terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Poucas ações dão dividendo maior que a poupança


 

Valor Econômico

11/01/2011

Em dez anos, apenas quatro das quase 500 empresas listadas na bolsa de São Paulo - Telesp, Eternit, Celpe e Coelba - distribuíram lucros suficientes para superar os juros da poupança, de 6% ao ano. Em cinco anos, a lista cresce para 11 companhias, com a inclusão de várias elétricas, Comgás e Souza Cruz, mostra estudo da Economática para o Valor.

Os reis dos dividendos

Por Angelo Pavini, de São Paulo

Poucas empresas conseguiram nos últimos anos distribuir lucros suficientes para superar os juros da poupança, de 6% ao ano. Em dez anos, apenas quatro superaram esse percentual - Telesp, Eternit, Celpee Coelba, mostra estudo da Economática para o Valor. Em cinco anos, a lista aumenta para 11 empresas, com a inclusão de várias elétricas, como CPFL, além de Comgáse Souza Cruz.

O estudo considerou que o investidor tivesse comprado a ação no último dia útil do ano anterior e recebido juros sobre capital e dividendos ao longo do ano, ou seja, o conceito de caixa. A partir daí, foi calculado quanto o valor representava em relação ao valor da ação, ou seja, o retorno em dividendos, ou "dividend yield".

O estudo pegou apenas ações presentes na bolsa em todos os anos e que tenham pelo menos um negócio em dezembro de cada ano. Mesmo assim, muitas ainda apresentam pouca liquidez, como os casos de Celpe e Coelba nos últimos dez anos. Em cinco anos, apenas sete empresas apresentam liquidez acima de R$ 1 milhão por dia. "E não adianta ter uma ação que paga um bom dividendo e não se consegue negociá-la no mercado", diz Einar Rivero, da Economática.

Mesmo com retorno alto na distribuição dos lucros, nem sempre esses papéis são um bom negócio para o investidor. É preciso olhar também para o retorno total dos papéis, uma vez que de nada adianta um alto dividendo se o preço da ação despenca. É o caso, por exemplo, de Telesp, que apesar de todo o dividendo, fechou o período de cinco anos com um retorno total de 50,5%, abaixo dos 107% do Ibovespa, por conta de uma queda de 12,3% em seu preço de mercado no período. Já em dez anos, o retorno total da telefônica é de 428%, apesar de o papel ter subido menos que o Ibovespa, 52,3%, para 354,2% do indicador.

Em outros papéis, o investidor que olha apenas a valorização pode também ter uma visão equivocada, de que perdeu dinheiro. Caso de Eternit, por exemplo, cujo preço da ação subiu 290,6% em dez anos, abaixo dos 354,2% do Ibovespa. Mas quando se junta o valor dos dividendos, o retorno total sobe para 1.630,3% no período. "O investidor às vezes esquece que colocou os dividendos no bolso", diz Rivero.

Este ano promete ser mais de ganhos com a valorização das ações do que com a distribuição de lucros, dizem analistas. Mas, mesmo assim, os dividendos não devem ser desprezados, lembra Maurício Ceará, estrategista para pessoa física da corretora do Santander. "Sempre recomendamos uma parcela da carteira em dividendos, como diversificação, pois elas são mais estáveis", afirma.

E há oportunidades de ganhos extras em algumas empresas fora da lista tradicional, caso da CSN, que deve distribuir mais lucro este ano para ajudar o acionista a pagar uma aquisição de ações. Ou da Light, que passará a receber pelo fornecimento de luz nas favelas cariocas retomadas, como no Complexo do Alemão, onde junto com a lei e a ordem devem chegar as contas de luz. Há ainda a AmBev, que este ano tende a se endividar um pouco para ajustar sua estrutura de capital, e deve sobrar mais dinheiro para os acionistas.

Mesmo que a empresa não distribua os dividendos, eles acabam indo para o bolso do acionista, uma vez que são incorporado ao preço da ação, lembra Walter Mendes, sócio da gestora independente de recursos CultInvest. Ao reinvestir o lucro, acabam por valorizar a companhia e seus papéis. Já as empresas que pagam mais dividendos não precisam investir tanto e, por isso têm sobra de caixa. "Para saber se uma é melhor que outra é preciso analisar o retorno total, contando a variação do papel", diz.

Os bons pagadores de dividendos costumam brilhar quando a bolsa está em baixa, lembra Mendes. "Num momento ruim, essas empresas têm a vantagem de manter um ganho constante ao investidor", diz. Foi o caso do segundo semestre de 2008, quando a bolsa despencou, e os fundos de dividendos caíram bem menos. Mas se a bolsa tem perspectiva de alta, a vantagem do dividendo diminui, pois o ganho de capital é maior.

Neste ano, por exemplo, Mendes espera uma recuperação do Índice Bovespa, depois da parada no ano passado. A Petrobras, que foi a grande pedra no sapato do índice, deve andar um pouco mais, com o preço do petróleo subindo e o anúncio de novas reservas e melhora na produção. E o receio de uma disparada dos juros por conta da inflação não deve se confirmar, avalia Mendes. Ele espera que o Ibovespa suba este ano o que não subiu em 2010, entre 15% e 20%.

Mendes respeita os fãs dos dividendos. "Mas no Brasil, onde há esse potencial de novos consumidores, crescimento e consolidação de setores, o espaço para ganhar com o valor das ações é muito maior do que ficar olhando para renda", diz. Para ele, hoje, as viúvas que ficavam apostando em dividendos no passado estão mais atrás de valorização das ações. "Nossas viúvas estão mais para Warren Buffett", diz.

A estratégia de dividendos não é a preferida no momento pela corretora do Itaú BBA, diz a estrategista Cida Souza. Segundo ela, neste momento, há maior chance de ganhos com a alta dos papéis por conta do crescimento econômico. A corretora estima uma alta de 20% para o Índice Bovespa, para 87 mil pontos. "Mas vemos alto potencial em dividendos em alguns papéis."

Já Ceará, do Santander, recomenda que, na hora da escolha, o investidor não deve olhar apenas para o passado. "É preciso ver a regularidade dos pagamentos, se não foi apenas um evento isolado, extraordinário, que aumentou o lucro e distorceu a série histórica", lembra. O estudo da Economática, com análise ano a ano, elimina essa distorção.

Além disso, o investidor precisa olhar se a empresa não está sofrendo alguma mudança importante, como é o caso da Telesp este ano, incorporando a Vivo. Outras, como Eternit ou Souza Cruz, apesar de lucrativas, enfrentam polêmicas em torno de sua área de atuação - o uso do amianto na primeira e o combate ao fumo na segunda. Ou casos em que o papel já subiu demais de preço. "É preciso reavaliar as empresas de tempos em tempos, para ver se não há algum problema", diz.

A alta dos juros neste ano também pode reduzir um pouco a atratividade dos dividendos, lembra Ceará. Mas a vantagem de não pagar imposto de renda para pessoas físicas ainda pesa a favor do dividendo.

Brasileiro se endivida mais no início do mês

O Estado de São Paulo

11/01/2011

Dados do Banco Central mostram que o início de mês é o período em que os brasileiros mais ficam no vermelho, informa o repórter Fernando Nakagawa. Entre os dias 1º e 10, a entrada no limite do cheque especial é em média 26,1% maior que no restante do mês. Já o uso do crédito rotativo oferecido pelos cartões de crédito é 59,8% maior entre os dias 5 e 15.

Endividado tenta se equilibrar entre especial e rotativo

Brasileiro usa saldo do salário na conta corrente para entrar no limite do cheque especial e depois pula para o cartão de crédito

Fernando Nakagawa, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Começo do mês é tempo de receber salário. A alegria, porém, dura pouco: contas chegam, o dinheiro sai e, em muitos casos, a conta fica no vermelho muito rapidamente. Dados do Banco Central mostram que, mesmo com o pagamento do salário, o início do mês é o período em que os brasileiros mais usam o limite da conta corrente e o crédito rotativo do cartão de crédito.

A entrada no cheque especial se concentra entre os dias 1.º e 10, quando a média é 26,1% maior que no restante do mês. No cartão de crédito , o uso do rotativo é 59,8% maior entre os dias 5 e 15.

Levantamento do Estado que comparou a tomada de crédito em todos os dias úteis de 2009 revela que essas linhas de crédito estão sendo maciçamente usadas logo após o depósito do salário.

A situação é considerada preocupante por economistas porque indica que muitos consumidores contam com o limite da conta e o pagamento mínimo do cartão para fechar o mês e assim, pendurados no crédito, esperar até o próximo salário.

Na média, brasileiros entram diariamente no cheque especial em R$ 1,12 bilhão nos 10 primeiros dias do mês. No decorrer do mês, o dia 10 - tradicional data de pagamento de salários - é que concentra o maior uso do limite: R$ 1,48 bilhão. O valor é exatamente o dobro da data em que o crédito é menos usado, 24, cuja média é de R$ 737 milhões.

No cartão, a concentração é um pouco adiante: entre 5 e 15. Nesse período, operações como o uso do rotativo e o saque emergencial somam média diária de R$ 836,6 milhões. O valor é quase 60% maior que o visto no restante do mês. O ápice é no dia 12, quando a média atinge R$ 1,05 bilhão. O valor é quatro vezes maior que o movimento do dia 24, o menor valor do mês: R$ 274,8 milhões. Curiosamente, o menor uso do cheque especial e do rotativo do cartão acontecem no mesmo dia 24 de todo mês.

Bola de neve. "O comportamento é preocupante porque revela um estilo de vida em que as pessoas precisam se endividar para sempre. São consumidores que têm confiança de que receberão o salário no próximo mês e, por isso, tomam esses empréstimos sistematicamente logo após receber o salário", diz o professor de finanças do Insper, Ricardo José de Almeida.

Na teoria, consumidores concentram o vencimento das contas em datas próximas ao salário para que haja "casamento" entre receitas e despesas. Mas, na prática, é bem diferente. Juntas, as despesas correntes somam valor maior que a renda e, por isso, é preciso recorrer sempre ao cheque especial mesmo com o salário recém depositado.

Logo depois, o problema cresce porque chega o extrato do cartão com todas as compras do mês anterior. E, como a conta já está no vermelho, o jeito é pagar o mínimo e usar o rotativo.

Ou seja, as datas podem até coincidir, mas isso não resolve a situação porque são os valores que estão sempre descasados.

"Muitos clientes encararam com normalidade usar o cheque especial e pagar o mínimo do cartão todo mês. Isso não é adequado porque se houver qualquer imprevisto ou ele for demitido vira uma bola de neve", diz o superintendente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Marcel Solimeo.

Alto custo. Mesmo que não haja os imprevistos e o consumidor continue empregado, essa operação tem um custo, lembra Solimeo. O cheque especial é a segunda linha de crédito mais cara oferecida pelos bancos: juro médio de 163,6% ao ano.

No cartão de crédito é ainda pior: 238,3% anuais, simplesmente a mais cara operação de empréstimo do sistema financeiro. "O problema mora aí. Como usam todo mês e essas operações têm os maiores juros do País, a conta vai se acumulando e pode ficar inviável continuar tocando a vida com o cheque especial e o cartão", alerta o professor do Insper.

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