quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Procura-se alfa, em ritmo de tirar o fôlego

Valor Econômico
Por Cyro Andrade, de São Paulo
21/02/2008



"A História do Mercado de Capitais" - Peter Bernstein.


Bloomberg

Peter Bernstein, teórico e prático: "Não consigo imaginar nenhuma razão para que esse processo chegue ao fim"
Campus Elsevier. 336 págs., R$ 79,90


Em tom que bem reflete o entusiasmo com que costuma se referir às coisas do mercado de capitais, seu universo de vida profissional há décadas, Peter Bernstein escancara sem meias medidas a avaliação que faz das "idéias capitais", como denomina as descobertas acadêmicas mais uma vez protagonistas de um livro de sua autoria, este de agora, publicado 16 anos depois de "Capital Ideas", de 1992: "Não há novas teorias de finanças que se comparem em importância com o paradigma de [Harry] Markowitz para a seleção de portfólios, com as idéias de [Franco] Modigiliani e [Merton] Miller sobre finanças empresariais, com a hipótese do mercado eficiente [de Eugene Fama], com o modelo de precificação de ativos financeiros [de Jack L. Treynor e outros] e com a teoria de precificação de opções" [de Fischer Black, Myron Scholes e Robert Merton].



Bernstein não fala de conquistas datadas, mas de um conjunto de percepções que se valorizam justamente na atemporalidade. "A implementação dessas idéias avança em ritmo de tirar o fôlego, impulsionada e moldada pela teoria e, por sua vez, reformula muitos aspectos da teoria". Teve-se, então, primeiro uma arrancada teórica, entre 1952 e 1973, quando alguns "scholars" americanos desenvolveram hipóteses e modelos que iriam revolucionar as operações de investimento na última década do século passado. Estão aí "as origens improváveis da moderna Wall Street", subtítulo de "Capital Ideas", alusão ao fato de que alguns daqueles acadêmicos nunca haviam possuído uma ação sequer. E criou-se uma espécie de moto contínuo, que dura até hoje, um círculo virtuoso em que teoria e prática se alimentam mutuamente. É como se explica o título da edição original do livro de Bernstein agora traduzido no Brasil, publicado em maio de 2007 nos Estados Unidos - "Capital Ideas Evolving". (Myron Scholes e Robert Merton, é bom lembrar, ficam absolutamente fora da galeria dos inocentes, eles que se associaram no Long-Term Capital Management, fundo de hedge que ao quebrar, em 1998, pôs em risco a estabilidade do sistema financeiro mundial).


"Nada se mantém constante", diz Bernstein. "Novos atores, novas instituições e novos instrumentos financeiros estão levando a novas estratégias para a gestão de riscos, a novos caminhos para a busca do alfa, a novos mercados em todo o mundo - e a novas variações na estrutura da teoria. Experimentos ousados e tecnologias revolucionárias são lugar comum. As idéias se manterão no centro, mas a estrutura em torno delas é dinâmica e instável, caracterizada por um processo incessante e irremissível de evolução darwiniana".


Buscar o alfa, eis a questão representada no pêndulo do acaso, que marca o compasso do "trade-off" entre risco e retorno.


O modelo de precificação de ativos financeiros (ou de capital) decompõe o retorno esperado de um investimento em uma parte "beta", uma commodity que se compra "passivamente", por meio de fundos indexados ao mercado, e outra que é "alfa", de retornos não correlacionados ao mercado. Este é o reino da gestão ativa. Essa separação entre alfa e beta, ela mesma, constitui uma fração das "idéias capitais". De acordo com a teoria do mercado eficiente, é previsível que não será fácil encontrar alfa. Mas não será impossível, ao menos em tese, agora que se podem usar opções e outros derivativos, instrumentos de uma indústria que não pára de desenvolver modos alternativos de investimento - freqüentemente, na esteira de alguma idéia capital.


As idéias estavam disponíveis, com a salutar e amplamente aceita ressalva de que nem sempre a teoria seria validada experimentalmente. Os acadêmicos sabiam que o mundo real era diferente daquele que estavam desenhando. Suas teorias não pretendiam ser conclusivas. Eram um ponto de partida na busca do entendimento mais profundo do funcionamento dos mercados, da interação entre investidores, do papel do risco no processo de investimento.


Em suma, restava descobrir como os conceitos poderiam ajudar gestores ativos a atingir o alfa, "o novo foco" de que fala Bernstein em seu livro. "Em conseqüência, desenvolveu-se poderosa mistura, combinando-se melhor compreensão das idéias capitais com as contribuições das finanças comportamentais" - campos conceituais que, num primeiro momento, mantiveram-se em situação de certo estranhamento. Hoje, tanto os teóricos, quanto os gestores usam essa mescla para criar aplicações engenhosas na gestão de investimentos e para criar "insights" que facilitem a compreensão do processo de investimento, comenta Bernstein.


Como se vê no virar das páginas deste novo livro de Bernstein, (o décimo que ele escreve), as idéias capitais motivaram o avanço do contexto institucional, definiram a estrutura dos mercados financeiros e das estratégias de investimento, estabeleceram "benchmarks" e descortinaram novos panoramas econômicos e financeiros para o desenvolvimento dos mercados.


"Não consigo imaginar nenhuma razão para que esse processo chegue ao fim", diz Bernstein. Em razão do tempo decorrido e de quanto avançaram as inovações financeiras desde o lançamento de 'Capital Ideas', em 1992, a vitalidade espantosa dos conceitos teóricos subjacentes a essas idéias está aí para ser vista por todo mundo. Suas possibilidades de uso parecem ilimitadas."


Bernstein é testemunha e personagem dessa história da revolução das idéias financeiras. Com 89 anos completados em janeiro, tem uma biografia em que soma forte presença no mercado de capitais e alicerces na vida acadêmica, como economista graduado em Harvard e, depois, como professor na New School for Social Research, de Nova York e no Williams College. Também integrou o quadro de pesquisadores do Federal Reserve Bank. Em 1973, fundou a Peter L. Bernstein, Inc., empresa de consultoria econômica para investidores institucionais e empresas de vários países. Foi o primeiro editor do "Journal of Porfolio Management", em 1974, do qual hoje é consultor.

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