quinta-feira, 25 de novembro de 2010

CDB sob o efeito PanAmericano

Valor Econômico


 

25/11/2010


 

Por Alessandra Bellotto | de São Paulo

 
 

Depois de mais de uma semana de mercado em compasso de espera, desde que um rombo bilionário no Banco PanAmericano veio à tona, os investidores começam a se deparar com ofertas de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) a taxas mais altas. A mudança atinge especialmente títulos de bancos médios - mais vulneráveis a problemas no segmento - e tem como pano de fundo a desconfiança "natural" do investidor em relação à estabilidade das instituições financeiras.

Esse fenômeno, afirmam especialistas, é pontual. E, para alguns, não significa necessariamente uma oportunidade de investimentos. O diretor da Orey Financial, Carlo Moratelli, conta o caso de um cliente do escritório de aconselhamento financeiro que optou por comprar um CDB de um grande banco de origem estrangeira a renovar sua aplicação em uma instituição de menor porte ligada a um conglomerado, mesmo recebendo menos. "Ele trocou 107% do CDI por 103% para o mesmo prazo de dois anos", diz.

Moratelli ressalta que os 107% oferecidos na renovação do CDB já embutiam um adicional de prêmio em relação à aplicação anterior, apesar do ambiente de alta liquidez. Por quê? Efeito PanAmericano. "Os bancos médios estão enfrentando o receio do investidor de que pode haver outros desequilíbrios", afirma, referindo-se às "inconsistências contábeis" descobertas no PanAmericano, que resultaram no rombo de R$ 2,5 bilhões.

Em uma outra situação, a Orey foi abordada por um banco médio oferecendo um depósito a prazo com garantia especial (DPGE) de um ano a 110% do CDI. Esses títulos foram criados em abril de 2009, logo após a crise financeira global, para restabelecer a liquidez dos bancos médios. Como tem garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o limite de R$ 20 milhões, o custo para a emissão é mais alto e, portanto, o banco tende a evitá-lo. Isso é mais um sinal de que há alguma restrição de liquidez.

É natural que um evento como o do PanAmericano tenha provocado um aumento da aversão a risco em relação a instituições menores e, consequentemente, elevado o custo de captação desses bancos, afirma o sócio da Capital Investimentos, Francisco Costa. "Seria leviano afirmar que outros bancos adotam as mesmas práticas do PanAmericano, mas o caso abre a possibilidade de questionamento por parte do investidor", diz.

Costa destaca, contudo, que o aumento das taxas pagas pelos CDBs de bancos médios foi pequeno, de dois a três pontos percentuais acima do que pagavam. "Não houve pânico, até porque foi encontrada uma solução rápida e favorável para o caso PanAmericano", afirma.

Para Moratelli, da Orey, apesar de o episódio ter sido pontual e não representar risco nem para o banco nem para o sistema, os prêmios oferecidos não valem o risco de crédito. "O problema (com o PanAmericano) serviu para alertar o investidor de que há risco", diz. E, para se proteger desse risco, no caso de crédito privado de instituições menores, a taxa tem de ser de, pelo menos, 120% do CDI, acredita Moratelli.

Ele afirma, ainda, que o investidor deve ficar atento ao cenário macroeconômico. Segundo Moratelli, as atuais pressões inflacionárias fatalmente serão combatidas via aumento de juros e, sempre que isso acontece, há o risco de desencadeamento de um processo de inadimplência. "O crédito privado pode se tornar mais arriscado", diz.

Costa, da Capital, também acredita que o episódio do PanAmericano acendeu uma luz amarela para os riscos. "O momento é mais do que oportuno para o investidor parar para avaliar se tem segurança na instituição para quem está dando crédito ao comprar um CDB, olhar a tradição e o histórico do banco e sempre observar o limite de R$ 60 mil, garantido pelo FGC", diz. Não dá para colocar todos os bancos na mesmo cesta do PanAmericano, mas o investidor precisa ser seletivo, segundo Costa.

O superintendente executivo de investimentos do Santander, Edson Franco, afirma que não notou mudanças relevantes no mercado de CDBs depois do caso PanAmericano, nem em termos de volume nem de taxas. "Pode ter havido alguma alteração pontual, nada generalizado", diz. Segundo ele, em momentos de incerteza, é natural que bancos médios paguem prêmios maiores, assim como investidores busquem proteção, deflagrando um movimento conhecido como "flight to quality". "Bancos maiores podem ser privilegiados."

Mas, no universo das grandes instituições, Franco afirma que o mercado é muito parecido, já que a concorrência é grande. Para o investidor de menor porte, segundo ele, as taxas dos CDBs escalonados, com remunerações progressivas conforme o prazo, são imbatíveis. No Santander, na modalidade que recebeu o nome de Recompensa, as taxas podem chegar a 100% do CDI após quatro anos para investimentos a partir de R$ 1 mil. Para aplicação mínima de R$ 30 mil, a remuneração máxima é 101% do CDI para prazos superiores a três anos. Já a partir de R$ 250 mil, o investidor pode obter um ganho de 102% do CDI acima de três anos.

Edson ressalta, ainda, que o episódio do PanAmericano serviu para mostrar a importância de haver um mecanismo de proteção como FGC. "Isso para o investidor médio é fundamental e pode ser levado em conta na hora de decidir pelo investimento em CDB, juntamente com o nível de confiança na instituição", diz.

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