quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Investir e poupar, entre o céu e o inferno

Valor Econômico
Célia de Gouvêa Franco, de São Paulo
22/11/2007

"Sucesso e Independência - Família, Carreira e Finanças para Toda a Vida" - Louis Frankenberg.


Campus/Elsevier, 310 págs.


"Dívida Boa, Dívida Ruim - Saber a Diferença Pode Salvar sua Vida Financeira" - Jon Hanson.


BestSeller, 268 págs.


Possivelmente nunca antes na história desse país houve tanto interesse por investimentos na Bolsa de Valores, como mostram todos os indicadores que se referem ao mercado de ações. Com a inflação controlada e tanto a renda média da maioria dos trabalhadores como o nível de emprego em alta, muitos brasileiros passaram a ter como aplicar no mercado financeiro e, com a alta retumbante da Bolsa nestes três últimos anos, é natural que se procure aprender a lidar com ações e a entender como funcionam opções de investimentos mais sofisticados, como o mercado de derivativos na BM&F.


Essas são as razões que explicam a presença de muitos livros de orientação de investimentos pessoais nas listas dos mais vendidos, como, por exemplo, os títulos "Investindo em Opções", "Bem-Vindo à Bolsa de Valores", "Aprenda a Operar no Mercado de Opções", segundo listagem recente elaborada pelo Valor Data.


Em uma linha mais ampla, não voltada exclusivamente para investimentos, também fazem sucesso as obras que procuram ajudar o leitor a dominar sua vida financeira, cuidando do endividamento e da poupança. São exemplos dessa linha "Sucesso Empresarial - Família, Carreira e Finanças para Toda a Vida", do consultor brasileiro Louis Frankenberg, e "Dívida Boa, Dívida Ruim - Saber a Diferença Pode Salvar a sua Vida Financeira", do americano Jon Hanson, que apresenta um trunfo poderoso na sua biografia: depois de acumular uma dívida de quase US$ 80 mil com o Imposto de Renda, ele conseguiu sobreviver à "quase-morte-financeira".


Experiências pessoais, ainda mais no que se refere a dinheiro, sempre enriquecem qualquer relato. É o que acontece no livro de Hanson, que conta casos exemplares, como quando ele decidiu comprar um automóvel e foi seduzido por um Jaguar XKE preto conversível: "Olhei para o carro e, de imediato, percebi que o desejava, embora o raciocínio no fundo da minha alma gritasse baixinho: 'Não! Não' Em primeiro plano, o meu eu emocional dizia: 'Sim! Sim'. Minha privação do passado conspirava com a ambição de uma vida melhor. Tornei-me refém das minhas próprias emoções". Quem não gosta desse tom, desista da leitura porque quase todo o livro é escrito dessa forma, com esse elevado grau de dramaticidade. Os títulos dos capítulos são, por exemplo, "Como destruir sua vida"...


A "teoria" de Hanson é de que existem dois tipos de dívidas, um útil para se construir o patrimônio, o outro que acaba levando ao desastre financeiro. A questão é ser capaz de se equilibrar entre os dois tipos e saber se um financiamento é o caminho para o céu ou para o inferno. Ele dá uma série de dicas e conselhos sobre como resistir às tentações do consumismo desbragado e como valeria a pena, em muitas situações, adiar a compra porque ela significa aumentar o endividamento. Muitas dessas sugestões perdem sua força, porém, porque referem-se a especificidades do mercado americano. No Brasil, não existem, por exemplo, hipotecas da mesma maneira como há nos Estados Unidos, onde são a principal forma de financiamento da casa própria. Teria sido mais interessante para os leitores se a versão brasileira trouxesse exemplos ou explicações mais amplas sobre a realidade do país.


Já o livro "Sucesso e Independência" começa de forma que estimula a curiosidade, já que o prefácio é de Max Gehringer, um dos "conselheiros" sobre vida corporativa mais na moda no Brasil atualmente - e ele afirma que seguiu um conselho dado por Frankenberg há dez anos, o de vender o carro, aplicar o dinheiro e andar de táxi. A obra acaba, porém, se revelando um tanto desordenada, mais uma coleção de capítulos sobre temas isolados, sem formar um conjunto orgânico. Pode ser interessante ler apenas sobre finanças, patrimônio e seguros, em um único capítulo, mas essas questões permeiam outros aspectos da vida do leitor, tratadas em diferentes partes do livro, e a sensação geral é de superficialidade.

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