segunda-feira, 7 de julho de 2008

Planejador financeiro ganha espaço com expansão de milionários no país

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
07/07/2008



Marisa Cauduro/Valor

O consultor Fabiano Calil foi um dos primeiros a obter o título de CFP e só contrata profissionais com a certificação
Quando conquistou o título de planejador financeiro pessoal (CFP, na sigla em inglês), Fabiano Calil evitava divulgar o fato a seus clientes. "Confundia mais do que explicava", diz o profissional dono de uma consultoria que leva seu nome. Em 2003, ele fez parte da primeira turma a obter o título no país, concedido pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). Atualmente, a sigla está em seu cartão de visitas e Calil só contrata profissionais que tenham a certificação para se juntarem a ele na empresa . "Hoje, há pessoas mais preocupadas com suas próprias finanças e o CFP já é reconhecido como selo que dá garantia ao cliente de que se trata de um profissional idôneo e competente".


A procura por planejadores financeiros tem crescido na onda da expansão do número de milionários no país. O Boston Consulting Group apontava um total de 190 mil brasileiros com mais de US$ 1 milhão em 2007. Segundo estimativa do Barclays, serão 675 mil os milionários no país em 2017. "Essas pessoas buscam um aconselhamento crítico sobre suas finanças pessoais, que não é o olhar de um sócio ou esposa", comenta Calil.


O certificado não é obrigatório para o exercício da profissão, mas é uma distinção que atesta ao profissional sua capacidade de atender a certos critérios, afirma Giuliano DeMarchi, diretor do IBCPF. O CFP existe em 23 países, por onde se espalham 110 mil profissionais. Inicialmente, foram as áreas de private dos bancos brasileiros as primeiras a exigir de seus funcionários a certificação, atestando a eles a possibilidade de lidarem com toda a vida financeira do cliente.


É nos bancos, portanto, que estão mais de dois terços dos 255 profissionais já certificados. Para conquistar o direito às siglas, é preciso comprovar experiência com as finanças de pessoas físicas, lidando com questões tributárias, de planejamento sucessório, previdência, em controles de risco e ético. Planejador financeiro, portanto, não é um profissional só ligado a investimentos.


Duas empresas que oferecem cursos específicos para capacitar os profissionais ao exame do CFP: FK Partners e BankRisk. Os seis exames já aplicados, porém, são guardados a sete chaves e não há, portanto, como um concorrente ter noção clara sobre o teor das provas. Os critérios são rígidos e não há idéia de se abrandar para expandir rapidamente o número de certificados, diz DeMarchi.


Cerca de 35% dos concorrentes apenas são aprovados em cada edição do exame. A divulgação dos reprovados não é pública, mas os profissionais podem ser aprovados parcialmente e, em seguida, testar-se novamente só nas especificações em que foi reprovado. Além dos cursos específicos para a conquista do CFP, crescem também aqueles que não têm o título como finalidade específica, mas formam os planejadores.






Em agosto, começa a segunda turma do MBA de "advisor" em finanças pessoais da Fipecafi, que tem inscrições abertas. Alexandre Assaf Neto, CFP e professor do MBA da Fipecafi, conta que criou um curso similar há cinco anos, mas o mercado ainda não entendia a nova profissão. Agora, o curso tem intensa procura, principalmente por profissionais mais experientes, que buscam diferenciação. "Está mais fácil para o cliente deles entender a especialização."


O diretor do IBCPF não tem dúvidas de que o mercado de planejadores financeiros está em franca expansão. "Há alguns anos, poucos sabiam o que era um 'family office'. Hoje eles estão difundidos entre as pessoas de maior renda", destaca DeMarchi. "E, no futuro, esse não será um serviço só acessível aos milionários", completa. Os private banks foram os grandes responsáveis por difundir a importância do CFP no mercado, diz Calil, de 35 anos. "Hoje, quando os clientes me conhecem, sabem que não sou um 'ninguém'".


Os CFPs ainda estão concentrados no Rio e em São Paulo. Mas já há profissionais certificados nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Do total, mais de 60% têm formação além da graduação.


O maior desafio do CFP ainda é cobrar pelos seus serviços, principalmente quando dissociado do pacote de benefícios de um private bank. "Nos EUA, as pessoas já procuram o CFP e pagam o valor mais justo", explica Fernando Pureza, à frente da área de formação dos profissionais da Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid). A Anbid é entidade sócia e patrocinadora do IBCPF.


A receita do planejador é originada basicamente de duas formas. A primeira por taxa fixa, combinada entre profissional ou instituição que oferece o serviço e o cliente. A segunda, por uma taxa sobre o patrimônio total administrado. "Independentemente de como a cobrança é feita, acredito ser importante que haja transparência sobre como o profissional é remunerado", diz DeMarchi.


Calil cobra R$ 1.070, pela sua hora de consultoria, em casos rápidos, ou negocia percentuais anais com seus clientes, conforme o patrimônio, não sendo essa taxa, porém, inferior a R$ 2 mil. "Já consigo pagar as contas do meu escritório muito bem", diz.


Caio Fragata Torralvo, CFP mais jovem, diz ainda que não sobrevive apenas da consultoria que presta. Aos 28 anos, ele cursa um mestrado e também dá aulas na FIA, além de escrever livros e dar palestras sobre finanças pessoais. Ele conta que já foi contratado por empresas para falar aos seus funcionários sobre o tema. "As pessoas já entendem que manter as finanças em ordem melhora o desempenho profissional", diz.


No futuro, procurar um planejador financeiro pode ser como consultar um advogado, quando se precisa de assessoria legal; um médico, quando se está doente; um psicólogo, quando necessário; ou um personal trainer para melhorar a saúde, prevê DeMarchi, do IBCPF.


Uma proteção para o cliente e motivo de temor para os profissionais é o fato de IBCPF ser uma entidade que atende e apura reclamações de clientes contra os CFPs. "Se houver indício de transgressão, apuração e punição são feitas pela entidade e tornadas públicas a todos", diz Pureza.


A última prova para obtenção do CFP foi aplicada no dia 22 e contou com 160 concorrentes. Os aprovados no teste iniciarão o processo de certificação ainda neste mês, para serem graduados em setembro. Depois de receber o CFP, porém, o planejador tem de se manter atualizado e freqüentar palestras, eventos e escrever artigos, que lhe concedem créditos necessários para manter o título.


Dessa forma, assegura-se a educação continuada e a freqüente atualização do profissional, explica Pureza. Como muitos privates já certificaram seus profissionais que lidam com os clientes, nas últimas provas foram percebidos mais concorrentes de "family offices", advogados e consultores independentes.

domingo, 6 de julho de 2008

Agora que a inflação voltou, o que faço com o dinheiro?

Jornal da Tarde
06/07/2008


Ouvimos especialistas para saber que comportamento adotar em decisões como comprar ou não um produto ou qual aplicação escolher em um momento em que os preços voltam a assustar. Uma coisa é certa: muita calma nessa hora

Rodrigo Gallo, rodrigo.gallo@grupoestado.com.br


Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha negado ao longo desta semana, uma coisa é certa: a inflação voltou a assustar os brasileiros. Em meio à alta no preço dos alimentos e previsões de que a taxa de juros básica da economia, a Selic, pode subir ainda mais (está em 12,25% ao ano), muitos consumidores ficam sem saber como agir. Segundo especialistas consultados pelo Jornal da Tarde, esse é um momento para ter cautela e, se possível, segurar o dinheiro. Se for preciso comprar algum bem de consumo, a orientação é fugir do financiamento bancário a todo custo.

Na última terça-feira, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou uma pesquisa apontando que a cesta básica em São Paulo ficou 30,83% mais cara nos últimos 12 meses, pressionada sobretudo pela alta de itens como feijão, batata e carne.

Segundo o economista Marcos Crivelaro, uma das alternativas para evitar os custos altos do supermercado é estocar comida em casa, sem exageros para evitar que a data de validade expire e o alimento seja desperdiçado. “Uma recomendação é fazer um estoque de itens que não precisam ser refrigerados, como óleo e feijão. Porém, deve-se visitar em média três supermercados e comprar somente os produtos que estiverem em promoção em cada um deles”, afirmou. “É um trabalho que exige paciência, mas, nesse momento, o consumidor não pode comer o que quiser, mas sim o que está mais barato.”

No entanto, não é apenas nas prateleiras que a inflação preocupa os brasileiros. Muitas pessoas que se preparavam para trocar de carro ou comprar uma televisão nova, por exemplo, também devem analisar a situação com cautela. Com a alta dos custos, os bancos podem reajustar as taxas de juros, enquanto o varejo também pode corrigir o preço dos produtos.

Sendo assim, o ideal é fugir dos crediários e dos financiamentos. “Esse é um momento de cautela e, com os juros subindo, qualquer compra a prazo, como o financiamento de um veículo ou de um bem de consumo, pode pesar muito no bolso do consumidor e levá-lo à inadimplência”, alertou Fátima Lemos, técnica do Procon de São Paulo. “Sendo assim, o melhor é não gastar agora.”

A opinião é semelhante à de Crivelaro. O economista também defende que, com a possibilidade de inflação alta nos próximos meses, o melhor a se fazer é adiar qualquer compra mais cara.

Contudo, ele faz uma ponderação importante. Crivelaro acredita que, caso a pessoa tenha dinheiro para efetuar o pagamento à vista, o momento pode ser oportuno para ir às compras. “Sem dúvida, um financiamento não é recomendável. Mas as lojas, principalmente de automóveis, precisam desovar estoques e estão abertas a conceder bons descontos para quem paga no ato”, disse. “Com um bom planejamento e pesquisa criteriosa, há alternativas muito interessantes para fazer um bom negócio.”

Crédito imobiliário

Se o consumidor já estava preparado para dar entrada no financiamento da casa própria, o matemático financeiro José Dutra Sobrinho argumenta que ele deve dar prosseguimento a seus planos. “A inflação tem crescido muito, principalmente no setor de alimentação, mas também existe uma pressão na economia, de forma geral. Os juros de financiamentos também estão subindo, mas é pouco. Então, ninguém precisa se preocupar neste momento”, disse.

O Banco Central pode adotar uma política de manter os aumentos na Selic. O índice incide diretamente na Taxa Referencial (TR), que é utilizada para corrigir as prestações do crédito imobiliário. Contudo, ele acredita que essa alta não deve afetar tanto assim as parcelas.

A grande preocupação, explica o matemático financeiro, é que a inflação pode disparar o crescimento geral no custo de vida das pessoas, encarecendo diversos setores, como alimentação, vestuário, varejo e educação. Caso isso realmente ocorra com tanta ênfase, uma pessoa que pague financiamento da casa e do carro, por exemplo, pode ter complicações para pagar todas essas dívidas
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