sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Pretexto pró-parada eleva juro futuro

Valor Econômico
05/10/2007




O mercado futuro de juros da BM&F contrariou, por motivo injustificável, o viés positivo dos demais segmentos. Enquanto o dólar e a Bolsa operaram confiantes na divulgação hoje nos EUA de um relatório de emprego que poderá cristalizar a rota de baixa da taxa básica americana, o pregão de DI futuro viu no crescimento da produção industrial brasileira pretexto plausível para o Copom decidir interromper o ciclo de cortes da Selic. Segundo o IBGE, a produção da indústria cresceu 1,3% em agosto, mais que o dobro da mediana das expectativas do mercado, de avanço de 0,6%. Comparativamente a agosto de 2006, a alta foi de 6,6%.



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Foi o que bastou para o pregão de juros futuros operar em alta, desligado da tendência positiva ao seu redor. Os contratos mais curtos ainda não conseguem embutir a perspectiva de parada imediata da queda da Selic, já na reunião do Copom do dia 17. Foi por isso que o CDI previsto para a virada do mês subiu apenas 0,01 ponto, para 11,07%. O contrato para a virada do ano também avançou muito pouco, 0,01 ponto, a 11,04%. Os contratos mais longos refletem com maior precisão a expectativa de que a Selic será congelada em 11% por um bom período. As taxas para janeiro de 2009 e janeiro de 2010 avançaram 0,03 ponto, para 11,27% e 11,28%, respectivamente. Como, para as operações de crédito, o que conta mesmo é o juro privado de longo prazo, na prática a política monetária já está mais apertada. Ontem a taxa do swap de 360 dias subiu de 11,16% para 11,20%. Para efeitos de combate à inflação, o juro longo conta mais do que a Selic de curto prazo. E já que o mercado resolveu arrochar a política monetária por si mesmo, o Copom pode até se dar ao luxo de proceder a mais um corte da Selic, sem se preocupar com os efeitos do afrouxamento sobre a demanda e o consumo. Com isso, ganha mais tempo para avaliar o cenário para 2008.






E pode evitar equívocos difíceis de desfazer no futuro. Uma decisão de interromper o ciclo de cortes amparada na suposição de que a indústria está bombando representa, na verdade, um tiro no próprio pé do Copom. A estabilidade da Selic em 11,25% no próximo dia 17, ao indicar um endurecimento efetivo da política monetária, tem efeito contrário ao desejado. Tal sinal pode levar os empresários a suspender os investimentos produtivos, ou seja, os destinados a elevar a capacidade de produção. Não haveria, por causa do reconservadorismo monetário, a ampliação da oferta, enquanto a demanda seria pouco afetada.


Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que o relatório do IBGE sobre produção industrial reforçou a expectativa da instituição de que o Copom tem condições e deve realizar nova redução de 0,25 ponto na Selic, na penúltima reunião de 2007. "Nossa expectativa se apóia no fato de que o crescimento da produção industrial tem sido concentrado nos bens de capital, o que contribui para a manutenção da inflação dentro dos parâmetros do sistema de metas", diz Agostini. O economista lembra que Copom deve, por ofício, se ater exclusivamente aos riscos de desequilíbrios entre oferta e demanda, no médio e longo prazos, gerados pelo crescimento contínuo dos setores relacionados à massa de salários como, por exemplo, o segmento de bens de consumo semi e não duráveis. E estes não exibem expansão exuberante. O segmento é o que menos cresce, segundo o IBGE. Ele registrou uma taxa de expansão de apenas 0,4% na média mensal dos últimos 12 meses. "O crescimento da produção industrial não é um sinal de que a luz amarela está acesa quanto ao possível desequilíbrio entre oferta e demanda no médio e longo prazo, como apontam alguns analistas e membros do Copom. Muito pelo contrário", diz Agostini. O avanço da produção da indústria decorre da forte expansão dos bens de capital, ou seja, dos investimentos destinados a ampliar uma oferta capaz de rechaçar pressões inflacionárias justamente no momento, daqui a seis a nove meses, em que começarem a surtir efeito as decisões monetárias que serão tomadas pelo BC neste último trimestre do ano.


Mas mesmo o DI futuro não deve resistir hoje a uma onda de otimismo se a criação de novos postos de trabalho nos EUA em setembro vier abaixo dos 100 mil previstos pelo consenso dos analistas. Mesmo um número levemente acima de 100 mil será bem recebido, pois não compensaria a retração registrada no mês anterior. E também indicaria ao Federal Reserve (Fed) a necessidade de insistir no afrouxamento monetário em sua reunião do dia 31. O dólar caiu ontem 0,76%, cotado a R$ 1,8260, já se antecipando a essa possibilidade.

Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças

luiz.guimaraes@valor.com.br

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