sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tesouro paga mais por título pré longo

Coluna - Cristiane Perini Lucchesi
Valor Econômico
23/11/2007


O Tesouro Nacional voltou ontem a vender títulos da dívida interna de juros prefixados com prazo de vencimento mais longo pela primeira vez neste mês. Por causa do agravamento na crise de crédito externa, dos dados de atividade econômica forte no Brasil e da inflação acima da esperada em outubro medida pelo IPCA (0,3%, na comparação com as estimativas de 0,2%), o mercado vinha exigindo juros considerados altos demais para comprar os papéis de vencimento acima de 2010 e o Tesouro não aceitava vendê-los. Ontem, colocou R$ 190 milhões dos R$ 450 milhões em Notas do Tesouro Nacional da série F ofertadas. Rejeitou ofertas para os papéis de vencimento em 2011, mas vendeu os títulos de vencimento em 2013 e 2017 pagando juros médios de 12,28% e 12,44% ao ano, na comparação com os 11,79% e 11,93% do último leilão dos mesmos papéis, em outubro. As NTN-Fs são as notas preferidas dos estrangeiros, pois pagam cupom (juros fixos) semestrais, como os títulos da dívida externa. Por isso, são mais vulneráveis ao impacto de crises no mercado internacional.

No leilão de ontem, também foram ofertadas R$ 2,95 bilhões de Letras do Tesouro Nacional, de juros prefixados, mas que não pagam cupom. A remuneração é determinada pelo desconto no valor de face do título. Foram vendidos R$ 2,85 bilhões de LTNs aos investidores locais com vencimento em 2009 e 2010 pagando juros de 11,48% a 11,92% ao ano, menores do que na semana passada, quando os papéis de vencimento em 2010 saíram a 12,04% e os de vencimento em 2008, a 11,33%.

Risco-Brasil sobe menos entre os emergentes

No mercado de juros futuros, prevaleceu a estabilidade de taxas no dia de ontem e o volume negociado foi metade do dia anterior. As taxas projetadas pelos contratos de vencimento em janeiro de 2010, de maior liquidez, registraram queda de 0,01 ponto percentual, para 11,88% ao ano.

Com o feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, ontem, os mercados americanos ficaram fechados e os investidores no Brasil ficaram sem referência e evitaram assumir posições. A cautela prevalece diante da grave crise de crédito externa que tem obrigado o Fed, banco central americano, a fazer injeção maciça de recursos para manter os mercados funcionando. Na quinta-feira última, foram US$ 37 bilhões. A curva de juros nos Estados Unidos, na qual as taxas dos papéis de vencimento em dois anos estão 100 pontos básicos abaixo das notas de vencimento em dez anos (3% e 4% ao ano, respectivamente), não é saudável, diz David Rosenberg, economista-chefe da Merrill Lynch para a América do Norte, em relatório reproduzido pela "Bloomberg". "Não acredite, nós repetimos, não acredite nem só por um segundo que essa é uma inclinação saudável na curva de juros", disse ele, para depois completar: "O Fed está mantendo os juros básicos dos fed funds em 4,5% ao ano em um período no qual qualquer outro vencimento da curva está sendo negociado abaixo disso". Crescem as pressões para o Fed fazer um corte de emergência nos fed funds antes da reunião de 11 de dezembro.

Real tem a maior valorização

Mesmo em dia de pouca liquidez, o Banco Central comprou dólares no mercado à vista e manteve a moeda estável, com ligeira alta de 0,05% em relação ao real, cotado a R$ 1,78. Segundo a "Bloomberg", entre as 16 moedas mais negociadas no ano, o real foi a que mais se valorizou contra o dólar - 20%. O segundo colocado foi o dólar canadense.

O Brasil também é o primeiro colocado quando se trata de risco de crédito. Entre os países emergentes do índice EMBI+ do JPMorgan, o risco do Brasil foi o que menos subiu neste ano - 21,88%, para 197 pontos básicos. O risco do Equador foi o único que caiu, 30,76%, mesmo assim para 606 pontos básicos. O risco do Equador está tão alto, pois o presidente Rafael Correa vinha ameaçando os credores com moratória da dívida para ampliar os gastos no mercado interno. Mas, essas ameaças se tornaram cada vez mais remotas. No dia 20 último, o Equador teve sua nota de risco de crédito elevada duas vezes, do "CCC", nível de moratória, para "B-", pela Standard & Poor"s, por causa das receitas crescentes do país com a alta no preço do petróleo. O Brasil, que terá reservas internacionais de US$ 180 bilhões no final deste ano, segundo estimativa do Credit Suisse, está próximo de receber uma alta de sua nota de crédito que poderá levá-lo ao grau de investimento, espécie de selo de investimento não especulativo das agências de rating.

Cristiane Perini Lucchesi é repórter de finanças

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Investidor de título público aplica de olho no médio prazo

http://site.estadao.com.br/investimentos/rendafixa/2007/nov/22/18.htm

Dias de trovão

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, Danilo Fariello, Angelo Pavini e Daniele Camba, de São Paulo
22/11/2007


O arrastão por que passou o Ibovespa ontem - chegou a cair 3,99%, para fechar com queda de 2,82% aos 60.581 pontos -, a reboque dos mercados mundiais, marcou um cenário clássico de aversão a risco: aumento da demanda pelos títulos do Tesouro americano de curto prazo, elevação dos juros, do risco-Brasil e do dólar e perdas generalizadas na renda variável. Essa fotografia não significa que a festa para a bolsa local acabou de vez, mas é um sinal de que este é um momento para reavaliar se vale a pena enfrentar tamanha volatilidade. Só neste mês, o Ibovespa acumula desvalorização de 7,25%, mas, no ano, os ganhos ainda são consideráveis, de 36,2%.


A trovoada, como já pressagiavam as nuvens carregadas no horizonte, veio de fora. Com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sob o impasse de administrar o crescimento da maior economia do planeta e ao mesmo tempo conter as pressões inflacionárias, o espaço para contornar os efeitos da crise das hipotecas parece apertado, diz o chefe de análise da corretora carioca Ágora, Marco Melo. Os prejuízos causados pelos papéis lastreados no financiamento imobiliário começam a sair do baú e entrar no balanço dos bancos. Isso pode, a exemplo do que ocorreu em agosto, fechar o canal do crédito, trazendo impactos mais severos para a expansão da atividade. Na outra ponta, o petróleo beirando os US$ 100 o barril representa um ingrediente inflacionário que não será ignorado pelo Fed.


Os números do mercado acionário americano pontuam bem esse panorama, porque os fundamentos da economia dos EUA estão em questão, diz Marco Antônio Franklin, sócio da Paraty Investimentos. Em novembro, o índice S&P500 acumula desvalorização de 8,56%. Num histórico de 256 meses, desde junho de 1986 para cá, apenas em 8 deles o indicador caiu mais de 8% num único mês. "Isso só ocorreu em momentos de grande crise do mercado, como no 11 de setembro, na quebra do fundo LTCM, em 98, no crash de 87 e no estouro da bolha da Nasdaq."


Para o especialista, isso significa que os agentes financeiros estão colocando nos preços um cenário bem nebuloso, mas não há justificativa para tanto pessimismo. "O meu palpite é que ainda não entramos em um mercado de queda e que isso vai estabilizar cedo ou tarde." Quando voltar a estabilidade, o mercado brasileiro, as ações e o real principalmente, tendem a se valorizar.


Com o risco-Brasil acima de 230 pontos, o preço justo para o Ibovespa hoje estaria entre 57 mil e 58 mil pontos, calcula Melo, da Ágora. O especialista não acredita, porém, que esse prêmio sobre os títulos do Tesouro americano se perpetue e ainda trabalha com um índice em 62.200 pontos para o fechamento do ano. Nessa virada para 2008, o investidor terá, entretanto, de prestar atenção a alguns sinais vindos da economia americana. "A queda do preço dos imóveis tem conseqüências sobre a percepção de riqueza da população e ainda não foi quantificado o efeito das perdas com o crédito de alto risco nos balanços do setor financeiro", diz. "Os prejuízos lançados no trimestre e as provisões para perdas futuras podem significar aperto do crédito mais à frente."


A revisão para baixo do PIB dos EUA já era, em alguma medida, esperada - o Fed reduziu a projeção para 2008 de um intervalo de 2,5% a 2,75% para algo entre 1,8% e 2,5%. O que não está no preço dos ativos, porém, é que a economia americana tenha qualquer trimestre de queda, acrescenta Melo. Em meio a tantas dúvidas, encontrar as oportunidades não é uma tarefa fácil. Se uma ação, aparentemente, ficou barata porque caiu 5%, há o risco de o investidor colocá-la na carteira e o papel cair mais 5%, exemplifica. "Há o risco de se errar no 'timing' da compra." Olhando só o preço relativo das ações, aquelas ligadas a consumo parecem atrativas. Ele lista Positivo, B2W, Lojas Americanas e AmBev.


Para o curto prazo, o cenário econômico dos EUA segue controverso e não deve apresentar sinais de melhora até o primeiro trimestre de 2008, avalia Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management (UAM). "O mercado de casas vai continuar com números ruins", diz ele, lembrando que o pico de inadimplência do setor deve ser no primeiro trimestre 2008, quando sazonalmente são reajustados os empréstimos imobiliários. "E aí vamos ver se o cara vai ter dinheiro para pagar", diz.


Segundo Patah, a probabilidade de recessão nos EUA está alta, alguns analistas falam em até 50% de chance, e não deve cair nos próximos meses. "Por aí, não deve vir refresco para a bolsa", diz ele, acrescentando que a bolsa americana caiu bastante. "Muita gente lá fora já está achando o S&P barato, e como a relação preço/lucro (PL) não está muito esticada, na faixa de 16 vezes, o mercado já atrai compradores". O fim do ano fiscal dos hedge funds em novembro também pode incentivar movimentos de compra.


Patah lembra também que o Ibovespa vem destoando da queda do mercado americano por conta do bom desempenho localizado em Petrobras e Vale do Rio Doce, que desde setembro estão sustentando o índice brasileiro. "Este mês, sem Petrobras, o Ibovespa estaria caindo quase 10%", diz. A UAM reviu na semana passada sua projeção para o Ibovespa em 12 meses, para 80 mil pontos.


Quando o Ibovespa cedeu 15 mil pontos em agosto ficou nítido que havia um problema, mas não se sabia a dimensão dele, diz Jorge Simino, diretor da Fundação Cesp. O segundo movimento é saber o tamanho dos prejuízos com as hipotecas. "Parecia que tínhamos passado essa fase, já tinham saído os balanços dos bancos mostrando as perdas, só que essa fase não acabou, todos os dias há surpresas", diz. "Fica a sensação de que os primeiros números são só a ponta do iceberg e que o grosso mesmo está ainda escondido."


As conseqüências do colapso dos financiamentos imobiliários já eram favas mais ou menos contadas na visão de Pedro Galdi, da corretora do Banco Real. "Os EUA passam por um momento difícil, de desaquecimento e de temor que a crise das hipotecas se alastre para o crédito e afete a economia real, mas tudo isso já se fala há muito tempo", diz. "O que havia no mercado era ainda uma grande gordura para queimar." A corretora ainda trabalha com um Ibovespa justo na casa dos 73 mil pontos. Só que aproveitar qualquer ponto de compra agora vai depender do perfil de risco do investidor.


Os papéis que mais caíram nessa virada recente são os que têm maior peso no Ibovespa - e são os preferidos dos estrangeiros, cujo saldo na Bovespa está negativo em R$ 3,145 bilhões no mês e em R$ 5,141 bilhões no ano até dia 14. Mas, apesar das quedas, eles ainda exibem no ano ganhos fabulosos, caso de Vale do Rio Doce, Bradesco, Usiminas e Gerdau. "Se for para o longo prazo dá para comprar uma Vale, apesar de o papel acumular alta de mais de 80% no ano, mas no curto prazo a volatilidade tende a continuar", diz Galdi.

Você quer ser a pessoa mais rica do mundo no cemitério?

Valor Econômico
Renato Bernhoeft
22/11/2007



Uma das perguntas mais intrigantes formulada a 500 empresários e a seus descendentes em um evento para empresas familiares realizado em Berlim, na Alemanha, com participantes de todo o mundo, foi a seguinte: "Você deseja ser a pessoa mais rica do mundo... no cemitério?"


No mesmo período em que se realizava esta conferência, faleceu na Inglaterra Anita Roddick, fundadora da Body Shop, um dos empreendimentos de maior sucesso no segmento da cosmética e também uma organização fortemente comprometida com a sustentabilidade do planeta. E ela, que morreu milionária depois de vender sua empresa para uma multinacional, sempre declarou que não desejava morrer rica. Mas, aos 64 anos, a morte a tornou mais uma das milionárias com domicílio no cemitério.


O contraponto desta questão está nas respostas que milionários, empresários e profissionais de sucesso nos mais diversos campos da atividade humana possam dar a uma outra pergunta: "O que pretendo deixar como legado para meus descendentes e como uma 'marca' da minha passagem por este mundo?"


Quando imagina a família, os amigos e o mundo num futuro sem a sua presença, você apenas formula uma frase de efeito para sua lápide ou consegue perceber que as lembranças que vai deixar ultrapassam os meros limites do patrimônio e da saudade!


Está cada dia mais claro que a transferência, preservação e desenvolvimento da herança entre as gerações não é um mero desafio de caráter patrimonial. A sua continuidade, de forma que os herdeiros possam agregar valor ao recebido, exige vincular as questões materiais ao legado. Isto diz respeito a conhecer e estar comprometido com a história, valores, compromissos e formas como o patrimônio foi construído.


Um equívoco muito comum que ocorre com as pessoas que alcançam sucesso em sua vida é considerar que as suas próximas gerações devem ser poupadas dos sacrifícios e lutas pela vida. Entendem que o simples fato de terem facilidades decorrentes da herança já as torna aptas para a vida e seus desafios. Nada mais falso.


Receber algo - especialmente um patrimônio material -- que não foi produto de conquista ou luta pessoal tende a não merecer o mesmo cuidado e zelo daquilo que é produto do esforço individual. Warren Buffet, a terceira maior fortuna do mundo, já declarou, ao deixar somente 15% de seu patrimônio aos seus descendentes, que "tudo aquilo que vêm fácil, também se perde com muita rapidez." Por esta razão, ele também disse que deixava aos seus filhos "o bastante para que fizessem tudo o que desejassem, mas também o suficiente para não se permitissem não querer fazer nada". Ou seja, uma lição de vida e valores vinculados ao patrimônio herdado.


Pessoas que conquistam sucesso se tornam símbolos e, por esta razão, passam a ser admiradas ou até imitadas por outros. Isto vem ocorrendo tanto em sociedades que valorizam a meritocracia como também naquelas em que a esperteza é motivo de uma quase idolatria. O que muitas vezes estas pessoas não percebem é que seu sucesso pode ter um efeito de sentimento dividido - dualista - entre seus herdeiros.


Ele tanto poderá representar uma luz para iluminar caminhos e indicar alternativas aos seus descendentes, como também se transformar numa sombra que dificulta aos mesmos descobrir e desenvolver seus próprios sonhos, projetos e aspirações.


Diz um antigo ditado popular que, "sob a sombra de uma grande e majestosa árvore, nem erva daninha consegue crescer..." O esforço e o trabalho, para vincular às questões relativas ao legado de forma conjunta com o patrimônio que se herda, permitem um maior equilíbrio entre o que é coletivo e o que é o individual. Entendemos por coletivo, o conjunto do patrimônio e descendência que vincula, por direito, os herdeiros. E, pelo individual, a possibilidade que cada um, de forma coerente e compromissada, possa buscar a realização para agregar valor tanto à riqueza como aos valores a ela vinculados.


O propósito destas provocações é formular um alerta a todos aqueles que, tendo construído uma reputação ao longo da sua vida, também o obtiveram de forma vinculada a um acúmulo patrimonial. Ou o contrário.


Cuidado ao se preocupar somente com as soluções que asseguram uma boa gestão do patrimônio. Para que cada geração agregue valor ao que recebe, é fundamental que ela conheça suas origens, história e raízes. Reverter o ditado popular que fala de "pai rico, filho nobre e neto pobre", vai depender muito da forma como estes netos recebam, conheçam e valorizem o legado dos seus antepassados.


Renato Bernhoeft é fundador e Presidente da Bernhoeft Consultoria Societária, integrante da rede mundial de consultores FBCGi (The Family Business) e da Consulting Group International na América Latina


E-mail: renato@bernhoeft.com


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Investir e poupar, entre o céu e o inferno

Valor Econômico
Célia de Gouvêa Franco, de São Paulo
22/11/2007

"Sucesso e Independência - Família, Carreira e Finanças para Toda a Vida" - Louis Frankenberg.


Campus/Elsevier, 310 págs.


"Dívida Boa, Dívida Ruim - Saber a Diferença Pode Salvar sua Vida Financeira" - Jon Hanson.


BestSeller, 268 págs.


Possivelmente nunca antes na história desse país houve tanto interesse por investimentos na Bolsa de Valores, como mostram todos os indicadores que se referem ao mercado de ações. Com a inflação controlada e tanto a renda média da maioria dos trabalhadores como o nível de emprego em alta, muitos brasileiros passaram a ter como aplicar no mercado financeiro e, com a alta retumbante da Bolsa nestes três últimos anos, é natural que se procure aprender a lidar com ações e a entender como funcionam opções de investimentos mais sofisticados, como o mercado de derivativos na BM&F.


Essas são as razões que explicam a presença de muitos livros de orientação de investimentos pessoais nas listas dos mais vendidos, como, por exemplo, os títulos "Investindo em Opções", "Bem-Vindo à Bolsa de Valores", "Aprenda a Operar no Mercado de Opções", segundo listagem recente elaborada pelo Valor Data.


Em uma linha mais ampla, não voltada exclusivamente para investimentos, também fazem sucesso as obras que procuram ajudar o leitor a dominar sua vida financeira, cuidando do endividamento e da poupança. São exemplos dessa linha "Sucesso Empresarial - Família, Carreira e Finanças para Toda a Vida", do consultor brasileiro Louis Frankenberg, e "Dívida Boa, Dívida Ruim - Saber a Diferença Pode Salvar a sua Vida Financeira", do americano Jon Hanson, que apresenta um trunfo poderoso na sua biografia: depois de acumular uma dívida de quase US$ 80 mil com o Imposto de Renda, ele conseguiu sobreviver à "quase-morte-financeira".


Experiências pessoais, ainda mais no que se refere a dinheiro, sempre enriquecem qualquer relato. É o que acontece no livro de Hanson, que conta casos exemplares, como quando ele decidiu comprar um automóvel e foi seduzido por um Jaguar XKE preto conversível: "Olhei para o carro e, de imediato, percebi que o desejava, embora o raciocínio no fundo da minha alma gritasse baixinho: 'Não! Não' Em primeiro plano, o meu eu emocional dizia: 'Sim! Sim'. Minha privação do passado conspirava com a ambição de uma vida melhor. Tornei-me refém das minhas próprias emoções". Quem não gosta desse tom, desista da leitura porque quase todo o livro é escrito dessa forma, com esse elevado grau de dramaticidade. Os títulos dos capítulos são, por exemplo, "Como destruir sua vida"...


A "teoria" de Hanson é de que existem dois tipos de dívidas, um útil para se construir o patrimônio, o outro que acaba levando ao desastre financeiro. A questão é ser capaz de se equilibrar entre os dois tipos e saber se um financiamento é o caminho para o céu ou para o inferno. Ele dá uma série de dicas e conselhos sobre como resistir às tentações do consumismo desbragado e como valeria a pena, em muitas situações, adiar a compra porque ela significa aumentar o endividamento. Muitas dessas sugestões perdem sua força, porém, porque referem-se a especificidades do mercado americano. No Brasil, não existem, por exemplo, hipotecas da mesma maneira como há nos Estados Unidos, onde são a principal forma de financiamento da casa própria. Teria sido mais interessante para os leitores se a versão brasileira trouxesse exemplos ou explicações mais amplas sobre a realidade do país.


Já o livro "Sucesso e Independência" começa de forma que estimula a curiosidade, já que o prefácio é de Max Gehringer, um dos "conselheiros" sobre vida corporativa mais na moda no Brasil atualmente - e ele afirma que seguiu um conselho dado por Frankenberg há dez anos, o de vender o carro, aplicar o dinheiro e andar de táxi. A obra acaba, porém, se revelando um tanto desordenada, mais uma coleção de capítulos sobre temas isolados, sem formar um conjunto orgânico. Pode ser interessante ler apenas sobre finanças, patrimônio e seguros, em um único capítulo, mas essas questões permeiam outros aspectos da vida do leitor, tratadas em diferentes partes do livro, e a sensação geral é de superficialidade.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O 13º salário chegou. Prepare-se

Jornal da Tarde 20/11/2007

Especialistas mostram o que fazer para equilibrar as finanças com a renda extra do fim de ano

Fabrício de Castro, fabrício.castro@grupoestado.com.br

O fim de ano chegou e, com ele, o momento de equilibrar as finanças antes das compras. Com o 13º salário na conta, o brasileiro tem a chance de pagar as dívidas, guardar dinheiro para o início de 2008 ou engordar a poupança.

A decisão sobre como utilizar a renda extra depende da atual situação do trabalhador. Em São Paulo, 58% dos consumidores pretendem utilizar o 13º para pagar dívidas antigas, segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Outros 20% esperam usar parte do dinheiro para comprar presentes, enquanto 10% prometem reservar uma parcela para os gastos com o IPVA, o IPTU e a escola dos filhos.

Para esclarecer qual é o melhor destino para o dinheiro, o Jornal da Tarde ouviu 13 especialistas em finanças. Todos, sem exceção, disseram que a renda extra deve servir, em primeiro lugar, para pagar as dívidas. Na seqüência de prioridades vêm a reserva para novas despesas e a aplicação do dinheiro.

'As duas maiores mentiras que a pessoa conta no fim de ano são as de que ela vai perder peso e ficar no azul. Perder peso fica difícil, por causa das festas, mas ficar no azul é possível', garante o escritor Gustavo Nagib, autor do Guia do Pão-Duro. 'O 13º é a chance.'

A assistente financeira Daniele Gomes, de 23 anos, aguarda com ansiedade essa chance. 'Vou usar o 13º para pagar uma dívida no cartão de crédito', diz.

Desde o início do ano, Daniele vem acumulando um déficit que, em novembro, com a ação dos juros, já chegava a R$ 2 mil. Para quitar tudo, terá que abrir mão de novos gastos.

Para cumprir a promessa, Daniele precisará resistir à tentação do consumo que, segundo os especialistas, é mais forte no fim do ano. 'É uma época perigosa', alerta o economista Luís Carlos Ewald, autor do livro Sobrou Dinheiro!. 'A pessoa sai com dinheiro no bolso, e acaba comprando no pré-datado.'

Ewald lembra que as lojas cobram preços à vista, sem desconto, e dividem o mesmo valor em várias vezes, sem juros. Com isso, o consumidor é levado a se endividar. 'Não é à toa que os meses de março e abril são os de maior inadimplência', diz .



A bancária Patrícia Kikuchi, de 26 anos, quer usar o 13º para quitar parte do financiamento de um carro. Para comprar presentes, pretende pagar à vista ou dividir em poucas vezes. 'Nem sempre dá para pagar à vista. Mas eu parcelo, no máximo, em três vezes. Nunca mais que isso', ensina.

'É preciso estabelecer prioridades, e a mais urgente é pagar as dívidas. Se você tem nome sujo na praça, use o 13º para limpá-lo”
MARCOS CRIVELARO
ECONOMISTA, PROFESSOR DA FIAP

'Antes mesmo do dinheiro do 13º salário cair na conta, o devedor deve renegociar com o banco o valor das dívidas”
REINALDO DOMINGOS, CONTABILISTA,
AUTOR DO LIVRO ‘TERAPIA FINANCEIRA’

'O que eu aconselho? Que a pessoa não faça com o 13º salário exatamente o que ela já deve estar fazendo: compras”
GUSTAVO NAGIB, JORNALISTA
E ESCRITOR, AUTOR DO ‘GUIA DO PÃO-DURO’



Consignado deixa aposentado no vermelho

Jornal da Tarde 20/11/2007

A facilidade para se tomar empréstimo com desconto direto no pagamento fez com que o número de idosos inadimplentes aumentasse mais de 100% nos últimos anos

Charlise Morais, charlise.morais@grupoestado.com.br

A facilidade para tomar empréstimo consignado, cujo desconto para pagamento incide diretamente na aposentadoria, tem feito com que as pessoas acima de 51 anos engrossem a lista dos inadimplentes paulistas. De acordo com a Pesquisa de Inadimplência do Serviço de Proteção ao Crédito, feita pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que comparou o perfil dos devedores em 1997 com os de 2007, o aumento de pessoas que deixaram de saldar as suas dívidas foi de 175% para quem está na faixa etária entre 51 e 60 anos e de 100% para quem tem acima de 60 anos (ver quadro na página).

“A alta inadimplência nessa faixa etária se deu por conta do fácil acesso ao crédito consignado. Na maioria das vezes não é o empréstimo que deixa de ser pago - já que é descontado do benefício - , mas outras contas ficam atrasadas, pois há menos recursos para saldá-las”, argumenta o economista da ACSP, Emilio Alfieri.

“Esse número é preocupante. Principalmente se levarmos em conta que a grande maioria dos aposentados deste País não ganha mais do que um salário mínimo (R$ 380)”, alerta o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical, João Batista Inocentini.

O crédito consignado a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) passou a vigorar em setembro de 2004. Desde então, essa modalidade de crédito foi concedida a 8,74 milhões pessoas em 22,1 milhões de operações, totalizando o valor de R$ 29 bilhões emprestados. Isso mostra que esse recurso foi utilizado mais de uma vez pela maioria dos aposentados que recorreram ao crédito. Desse total, 13,7 milhões de operações estão ativas e quase 6 milhões já foram liquidadas, ou seja, pagas.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, o crédito consignado foi uma grande conquista para a categoria nos últimos anos. “Mas é preciso saber usar. Como é muito fácil de contratar acaba gerando descontrole. Aqui no sindicato recebemos muitas reclamações de pessoas que se tornam devedoras por não saber utilizar o crédito consignado.”

Reforma da casa

O aposentado Antônio Cassiano das Neves, 71 anos, ainda está pagando um financiamento que fez no ano passado para reformar a sua casa. Ele recebe de aposentadoria três salários mínimos por mês (R$ 1.140) e parte de sua renda é destinada ao pagamento das parcelas do financiamento, de R$ 300, que só serão totalmente quitadas em 2008. Por conta disso, algumas despesas essenciais deixaram de ser pagas. “Atrasou a água e a luz e faltou para alguns remédios, mas espero normalizar em breve”, justifica.

Para ‘normalizar’ seu orçamento, o aposentado vai recorrer novamente ao crédito consignado. Desta vez em um empréstimo de R$ 2 mil, com parcelas de cerca de R$ 250 mensais. “Mas só depois que eu terminar de pagar o primeiro. O desconto do financiamento não tem como ser perdoado. Por isso, agora eu estou levando minhas contas tudo direitinho, para não estourar de novo o orçamento”, diz.

Inocentini lembra que o maior problema em relação a esse tipo de empréstimo está associado aos pedidos de familiares. “É sempre o neto ou o filho que pede para que o aposentado faça um empréstimo, com a promessa de saldá-lo. Mas, isso nem sempre ocorre e a dívida fica para o tomador do empréstimo. Esse tipo de problema é muito freqüente”, alerta.

Foi justamente para ajudar seu filho, de 40 anos, “que está com a vida enrolada”, que o aposentado Manoel Erácito Rangel, 67 anos, recorreu a essa modalidade de crédito. “Mas, eu só comprometi uma parte da minha renda que não faria falta”, justifica.

Já o pagamento das parcelas - que tiveram a promessa de serem quitadas pelo filho -, acabam ‘sobrando’ para o aposentado. “Pagar ele até paga, mas aí a mãe dele força a barra e eu acabo cedendo e assumindo a conta”, reclama.

Mas, Rangel não exagera na tomada de crédito. “O empréstimo é bom, mas tem de saber como e quando utilizar. Muitos estão endividados porque não sabem se controlar”. Essa visão o aposentado tirou de uma experiência ruim próxima a ele. “Minha irmã fez vários empréstimos, todos para os filhos, e na hora de receber o benefício não tinha quase nada. Eu brequei ela (sic)”, recorda.

Outro motivo que leva os idosos a se endividarem é quando, para diminuir a parcela do financiamento, contratam outro, com prazo maior. “Aí vira uma verdadeira bola de neve”, diz Inocentini.

Pelas regras do consignado, o aposentado pode comprometer até 30% da sua renda com o pagamento de cada parcela do consignado. A taxa máxima de juros permitida é de 2,64% mensais, o que torna essa operação uma das modalidades de crédito mais baratas do mercado financeiro.


O QUE FAZER PARA SAIR DA LISTA NEGRA

NOME PROTESTADO

Procure o cartório que protestou a dívida e a empresa credora

Negocie ou quite a dívida e exija um comprovante

A empresa deverá comunicar a liquidação do débito ao serviço de proteção ao crédito

CHEQUE DEVOLVIDO (quando constar do cadastro)

Negocie ou pague e recupere o cheque

Depois, vá ao banco e peça o cancelamento da restrição

CHEQUE DEVOLVIDO

(quando informado pela empresa)

Compareça à empresa credora

Pague ou negocie a dívida e exija um comprovante

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Aplicação protegida na Bolsa não engrena

FABRICIO VIEIRA
Folha de S. Paulo
19/11/2007

POP, investimento que reduz impacto de desvalorização de ações, registra só 39 negócios em outubro, contra 249 no mês de estréia

Contrapartida é que, quando ações sobem, investidor tem de abrir mão de parcela do lucro; analistas creditam desinteresse à alta da Bolsa

Neste seu primeiro ano, o POP (Proteção do Investimento com Participação) não conseguiu engrenar. O produto financeiro lançado pela Bovespa com a promessa de amenizar as perdas decorrentes de possíveis desvalorizações no mercado acionário tem tido baixíssima movimentação -exatamente em um momento em que o investidor pessoa física tem procurado de forma crescente a Bolsa para aplicar.
O produto foi lançado com estardalhaço em fevereiro, também o mês em que mais foi negociado. Naquele período, foram feitos 249 negócios com o POP. Mas, de lá para cá, esse já baixo número de operações tem diminuído: em outubro, foram fechados só 39 negócios com o produto financeiro.
No mesmo período, o número de operações feitas na Bolsa aumentou consideravelmente, atingindo novo recorde em outubro, quando foram realizadas 4,29 milhões movimentações -crescimento de 85% em comparação com fevereiro.
Analistas apontam alguns fatores para explicar a falta de interesse pelo POP. A boa fase que atravessa a Bolsa de Valores de São Paulo é um deles, pois a vantagem do POP aparece nos momentos de queda do mercado. Também tem havido um crescente interesse do brasileiro em comprar diretamente as ações, como mostram o aumento do volume negociado pelo investidor de varejo na Bolsa de Valores e os recordes alcançados pelo "home broker" (sistema de negociação de ações via internet).
"A Bolsa vive um momento de ganhos fortes. Com isso, as pessoas têm optado mais por comprar diretamente as ações do que aplicar em um POP e ter de abrir mão de parte de seu lucro", avalia Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros.
O POP foi lançado com o intuito de atrair mais investidores de varejo para o mercado acionário, prometendo menos riscos de perdas do que o embutido em operações de compra direta de uma ação. Ele se utiliza de sofisticadas operações no mercado acionário (chamadas de "opções") e dessa forma consegue diminuir o impacto das quedas das ações. Assim, é indicado ao investidor que quer aplicar em Bolsa de Valores mas que tem medo das oscilações típicas desse segmento do mercado.
O produto protege uma parcela, que oscila normalmente entre 70% e 80% do aplicado, das eventuais quedas da Bolsa. Se alguém compra uma determinada ação e ela cai 20%, terá de aceitar essa perda. Já quem comprou um POP dessa ação sofrerá apenas com o impacto de uma parcela dessa queda.
Mas há uma contrapartida a essa proteção: quando a ação sobe, o investidor tem de abrir mão de uma parcela de seu lucro, que beneficiará quem negociou o POP com ele.
"Acho que investir direto em ação é muito mais atrativo. Com o mercado bom, a tendência é as pessoas quererem buscar as maiores chances de lucrar com a ação diretamente. Quem não quer correr muito risco é que investe em um POP", diz o diretor da corretora Ágora Álvaro Bandeira.
Há ofertas de POP apenas para as ações de maior liquidez da Bovespa, como Petrobras, Vale do Rio Doce, Bradesco, Itaú, Companhia Siderúrgica Nacional, Telemar e AmBev.
As operações com o POP têm girado uma média mensal de R$ 4,5 milhões. Nas operações normais na Bovespa, o investidor pessoa física tem movimentado por mês uma média de R$ 22,1 bilhões neste ano.
Registros da CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação de Custódia) mostram que atualmente há mais de 310 mil contas de investidores pessoa física -um salto de 21,5% em comparação aos 255 mil que havia no fim do primeiro semestre deste ano.

Período de ganhos
Apesar de suas oscilações constantes, a Bovespa registra valorização acumulada de 45,28% em 2007 -melhor resultado anual desde os 97,3% verificados em 2003.
Dessa forma, o POP terá mais chances de testar seu apelo junto ao público se o mercado acionário encarar um período mais turbulento.
No triênio 2000-2001-2002, por exemplo, a Bovespa amargou perdas. Em 1998, o POP também teria um terreno mais propício para mostrar seu potencial: a Bolsa paulista teve perdas acumuladas de 33,4% naquele ano.
"Estamos em uma fase em que a Bolsa está se transformando na vedete dos investimentos", afirma Monteiro, da corretora Souza Barros.
A renda fixa, que paga juros e é a maior categoria de fundos do mercado, registra neste ano rentabilidade média acumulada de apenas 10%

Ação de futuro?

Valor Econômico
Por Adriana Cotias
19/11/2007



A barulhenta estréia das ações da Bovespa Holding no pregão, com alta de mais de 50% no dia 26, encheu o bolso de quem participou da operação e agora esses investidores - e os que ficaram fora da festa - arregalam os olhos para o lançamento da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). A oferta pública inicial (IPO, em inglês) da quarta maior bolsa de derivativos do mundo - cujo prazo de reserva começa hoje e vai até o dia 27 - tem ingredientes para repetir, em alguma medida, o sucesso de Bovespa HLD. Mas o desenrolar dessa história se dá num cenário mais adverso. Sem que seja possível aferir o tamanho do prejuízo dos bancos americanos com a inadimplência nas hipotecas e as conseqüências sobre a economia dos EUA, o risco na renda variável aumentou como um todo. Além disso, o investidor terá de avaliar se o preço já não vem inflado.


A BM&F pretende vender 260,161 milhões de ações ordinárias (ON, com voto), avaliadas entre R$ 14,50 e R$ 16,50, numa operação que pode esbarrar nos R$ 5 bilhões. Se os papéis saírem no teto, ela vai estrear no pregão com valor de mercado de R$ 14,881 bilhões, um preço de quase 50 vezes o lucro previsto para este ano, de R$ 300 milhões. A Bovespa HLD, ao sair a R$ 23,00 no IPO, tinha uma relação de 33 vezes, e, depois da escalada, vem sendo negociada a 51 vezes. Os dois negócios, embora envolvam o ambiente de intermediação de ativos, não são, porém, plenamente comparáveis, diz o professor William Eid Junior, do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV). Já a Chicago Mercantile Exchange (CME), a maior bolsa de futuros do mundo, tem um preço equivalente a 43,4 vezes o lucro para 2007.


Olhando esse múltiplo conhecido como Preço/Lucro (P/L), que pode ser interpretado como o prazo para de retorno do investimento - no caso da BM&F em até 50 anos -, o intervalo indicativo para as ações sugere que o papel pode começar a ser listado na Bovespa, no dia 30, próximo do seu valor potencial. "O que justificaria um P/L tão alto seriam as perspectivas, para os próximos anos, de que o lucro aumente num ritmo acelerado", diz o professor de finanças do Ibmec-RJ Luiz de Magalhães Ozório.


O especialista pondera que era de se esperar que os bancos coordenadores e os donos das ações à venda valorizassem mais o ativo BM&F. Para ele, a alta de 52% de Bovespa HLD no primeiro pregão pode ser interpretada como erro de avaliação do negócio, mesmo após a banda de preços ter sido elevada - de R$ 15,50 a R$ 18,50 para uma faixa entre R$ 20,00 e R$ 23,00, com as ações saindo no novo teto. Para se ter uma idéia, a participação de 10% da BM&F que a CME adquiriu em outubro saiu a US$ 7,98 por ação e, com base no preço máximo para o IPO, já vale US$ 9,31, uma valorização de 17%.


Com o Brasil às vésperas de ganhar a nota de grau de investimento - selo conferido pelas agências de classificação de risco e que permitirá que os grandes fundos de pensão estrangeiros apliquem no país -, as perspectivas para o aumento dos volumes transacionados na Bovespa e na BM&F são alvissareiras. Para Ozório, é de se esperar que a expansão do mercado à vista, com maior número de empresas listadas e um giro médio que pode chegar a R$ 10 bilhões rapidamente, seja acompanhada pelo incremento dos negócios com operações mais sofisticadas no mercado futuro. Só que o cenário externo mais volátil, adverte, não costuma ser um terreno muito fértil para os IPOs. "Em momentos como esse, os investidores estrangeiros têm receio de comprar papéis de empresas estreantes, por mais conhecidas que sejam."


Para a pessoa física, a BM&F pode não ser tão famosa quanto a Bovespa, mas leva vantagem ao ter como principais participantes os investidores institucionais, como as tesourarias dos grandes bancos, os fundos mútuos, de pensão e as seguradoras, (que responderam por 76% dos contratos negociados em 2006), lembra o professor de finanças da Universidade de São Paulo (USP) Rafael Paschoarelli. "São agentes que se valem dos derivativos para se proteger ou alavancar as operações e que geram movimentação em mercados de alta ou de baixa", afirma. O aumento da oferta de crédito na economia, acrescenta, também encontra paralelos na BM&F, à medida que as instituições financeiras referenciam o custo dos empréstimos e balanceiam os riscos recorrendo aos contratos de juros futuros.


A BM&F foi a primeira bolsa do mundo a criar um sistema que enxerga a posição global do investidor para efeito de margem (depósito de garantia), exemplo de como é inovadora, diz Eid Jr., da FGV. O fato de a CME ter criado contratos de real/dólar no fim da década de 90 e a liquidez ter permanecido na bolsa brasileira também é um sintoma da confiança dos investidores, acrescenta. No curto prazo, o risco de comprar a ação está na volatilidade que pode ter nos primeiros dias de negociação. Mantê-la como aposta de longo prazo é uma boa pedida, na sua avaliação.


Para quem se entusiasmou com os ganhos de Bovespa HLD logo na largada, o diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, lembra que não há garantias de que os papéis da BM&F repetirão tal desempenho. O especialista sublinha que a bolsa de futuros é uma instituição de maior porte do que a Bovespa - negocia mais de R$ 100 bilhões ao dia - o que, em tese, limitaria o crescimento. "A BM&F pode pegar carona na expansão da Bovespa pelos contratos de índice, mas no seu ganha-pão, no mercado de juros e câmbio, o potencial é menor", diz. "E por negociar muito, as taxas cobradas são também menores."


No prospecto, a BM&F informa que a média diária negociada em DI teve um aumento de 55% de janeiro a setembro, em comparação ao mesmo período do ano passado. Os futuros de dólar avançaram 62,6% e de Ibovespa, em 69%. Para a bolsa, o aumento do apetite do investidor estrangeiro tende a ser potencializado pelo "grau de investimento". O desenvolvimento do setor de fundos no Brasil, que reúne um patrimônio de R$ 1 trilhão, e o alongamento dos prazos da dívida pública são outros fatores citados como alavanca para o negócio.

Só até dia 30 para ter desconto no IPTU

Jornal da Tarde 19/11/2007

Dos 3 milhões de contribuintes que pediram a nota eletrônica, só 55 mil se cadastraram

CARINA FLOSI, carina.flosi@grupoestado.com.br


Mais de três milhões de contribuintes residentes na Capital Paulista juntaram créditos com a emissão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) para diminuir o valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). No entanto, até agora, apenas 55 mil se cadastraram na Prefeitura de São Paulo. A expectativa da Secretaria Municipal das Finanças é de que até o dia 30 de novembro, quando acaba o prazo para o cadastramento, os contribuintes sobrecarreguem o site da Prefeitura. É possível abater até 50% do valor do imposto.

Ao pagar qualquer serviço, como escola (que não seja filantrópica), cursos, estacionamento ou cabeleireiro, a pessoa pode pedir a NF-e. Para isso, deve fornecer seu número do CPF. Pela internet, o caixa do estabelecimento comercial imprime a nota. Independentemente do valor, o comprador terá revertido em créditos para o IPTU 30% do valor do Imposto Sobre Serviços (ISS) pago pela empresa.

O passo seguinte, que é o cadastro, deve ser feito pelo contribuinte no site da Prefeitura, onde ele terá de informar o número do seu CPF, no campo à direita da tela. Em seguida, preenche as lacunas com nome, data de nascimento, CEP da casa ou apartamento e o e-mail. Por último, indica o código do IPTU do imóvel para lançar o desconto.

A pessoa que pagou R$ 100, por exemplo, por um serviço receberá R$ 1,50 de crédito para diminuir o IPTU. Ou seja, dos R$ 5 pagos do ISS, 30% serão equivalentes aos créditos, que, nesse caso, dá R$ 1,50. Os créditos podem ser usados para o abatimento no valor do IPTU de um ou mais imóveis, que estejam ou não no nome do contribuinte.

Quem, por exemplo, paga R$ 600 de IPTU e já soma R$ 400 em créditos, terá a metade do valor do imposto descontada e os outros R$ 100 poderão ser acumulados para o tributo de 2009 ou para outro imóvel, mesmo que esteja em nome de outro contribuinte. Mesmo quem é isento do pagamento do IPTU ou não tem imóvel é beneficiado com a NF-e. Os créditos podem ser usados para abater o imposto de um parente, de um amigo ou de qualquer pessoa.

Segundo o diretor do Departamento de Arrecadação e Cobrança da secretaria, Ronilson Rodrigues, quem não se cadastrar não perderá os créditos, acumulará para o IPTU de 2009. Eles valem por cinco anos. A emissão das NF-e é obrigatória para todas as empresas prestadoras de serviço (veja exemplos no quadro ao lado) sediadas na Capital com faturamento igual ou acima de R$ 240 mil. Para as empresas com arrecadação menor, a emissão é opcional. Já são 52 mil cadastradas.

Falta de cultura atrapalha

“A emissão da nota fiscal eletrônica é um direito do contribuinte, mas muitos ainda têm receio de pedi-la ao adquirir um serviço. Os caixas torcem o nariz, mas ninguém deve se preocupar com isso. É uma questão cultural e, a longo prazo, todos vão sentir o IPTU menos caro e vão fazer da NF-e um hábito”, prevê Rodrigues. “A NF-e é uma obrigação do prestador de serviços”, conclui.

VEJA ONDE É POSSÍVEL PEDIR SUA NOTA

Dentistas
Salões de Beleza
Encanadores
Segurança
Estacionamentos
Academias
Hospitais, clínicas e laboratórios
Tinturarias
Lavanderias
Sapateiros
Alfaiataria e costura
Sauna e massagens
Centros de emagrecimento e spas
Tinturaria e lavanderia
Assistência técnica
Chaveiros
Conserto e manutenção de máquinas, motores e elevadores
Limpeza, revisão de máquinas, equipamentos, elevadores
Conserto, restauração, manutenção e conservação de máquinas
Dedetização
Auto-escolas e moto-escolas
Cursos de idiomas
Escolas (creches, ensinos Fundamental, Médio, Superior)
Transporte escolar
Planos de saúde
Planos de previdência privada
Seguros
Advogados e assessorias
Hotéis, motéis, pousadas e flats
Agências de turismo
Buffets e quadras esportivas
Pedágios
Consertos em carros
Serviços farmacêuticos

domingo, 18 de novembro de 2007

Esta ação tem futuro?

Quem ficou com água na boca após a estréia da Bovespa terá outra chance: a oferta da BM&F, o templo do risco, já começou

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/edicoes/530/artigo66729-1.htm

Crédito é fácil e rápido, mas lembre-se que é caro

Jornal da Tarde 18/11/2007

Juros cobrados no rotativo do cartão estão entre os mais altos na comparação com outras modalidades de financiamento. Em setembro, a taxa média ficou em 10,3%


O cartão de crédito ganhou espaço entre os métodos de pagamento dos consumidores de baixa renda, mas continua como uma das modalidades de financiamento mais caras do mercado brasileiro. De acordo com a última pesquisa mensal das taxas divulgada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), em setembro o índice para uso do crédito rotativo ficou em 10,3%, em média.

Na prática, um consumidor com uma fatura de R$ 100, que tenha quitado apenas metade do valor na data do vencimento pagaria, só pelos R$ 50 restantes, na fatura do mês seguinte, o equivalente a R$ 55,15.

No levantamento da Anefac, a taxa do rotativo do cartão só perde para os juros médios cobrados pelas financeiras no empréstimo pessoal, o campeão da lista, que atingiu 11,7% ao mês. Além disso, segundo dados da Fundação Procon de São Paulo (Procon-SP), o número de reclamações contra cartões de crédito aumentou cerca de 51% na comparação entre o primeiro semestre de 2006, quando foram registradas 1.105 reclamações, e o mesmo período deste ano, que acumulou 1.674 ocorrências.

Segundo Renata Reis, técnica do Procon-SP, um dos cuidados mais importantes que o consumidor deve ter no uso do cartão é justamente pagar o valor integral da fatura no dia do vencimento. Por isso, ela recomenda que, antes de qualquer compra, a pessoa deve analisar o orçamento mensal, verificar as despesas fixas como água, luz e aluguel para depois concluir se a nova despesa caberá ou não nas contas do mês.

A técnica do Procon-SP acredita que o cartão de crédito estimula a compra de produtos supérfluos, assim recomenda que antes de adquirir qualquer coisa, o consumidor faça uma auto-análise para verificar se não está comprando por impulso, mesmo que haja uma margem para novo gasto no orçamento.

Outros encargos

Renata lembra, ainda, que não é apenas a compra que é paga quando se usa um cartão de crédito. Segundo ela, é preciso pensar que há valores de anuidade, tarifas de manutenção e até taxas cobradas pela possibilidade do parcelamento de contas de serviços como água, luz e telefone. “Isso exige um gasto maior”, observa.

CALMA ANTES DE USAR O CARTÃO

A taxa de juros continua alta. A média mensal para uso do
crédito rotativo em setembro ficou em 10,3%, menor apenas que o empréstimo em financeiras, que atingiu 11,7%

Antes de qualquer compra, analise o orçamento mensal; verifique as despesas fixas como água, luz e aluguel para depois concluir se a nova despesa caberá ou não nas contas do mês

Não compre por impulso. Faça uma auto-análise para verificar se o produto é, de fato, necessário, mesmo que haja uma margem
para novo gasto no orçamento

Não se esqueça de que a compra é apenas um item do pagamento no cartão de crédito

Há ainda valores de anuidade tarifas de manutenção e até taxas cobradas pela possibilidade do parcelamento de contas de serviços como água, luz e telefone, entre outras
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