sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tesouro paga mais por título pré longo

Coluna - Cristiane Perini Lucchesi
Valor Econômico
23/11/2007


O Tesouro Nacional voltou ontem a vender títulos da dívida interna de juros prefixados com prazo de vencimento mais longo pela primeira vez neste mês. Por causa do agravamento na crise de crédito externa, dos dados de atividade econômica forte no Brasil e da inflação acima da esperada em outubro medida pelo IPCA (0,3%, na comparação com as estimativas de 0,2%), o mercado vinha exigindo juros considerados altos demais para comprar os papéis de vencimento acima de 2010 e o Tesouro não aceitava vendê-los. Ontem, colocou R$ 190 milhões dos R$ 450 milhões em Notas do Tesouro Nacional da série F ofertadas. Rejeitou ofertas para os papéis de vencimento em 2011, mas vendeu os títulos de vencimento em 2013 e 2017 pagando juros médios de 12,28% e 12,44% ao ano, na comparação com os 11,79% e 11,93% do último leilão dos mesmos papéis, em outubro. As NTN-Fs são as notas preferidas dos estrangeiros, pois pagam cupom (juros fixos) semestrais, como os títulos da dívida externa. Por isso, são mais vulneráveis ao impacto de crises no mercado internacional.

No leilão de ontem, também foram ofertadas R$ 2,95 bilhões de Letras do Tesouro Nacional, de juros prefixados, mas que não pagam cupom. A remuneração é determinada pelo desconto no valor de face do título. Foram vendidos R$ 2,85 bilhões de LTNs aos investidores locais com vencimento em 2009 e 2010 pagando juros de 11,48% a 11,92% ao ano, menores do que na semana passada, quando os papéis de vencimento em 2010 saíram a 12,04% e os de vencimento em 2008, a 11,33%.

Risco-Brasil sobe menos entre os emergentes

No mercado de juros futuros, prevaleceu a estabilidade de taxas no dia de ontem e o volume negociado foi metade do dia anterior. As taxas projetadas pelos contratos de vencimento em janeiro de 2010, de maior liquidez, registraram queda de 0,01 ponto percentual, para 11,88% ao ano.

Com o feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, ontem, os mercados americanos ficaram fechados e os investidores no Brasil ficaram sem referência e evitaram assumir posições. A cautela prevalece diante da grave crise de crédito externa que tem obrigado o Fed, banco central americano, a fazer injeção maciça de recursos para manter os mercados funcionando. Na quinta-feira última, foram US$ 37 bilhões. A curva de juros nos Estados Unidos, na qual as taxas dos papéis de vencimento em dois anos estão 100 pontos básicos abaixo das notas de vencimento em dez anos (3% e 4% ao ano, respectivamente), não é saudável, diz David Rosenberg, economista-chefe da Merrill Lynch para a América do Norte, em relatório reproduzido pela "Bloomberg". "Não acredite, nós repetimos, não acredite nem só por um segundo que essa é uma inclinação saudável na curva de juros", disse ele, para depois completar: "O Fed está mantendo os juros básicos dos fed funds em 4,5% ao ano em um período no qual qualquer outro vencimento da curva está sendo negociado abaixo disso". Crescem as pressões para o Fed fazer um corte de emergência nos fed funds antes da reunião de 11 de dezembro.

Real tem a maior valorização

Mesmo em dia de pouca liquidez, o Banco Central comprou dólares no mercado à vista e manteve a moeda estável, com ligeira alta de 0,05% em relação ao real, cotado a R$ 1,78. Segundo a "Bloomberg", entre as 16 moedas mais negociadas no ano, o real foi a que mais se valorizou contra o dólar - 20%. O segundo colocado foi o dólar canadense.

O Brasil também é o primeiro colocado quando se trata de risco de crédito. Entre os países emergentes do índice EMBI+ do JPMorgan, o risco do Brasil foi o que menos subiu neste ano - 21,88%, para 197 pontos básicos. O risco do Equador foi o único que caiu, 30,76%, mesmo assim para 606 pontos básicos. O risco do Equador está tão alto, pois o presidente Rafael Correa vinha ameaçando os credores com moratória da dívida para ampliar os gastos no mercado interno. Mas, essas ameaças se tornaram cada vez mais remotas. No dia 20 último, o Equador teve sua nota de risco de crédito elevada duas vezes, do "CCC", nível de moratória, para "B-", pela Standard & Poor"s, por causa das receitas crescentes do país com a alta no preço do petróleo. O Brasil, que terá reservas internacionais de US$ 180 bilhões no final deste ano, segundo estimativa do Credit Suisse, está próximo de receber uma alta de sua nota de crédito que poderá levá-lo ao grau de investimento, espécie de selo de investimento não especulativo das agências de rating.

Cristiane Perini Lucchesi é repórter de finanças

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