta é isenta de IR.


Quando o juro da Selic era de 15%, 16% ao ano, o investidor poderia aplicar nos fundos de varejo que, até de olhos fechados, obteria rentabilidade superior à da poupança, diz David Cohen, operador de renda fixa da instituição financeira CR2. "Hoje, com a Selic a 11,25% ao ano, o investidor começa a fazer contas levando em conta o IR e a taxa de administração dos fundos." Conforme menos tempo o dinheiro passar aplicado, menos interessante é o fundo, porque o IR cai gradativamente de 22,5% para 15% sobre o ganho em dois anos.


A taxa de administração também acaba afastando os investidores. Como a diferença entre o rendimento líquido dos fundos que seguem o CDI e o da caderneta de poupança caiu a cerca de 2% ao ano, a princípio, qualquer fundo que cobrar taxa acima de 2% ao ano, já renderia abaixo da caderneta. Em geral, portanto, como esses fundos têm variação pequena entre as estratégias de gestão, o retorno das carteiras será tanto maior quanto menor for a taxa de administração cobrada.


Apenas neste ano, até quinta-feira, dia 20, os fundos DI perderam mais de R$ 10 bilhões em saques de aplicadores, segundo dados do Fortuna. Na outra mão, até o fim de agosto, a caderneta de poupança teve R$ 6,5 bilhões em novos depósitos neste ano.


A avaliação dos 13 maiores e mais populares fundos de varejo pelo Fortuna engloba um milhão de cotistas. Segundo a consultoria, a rentabilidade média desse grupo de fundos nos 12 meses encerrados dia 19 foi de 8,36% ante 12,61% do CDI no mesmo período. Essa rentabilidade é liquida de taxa de administração, mas não de imposto de renda. Pelas estimativas do Fortuna, nos últimos 12 meses encerrados no fim de setembro, a caderneta ofereceu retorno líquido de 7,95%. no caso dos fundos, se considerada a menor alíquota de IR menor possível, de 15%, as carteiras do levantamento teriam rendido apenas 7,11% em 12 meses, até quarta-feira. "As contas mostram que pode ser menos vantagem aplicar em um fundo do que na caderneta", diz Cohen.


No entanto, o investidor deve ter em mente que o governo pode atuar novamente para reduzir a rentabilidade da caderneta. Isso já ocorreu por duas vezes neste ano e, ainda assim, a caderneta continuou apresentando ganho competitivo com os fundos. Contudo, é possível que o governo alterar novamente as regras.


Cohen lembra, porém, que a caderneta de poupança tem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) no limite até R$ 60 mil. Isso quer dizer que, se o banco em que o investidor da poupança passar por algum problema financeiro, o FGC garantirá que serão pagos até R$ 60 mil ao aplicador. No caso do fundo, não há essa garantia, mas os recursos dos aplicadores ficam segregados do patrimônio da gestora de recursos, não se misturando ao passivo da empresa em caso de crise financeira.


Além da caderneta de poupança, o relatório do Fortuna considera a possibilidade de também os investidores terem migrado, ao menos em parte, para os fundos multimercados. Neste ano, até dia 20, os multimercados receberam R$ 26,7 bilhões. Os multimercados apresentam rentabilidade bruta de 11,06% no ano, enquanto os fundos de renda fixa têm retorno de 8,59%, os DI de 8,24% e os curto prazo, de 7,57%.


Entre as carteiras que apresentam maior rentabilidade no ano estão os fundos de ações, com retorno de 28,91% até quarta-feira. Esses investimentos receberam, desde janeiro, outros R$ 16,4 bilhões em aportes novos. No total, o Fortuna aponta uma entrada de R$ 70 bilhões em todo o setor de fundos neste ano até dia 20.

Franquia une segurança e lucro

Jornal da Tarde 25/09/2007

Redes oferecem marcas consolidadas e suporte ao investidor, o que diminui o risco de falências

Fabrício de Castro, fabricio.castro@grupoestado.com.br

Cada vez mais estruturado no Brasil, o setor de franquias é uma ótima opção para o investidor que busca segurança e boas oportunidades de negócios.

Além de contar com a força de marcas já consolidadas e com experiência dos mecanismos de mercado, quem investe em uma franquia tem acesso a informações importantes para o sucesso do negócio.

Existem no País pouco mais de mil redes comerciais em operação no sistema de franquia, que reúnem cerca de 62,5 mil unidades de lojas.

Em 2006, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o faturamento do setor chegou a R$ 39,8 bilhões.

O que atrai tantos interessados ao sistema é a segurança do investimento. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostram que, em 2005, 22% das empresas de pequeno porte abertas no País fecharam no mesmo ano.

Não há dados atualizados sobre franquias, mas consultores da área garantem que o índice é bem menor. 'De cada 100 franquias que abrem as portas, duas ou três fecham já no primeiro ano de funcionamento', estima José Carmo Vieira Oliveira, consultor do Sebrae-SP.

O sucesso está ligado ao modelo de negócio. Ao comprar uma franquia, o investidor recebe treinamento, orientação para escolha do ponto comercial, apoio na administração e suporte da marca para atrair clientes.

Tudo isso, no entanto, tem um preço. O franqueado paga taxas à rede (franqueadora) e atua conforme as regras estabelecidas. Normalmente, marcas famosas cobram taxas maiores, mas também há opções com custo mais acessível.

'O que me atraiu nesta franquia foi o investimento, que era menor que o das outras que eu pesquisei', diz Maurino Damasceno Moreira, que há dez meses comanda uma unidade da Restaura Jeans na zona leste de São Paulo.

Moreira atuou na área administrativa de uma empresa por 34 anos. Quando saiu, no ano passado, chegou a fazer algumas entrevistas de emprego, mas acabou optando pelo sistema de franchising.

'Investi inicialmente R$ 64 mil e, em julho, passei a recuperar o investimento. A previsão é de que eu leve dois anos para ter todo o dinheiro de volta, mas o andamento do negócio está até acima das expectativas', comemora.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Taxa média de fundos é a maior desde 2000

FABRICIO VIEIRA
Folha de S. Paulo
24/9/2007

Apesar do nível recorde do patrimônio, tarifas de administração aumentam de 2,425% em 2004 para 2,558% em 2006

Fundo de ações é a categoria que cobra a mais alta taxa de administração dos cotistas, com uma média de 3,52% registrada em 2006

O mercado de fundos nunca teve tanto dinheiro para gerir -o patrimônio está no nível recorde de R$ 1,057 trilhão. Porém, se a oferta de produtos e a procura de investidores nunca foi tão expressiva, as taxas de administração, na média, não têm caído.
Levantamento feito pelo Centro de Finanças da FGV a pedido da Folha mostra que as taxas médias de administração cobradas pelas instituições que gerem aplicações financeiras têm até crescido nos últimos anos. De 2004 para 2006, a taxa média cobrada nos fundos de varejo foi de 2,425% para 2,558% anuais -a maior média desde 2000.
Mas, apesar de a média apontar elevação, o investidor não deve se esquecer de que há fundos que tiveram redução em suas taxas de administração nos últimos anos e outros que podem ter tido crescimento de forma mais expressiva.
Foram considerados no estudo os maiores gestores de recursos de terceiros, em uma representação de aproximadamente 80% do patrimônio líquido do mercado de fundos. Apenas fundos abertos para captação entraram na pesquisa, que abordou o período que vai de 1998 a 2006.
A taxa de administração é um valor que os cotistas de um fundo de investimento têm de pagar ao administrador da aplicação como uma forma de remunerar os gestores pelo serviço prestado. Essas taxas são fixadas livremente pelas instituições financeiras, por isso oscilam bastante, variando entre cada categoria e de uma instituição a outra. De uma forma geral, ficam entre 1% e 4%.
Por suas próprias características, os fundos de ações são os campeões de taxas cobradas. A média dessa categoria ficou em 3,520% no ano passado, ante 3,432% em 2005.
"Os fundos de ações dão mais trabalho para os gestores e carregam maiores riscos, daí suas taxas de administração costumarem ser mais elevadas", afirma William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV.
Apesar de terem subido um pouco de 2005 a 2006, as taxas de administração dos fundos de ações praticadas em anos recentes eram bem maiores. Em 2001, a média chegou a 3,907%.
Outra categoria que demanda maior trabalho e agilidade dos gestores é a de multimercados. Esses fundos têm como particularidade poder aplicar seu patrimônio em diversos segmentos, como ações, títulos que pagam juros e câmbio.
Mas as taxas de administração dos multimercados têm ficado bem abaixo das praticadas nos fundos de ações. E, entre as grandes categorias, têm aparecido como uma das que cobram as menores taxas. Em 2006, os multimercados praticavam taxa de administração média de 1,81% -a menor desde 2003.

Arquitetura dos fundos
"A taxa de administração acaba sendo um componente muito importante para o retorno do investidor, especialmente no longo prazo", avalia o administrador de investimentos Fábio Colombo.
Cada fundo de investimento, independentemente de seu tamanho ou de suas características, funciona como um clube. Vários sócios se juntam e dividem os custos, pagando uma mensalidade para ajudar a mantê-lo em funcionamento.
No caso de uma aplicação financeira, os sócios são chamados de cotistas e a mensalidade é a taxa de administração.
Os recursos que cada um deposita formam o patrimônio do fundo, a ser administrado por um gestor -especialista que decide onde é melhor reinvestir o dinheiro do cotista. O gestor se atenta ao mercado diariamente -principalmente no caso de fundos de ações- atrás das melhores oportunidades.

Número de inscritos na Expo Money já passa de 10 mil

Valor Econômico
Angelo Pavini
24/09/2007


O interesse dos investidores por orientação anda cada vez maior, como mostram os números de inscrições para a Expo Money, evento gratuito voltado para a educação financeira e que reúne gestores, corretoras e empresas abertas. A quinta edição paulista, que começa na quarta-feira e vai até sábado, já registra mais de 10 mil inscritos, superando os 8 mil participantes da edição do ano passado. "O interesse foi tão grande que tivemos de aumentar em um dia o evento e ampliar o número de palestras", diz Robert Dannenberg, presidente da TradeNetwork, empresa organizadora da Expo Money.


Neste ano, o evento em São Paulo conta com 175 palestras e 120 expositores, incluindo 14 empresas abertas. Os assuntos, lembra Dannenberg, vão desde planejamento financeiro até análise gráfica, atendendo os mais diferentes níveis de investidor, do iniciante ao mais sofisticado. Neste ano, por exemplo, o ex-engenheiro da Nasa Bo Williams falará sobre o uso da teoria do caos com fractais na análise gráfica de bolsa de valores.


A abertura do evento será feita pelo ex-diretor do Banco Central e presidente da Associação Nacional dos Investidores do Mercado (Amec), Luiz Fernando Figueiredo, que falará sobre os cenários econômicos brasileiro e internacional. Haverá a participação de outros especialistas, como William Eid Júnior, do Centro de Estudos em Finanças da FVG-SP, autores de livros de orientação, como Gustavo Cerbasi, e representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).


Nas 17 palestras promovidas pelas empresas, serão sorteados R$ 1 mil em ações de cada companhia para um dos participantes que responder a três perguntas do palestrante, com o compromisso de que o premiado não venda os papéis por três meses. Vão se apresentar Banco do Brasil, Net, Petrobras, Souza Cruz, Vale do Rio Doce, CPFL, CSN, Usiminas, Cemig, Itaú, Nossa Caixa, Embraer e as novatas Tecnisa e Positivo Informática.


www.expomoney.com.br

Mercados devem quebrar novos recordes no Brasil, diz "FT"

http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u330842.shtml

domingo, 23 de setembro de 2007

Trabalho virtual, dinheiro real

Jornal da Tarde 23/09/2007

Adeptos da internet contam como usam os recursos da informática para fazer negócios e faturar

CHARLISE MORAIS, charlise.morais@grupoestado.com.br


A forte queda dos preços de computadores e ampliação das facilidades de crédito para financiar a compra dos equipamentos têm feito com que os consumidores das classes mais baixas, com C, D e E, ingressem com força na economia digital. Mais do que adquirir um novo aparelho eletrônico, esses consumidores começam a perceber que comprar um computador não é apenas um sinal de despesa à vista, mas uma nova alternativa de fonte de renda.

Há cinco meses, o estudante Alexandre Spínola Borges, 17 anos, ganhou o seu primeiro computador. O presente custou mais de R$ 1.500 e foi presente da avó, que teve de parcelar o pagamento do equipamento. Mas, o esforço da matriarca da família fez com que o jovem Alexandre aprendesse a negociar e começar a ganhar dinheiro.

Integrante de uma banda chamada Mosh, o estudante e baixista, que mora no bairro do Tremembé, Zona Norte, utiliza a internet para fazer contatos, divulgar a banda, negociar shows e vender ingressos.

Instrumento fundamental

“Para esse ramo ter um computador ligado à internet é fundamental”, diz Borges. “Quinta-feira fechei um show numa casa noturna na Zona Leste. Se fosse antes, teria de ir até lá de ônibus e metrô, gastar tempo e dinheiro com condução. Agora é tudo mais fácil e rápido.”

Contente com a possibilidade de divulgar seu trabalho e também faturar , Borges, que tem intimidade com os recursos digitais, conta que estuda investir em outras possibilidades de trabalho pela ‘net’.

O designer Carlos Costa, 29, também enxergou essa possibilidade. Depois de trabalhar mais de sete anos em uma empresa de compra e venda pela internet - o Mercado Livre - ficou desempregado. Como já tinha computador em casa, aproveitou os recursos que o acesso à internet lhe permitia e começou a fazer trabalhos de design free lancer.

Nos últimos meses sentiu necessidade de aumentar sua renda. Lembrou do caso de um antigo usuário que montou a própria empresa para vender produtos pelo Mercado Livre e resolveu apostar nisso, comprando e vendendo produtos pela internet. “Nos dois primeiros meses consegui ganhar a quantia equivalente ao salário que tinha antes”, diz.

A sua idéia deu tão certo que ele não pensa mais em voltar ao mercado formal. “Quero ampliar meus negócios e continuar trabalhando em casa”, afirma Costa. “Com disciplina dá para ter uma boa renda.”

Para quem ainda não descobriu as vantagens que o mundo virtual oferece, Costa dá algumas dicas. “A grande dificuldade para os novos usuários é ter intimidade com os programas. Vencendo essa barreira, espaço para ganhar dinheiro com a internet não falta”, conta. “Mas é preciso ter dedicação, disciplina e saber oferecer o seu produto para o público adequado.”

Cuidados com a euforia do mercado imobiliário

O Estado de São Paulo 23/10/2007

Rodrigo Badaró de Castro*

Como em outras épocas, o mercado imobiliário no Brasil padece da mesma tensão e ansiedade experimentada nos EUA e Espanha, quando a maior onda de investimentos e negócios realizados nos últimos tempos no setor vem à tona. Este fenômeno se dá por vários motivos, entre eles, a abundância de crédito no mercado, cenário econômico mundial favorável, estabilidade da moeda, políticas governamentais de incentivo e segurança aos investidores, a que se soma ainda a demanda reprimida de moradia no Brasil.

Mas há alguns pontos jurídicos importantes que devem ser ressaltados sobre o proprietário do imóvel a ser incorporado e os clientes e investidores, considerando a Lei de Incorporações e responsabilidade pela construção. A pressão por terrenos, principalmente pela formatação de compras ou promessas por meio de dação em pagamento ou permuta, cria o risco do vendedor , pessoa jurídica ou não, de se tornar responsável também por sua incorporação e conseqüentemente sua entrega a terceiros.

Em detrimento do alto índice de parcerias hoje em andamento, envolvendo construtoras, incorporadoras, proprietário de terrenos e investidores em geral, estão sendo criadas empresas de propósito especifico (SPE) em substituição a inócua e atrofiada Lei de Afetação (10.931/04).

É importante aqui exemplificar que maioria das empresas não consegue efetivar o Patrimônio de Afetação previsto na Lei ou perdem muito tempo, diante da burocracia e falta de prática e conhecimento dos interessados, inclusive de financiadores. Nesse aspecto, lembra-se que a SPE nada mais é que uma sociedade empresarial, constituída nas modalidades existentes no ordenamento jurídico.

É ainda importante quando da constituição da referida sociedade se ater à necessidade de identificar bem seu objeto especifico sua duração, bem como, e principalmente, o papel de cada sócio ou cotista diante do desempenho e ônus empresarial de cada um nesse tipo de empenho comum. Para isso, é importante regular de forma clara e específica todos os pormenores da sociedade por meio da elaboração de um acordo de acionista ou cotista. Com isto, espera-se que os parceiros tenham segurança e tranqüilidade para reger a sociedade.

Verifica-se ainda a necessidade de se tomar cuidados quanto à elaboração de contratos para construção do empreendimento, uma vez que o Código Civil, diante das responsabilidades solidárias e subsidiárias, prevê forma de contratos que identificam bem esse liame. Um exemplo é o contrato de empreitada para fornecimento de mão-de-obra e material, nos termos do artigo 610 e seguintes do Novo Código.

E mais, evocando a triste experiência vivida no passado quanto a falências no setor de incorporação, que até hoje é motivo de dor de cabeça para vários compradores de imóveis e credores, é importante os consumidores se aterem à credibilidade e histórico de obras das empresas que hoje se lançam no mercado. O alto volume de crédito, o processo gradativo de desburocratização para empreender e incorporar e construir são elementos estimulantes a aventuras empresariais, que muitas vezes levam a um instante de sucesso econômico com grandes riscos internos e que podem a qualquer momento estourar.

*Rodrigo Badaró de Castro é advogado especialista em Direito Imobiliário e sócio do escritório Azevedo Sette Advogados
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