sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Fundos em promoção

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
22/02/2008



Está cansado de ver o seu fundo de renda fixa render cada vez menos? O juro caiu, mas seu investimento segue cobrando taxa de administração de 4% ao ano? Pode ser o momento de experimentar olhar para fora do seu banco para encontrar aplicação melhor. Seus problemas podem não acabar de uma hora para outra, mas, com um pouco de vontade e paciência, é possível encontrar fundos DI e de renda fixa com taxas até abaixo de 1% ao ano. Como esses fundos têm poucas diferenças de gestão, a principal distinção na rentabilidade entre eles se dá pela cobrança da taxa de administração. Portanto, quanto mais baixo o custo, maior tende a ser o retorno.


Alguns bancos com menor atuação no varejo, corretoras ou gestores independentes começam a oferecer carteiras de renda fixa a custos altamente competitivos. Em geral, nos grandes bancos, o aplicador de menor porte tem acesso apenas a carteiras com taxas de 4% ou 5% ao ano. Se o volume for maior, acima de R$ 50 mil, é possível conseguir aplicações a custo de 2% e 3% ao ano. Mas até nos private banks é raro o investidor ter fundo a taxa de 1% ao ano.


A um telefonema, porém, qualquer pessoa pode conseguir fundos mais em conta, diz Mariano Mesquita Cirello, superintendente de investimentos da Mapfre DTVM. Ele garante que o aplicador que entrar em contato diretamente com a área comercial da empresa poderá aplicar a partir de R$ 200 nos fundos renda fixa e DI com taxas de 0,75% ao ano. Outra gestora independente, a Geração Futuro, passou a colocar à disposição de qualquer aplicador com R$ 100 um fundo DI com taxa de 0,6%.


O fundo para pessoa física com taxa mais baixa encontrado pela reportagem do Valor é o Daycoval Renda Fixa, que cobra 0,25% ao ano. No entanto, ele só aceita valores ligeiramente mais altos - apesar de recentemente, a aplicação mínima ter sido reduzida, de R$ 50 mil para R$ 5 mil. "Com a queda do juro, não adianta querer cobrar uma taxa alta porque a carteira vai ter de assumir mais risco (para compensar o custo e ter um bom rendimento) e esse não é o objetivo do fundo", diz Roberto Kropp, diretor da Daycoval Asset Management. Em 2007, muitos fundos de varejo tiveram retorno líquido abaixo do da caderneta.


Na renda fixa, as dificuldades de gestão são menores e a taxa pequena (de 0,6% ao ano) é justa, diz Wagner Faccini Salaverry, sócio da Geração, especializada na gestão de renda variável. Segundo ele, a taxa módica banca toda a distribuição do fundo e a gestão, feita pela Votorantim Asset Management (VAM).


Acontece que, em geral, essas instituições com fundos de taxa baixa não fazem alarde sobre a oferta. As corretoras costumam ter essas carteiras para que o aplicador de renda variável deixe por lá mesmo o dinheiro do giro das ações. Mas nada impede que se aplique por mais tempo nesses fundos. As gestoras independentes têm menos recursos para investir em marketing - um dos motivos são as próprias baixas taxas cobradas, que não bancariam esforço maior de divulgação.


Para entender o impacto da taxa no lucro, considere dois fundos que rendam exatamente a Selic atual, 11,25% ao ano: um com taxa de 0,5% ao ano e outro de 4%. Em 12 meses, a carteira com taxa de administração de 0,5% renderá 10,69% no período ou 95% da Selic. A outra, com taxa de 4%, apresentará valorização de apenas 6,80% ou 60% da taxa Selic corrente. Quanto maior a taxa, portanto, mais alta é a parte do ganho do fundo que fica com a instituição gestora.


Esse impacto da taxa de administração no ganho ficou mais evidente à medida que o jurou recuou com força nos últimos anos. Apenas para lembrar, quando o juro médio era de 18% ao ano, a taxa de 4,5% dos fundos DI levava-os a render algo como 71% do juro corrente. Agora, com a Selic atual, essa taxa de 4,5% compromete quase a metade do retorno do investimento.


O argumento recorrente dos bancos para justificar taxas mais elevadas é o custo da distribuição dos fundos. Salaverry, da Geração Futuro, afirma, porém, que a cobrança de 0,6% ao ano compensa os custos da empresa. Ele explica, ainda, que a aproximação da gestora é maior do cliente que já investe ou poderá vir a investir em ações no futuro, o que realmente dá mais retorno a eles. "Mas aceitamos quem queira só aplicar na renda fixa", afirma. O fundo renda fixa da Geração tem patrimônio de R$ 165 milhões.


Cirello, da Mapfre, comenta que os fundos mais baratos da gestora foram criados justamente para ser um diferencial da instituição perante os bancos de varejo e atrair novos clientes.


O aplicador em busca de fundos de instituições menos tradicionais deve, porém, avaliar bem a nova carteira. Embora o risco dos fundos não tenha ligação direta com a saúde financeira da instituição - os títulos que estão no fundo são do cotista, não do banco -, os gestores podem aplicar os recursos em ativos de renda fixa de maior risco ou tentar usar a carteira para comprar papéis do banco. O exemplo mais dramático nos últimos anos foi o da Santos Asset Management, cujos fundos aplicaram maciçamente em papéis de crédito emitidos por credores do Banco Santos. Os papéis não foram pagos e as perdas ficaram com os cotistas. Com algum atraso, fica disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (www.cvm.gov.br) a composição de todos os fundos do país. Lá é possível ver onde eles aplicam e ter uma idéia do risco.


Segundo Kropp, o fundo da Daycoval investe até 30% em papéis privados, como CDBs, ou em fundos de direto creditório (FIDC). "Mas não colocamos uma parcela muito grande em FIDCs para não comprometer a liquidez do fundo", diz. O executivo deixa claro também que não há CDBs do Daycoval no fundo. Para investir, é preciso abrir conta no banco, fazer o cadastro e assinar o termo de adesão. Já o fundo da Geração aplica mais em papéis do governo federal.


Muitos cotistas ainda preferem aplicar em fundos ligados a grandes bancos de varejo pela tradição e pelo tamanho do gestor, apesar de haver alternativas mais baratas disponíveis. Outros argumentos para o aplicador ficar no banco de varejo seriam a comodidade e a possibilidade de consolidação de todo o patrimônio financeiro em um só lugar. Mas o investidor deve ponderar se o valor pago a mais como taxa de administração compensa esse conforto. (Colaborou Luciana Monteiro)

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