segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Aplicação protegida na Bolsa não engrena

FABRICIO VIEIRA
Folha de S. Paulo
19/11/2007

POP, investimento que reduz impacto de desvalorização de ações, registra só 39 negócios em outubro, contra 249 no mês de estréia

Contrapartida é que, quando ações sobem, investidor tem de abrir mão de parcela do lucro; analistas creditam desinteresse à alta da Bolsa

Neste seu primeiro ano, o POP (Proteção do Investimento com Participação) não conseguiu engrenar. O produto financeiro lançado pela Bovespa com a promessa de amenizar as perdas decorrentes de possíveis desvalorizações no mercado acionário tem tido baixíssima movimentação -exatamente em um momento em que o investidor pessoa física tem procurado de forma crescente a Bolsa para aplicar.
O produto foi lançado com estardalhaço em fevereiro, também o mês em que mais foi negociado. Naquele período, foram feitos 249 negócios com o POP. Mas, de lá para cá, esse já baixo número de operações tem diminuído: em outubro, foram fechados só 39 negócios com o produto financeiro.
No mesmo período, o número de operações feitas na Bolsa aumentou consideravelmente, atingindo novo recorde em outubro, quando foram realizadas 4,29 milhões movimentações -crescimento de 85% em comparação com fevereiro.
Analistas apontam alguns fatores para explicar a falta de interesse pelo POP. A boa fase que atravessa a Bolsa de Valores de São Paulo é um deles, pois a vantagem do POP aparece nos momentos de queda do mercado. Também tem havido um crescente interesse do brasileiro em comprar diretamente as ações, como mostram o aumento do volume negociado pelo investidor de varejo na Bolsa de Valores e os recordes alcançados pelo "home broker" (sistema de negociação de ações via internet).
"A Bolsa vive um momento de ganhos fortes. Com isso, as pessoas têm optado mais por comprar diretamente as ações do que aplicar em um POP e ter de abrir mão de parte de seu lucro", avalia Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da corretora Souza Barros.
O POP foi lançado com o intuito de atrair mais investidores de varejo para o mercado acionário, prometendo menos riscos de perdas do que o embutido em operações de compra direta de uma ação. Ele se utiliza de sofisticadas operações no mercado acionário (chamadas de "opções") e dessa forma consegue diminuir o impacto das quedas das ações. Assim, é indicado ao investidor que quer aplicar em Bolsa de Valores mas que tem medo das oscilações típicas desse segmento do mercado.
O produto protege uma parcela, que oscila normalmente entre 70% e 80% do aplicado, das eventuais quedas da Bolsa. Se alguém compra uma determinada ação e ela cai 20%, terá de aceitar essa perda. Já quem comprou um POP dessa ação sofrerá apenas com o impacto de uma parcela dessa queda.
Mas há uma contrapartida a essa proteção: quando a ação sobe, o investidor tem de abrir mão de uma parcela de seu lucro, que beneficiará quem negociou o POP com ele.
"Acho que investir direto em ação é muito mais atrativo. Com o mercado bom, a tendência é as pessoas quererem buscar as maiores chances de lucrar com a ação diretamente. Quem não quer correr muito risco é que investe em um POP", diz o diretor da corretora Ágora Álvaro Bandeira.
Há ofertas de POP apenas para as ações de maior liquidez da Bovespa, como Petrobras, Vale do Rio Doce, Bradesco, Itaú, Companhia Siderúrgica Nacional, Telemar e AmBev.
As operações com o POP têm girado uma média mensal de R$ 4,5 milhões. Nas operações normais na Bovespa, o investidor pessoa física tem movimentado por mês uma média de R$ 22,1 bilhões neste ano.
Registros da CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação de Custódia) mostram que atualmente há mais de 310 mil contas de investidores pessoa física -um salto de 21,5% em comparação aos 255 mil que havia no fim do primeiro semestre deste ano.

Período de ganhos
Apesar de suas oscilações constantes, a Bovespa registra valorização acumulada de 45,28% em 2007 -melhor resultado anual desde os 97,3% verificados em 2003.
Dessa forma, o POP terá mais chances de testar seu apelo junto ao público se o mercado acionário encarar um período mais turbulento.
No triênio 2000-2001-2002, por exemplo, a Bovespa amargou perdas. Em 1998, o POP também teria um terreno mais propício para mostrar seu potencial: a Bolsa paulista teve perdas acumuladas de 33,4% naquele ano.
"Estamos em uma fase em que a Bolsa está se transformando na vedete dos investimentos", afirma Monteiro, da corretora Souza Barros.
A renda fixa, que paga juros e é a maior categoria de fundos do mercado, registra neste ano rentabilidade média acumulada de apenas 10%

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