quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Menos contas e mais atitude na hora de decidir

Luiz Codorniz, para o Valor
06/09/2007


"O Investidor Inteligente" - Benjamin Graham.


Ed. Nova Fronteira, 672 págs., R$ 69,90



Este novo lançamento do livro de Benjamin Graham vem em momento bastante oportuno. Nos Estados Unidos, vende muito bem quando o mercado está passando por suas crises periódicas. Aqui no Brasil, a edição traduzida preenche lacuna importante: na maioria, os livros sobre investimentos em português ou são muito básicos, ou focam a analise gráfica (ou melhor, análise pelo retrovisor), ou são mais acadêmicos e não apropriados ao investidor comum.


A primeira edição de "O Investidor..." foi publicada em 1949. No livro "Supermoney", também bastante conhecido, o autor, Adam Smith, fala sobre a edição de 1973, esta agora traduzida no Brasil. Comenta que, na época, profissionais de investimentos referiam-se às idéias e livros de Graham como "coisa velha", "platitudes entremeadas com historias de 40 anos atrás". Mais recentemente, no meio da euforia do Nasdaq, palavras similares eram aplicadas aos investidores que seguiam as idéias de Graham (Buffett, Dreman, Pzena, Tweedy Browne, entre outros). Entretanto, o livro ainda hoje é utilizado nas disciplinas voltadas para analise de investimentos no MBA da Columbia University. A edição traduzida traz comentários de Jason Zweig, que mostra como as idéias de Graham continuam relevantes.


O livro é de pouca utilidade para grafistas convictos, "momentum investors", crentes incondicionais na eficiência de mercado, investidores (?) que buscam diversão em "jogar na bolsa" e profissionais de mercado obcecados com o desempenho no curto-prazo de suas carteiras de investimentos.


Talvez se possa imaginar que este é mais um livro escrito para outra realidade, não para a brasileira. Não é verdade. Os princípios ali contidos têm sido aplicados com sucesso por gestoras independentes de renda variável e também por investidores individuais. Além disso, o Valor tem publicado uma série de artigos, na coluna "Palavra do Gestor", baseados nos princípios abordados no "Investidor Inteligente".


Os capítulos fundamentais do livro são os de número 8 e 20, e o anexo "Os Superinvestidores de Graham & Doddsville", escrito por Warren Buffett. No capítulo 8, Graham aconselha o investidor sobre como lidar e tirar proveito da volatilidade dos preços das ações. No outro, é discutida a recomendação de se investir em ações somente quando exista uma boa margem de segurança - definida pela diferença entre o valor intrínseco da ação e seu preço de mercado. Quanto maior a discrepância, mais atrativo é o investimento. Entretanto, como diz Buffett, "para se ter sucesso em investimentos é necessário um sólido sistema intelectual para tomada de decisões e a habilidade de evitar que as emoções corroam esse sistema". O livro fornece o arcabouço para a decisão, mas o investidor deve ter disciplina e estabilidade emocional.


Graham não fornece formulas complicadas para a avaliação de empresas, mas, sim, princípios a serem seguidos e as atitudes/comportamento que o investidor deve adotar para obter resultados satisfatórios. Graham desconfiava de métodos de avaliação muito complicados. Dizia que o fato de alguém usar algo mais do que álgebra era um sinal de que o analista/investidor estava tentando substituir a experiência por teoria. Aqueles leitores que desejarem uma abordagem mais abrangente sobre avaliação de empresas, baseada nos princípios de Graham/Buffett, podem ler o livro "Value Investing: From Graham to Buffett and Beyond" escrito por professores da Columbia University.


Em "O Investidor...", Graham separa os investidores em "defensivos" e "empreendedores", e faz recomendações especificas em termos de política de investimentos. Defensivos devem investir em ações de grandes empresas, proeminentes e saudáveis financeiramente. Entretanto, deve-se colocar esse aconselhamento no contexto em que foi feito. No período 1949-1972, havia pouquíssimos fundos mútuos que seguiam o enfoque "value investing" e outros poucos consultores/gestores que administravam carteiras privadas de ações. Ou seja, não havia muitas opções. Então, a solução era o investidor fazer sua própria carteira focada em valor. Hoje, a situação é bem diferente, e as opções aplicáveis a essa estratégia são muitas. Portanto, faz pouco sentido para o investidor defensivo gerir sua própria carteira de ações, pois isso requer tempo, técnica, temperamento e gosto. É melhor ele escolher alguns fundos de gestoras independentes que tenham uma orientação para valor, mas diversificando em termos de tamanho de empresa.


A tradução deixa a desejar quanto à terminologia empregada. Em muitas partes é bastante literal. Pelo visto não houve uma revisão por um profissional do mercado financeiro familiarizado com a obra de Graham. Além disso, a decisão de reduzir o uso de anglicismos foi equivocada, considerando-se que os mercados estão mais globalizados do que nunca. Bastava colocar um glossário no final.


As duas frases de Graham que o investidor deve sempre ter em mente são: 1) "Você não está certo ou errado porque a manada discorda de você. Você está certo porque suas informações/dados e raciocínio estão corretos". 2) "No mundo dos investimentos, a coragem é a virtude suprema, apoiada em conhecimento adequado e discernimento baseado na experiência".


Luiz Codorniz é consultor de investimentos (lmcmarco@yahoo.com).

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