sábado, 11 de dezembro de 2010

Poupe para pagar à vista

Correio Braziliense

11/12/2010


Encarecimento do crédito já altera o dia a dia do comércio. Sem o hábito de guardar dinheiro, brasileiros recorrem às aplicações para bancar prestações. Mas especialistas recomendam a quitação total
Victor Martins
Gustavo Henrique Braga
O enxugamento de crédito promovido pelo Banco Central já bateu no bolso dos consumidores, principalmente dos que não têm dinheiro. A autoridade monetária obrigou o brasileiro a algo inusitado: fazer poupança para comprar em prestações. Estão praticamente extintas as linhas de crédito que financiavam bens em inúmeras parcelas e sem a necessidade de entrada. As tabelas de bancos, lojas e concessionárias de veículos também ficaram mais pesadas. Nas compras acima de 24 vezes, os juros abaixo de 1% ao mês deixaram de existir e o consumidor precisa ficar atento às letras miúdas de contratos e anúncios. Outros encargos estão sendo cobrados. Às vezes, sem que o comprador perceba, podem elevar a prestação a mais de 2% mensais.

Na avaliação de Carlos Coradi, presidente da EFC Consultores, o esvaziamento das lojas mostra a eficácia das resoluções tomadas pelo BC. “O reflexo foi imediato. Uma elevação na Selic não teria um efeito tão rápido. Foi um balde de água fria no crescimento”, observou. “A economia já está desacelerando. Basta ir a uma loja para ver. Os juros subiram e os prazos encolheram.” Na tentativa de disfarçar a elevação das taxas e continuar a atrair o consumidor, as lojas de veículos, por exemplo, transformaram em juros mensais diversas despesas da operação e do registro do automóvel. Na propaganda, percentuais de até 0,99% ao mês são estampados em letras garrafais. Na parte minúscula do anúncio, o chamado custo efetivo total ultrapassa os 2%.

Barganha
Consenso entre educadores financeiros, o pagamento à vista é o melhor caminho para os brasileiros fugirem das dívidas, especialmente em um momento como o atual, em que os empréstimos encareceram. Além de escapar dos juros altos, o consumidor que quita a dívida no ato da compra tem melhores condições de barganhar descontos com os lojistas. É o que fez a funcionária pública Raquel Lopes, 26 anos, moradora da Asa Sul. Depois de pesquisar, ela decidiu comprar uma geladeira pela internet, com opção de pagamento por boleto e desconto de 5%. “Vi que o crédito ficou mais caro, mas no meu caso não faz diferença. Só compro parcelado se for sem juros”, disse.

Para o especialista em educação financeira, Emerson Castello Branco Simenes, o encarecimento do crédito obriga as pessoas a planejarem melhor as compras e a formarem uma poupança para dar de entrada. “Quando a prestação é daquelas a perder de vista, a tendência dos consumidores é de comprometerem a renda por muito tempo, sem se darem conta de que podem se complicar. Mas um simples imprevisto pode jogar a pessoa na inadimplência”, disse. O especialista defende a poupança como saída ao encarecimento dos juros.

O técnico em eletrônica Wellington Freitas, 46 anos, segue à risca a orientação dos consultores. Ele quer comprar um forno de parede para a casa e, como já tem o hábito, pagará à vista. “Prefiro assim, para não cair nas dívidas. Vou aproveitar parte do 13º (salário) para melhorar a cozinha”, afirma.

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