quinta-feira, 6 de agosto de 2009

DI perde enquanto poupança capta mais de R$ 5 bi em julho

Autor(es): Angelo Pavini

Valor Econômico - 06/08/2009

  

 
 

De pouco adiantou os bancos de varejo reduzirem o valor de aplicação em fundos DI com taxas de administração mais baixas para tentar evitar a migração dos novos investimentos para a poupança. No mês passado, o primeiro com o juro básico de 8,75% ao ano, a caderneta acumulava, até dia 30, captação líquida (aplicações menos resgates) de R$ 5,104 bilhões, a maior do ano e recorde. Ao mesmo tempo, os fundos DI terminaram o mês passado perdendo R$ 56 milhões.

A perda é pequena, mas mostra que, se o investidor não está sacando dos DIs para aplicar em poupança por enquanto, também não está entusiasmado para fazer novas aplicações nessas carteiras. Já a caderneta registra a maior captação mensal fora dos meses de dezembro desde janeiro de 2004. Normalmente, a poupança capta mais no último mês do ano por conta do 13º salário. Fora o mês passado, apenas em junho de 2002 houve uma captação parecida, de R$ 5,293 bilhões, o recorde anterior excluindo dezembros.

  

  

O motivo é que, com a queda do juro básico para 8,75% ao ano, fundos DI com taxas de administração mais altas, acima de 2% ao ano, passaram a render menos que a poupança por conta do custo da gestão e do imposto.

Se a caderneta tiver captado também no dia 31 (como costuma ocorrer em meses de maior procura), o resultado de julho será o dobro da captação do mesmo mês do ano passado, de R$ 2,258 bilhões. E caracterizará uma tendência, já que será o terceiro mês seguido de captação - R$ 1,8 bilhão em maio, R$ 2 bilhões em junho e R$ 5,1 bilhões em julho.

Na Caixa Econômica Federal, líder do mercado de poupança, a captação da caderneta no ano até o fim de julho está em R$ 5 bilhões e a expectativa é de chegar a algo entre R$ 9 bilhões e 10 bilhões até o fim do ano. Mas não houve fuga de fundos DI, diz o vice-presidente de Pessoa Física da Caixa, Fábio Lenza. Houve até captação em carteiras com taxas de administração, segundo ele, vantajosas, que seriam inferiores a 1,1% ao ano.

A discussão sobre qual a taxa de administração máxima que o investidor deve pagar também cria controvérsias no mercado. A maioria das simulações de rentabilidade leva em conta que os fundos DI rendem apenas a Selic, de 8,75%, o que significa que fundos com taxa de administração acima de 1,5% já perdem para a caderneta. Mas a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) argumenta que, com a queda dos juros, os fundos passaram a render mais e, portanto, haveria ganho maior mesmo em carteiras que cobram 2% ao ano.

Olhando a rentabilidade média dos fundos DI em julho, de 0,83%, já sem a taxa de administração, confirma-se que ela está mesmo acima do CDI do período, de 0,78%. Descontando desse valor um imposto de 15%, para aplicações acima de dois anos, o investidor levaria para casa um ganho líquido de 0,71%. Melhor que a poupança, que rendeu no mês 0,6056%. Já se a aplicação for por um prazo até seis meses, que paga imposto de 22,5%, o ganho líquido cai para 0,6045%, abaixo da caderneta.

Cabe ao investidor, portanto, analisar como está o desempenho do fundo em que aplica. Carteiras DI com taxas de administração de 3%, 4% e até 5% ao ano dificilmente conseguirão empatar com a caderneta. Já fundos com custo em torno de 2% serão vantajosos dependendo do gestor.

O desempenho das carteiras pesa mais quando se compara os fundos de renda fixa com a poupança. Como esses fundos podem aplicar em títulos prefixados e correm um pouco mais de risco, conseguem ter desempenhos diferenciados. Em julho, o ganho médio dos fundos de renda fixa foi de 0,84%, também superior ao CDI, mas bem próximo dos DIs. No ano, os renda fixa acumulam 6,53% até julho, para 6,34% dos DIs.

Em julho, a poupança captou mais do que nos meses de maio e junho somados, observa Marcus Matos, gerente executivo de Produtos e Investimento do Grupo Santander Brasil. "O mês passado foi bastante forte, captamos 50% do que tínhamos captado no primeiro semestre todo", diz. Para ele, o que está ocorrendo é que o investidor, quando precisa, saca do fundo e, na hora que tem dinheiro, aplica na caderneta. E esse movimento deve continuar, acredita Matos. Ele alerta, porém, que o investidor em poupança precisa de mais disciplina, pois se resgatar fora da data, perde o rendimento."

Merece destaque em julho, quando o Índice Bovespa acumulou alta de 6,41%, que os fundos de ações não captaram - ao contrário, perderam R$ 103 milhões. Mesmo com categorias rendendo até 14,83%, caso das "small caps".

Os fundos fecharam julho com captação de R$ 30,396 bilhões, segundo a Anbid. Mas esses números foram inchados por quase R$ 14 bilhões em fundos de recebíveis (FIDC) da Petrobras e mais R$ 10 bilhões em carteiras administradas que foram transformadas em fundos multimercados.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Tesouro Direto perde terreno

  

Jornal da Tarde

05/08/2009

Número de interessados no programa de compra de títulos públicos pela internet caiu 43,3%

A queda nas taxas de juros esfriou a procura pelos títulos públicos. Balanço do Tesouro Nacional mostra que o número de novos investidores cadastrados no Tesouro Direto, programa que permite que pessoas físicas comprem esses papéis diretamente do governo na internet, caiu 43,3% de maio para junho, passando de 2.563 para 1.452 cadastros. Na comparação com junho do ano passado, o recuo é ainda maior: de 60,47%, quando foram inscritos 3.674 investidores. O dado de junho deste ano é também o mais baixo desde novembro de 2005, que registrou 1.169 inscrições.

Apesar dos números, os especialistas continuam a recomendar a aplicação como alternativa de diversificar os investimentos e para quem pode aplicar o dinheiro por, pelo menos, dois anos.

Andrew Storter, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), acredita que com a queda da taxa básica de juros (Selic) - 8,75% ao ano - e a inflação em baixa os investimentos no Tesouro Direto ficaram menos atrativos ao público, pois a maioria dos papéis são indexados a estes dois indicadores. "A tendência é se manter em baixa", afirma ele.

No auge da crise houve uma corrida dos investidores em busca de opções menos arriscadas, como os títulos de renda fixa. Em outubro de 2008 foram registrados 5.169 novos investidores no Tesouro Direto, 70% a mais que o cadastrado em junho deste ano. Passada a fase crítica, muitas pessoas se voltaram para outras aplicações. "Embora a crise ainda não tenha acabado, há um sentimento de que o pior já passou", afirma o diretor da corretora SLW, Robson Queiroz.

A poupança foi a aplicação que mais atraiu o investidor. Em junho, ela teve a maior captação líquida (diferença entre depósitos e saques) do ano: foram R$ 2,089 bilhões.

Quando a Selic cai, o juro cai para todos os investimentos. Mas, o que faz os títulos públicos ainda ficarem na frente de outros ativos de renda fixa são os custos menores. Tanto no fundo quanto no Tesouro Direto há cobrança do Imposto de Renda no resgate. A alíquota é regressiva e vai até 15% nos investimentos superiores a dois anos. Nos fundos há, ainda, o chamado come-cotas, cobrança do IR a cada seis meses. Nos títulos, a taxa de corretagem - valor cobrado pelas instituições para intermediar a venda - variam de zero a 0,5%. Nos fundos, as taxas de administração podem comer a rentabilidade. "A taxa de administração de 2% já está perdendo", afirma Silvio Campos Neto, economista do Banco Schahin.

As taxas menores do Tesouro Direto atraíram o investidor Keyler Carvalho Rocha, de 69 anos. Há um ano, Rocha investe em títulos prefixados (que o investidor sabe antes qual taxa vai receber) e pós-fixados. "A taxa de custódia compensa em relação às taxas de administração dos fundos. Por isso, preferi ficar nos títulos que são mais garantidos pelo governo", diz.

A dentista Helena Suzuki, de 38 anos, também prefere os títulos por causa dos custos. Ela iniciou a aplicação há dois anos com R$ 1 mil e acredita que o Tesouro Direto é um bom investimento para a aposentadoria. "Vejo que o rendimento é melhor que a poupança e estou fazendo como se fosse uma previdência."

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