terça-feira, 20 de novembro de 2007

Consignado deixa aposentado no vermelho

Jornal da Tarde 20/11/2007

A facilidade para se tomar empréstimo com desconto direto no pagamento fez com que o número de idosos inadimplentes aumentasse mais de 100% nos últimos anos

Charlise Morais, charlise.morais@grupoestado.com.br

A facilidade para tomar empréstimo consignado, cujo desconto para pagamento incide diretamente na aposentadoria, tem feito com que as pessoas acima de 51 anos engrossem a lista dos inadimplentes paulistas. De acordo com a Pesquisa de Inadimplência do Serviço de Proteção ao Crédito, feita pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que comparou o perfil dos devedores em 1997 com os de 2007, o aumento de pessoas que deixaram de saldar as suas dívidas foi de 175% para quem está na faixa etária entre 51 e 60 anos e de 100% para quem tem acima de 60 anos (ver quadro na página).

“A alta inadimplência nessa faixa etária se deu por conta do fácil acesso ao crédito consignado. Na maioria das vezes não é o empréstimo que deixa de ser pago - já que é descontado do benefício - , mas outras contas ficam atrasadas, pois há menos recursos para saldá-las”, argumenta o economista da ACSP, Emilio Alfieri.

“Esse número é preocupante. Principalmente se levarmos em conta que a grande maioria dos aposentados deste País não ganha mais do que um salário mínimo (R$ 380)”, alerta o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical, João Batista Inocentini.

O crédito consignado a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) passou a vigorar em setembro de 2004. Desde então, essa modalidade de crédito foi concedida a 8,74 milhões pessoas em 22,1 milhões de operações, totalizando o valor de R$ 29 bilhões emprestados. Isso mostra que esse recurso foi utilizado mais de uma vez pela maioria dos aposentados que recorreram ao crédito. Desse total, 13,7 milhões de operações estão ativas e quase 6 milhões já foram liquidadas, ou seja, pagas.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, o crédito consignado foi uma grande conquista para a categoria nos últimos anos. “Mas é preciso saber usar. Como é muito fácil de contratar acaba gerando descontrole. Aqui no sindicato recebemos muitas reclamações de pessoas que se tornam devedoras por não saber utilizar o crédito consignado.”

Reforma da casa

O aposentado Antônio Cassiano das Neves, 71 anos, ainda está pagando um financiamento que fez no ano passado para reformar a sua casa. Ele recebe de aposentadoria três salários mínimos por mês (R$ 1.140) e parte de sua renda é destinada ao pagamento das parcelas do financiamento, de R$ 300, que só serão totalmente quitadas em 2008. Por conta disso, algumas despesas essenciais deixaram de ser pagas. “Atrasou a água e a luz e faltou para alguns remédios, mas espero normalizar em breve”, justifica.

Para ‘normalizar’ seu orçamento, o aposentado vai recorrer novamente ao crédito consignado. Desta vez em um empréstimo de R$ 2 mil, com parcelas de cerca de R$ 250 mensais. “Mas só depois que eu terminar de pagar o primeiro. O desconto do financiamento não tem como ser perdoado. Por isso, agora eu estou levando minhas contas tudo direitinho, para não estourar de novo o orçamento”, diz.

Inocentini lembra que o maior problema em relação a esse tipo de empréstimo está associado aos pedidos de familiares. “É sempre o neto ou o filho que pede para que o aposentado faça um empréstimo, com a promessa de saldá-lo. Mas, isso nem sempre ocorre e a dívida fica para o tomador do empréstimo. Esse tipo de problema é muito freqüente”, alerta.

Foi justamente para ajudar seu filho, de 40 anos, “que está com a vida enrolada”, que o aposentado Manoel Erácito Rangel, 67 anos, recorreu a essa modalidade de crédito. “Mas, eu só comprometi uma parte da minha renda que não faria falta”, justifica.

Já o pagamento das parcelas - que tiveram a promessa de serem quitadas pelo filho -, acabam ‘sobrando’ para o aposentado. “Pagar ele até paga, mas aí a mãe dele força a barra e eu acabo cedendo e assumindo a conta”, reclama.

Mas, Rangel não exagera na tomada de crédito. “O empréstimo é bom, mas tem de saber como e quando utilizar. Muitos estão endividados porque não sabem se controlar”. Essa visão o aposentado tirou de uma experiência ruim próxima a ele. “Minha irmã fez vários empréstimos, todos para os filhos, e na hora de receber o benefício não tinha quase nada. Eu brequei ela (sic)”, recorda.

Outro motivo que leva os idosos a se endividarem é quando, para diminuir a parcela do financiamento, contratam outro, com prazo maior. “Aí vira uma verdadeira bola de neve”, diz Inocentini.

Pelas regras do consignado, o aposentado pode comprometer até 30% da sua renda com o pagamento de cada parcela do consignado. A taxa máxima de juros permitida é de 2,64% mensais, o que torna essa operação uma das modalidades de crédito mais baratas do mercado financeiro.


O QUE FAZER PARA SAIR DA LISTA NEGRA

NOME PROTESTADO

Procure o cartório que protestou a dívida e a empresa credora

Negocie ou quite a dívida e exija um comprovante

A empresa deverá comunicar a liquidação do débito ao serviço de proteção ao crédito

CHEQUE DEVOLVIDO (quando constar do cadastro)

Negocie ou pague e recupere o cheque

Depois, vá ao banco e peça o cancelamento da restrição

CHEQUE DEVOLVIDO

(quando informado pela empresa)

Compareça à empresa credora

Pague ou negocie a dívida e exija um comprovante

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