domingo, 6 de julho de 2008

Agora que a inflação voltou, o que faço com o dinheiro?

Jornal da Tarde
06/07/2008


Ouvimos especialistas para saber que comportamento adotar em decisões como comprar ou não um produto ou qual aplicação escolher em um momento em que os preços voltam a assustar. Uma coisa é certa: muita calma nessa hora

Rodrigo Gallo, rodrigo.gallo@grupoestado.com.br


Embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha negado ao longo desta semana, uma coisa é certa: a inflação voltou a assustar os brasileiros. Em meio à alta no preço dos alimentos e previsões de que a taxa de juros básica da economia, a Selic, pode subir ainda mais (está em 12,25% ao ano), muitos consumidores ficam sem saber como agir. Segundo especialistas consultados pelo Jornal da Tarde, esse é um momento para ter cautela e, se possível, segurar o dinheiro. Se for preciso comprar algum bem de consumo, a orientação é fugir do financiamento bancário a todo custo.

Na última terça-feira, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou uma pesquisa apontando que a cesta básica em São Paulo ficou 30,83% mais cara nos últimos 12 meses, pressionada sobretudo pela alta de itens como feijão, batata e carne.

Segundo o economista Marcos Crivelaro, uma das alternativas para evitar os custos altos do supermercado é estocar comida em casa, sem exageros para evitar que a data de validade expire e o alimento seja desperdiçado. “Uma recomendação é fazer um estoque de itens que não precisam ser refrigerados, como óleo e feijão. Porém, deve-se visitar em média três supermercados e comprar somente os produtos que estiverem em promoção em cada um deles”, afirmou. “É um trabalho que exige paciência, mas, nesse momento, o consumidor não pode comer o que quiser, mas sim o que está mais barato.”

No entanto, não é apenas nas prateleiras que a inflação preocupa os brasileiros. Muitas pessoas que se preparavam para trocar de carro ou comprar uma televisão nova, por exemplo, também devem analisar a situação com cautela. Com a alta dos custos, os bancos podem reajustar as taxas de juros, enquanto o varejo também pode corrigir o preço dos produtos.

Sendo assim, o ideal é fugir dos crediários e dos financiamentos. “Esse é um momento de cautela e, com os juros subindo, qualquer compra a prazo, como o financiamento de um veículo ou de um bem de consumo, pode pesar muito no bolso do consumidor e levá-lo à inadimplência”, alertou Fátima Lemos, técnica do Procon de São Paulo. “Sendo assim, o melhor é não gastar agora.”

A opinião é semelhante à de Crivelaro. O economista também defende que, com a possibilidade de inflação alta nos próximos meses, o melhor a se fazer é adiar qualquer compra mais cara.

Contudo, ele faz uma ponderação importante. Crivelaro acredita que, caso a pessoa tenha dinheiro para efetuar o pagamento à vista, o momento pode ser oportuno para ir às compras. “Sem dúvida, um financiamento não é recomendável. Mas as lojas, principalmente de automóveis, precisam desovar estoques e estão abertas a conceder bons descontos para quem paga no ato”, disse. “Com um bom planejamento e pesquisa criteriosa, há alternativas muito interessantes para fazer um bom negócio.”

Crédito imobiliário

Se o consumidor já estava preparado para dar entrada no financiamento da casa própria, o matemático financeiro José Dutra Sobrinho argumenta que ele deve dar prosseguimento a seus planos. “A inflação tem crescido muito, principalmente no setor de alimentação, mas também existe uma pressão na economia, de forma geral. Os juros de financiamentos também estão subindo, mas é pouco. Então, ninguém precisa se preocupar neste momento”, disse.

O Banco Central pode adotar uma política de manter os aumentos na Selic. O índice incide diretamente na Taxa Referencial (TR), que é utilizada para corrigir as prestações do crédito imobiliário. Contudo, ele acredita que essa alta não deve afetar tanto assim as parcelas.

A grande preocupação, explica o matemático financeiro, é que a inflação pode disparar o crescimento geral no custo de vida das pessoas, encarecendo diversos setores, como alimentação, vestuário, varejo e educação. Caso isso realmente ocorra com tanta ênfase, uma pessoa que pague financiamento da casa e do carro, por exemplo, pode ter complicações para pagar todas essas dívidas

Nenhum comentário:

Locations of visitors to this page