segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Crédito atrai comprador novo para carro

Valor Econômico 27/08/2007

Marli Olmos


A pergunta que muita gente faz, mas que executivos de montadoras, concessionárias e analistas não sabem responder com certeza é: quanto da atual expansão nas vendas de carros zero- quilômetro representa o ingresso de novos consumidores nesse mercado? A sensibilidade de quem trabalha nesse setor indica que a maior parte do aumento de vendas vem do tradicional comprador de carro zero, mas há também, graças ao crédito, consumidor novo.


Com a enxurrada de facilidades para financiar um carro hoje, tornam-se cada vez mais comuns casos de quem vai à loja com a intenção de comprar um carro usado e sai com um zero-quilômetro. "O valor da prestação do novo às vezes fica tão próxima que o cliente se anima a comprar o modelo zero, que ele nem tinha a pretensão de ter", explica Marcos Leite, gerente de vendas da Primo Rossi, concessionária de São Paulo.


Isso acontece como resultado do surgimento dos planos com prazos mais longos. Pagar por um Gol novo, que custa R$ 24,5 mil em 72 meses resulta em uma prestação de R$ 554. Um carro semelhante com um ano de uso sai por R$ 522. Nos dois casos, os carros podem ser adquiridos sem entrada.


O exemplo do concessionário que vê o cliente desistir da compra de um carro usado porque tem a possibilidade de assumir a prestação de um novinho mostra que há gente nova no mercado de zero quilômetro. Parte desse contingente é formada pelos que protelaram a troca do carro em dois ou três anos por insegurança em assumir um financiamento. Há três anos, os juros cobrados nos financiamentos de carros novos encostavam em 2%. Na semana passada, o mercado trabalhava com médias de 1,36% a 1,40%. Desde 2003, os bancos também esticaram os prazos máximos, de 48 para 72 meses. Recentemente, a Ford lançou um plano de até 84 meses.


O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, diz estar certo de que há gente nova no mercado do carro zero-quilômetro. Mas, observa que a indústria precisaria se debruçar em uma grande pesquisa nacional para ter dados seguros a respeito do tema. Segundo a empresa Ipsos, apenas 18% dos brasileiros têm carro.


A série histórica da frota brasileira também ajuda a mostrar que o universo de compradores de carros zero-quilômetro cresce. Em 1996 havia 9,4 habitantes por veículo. No ano passado, quando a frota chegou a 24 milhões de veículos, essa relação caiu para 7,7. É , porém, um movimento ainda lento, incapaz de colocar no automóvel a grande massa de brasileiros que depende exclusivamente do transporte público.


O consultor Francisco Trivelatto, especialista em mercado de veículos, diz que muitos consumidores adiaram a troca do carro "e, hoje, diante das vantagens no financiamento, boa parte está optando por modelos mais caros". Mas pondera que "por outro lado, diante de um crescimento de vendas tão elevado seria incorreto não admitir que gente nova entrou no mercado".


No primeiro semestre, as vendas de carros de passeio aumentaram 25,9%. Isso significou acréscimo de 211 mil veículos novos ao total de 861,2 mil unidades vendidas nos primeiros seis meses de 2006.

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