quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Casa própria a perder de vista

Globo
29/8/2007


Geralda Doca

Caixa amplia de 20 para 30 anos prazo de financiamento, com prestação até 17% menor

Para enfrentar a concorrência com os bancos privados, que já estão oferecendo condições mais facilitadas nos empréstimos da casa própria, a Caixa Econômica Federal anunciou ontem a ampliação, em dez anos, do prazo de pagamentos do crédito imobiliário pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Em vez de 240 meses (20 anos), o mutuário terá 360 meses (30 anos) para quitar o contrato, o que pode baratear em até 17% as prestações. A medida beneficia famílias com renda mensal acima de R$1.875 e entrará em vigor na próxima semana, aplicada somente nos contratos novos. Valerá para as linhas de crédito com recursos tanto do FGTS quanto da poupança (SBPE), para aquisição de imóveis novos, usados e em construção.

De olho na classe média, a Caixa também criou mais uma faixa intermediária na linha de crédito com recursos da poupança - que não tem limite de renda - para imóveis avaliados entre R$130 mil e R$200 mil, com taxa de 10,5% ao ano mais a TR, em caso de débito automático em conta ou na folha de pagamento. Com isso, houve recuo de um ponto percentual nos juros cobrados.

- São medidas para a classe média baixa e média. São medidas importantes porque o mercado está crescendo nessa faixa - afirmou o vice-presidente de Desenvolvimento Urbano da Caixa, Jorge Hereda.

Ele explicou que, com o aumento no prazo, a prestação vai cair e poderá caber mais facilmente no orçamento. Mas não significa que o mutuário desembolsará menos pelo imóvel. Ao contrário, pagará mais, pois levará mais tempo para quitá-lo.

Executivo descarta riscos no sistema

Segundo cálculos da Caixa, a parcela de um empréstimo de R$80 mil dentro na modalidade Carta de Crédito do FGTS - para famílias com renda até R$4,9 mil - cairá de R$992,79, pelas regras anteriores, para R$824,69 com o novo prazo, uma redução de 16,93%. Pelo FGTS, é possível financiar imóveis avaliados em até R$130 mil.

Pelo sistema da poupança, em um empréstimo de R$140 mil para um imóvel avaliado em R$200 mil, o mutuário pagará mensalidade de R$1.699,02 durante 30 anos. Na simulação pelas regras anteriores, o valor seria de R$1.999,04, o que representa uma redução na prestação de 15,01%.

Para as famílias com renda inferior a R$1.875, a Caixa aumentou em apenas 60 meses, para 25 anos, o prazo de pagamento dos empréstimos com recursos do FGTS. Segundo Hereda, além do risco ser maior nas faixas de renda de menor poder aquisitivo, essas famílias já recebem subsídios do Fundo em outras linhas de crédito.

Ainda no programa do FGTS, a Caixa anunciou a redução na taxa de administração, de R$25 para R$21,43, e corte de 35% no valor do prêmio do seguro. As duas tarifas são cobradas mensalmente, embutidas no valor da prestação.

As novas regras da Caixa para a linha com recursos do Fundo pegaram carona nas mudanças autorizadas pelo Conselho Curador do FGTS no início do mês, quando se decidiu por uma redução de 8,66% para 8,16% na taxa de juros desses empréstimos e pela ampliação de cem mil reais para R$130 mil no valor do imóvel a ser financiado. O preço passou a ser referência no Rio, em São Paulo e no Distrito Federal. Nas capitais do Sul e Sudeste, foi fixado em cem mil reais, e no restante do país, em R$80 mil.

Para deslanchar a linha de financiamento para imóveis comerciais por empresas, a Caixa reduziu em dois pontos percentuais os juros desse empréstimo, de 15% ao ano para 13%. Mas manteve o prazo em 120 meses. Não há restrições de renda ou valor do bem nessa modalidade, que também tem a poupança como fonte.

Até o fim do ano, a Caixa espera emprestar R$5,8 bilhões com recursos da caderneta para financiar a compra da casa própria.

- Estamos dispostos a colocar o quanto for necessário - disse Hereda, acrescentando que ainda há R$2,5 bilhões em recursos do FGTS disponíveis.

Apesar da crise no setor imobiliário dos EUA, devido a créditos podres, Hereda garantiu que não há riscos na nova metodologia da Caixa. Isso porque o Brasil está muito aquém da sofisticação do modelo americano. Ele explicou que os prazos foram ampliados, mas a contrapartida do mutuário foi elevada (pagará mais):


- Se tem uma coisa que a Caixa faz é originar seus créditos com muito cuidado.

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