quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Entre o bom e o mau agouro

Valor Econômico de 1/8/2007

Luciana Monteiro e Angelo Pavini
Valor Econômico


Agosto começa com sabor um pouco amargo para os investidores. Depois de o principal indicador da bolsa brasileira, o Índice Bovespa, ter registrado queda de quase 8% numa única semana e encerrado julho com perda de 0,39% - desde fevereiro o Ibovespa não ficava negativo nem perdia para a renda fixa, os aplicadores se perguntam o que esperar para este mês. Volatilidade promete ser a resposta e, junto com ela, a possibilidade de perdas. Os economistas dizem que a variação do preço do petróleo e as perdas com papéis hipotecários de maior risco ("subprime") nos Estados Unidos continuarão no centro das atenções. A dúvida no momento é se a turbulência já passou ou se este é apenas o início de uma crise de crédito americana, que trará impactos para o mundo todo.
A lição que ficou para o investidor depois do forte vai-e-vem de julho é que a volatilidade existe e está aí, algo que a maioria das pessoas já tinha esquecido diante de um mercado exuberante, diz André Schibuola, sócio da Precision Asset Management. "Muita gente estava colocando uma boa parte do patrimônio em bolsa e ficou claro o quanto é importante diversificar os investimentos", avalia. Para ele, momentos como estes servem para o investidor voltar a ter a real noção do risco a que está exposto. Na opinião de Schibuola, a turbulência do mês passado estabeleceu entre os investidores internacionais, principalmente entre os fundos de pensão americanos, uma nova percepção de risco, levando-os rumo ao conservadorismo. "Não houve mudança nos fundamentos econômicos e das empresas, mas é de se esperar volatilidade para este mês", diz.
Os chamados papéis "subprime", que tanto vêm chacoalhando os mercados, são recebíveis que representam créditos imobiliários de maior risco. Com o setor imobiliário americano passando por dificuldades, a negociação desses títulos ficou mais difícil, pois há menos interessados em comprá-los. Além isso, esses papéis começaram a dar prejuízos aos seus detentores. O problema é que não há dados consolidados sobre esse setor e, portanto, não se sabe o real tamanho desse mercado, lembra Vitor Hugo Roquete, sócio da Opus Investimentos. O que o mercado está de olho é se esse problema com os papéis "subprime" irá modificar as operações alavancadas que sustentam as bilionárias fusões e aquisições, diz. Para ele, o mercado continua forte, mas requer mais cuidados na escolha dos papéis. Entre os setores interessantes, Roquete cita as ações que se beneficiam com o crescimento do país como consumo e infra-estrutura.
O movimento de aversão ao risco é global e, no longo prazo, os fundamentos da economia tendem a falar mais alto, com níveis de crescimento mundiais satisfatórios, avalia Marcelo Assalin, diretor da SulAmérica Investimentos. Segundo ele, os estrangeiros reduziram suas posições vendidas em dólar (apostando na queda) na BM&F de US$ 18 bilhões no fim de maio para US$ 2,4 bilhões ontem. Em contrapartida, temos um ator novo no mercado, que é o setor de fundos, com forte ingresso de recursos em multimercados e ações, diz. Para Assalin, a correção trouxe oportunidades de compra na bolsa, como o setor bancário.
A tendência do mercado acionário no curto prazo é continuar intercalando momentos de euforia com pânico, afirma Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management (UAM). Apesar disso, ele acredita que os fundamentos da economia se mantêm e continua com a projeção de 62.500 pontos para o Ibovespa em 12 meses. "A bolsa perto dos 52 mil pontos é oportunidade de compra", diz. Uma coisa que pode mudar o cenário é risco-Brasil - que passou dos 210 pontos base - não voltar para um nível perto de 170 pontos, o que significaria um aumento de custo das empresas e levaria a uma revisão de seus preços justos. "Não acho que seja o caso, mas há o risco."
Para quem quer entrar na bolsa e procura papéis mais defensivos, Patah sugere empresas que pagam bons dividendos. Em seguida, certos setores como os de energia elétrica e telecomunicações fixas, como Telesp, por exemplo. Ambos os setores não subiram muito no ano e têm fluxo de caixa estável e, no caso de energia, há perspectiva de aumento de tarifas para cobrir os investimentos necessários. Outros setores são saúde e educação. Petrobras também pode ser uma opção, afirma Patah, pois subiu pouco no ano e está sendo beneficiada pela alta do petróleo.
Para se ter noção da forte oscilação do Ibovespa em julho, até o dia 23, o indicador acumulava no mês alta de 6,70% enquanto o dólar caia 4,56%. Já no dia 30, o Ibovespa tinha pequena alta de 0,33% e o dólar apresentava queda de 2,85% no mês. "Outro dado importante é o possível efeito negativo que esse ajuste de preços trará aos diversos ativos em fundos alavancados ao redor do mundo, fato que ampliaria a queda das bolsas", lembra o administrador de investimentos Fabio Colombo. O CDI, referencial para os fundos de renda fixa, encerrou julho com alta de 0,97%. Já o IBrX-50, referência para o fundo PIBB, fechou positivo em 1,19% graças à Vale do Rio Doce.
Para quem quer ficar na renda fixa, mas pretende arriscar um pouco mais, os fundos que aplicam em papéis prefixados podem ser uma opção. Segundo Assalin, da SulAmérica, o mercado prevê mais dois cortes da taxa básica de juros (Selic) até o fim do ano, mas o executivo acredita que há espaço para pelo menos três quedas até dezembro. "Isso quer dizer que há prêmio e a renda fixa se apresenta como boa opção", diz.

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