quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Mutuário deve fazer as contas

Correio Braziliense
30/8/2007


Marcelo Tokarski

Prazos maiores para pagar financiamento da casa própria oferecidos pela Caixa Econômica facilitarão a aquisição, mas vão aumentar o valor desembolsado pelo imóvel. Regras começam a valer em setembro

O alongamento do prazo do financiamento habitacional de 20 anos para até 30 anos, anunciado pela Caixa Econômica Federal, deve facilitar o acesso dos consumidores aos imóveis, por reduzir o tamanho da prestação mensal e permitir que ela se encaixe no orçamento familiar. No entanto, o comprador deve ficar atento. Após pagar as 360 prestações, o mutuário poderá ter desembolsado até 25% a mais do que se optasse por pagar o mesmo imóvel em 240 vezes. O alerta é da Associação Brasileira dos Mutuários da Habitação (ABMH) e da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

De acordo com cálculos da Anefac, no caso de um financiamento de R$ 280 mil, para um imóvel avaliado em R$ 400 mil, ao fim de 20 anos o mutuário pagaria R$ 722,1 mil pelo bem — 2,5 vezes o valor do empréstimo. Em um contrato de 30 anos, o desembolso total chegaria a 892,9 mil. A diferença é de 23,6%, ou R$ 170,8 mil, pouco mais de 60% dos R$ 280 mil financiados. “O imóvel ficará mais caro por conta de uma quantidade maior de juros”, explica o vice-presidente da Anefac, Miguel José de Oliveira.

“É uma política pontual, que não amplia o acesso à moradia”, critica José Geraldo Tardin, presidente da ABMH. Segundo ele, apenas 8% das 8 milhões de famílias sem moradia no país ganham acima de cinco salários mínimos por mês (R$ 1.900), podendo se encaixar no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Tardin está preocupado com os prazos maiores: “Em um país onde não se tem certeza de como estará a economia daqui a um ano, o que podemos esperar de 30 anos?”

Prestação acessível

Se por um lado fará o mutuário pagar bem mais ao final, o alongamento do prazo para 30 anos vai reduzir a prestação mensal do financiamento habitacional em 11%, na média. Os cálculos são da Anefac. “Esse é o ponto que atrai o consumidor. Na maioria das vezes, o consumidor está preocupado se a prestação mensal cabe ou não no orçamento. Com essa redução, mais gente acabará fazendo financiamentos”, avalia o economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo especialistas, o consumidor deve ser conservador na hora de assinar o contrato. O ideal é comprar primeiro um imóvel de menor valor, para depois trocá-lo por um de maior porte. O Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) recomenda ainda que o mutuário nunca comprometa mais de 10% da sua renda com o pagamento da prestação mensal, apesar de a legislação permitir até 30%. “Comprometendo apenas 10%, caso haja imprevistos a pessoa terá a certeza de conseguir pagar o financiamento”, explica o presidente da ABMH, José Geraldo Tardin.

O economista Miguel José de Oliveira, da Anefac, também recomenda que a prestação seja paga por meio de débito em conta corrente ou descontada diretamente do salário do mutuário. Segundo ele, a taxa de juros mensal pode ser até 1 ponto percentual menor. No caso de um imóvel avaliado em R$ 130 mil, com R$ 91 mil sendo financiados, o consumidor poderia economizar mais de 6% ao longo de 30 anos. O valor total pago após 360 meses cairia de R$ 245,1 mil para R$ 230 mil, uma economia de R$ 15 mil.

Impulso
Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady, a extensão do prazo para 30 anos anunciada pela Caixa Econômica Federal deve movimentar o mercado imobiliário. “As medidas são ousadas e vão fazer com que o setor privado corra atrás, para não perder mercado”, aposta. Segundo ele, o segmento é hoje o principal vetor de expansão da construção civil, que este ano deve crescer 5%. “O setor imobiliário já cresceu 70% este ano, de forma equilibrada”, afirma. Segundo ele, o segmento responde por um quarto de toda a construção civil brasileira.

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