quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Usar parte do FGTS pode ser bom negócio. Mas é preciso cautela

 O Estado de São Paulo

17/12/2009

Especialistas alertam que retorno em infraestrutura não será o mesmo obtido com Vale e Petrobrás

Renée Pereira

A possibilidade de investir parte do saldo do Fundo de Garantia (FGTS) tem se mostrado um ótimo negócio para o trabalhador. Isso porque a remuneração do FGTS nos últimos anos tem ficado abaixo até mesmo da inflação. Por isso, especialistas acreditam que a alternativa aberta esta semana pelo governo de permitir a aplicação de até 30% do FGTS em cotas do FI-FGTS (um fundo que aplica em projetos de infraestrutura) terá uma grande demanda.

Mas não se deve esperar a mesma remuneração dos investimentos feitos em ações da Vale e da Petrobrás, destaca o advogado Flávio Porta, do escritório Libertuci Advogados Associados. Ele calcula que quem aplicou em ações da Petrobrás ganhou 13 vezes mais que a remuneração do fundo entre 10 de agosto de 2000 e 10 de dezembro de 2009 - 892,22% contra 61,29%. Já na Vale, o ganho foi de 988,2%, ante 49,33% do fundo, entre 10 de abril de 2002 e 10 de dezembro de 2009.

No caso do FI-FGTS, a remuneração nos últimos 14 meses foi de 11,7%. Embora distante dos resultados em ações, os números se mostram vantajosos. Além de poder ganhar mais, ele estará diversificando a carteira de investimentos, afirma o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa, Alexandre Chaia.

Ele destaca, porém, que cada um precisa avaliar seus objetivos. "No longo prazo, o investimento tende a ser vantajoso. Mas, para quem está perto da aposentadoria, pode não ser um bom negócio." De acordo com a regra estipulada pelo governo, o dinheiro terá de ficar aplicado no FI-FGTS durante, pelo menos, 12 meses.

Outro alerta dado pelos especialistas refere-se aos riscos. O fundo vai investir em um projeto ou empresa do setor de infraestrutura, como energia e transporte. Portanto, os ganhos do trabalhador estarão associados ao sucesso do empreendimento. "É a mesma lógica de investir no papel de uma empresa. O ganho está vinculado aos lucros que a companhia tiver", diz Chaia. "Por isso, é preciso estar ciente que você pode ganhar, perder da inflação ou perder parte do capital investido", completa Porta.

Mas, como as previsões em relação à economia são positivas, haverá uma demanda grande por infraestrutura. Os aportes dos trabalhadores estarão limitados a um montante de R$ 2 bilhões. Caso a demanda supere esse valor, haverá rateio entre os participantes, nos mesmos moldes daquele que ocorreu na compra das ações da Petrobrás e Vale.




PRINCIPAIS DÚVIDAS

Como será o investimento?
O trabalhador vai comprar cotas do FI-FGTS. Inicialmente serão investidos R$ 2 bilhões

Quanto do FGTS poderá ser investido no novo fundo?
Até 30% do saldo da conta do FGTS

A aplicação pode superar os 30% do saldo do FGTS?
Na realidade, pode até ser inferior, pois se a demanda superar os R$ 2 bilhões haverá rateio proporcional entre os trabalhadores

Onde serão aplicados os recursos?
Em obras do nos setores de energia, rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e saneamento

Qual será o rendimento do novo fundo?

Ainda não dá para saber, mas, segundo o governo, uma carteira hipotética projetada para o FI-FGTS apresenta uma rentabilidade em torno de 9%, mais a TR

Há riscos para o trabalhador?
Sim. É uma aplicação financeira como outra qualquer e não tem, como o FGTS, a garantia de rendimento de 3% mais TR

A partir de quando poderá ser feita a aplicação?
Entre março e abril deve ocorrer a primeira oferta pública, pois a operação ainda depende de aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

O trabalhador poderá sacar a qualquer momento?
Não. Feita a aplicação, precisará permanecer 12 meses no fundo.

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