quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Bancos mudam cobrança de taxa em fundo

Gestão de recursos: Valor da tarifa que era debitada mensalmente passa a ser retirada diariamente das carteiras.

Valor Econômico

Por Angelo Pavini, de São Paulo
11/08/2010

 
 
 

Com a queda dos juros nominais, o impacto da taxa de administração cobrada pelos bancos nos fundos de investimento aumentou e passou a chamar a atenção de investidores e do próprio governo. Tornou-se assim praticamente proibido falar em aumento dessas taxas. Mas alguns gestores encontraram uma forma de aumentar a remuneração por seu trabalho. Uma delas está na forma de cobrança pelos serviços.

Pelo menos dois grandes gestores - Itaú e Credit Suisse Hedging-Griffo - estão adotando o desconto diário da taxa de administração. O habitual é que o gestor provisione, ou seja, separe o valor diariamente, para debitá-lo do fundo mensalmente. Com essa antecipação, o gestor recebe o dinheiro antes e o investidor perde o rendimento sobre esse valor que teria até o dia do pagamento, o "floating".

No caso do Credit Suisse, são R$ 30 bilhões aplicados em 800 fundos, 100 dos quais abertos, que passaram a ter essa cobrança este mês. No Itaú, a cobrança, que hoje já inclui os cerca de R$ 140 bilhões em fundos da casa, atingirá também os do Unibanco, que somavam em abril do ano passado R$ 68 bilhões. "Nos fundos do Unibanco, o valor da taxa é provisionado diariamente e o recolhimento é mensal, mas isso vai passar por uma padronização", diz Osvaldo Nascimento, diretor de Varejo do Itaú Unibanco. O banco tem um total de R$ 211 bilhões sob gestão.

O impacto dessa mudança é relativamente pequeno para o investidor, mas nada desprezível para o gestor. Estimando uma taxa de administração média de 1,5% ao ano, a mudança significaria uma perda para o cliente de R$ 0,50 por mês para cada R$ 100 mil aplicados, ou R$ 6 por ano. Para R$ 1 milhão, R$ 60,00 anuais, e assim por diante. Mas quando se pegam os bilhões dos gestores, o valor ganha mais vulto. No caso do CSHG, com R$ 30 bilhões, a mudança vai representar uma receita adicional de R$ 1,8 milhão por ano.

Já no Itaú, com a transformação da cobrança nas carteiras do Unibanco, de R$ 69 bilhões, o aumento será de R$ 4,080 milhões, elevando o ganho sobre o total da carteira de R$ 211 bilhões para R$ 12,660 milhões por ano.

Procurados, Bradesco, Santander e BNY Mellon informaram que não estudam mudar a forma de cobrança, com provisão diária e débito mensal.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) explica que não há restrições ao sistema de cobrança diária da taxa. Mas o sistema deve estar claro no regulamento do fundo, ressalta Francisco Bastos Santos, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM. "Não é irregular, a Instrução 409 estabelece que a taxa de administração deve ser provisionada por dia útil e apropriada de acordo com o regulamento do fundo", diz. O motivo é que, como a maioria dos fundos tem liquidez diária, o investidor que sai precisa ter a despesa já deduzida da cota quando pede o resgate.

O que é importante, afirma Santos, é que, se houver mudança na cobrança, ela seja aprovada em assembleia de cotistas. Foi o que fez o Credit Suisse Hedging-Griffo. Nos últimos dois meses, a gestora convocou assembleias para aprovar a mudança. Segundo um executivo da gestora, que pediu para não ser citado, o débito diário se tornou possível porque o administrador das carteiras, o Itaú, responsável pelo cálculo das cotas dos fundos da CSHG, ofereceu um sistema que permitia essa cobrança. "Eles já faziam o débito diário para suas carteiras, então resolvemos adotar o mesmo sistema."

Para Santos, da CVM, os débitos pequenos têm um custo adicional em relação ao mensal, por isso alguns gestores preferem ficar com o sistema antigo. Ele recomenda ver a taxa de administração de fundos como um preço de mercado. "Há diferentes casas oferecendo produtos diferentes, e a melhor maneira para caminhar para melhores níveis de taxas é melhorando a informação para o investidor", diz.

Entre as iniciativas, ele cita o informe anual aos cotistas que a CVM pretende tornar obrigatório na próxima reformulação da Instrução 409, que deve entrar em audiência pública nos próximos meses. A proposta é a criação de um relatório que mostre de forma transparente e clara o peso das despesas e da taxa de administração na rentabilidade do fundo.

O CSHG justifica a mudança citando a qualidade do trabalho do gestor. "Temos despesas como publicação de balanço, taxas da CVM, imposto de renda, despesas com advogados, publicações, tudo isso pago com a taxa de administração e com a taxa de performance", diz um executivo da gestora. Segundo ele, o Itaú tem 160 pessoas apenas para fazer a controladoria, custódia e liquidação financeira dos fundos do CSHG. "E o investidor não vê as vantagens que conseguimos para o fundo ao negociar com outros fornecedores", diz. Já a taxa de performance continuará sendo paga duas vezes por ano.

Segundo Nascimento, do Itaú, o banco sempre debitou diariamente a taxa de administração dos fundos. "Por problemas de sistema, outros não fazem, mas nós sempre debitamos", diz. A medida será estendida agora aos fundos do Unibanco.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Escola pública inicia projeto de educação financeira

Folha de São Paulo

09/08/2010

Piloto envolverá 15 mil estudantes em 6 Estados

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Estudantes de escolas públicas vão agora estudar orçamento doméstico, poupança, aposentadoria, seguros e financiamentos - assuntos que interessam a todos, mas que apavoram até os pós-graduados.

A partir de hoje, 450 escolas públicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Tocantins e do Distrito Federal iniciam aulas do projeto-piloto de educação financeira, que pretende chegar a mais de 200 mil instituições de ensino oficial e erradicar o analfabetismo financeiro no país.

O piloto envolverá 15 mil estudantes do ensino médio em 2010 e 2011. No próximo ano, o teste chegará a escolas do ensino fundamental.

Com a ajuda de entidades do mercado de capitais, os educadores desenvolveram conteúdos de educação financeira para todas as nove séries do ensino fundamental e as três do ensino médio.

Os professores que levarão o conteúdo para a sala de aula foram treinados no primeiro semestre deste ano.

Não haverá mais uma disciplina na sala de aula; o conteúdo será distribuído nas aulas de matemática, história, ciências sociais e até português. Quem decide a disciplina é a escola.

No Brasil, a matemática financeira e os juros compostos só são ensinados na universidade, apesar de o conteúdo ser mais simples do que aspectos da álgebra e da trigonometria, que estão no currículo do ensino médio.

 
 

PREPARO FINANCEIRO

 
 

Segundo José Alexandre Vasco, superintendente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a educação financeira nas escolas é incentivada pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e faz parte do currículo escolar de mais de 60 países.

"Temos novos consumidores que estão enfrentando situações para as quais não foram preparados. Seus pais não viveram essa realidade. Há uma responsabilidade moral da sociedade de ajudar essas pessoas", disse.

Para medir o impacto das aulas na vida dos alunos, as entidades de mercado buscaram ajuda financeira e técnica do Banco Mundial, que também está preocupado com essa deficiência nos países em desenvolvimento.

Depois de aplicado o conteúdo nas primeiras 450 escolas, os alunos e as famílias serão submetidos a pesquisa para avaliar a retenção de conhecimento e eventuais mudanças de comportamento na gestão de recursos.

A avaliação será feita com alunos de outras 450 escolas que não tiveram o conteúdo.

Com base nos resultados, o programa didático será aperfeiçoado antes de ser aplicado nas 200 mil escolas da rede pública no país, a partir de 2012. Só a avaliação custará R$ 1 milhão.

"É uma metodologia parecida com os testes de um remédio. Metade da população recebe o remédio e a outra metade, o placebo", disse.

O projeto é iniciativa de entidades do mercado de capitais como Febraban (bancos), Anbima (bancos e gestores) e BM&FBovespa e dos reguladores CVM, BC, Susep (seguros) e Previc (previdência), que traçaram uma estratégia nacional de educação financeira, com supervisão do Ministério da Educação.

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