quinta-feira, 13 de maio de 2010

Juro dá gás ao CDB

Valor Econômico

13/05/2010

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo

O juro para cima trouxe de volta a atratividade dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), especialmente os pós-fixados, que seguem a variação do CDI. Esses papéis emitidos por bancos já começam a recuperar espaço na carteira dos investidores. Depois de meses de captação fraca, ou até resgates, abril marcou a retomada das emissões de CDBs, com um total de R$ 8 bilhões. No acumulado do ano até março, o saldo da aplicação estava negativo em R$ 2 bilhões. Em 2009, os resgates superaram as emissões em R$ 6,9 bilhões.

Estimativas feitas pelo Santander para o segmento de CDBs voltados para a pessoa física, com base em dados de mercado, mostram que também houve quebra de tendência, com a volta do apetite pela aplicação. No acumulado do primeiro trimestre, segundo levantamento do banco, o saldo estava negativo em R$ 5,7 bilhões. Já em abril, o investidor individual aplicou cerca de R$ 300 milhões, líquidos, em CDBs. "A procura maior da pessoa física pelo CDB está ligada mais à elevação da taxa Selic e ao ciclo que se inicia de aperto monetário do que a um adicional pago pelos bancos", explica o superintendente executivo de investimentos do Santander, Edson Franco.


 

Mas ele reconhece que houve uma melhora dos prêmios pagos aos investidores. Contudo, na opinião de Franco, o movimento de alta nas taxas é uma acomodação natural à concorrência, especialmente nos papéis escalonados, em que as taxas aumentam quanto maior o prazo. "Percebemos um ajuste em CDBs de alguns participantes que estavam pagando menos do que a média."

O Itaú anunciou na semana passada que passará a pagar juros retroativos no seu CDB escalonado. Até então, a taxa mais alta obtida após determinado prazo só valia para o período posterior, enquanto os concorrentes garantiam ao investidor a taxa mais alta para todo o período da aplicação.

Aumentos significativos de taxas, segundo Franco, têm ocorrido no atacado, ou seja, para investidores institucionais como fundações e fundos de investimento. Essa também é a leitura do executivo-sênior de gestão de patrimônio do HSBC, Gilberto Poso. Segundo ele, os bancos estão com caixa cheio e, portanto, não há porque pagarem mais, especialmente para a pessoa física. Ele lembra ainda que essas taxas são negociadas individualmente, dependem do relacionamento que o investidor tem com o banco e do volume a ser aplicado.

Nos CDBs sem liquidez - em que o resgate ocorre só no vencimento - ou nos escalonados, pode ter havido uma melhora, já que os bancos têm interesse em alongar e tornar mais estável essa fonte de recursos, acrescenta Poso. E essas são alternativas que também atraem investidores institucionais. "Na crise de 2008, ninguém queria abrir mão de liquidez", diz. "Hoje fundos de pensão e de investimentos aproveitam as melhores condições dos papéis sem liquidez."

Também gestores de fortunas vêm sendo abordados com ofertas mais atrativas de CDBs. Hoje, é possível encontrar papéis emitidos por instituições de primeira linha a 105% do CDI, mas para prazos de dois anos, sem liquidez, e lotes mínimos de aplicação acima de R$ 1 milhão, afirma o diretor de investimentos da Orey Financial, Carlo Moratelli.

Na visão dele, os bancos vão precisar captar para financiar as empresas que necessitam de recursos para investir, especialmente agora com a perspectiva de acesso menor ao crédito externo devido à crise na Europa. A economia brasileira está em pleno crescimento, com direito à revisão da expectativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para até 7% neste ano. O Banco Central (BC) também já retirou da economia cerca de R$ 70 bilhões no fim de fevereiro com a reversão das medidas de flexibilização do recolhimento dos compulsórios pelos bancos adotadas na crise. E há muito CDB vencendo.

Outro fator que estimula os bancos a melhorar suas taxas, segundo Moratelli, é a maior concorrência no mercado de renda fixa. "Há mais opções de investimento em crédito privado, e com isenção de imposto de renda para pessoa física", diz. Ele cita os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), as letras de crédito imobiliário (LCIs) e hipotecárias (LHs), além de letras de crédito do agronegócio (LCA), todos papéis atrelados a segmentos específicos.

Também não dá para ignorar o fato de que o CDB, dependendo da qualidade do emissor, é visto como um porto seguro em momentos de turbulência. Segundo Poso, do HSBC, mesmo que a taxa esteja longe das máximas, as demais aplicações, como multimercados e ações, não vêm com performance espetacular, o que estimula o investidor a migrar para opções atreladas aos juros, como o CDB. Ele lembra que o mesmo ocorreu nos primeiros meses de 2009, ainda marcados pelo rescaldo da crise.

"Naquele período, formou-se um estoque grande de CDBs que foi se reduzindo ao longo do ano passado e início deste ano com o desempenho melhor das demais aplicações", explica o executivo do HSBC. No último mês, o que se vê é um reequilíbrio das aplicações. Uma parcela dos investidores pode estar voltando para os CDBs, por conta de um sentimento de apreensão deflagrado pela crise europeia.

Quando o investidor tem confiança na instituição, o CDB sempre é uma alternativa interessante de investimento, afirma Poso. "Trata-se de uma aplicação simples, que pode ter liquidez imediata e seguir a taxa de juros", diz. Na contramão, segundo Poso, o CDB não é uma opção que permite significativa diversificação.

O sócio da Modal Asset Management Alexandre Póvoa destaca como vantagens do CDB em relação aos fundos diferenças na marcação a mercado e de tributação. Nos papéis de bancos, a marcação a preço de mercado perde relevância para o investidor individual, uma vez que ele tende a carregar o papel até o vencimento. Na questão tributária, enquanto nos fundos o come-cotas é semestral, no CDB o recolhimento do imposto só ocorre no resgate.

Moratelli, da Orey, acredita que para parcela de recursos que pode ficar travada, sem liquidez, o CDB é uma boa opção, especialmente se o investidor conseguir uma taxa acima do CDI. "No final das contas, o investidor quer retorno", afirma. Ele recomenda, porém, manter recursos em caixa para as oportunidades que devem surgir com os mercados turbulentos, como aconteceu na semana passada.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Imóvel também para investir

 


 

  

Jornal da Tarde

10/05/2010

Expansão e valorização do mercado imobiliário tornam mais atrativas as aplicações no setor

PAULO DARCIE, paulo.darcie@grupoestado.com.br


 

Com o setor aquecido, a compra de imóveis residenciais para investimento aparece como uma opção segura e atrativa para quem teme as incertezas do mercado financeiro e planeja lucrar no médio e longo prazos. Apesar de exigir valores altos, a aplicação tem se tornado mais viável com o aumento da oferta de crédito e a facilidade de negociação.

O momento favorável do mercado é reflexo não só das boas condições para a obtenção de financiamento imobiliário, como do aumento da renda do trabalhador. Aliado a isso, a forte demanda por imóveis na capital fez com que os preços subissem nos últimos anos. Números da administradora de imóveis Lello mostram que, em janeiro e fevereiro de 2010, o valor médio dos usados negociados em São Paulo foi de R$ 300 mil, 50% maior do que no primeiro bimestre do ano passado. Já o valor do aluguel, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi-SP), estava 10,02% mais caro em março do que um ano atrás.

A lucratividade, quando se trata de aluguel, se dá, além do retorno mensal, pela valorização do imóvel. Bons contratos rendem, em média, 0,7% ao mês do preço total do bem, podendo chegar a 1% em alguns casos. Esses porcentuais podem ser mais atrativos do que a poupança, com 0,5% mais TR, ou alguns fundos de renda fixa. Nesse patamar, o total investido é recuperado entre oito e dez anos. "Ainda tem a valorização do ativo", diz José Viana Neto, do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-SP).

Um apartamento em andar alto pode custar até 10% mais do que em um andar baixo. A diferença pode ser crucial na hora de arcar com os custos da documentação. Caso o objetivo seja a locação, o preço do aluguel também tende a aumentar nessa proporção. Discrepâncias maiores, dizem corretores, dificultam a locação.

Ao comprar o imóvel na planta, a rentabilidade depende de como será feito o pagamento e de quanto ele pode valorizar depois de pronto. Segundo Viana Neto, a tendência é de que os investidores evitem custos com financiamento. De acordo com diretor de relações com o investidor da construtora Eztec, Emílio Fugazza, apesar de haver planos prevendo o parcelamento de 25% a 30% do valor total do apartamento até a entrega, o planejamento preferido tem sido pela quitação até fim da construção. "É interessante para a incorporadora ter o dinheiro o quanto antes, por isso dá para negociar descontos", afirma, acrescentando que é a partir dos abatimentos que as margens na hora de vender o apartamento pronto aumentam. Um bom desconto leva em conta quanto a diferença entre o preço original e o reduzido poderia render em uma aplicação financeira no tempo em que o prédio demora para ficar pronto, geralmente entre dois e três anos. Na capital, imóveis em regiões com boa infraestrutura comercial, próximos a estações do metrô e shopping centers têm grande potencial de valorização.

O vice-presidente do Secovi, Flávio Prando, cita os consagrados bairros de Jardins, Pompeia e Vila Madalena, além de regiões como Vila Carrão, Pirituba e Campo Limpo como promissores. A procura é maior para apartamentos de dois e de um dormitório. "Dificilmente ficam vagos mais de um mês ou não têm interessados em comprar."

domingo, 9 de maio de 2010

Muito cuidado com a guerra das corretoras

Correio Brasiliense

09/05/2010

Com o forte interesse das pessoas físicas em aplicar em ações, as instituições oferecem facilidades que, muitas vezes, podem sair caro

  • Vera Batista

    De olho no interesse cada vez maior dos investidores pelo mercado de ações, as corretoras de valores — únicas instituições autorizadas a operar direto no pregão da Bolsa de Valores — declararam guerra entre si na disputa pela clientela. E essa briga tem se concentrado na parte mais sensível do ser humano: o bolso. Vale tudo. O preço da corretagem (taxa cobrada quando se executa uma ordem de compra ou de venda) chega quase a zero.
    Antes de pequeno porte, muitas corretoras, em pouco tempo, tornaram-se gigantes e estão liderando o ranking da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Elas abriram filiais nas principais capitais do país. Proliferaram os agentes autônomos, contratados aos montes para atender os clientes mais de perto, nos ponto mais remotos do Brasil. Mas que fique bem claro: em algumas situações, o barato pode sair caro.
    Além dos tradicionais riscos do mercado acionário, do sobre e desce dos preços dos papéis, as instituições, muitas vezes, avançam todos os sinais para cumprir a promessa de lucro. E são justamente as que mais cresceram nos últimos anos as campeãs em reclamações na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula e fiscaliza o mercado de capitais brasileiro.
    Compromisso
    Basta uma rápida pesquisa para se ter uma ideia de como está sendo facilitada a entrada de poupadores inexperientes na bolsa. O mercado oferece de tudo — até pacotes pré-pagos de corretagem. Mas é aí que mora o perigo. Facilidade demais sempre é sinônimo de prejuízo. A oferta de serviço pode não ser acompanhada de um profissional capacitado para explicar os meandros da bolsa e deixar claros todos os perigos que envolvem investimentos de renda variável. Em períodos de crise, como o atual, em que problemas na Grécia estão provocando terremotos mundo afora, um bom consultor faz a diferença.
    Esse alerta vale, sobretudo, quando o negócio é fechado por meio de agentes autônomos, pois, muitas vezes, eles estão mais interessados em garantir os ganhos das corretoras para as quais trabalham do que para os clientes. Por isso, a CVM decidiu apertar o cerco em torno desses profissionais. Uma discussão pública foi aberta e as sugestões recebidas garantirão regras mais rígidas.
    “O que se percebeu foi que o agente autônomo, quando distante da Bolsa de Valores, age como se fosse dono do cliente. Ou seja, decide por ele. Mas o agente tem a função de distribuir produtos. Não está habilitado e não pode administrar carteira de ações, devido ao conflito de interesses”, alerta Otávio Yazbek, diretor da CVM(1).
    Para ele, ao agir fora dos padrões, os agentes acabam incorrendo em conflito de interesse, com a corda sempre arrebentando do lado mais fraco, o do investidor. “Por isso, estamos exigindo compromisso de todos, das corretoras e dos autônomos. Queremos que as instituições treinem e controlem seus contratados. Às vezes, quando acontece um problema, o cliente não sabe a quem responsabilizar. Fica um jogo de empurra entre a instituição e o agente”, complementa.
    Proteção
    A fiscalização dos autônomos é simples, garante Yazbek: basta que as corretoras comecem a observar o perfil de cada um de seus clientes, se um jovem, um aposentado, um juiz e um jogador de futebol. Com certeza, nenhum deles atuará da mesma forma. Na visão do diretor da CVM, se todos têm carteiras de ações semelhantes, algo está errado. Segundo Yazbek, a partir do momento em que a CVM editar as novas normas para os agentes autônomos, é possível que aumente o custo de operação para as corretoras. Mas, a seu ver, o ganho na proteção do cliente não tem preço.
    Ele ressalta, porém, que, independentemente de toda a legislação em vigor, os investidores de primeira viagem devem fazer uma pesquisa nos sites da Comissão (www.cvm.gov.br) e da BM&FBovespa (www.bmfbovespa.com. br) e verificar o número de reclamações contra a corretora selecionada e acompanhar de perto o uso do seu dinheiro. “O investidor tem que ter capacidade de decisão. Não se deve esquecer nunca que o mercado de ações envolve risco. A opção pelo comodismo pode ser catastrófica”, diz Yasbek.
    1 - Regulação
    A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão vinculado ao Ministério da Fazenda que regula o mercado de capitais para assegurar o funcionamento eficiente da Bolsa de Valores e outras instituições. Entre suas funções, estão a de proteger os titulares de ações contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e controladores de empresas com capital aberto, coibir fraudes ou manipulações destinadas a criar condições artificiais nas negociações e garantir aos negociantes o acesso a informações claras sobre os títulos.
    Garantia de segurança
    Algumas corretoras, a maioria administrada por jovens executivos, já estão se preparando para as mudanças impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em relação aos agentes autônomos. Uma delas é a TOV, que ganhou 25 posições no ranking da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&Fbovespa) no último ano, subindo para o 9° lugar. A instituição cobra R$ 5 por ordem de compra e venda e ainda dá desconto para aposentados — R$ 2,50 por operação. A TOV tem 40 filiais espalhadas por 13 capitais (a sede está em São Paulo). Recentemente, deu início ao processo de internacionalização. E, até o fim do ano, poderá receber autorização para operar na Bolsa de Nova York. “As negociações estão avançadas. Depende apenas do processo seletivo da SEC (a CVM americana)”, afirma André Jorge, gerente de canais eletrônicos. Ele conta que a empresa começou a atividade na década de 1980, operando câmbio. Em 2002, entrou para a renda variável.
    Jorge garante que todas as regras da CVM são cumpridas à risca. “A TOV é a única corretora no Brasil que tem quase toda a sua base de assessores em filiais e não em escritórios independentes. Neste ano, investimos R$ 5 milhões em tecnologia”, afirma. Foi implantada uma nova plataforma eletrônica, a TOV Trader, ferramenta que permite ao cliente comprar e vender ações, com menor risco e maior retorno. “Vamos cobrar R$ 70 pela plataforma contra R$ 220 do mercado”, ressalta.
    Educação
    A XP Investimentos está no topo do ranking da Bovespa, com 450 funcionários e 130 escritórios, distribuídos por 70 cidades. “Várias razões nos levaram ao sucesso”, diz Guilherme Benchimol, sócio-diretor da instituição. A primeira delas é a preocupação com a educação dos investidores. “Há 10 anos, trabalhava como agente autônomo, com um sócio e tinha uma ideia na cabeça. Quando visitava os clientes que o sócio indicava, em Porto Alegre, percebia que as pessoas queriam aprender. Assim, em vez das visitas em casa, passamos a fazer pequenas palestras. Ia à padaria, comprava suco, pão de queijo, jogava uma toalha branca na mesa e começava a trabalhar”, lembra.
    O processo evoluiu e as palestras se transformaram em cursos pagos. “Já capacitamos mais de 200 mil pessoas”, orgulha-se Benchimol. A XP tem hoje dois planos:o Express, pela internet, no qual cobra R$ 14,90 por ordem, e o Private (a taxa é de 0,5% por transação). (VB)

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