sábado, 13 de junho de 2009

Para fazer a escolha certa

Jornal da Tarde
13/06/2009
Carolina Dall’olio

Com a queda taxa básica de juros (Selic) de 10,25% para 9,25% ao ano na última quarta-feira e o crescimento da oferta de crédito, o consumidor deve passar a ser bombardeado por anúncios de empréstimos mais baratos e acessíveis. Por isso, mais do que nunca, é hora de tomar cuidado.

A recomendação dos especialistas permanece a mesma: sempre que possível, deve-se privilegiar a compra à vista e deixar o empréstimo somente para casos em que não haja alternativa. Mas se optar pelo crédito, a dica é avaliar não apenas os juros, que variam muito de banco para banco. É importante considerar o uso que se fará desse dinheiro.

O crédito consignado - aquele em que o valor das prestações é descontado diretamente na folha de pagamento do trabalhador ou no benefício do aposentado - continua sendo a modalidade mais barata do mercado. Mas, segundo especialistas, nem sempre vale a pena. Na compra a prazo de um produto (um eletrodoméstico, por exemplo), muitas vezes é melhor aceitar o parcelamento oferecido pela loja em vez de buscar um empréstimo para comprar à vista. Não porque essa seja a alternativa mais barata (veja quadro). “Mas há casos em que o varejista não oferece a opção de descontar o juro já embutido no preço do produto”, alerta Rafael Pasquareli, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA).

A maioria das redes de varejo anuncia um “parcelamento sem juros”. A prática é enganosa. O próprio Ministério Público, que move ação contra as varejistas, afirma que na verdade essas operações embutem os juros e anunciam o preço cheio ao consumidor, dando a falsa ideia de que o valor à vista e a prazo é igual.

Por isso, quando o consumidor pede abatimento no preço à vista, boa parte das lojas nega. “Se o consumidor não obtiver o desconto dos juros no pagamento à vista, convém ele parcelar a compra na própria loja, para não ter nenhum gasto adicional com os juros de um empréstimo”, aconselha Pasquareli. “Embora ele esteja sendo enganado pela loja, que não quer informar os juros embutidos, não há uma saída melhor.”

Entretanto, quando o lojista informa os juros embutidos, aí sim o consumidor pode confrontar o custo do financiamento e o do empréstimo no banco, e escolher a opção mais barata.

Já para quem precisa do dinheiro momentaneamente, e não para financiar a compra de um bem, comparar os juros fica mais fácil. O cheque especial - embora seja a linha de crédito oferecida automaticamente pelos bancos - não é a opção mais em conta. Mas é a mais prática.

“Se o consumidor precisa de dinheiro a curto prazo e está disposto a pesquisar, certamente ele vai encontrar opções de crédito mais baratas que o cheque especial”, afirma Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP). Porém, lembra o professor, boa parte dos bancos não vai aceitar que o pagamento do empréstimo seja dividido em menos de três parcelas - prazo muito maior que o pedido pelo cliente.

“A solução será parcelar no prazo mínimo estipulado pelo banco e quitar o financiamento antes do previsto, pedindo para abater os juros restantes”, indica Gallo. Mas a operação requer paciência.

“É preciso estar atento para que o banco não cobre mais do que deveria. Além disso, nem sempre a diferença nos juros compensa o trabalho. Quem prefere conveniência, deve repensar essa opção”, diz o especialista.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Funcionário tem metas a cumprir

Jornal da Tarde
12/06/2009



A pesar de às vezes se passar por conselheiro financeiro dos clientes, os gerentes de atendimento e de agências bancárias são vendedores, alerta o coordenador do MBA em banking da Fundação Instituto de Administração (Fia), Roy Martelanc.

“Gerente de banco não é consultor de finanças pessoais. Ele tem metas a cumprir e, quanto maior seu rendimento, maior sua comissão”, afirma, dizendo que isso pode influenciar nas alternativas que eles oferecem aos clientes. “Geralmente as metas têm uma cota maior de produtos mais rentáveis para o banco”.

A decisão de empurrar um produto que não se ajuste ao perfil do cliente, diz ele, não tem como ser coibida, e depende da ética de cada gerente. Segundo as respostas dadas por gerentes certificados pela Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid) à pesquisa do Ibope encomendada pela instituição, a pressão pelo cumprimento de metas não tem forte influência sobre as opções que oferecem ao cliente. Em uma das perguntas, em uma escala em que 1 quer dizer “nunca” e 5 quer dizer “sempre”, os gerentes atribuíram valor 2,91 para a pressão.

O preço do serviço

No segmento de renda mais baixa, a pressa do gerente pode também fazer com que o cliente saia do banco com suas economias aplicadas em um investimento inadequado para seu perfil.

“É questão de custo: o gerente não vai ficar meia hora aconselhando alguém que queira investir R$ 250. Esse investimento não vai pagar a mão de obra dele”. Por isso, diz, o aconselhamento para essa faixa pode ser feito no próprio caixa, onde os funcionários podem ter qualificação menor do que o gerente.

Solicitar a ajuda do gerente pode, no entanto, ser apenas o empurrãozinho que faltava. “Às vezes a pessoa faz uma pesquisa e decide diversificar um pouco, mas está insegura”, diz Martelanc. “Ao falar com o gerente, se certifica de que era aquilo mesmo e faz a aplicação. É o aspecto emocional.”

A opção de investir sem ter que trocar ao menos uma palavra com o gerente é possível, há algum tempo, por meio de sites de diversos bancos. A opção, segundo o professor da Fia, é aconselhável para quem tem noção, pelo menos média, das características dos investimentos.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Fundos na era do juro menor

Na semana em que se espera a redução da Selic para a casa dos 9%, Bradesco diminui o valor mínimo de aplicação em carteiras de renda fixa e DI com taxas mais baixas.

Valor Econômico

Por Angelo Pavini, de São Paulo
08/06/2009




Às vésperas de um momento histórico, em que o Brasil terá, depois de décadas, uma taxa de juro primário abaixo de dois dígitos, os bancos de varejo começam a se movimentar para ajustar seus fundos de investimento à nova realidade. Diante da expectativa de que o Copom reduza a taxa Selic dos atuais 10,25% para 9,75% ou até 9,25% ao ano, o Bradesco resolveu se antecipar e deve anunciar hoje a redução do valor mínimo de aplicação de seus fundos oferecidos nas agências. São 23 fundos que ficarão mais acessíveis aos investidores com menor volume de recursos, afirma Marcos Villanova, diretor de Produtos de Investimento da instituição.

A medida é necessária pois, com a queda dos juros, aumenta o impacto da taxa de administração cobrada pelos bancos no retorno do investidor. Um fundo DI que cobra 4% ao ano de taxa ficará com quase metade do rendimento obtido no mercado se o juro cair para 9,25% ao ano - vale lembrar que a taxa é cobrada sobre todo o valor aplicado, não apenas sobre o rendimento. Depois há ainda o imposto de renda sobre o rendimento, e que varia de 22,5% para aplicações até seis meses até 15% nos prazos acima de dois anos.

Somando taxa de administração e imposto, esse fundo com 4% de taxa de administração renderia líquido para o investidor entre 3,8% se ele sacar antes de seis meses a 4,2% se o prazo da aplicação for maior que dois anos. Ou seja, mal cobrirá a inflação, levando-se em conta a estimativa de IPCA em torno de 4%. Se for comparada com a poupança, que rende pelo menos 6,17% ao ano, a diferença é ainda é maior.

Considerando ainda o juro de 9,25% ao ano, um fundos DI ou renda fixa conservador renderá menos que a poupança caso o banco cobre mais de 2% ao ano, no caso da alíquota mínima de imposto, de 15%, ou 1% ao ano se a alíquota for de 22,5%.

A ideia de baixar a aplicação mínima é uma alternativa a criar carteiras com taxas de administração mais baixa e deve ser seguida por outras instituições, como disse ao Valor o vice-presidente de Wealth Management do Itaú Unibanco, Alfredo Setubal, ex-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Hoje, clientes do chamado varejo seletivo já pagam menos nos fundos.

Mas a expectativa era que os bancos fizessem a mudança sem grande estardalhaço, uma vez que ela significa ganhos menores para as instituições. O Bradesco, porém, resolveu transformar o limão em limonada e aparecer como primeiro a tomar a decisão. Ninguém fala, porém, em baixar as taxas de administração dos fundos atuais, que tenderiam a minguar sem aplicações novas, que iriam então para carteiras mais baratas.

Na nova tabela, a aplicação mínima dos fundos DI Brilhante e Renda Fixa Mercúrio, ambos com taxa de administração de 2,5% ao ano, cairá de R$ 10 mil para R$ 5 mil. Os fundos DI Topázio e Renda Fixa Saturno, que cobram taxa de 1,5%, passam de R$ 40 mil para R$ 30 mil. Já o DI Platinum e o Renda Fixa Marte, com taxa de 1% ao ano, caem de R$ 200 mil para R$ 80 mil. O fundo de curto prazo, que cobra 3% de taxa de administração, teve a aplicação mínima reduzida de R$ 5 mil para R$ 500,00.

A medida do Bradesco atinge também fundos de ações, que começarão a entrar no radar dos investidores a partir da queda dos juros, afirma Villanova. O Bradesco baixou a aplicação de quatro fundos de ações - Ibovespa Indexado, Ativo, Multi Setorial e Infra-estrutura -, de R$ 1 mil para R$ 500,00.

No varejo de alta renda, o Prime, os fundos DI e Renda Fixa de R$ 20 mil, que cobram 2% de taxa ao ano, passarão a aceitar aplicações de R$ 5 mil. Os de R$ 100 mil, com taxa de 1% ao ano, caem para R$ 40 mil e os de R$ 200 mil, que cobram 0,70% ao ano, para R$ 80 mil. Dois multimercados também reduzirão o valor mínimo, de R$ 25 mil para R$ 10 mil.

Os fundos mais acessíveis do varejo, DI Safira e o Renda Fixa Vênus, ambos com taxa de administração de 3,5% ao ano e que já rendem menos que a poupança, seguirão sem alterações, mantendo aplicação mínima de R$ 100. "Vamos tentar oferecer a melhor rentabilidade possível, alongando os prazos dos papéis, por exemplo", diz Villanova.

Ele não espera, porém, uma saída em massa de recursos desses fundos com destino aos mais baratos, mas que as novas aplicações sejam orientadas para as carteiras com taxa de administração menor. "O investidor que está nesses fundos mais antigos já tem direito a alíquotas menores de imposto, com mais de dois anos, e trocar de aplicação agora significaria recomeçar a contagem ou pagar mais imposto se precisar sacar", avalia.

Mesmo a vantagem da caderneta de poupança é relativizada por Villanova. "Quem aplica em fundos não quer ficar preso a uma data do mês para sacar, como na poupança", diz ele, lembrando que o investidor pode até ter cadernetas para os filhos, "mas usa mais o fundo para ele mesmo".

Para Villanova, o investidor quer liquidez diária e, para valores menores, a diferença de ganho entre poupança e fundo será pequena. "Quem aplica em um fundo de 3,5%, 4% de taxa de administração resgata logo, quer liquidez, não está preocupado em ganhar menos R$ 2, R$ 3 por mês numa aplicação de R$ 1 mil."

Villanova reconhece também que, com a taxa de juros menor, a concorrência entre as instituições vai crescer. "Não dá para comparar fundos de ações porque a qualidade da gestão tem um peso grande no desempenho, mais até que a taxa de administração", diz o executivo. "Mas num fundo DI, que tem 90% de títulos do Tesouro, ou até num renda fixa, já dá" afirma. Por isso a decisão de realinhar toda a grade de fundos do banco, ajustando-a a nova realidade do mercado. "A Selic vai cair e queremos que mais investidores tenham condições de entrar em fundos mais competitivos" , diz.

Outro ponto é que, com juro menor, o investidor vai querer diversificar. Não que de repente todos passarão a querer desesperadamente correr mais risco, "mas, com o retorno da renda fixa caindo bastante, será preciso diversificar para ganhar um pouco mais", observa Villanova. Para auxiliar nesse processo, o banco montou uma área de consultoria para os clientes e uma equipe que corre o Brasil orientando investidores. "Mostramos, por exemplo, que o multimercado é a ponte para quem não está acostumado com risco para entrar em ações no futuro", afirma.

O potencial de diversificação do mercado brasileiro é grande, lembra Villanova. Olhando o mundo, dos US$ 26 trilhões aplicados em fundos, metade está em ações, enquanto aqui esse percentual mal chega a 12%. Essa tendência torna importante a questão da preocupação do banco em conhecer o tipo de investimento que melhor se adapta ao cliente, a chamada "suitability". Os bancos terão de montar sistemas que permitam esse acompanhamento até janeiro do ano que vem. "Já fizemos isso para o private, agora estamos nos preparando para a rede."

De qualquer maneira, analistas recomendam que o investidor não mude suas estratégias neste momento. O ideal é primeiro avaliar a redução dos juros e a reação dos bancos e do governo, para depois pensar em sacar dinheiro dos fundos DI ou renda fixa.

Nova renda fixa dribla Selic menor

Autor(es): Mariana Segala
O Estado de S. Paulo - 08/06/2009


A queda da taxa de juros básica, a Selic, começa a obrigar os bancos a buscar alternativas para assegurar rentabilidade atraente aos fundos de renda fixa. Não que os juros estejam baixos se comparados ao padrão internacional. "Mas o investidor daqui não está acostumado com o atual patamar", diz a superintendente de Investimentos da Votorantim Asset Management, Sandra Petrovsky. A saída para melhorar a rentabilidade pode estar em uma sigla ainda pouco conhecida dos investidores: DPGE.

Anunciados em março pelo Banco Central para estimular operações de crédito, os Depósitos a Prazo com Garantia Especial são títulos emitidos por bancos, semelhantes aos Certificados de Depósito Bancário (CDB), com a diferença de que não podem ser resgatados ou negociados antes do vencimento. O trunfo desses títulos é o fato de contarem com garantia de R$ 20 milhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Os CDBs ou a caderneta de poupança, por exemplo, têm garantia limitada a R$ 60 mil por CPF na hipótese de a instituição financeira ficar insolvente.

HSBC, Votorantim e Banco do Brasil estão entre os bancos que lançaram novos fundos compostos exclusivamente por DPGEs. Esses fundos se destinam aos investidores com maior disponibilidade de recursos e horizonte de tempo mais extenso, na medida em que os títulos não podem ser negociados antes do vencimento. A paciência pode render bons frutos, já que se espera que os juros - ainda altos - oferecidos pelas instituições possibilitem ganhos de até 110% do CDI.

As emissões até o início de junho indicam que o objetivo do Banco Central, ao dar garantia aos DPGEs, funcionou: a ideia era facilitar a captação de recursos pelos bancos, especialmente os de pequeno e médio porte, para que voltassem a aprovar empréstimos para empresas, o que havia sido interrompido pelo agravamento da crise mundial a partir de setembro do ano passado.

"Acreditamos que os DPGEs são, no momento, uma excelente combinação de risco e retorno", avalia o diretor de renda fixa da HSBC Global Asset Management, Renato Ramos. "E o risco de crédito do papel é baixo, muito próximo do risco soberano", afirma.


ENTENDA

Risco de Crédito - Eventualidade de uma emissão não ser honrada, seja por razão moral ou financeira, no prazo previsto para o resgate do título.

Risco Soberano - Também conhecido como risco país, indica a confiança na capacidade de determinado governo nacional em honrar seus compromissos financeiros.
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