quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Compras de ocasião

Valor Econômico
Por Catherine Vieira
05/09/2007

Crises criam oportunidades. Essa máxima foi aplicada por vários gestores de fundos de ações que não se abalaram com as turbulências nos mercados entre o fim de julho e o início de agosto e saíram às compras, aproveitando preços de ocasião de alguns ativos. Estão nesse time gestores como Investidor Profissional, Franklin Templeton, Rio Bravo, Argúcia e Máxima Asset, muitos deles beneficiados pelo perfil de seus produtos, que privilegiam a estratégia de longo prazo baseada nos fundamentos e geração de valor. As escolhas entre as pechinchas foram variadas: desde tradicionais ações de fundos com foco em longo prazo como Lojas Renner e Eternit, passando por ativos mais líquidos como Brasil Telecom e Itaúsa e novatas como Terna e Rodobens, para citar alguns exemplos.


Alguns fundos aproveitaram o momento para fazer trocas na carteira, acreditando que o mercado vai ficar bem mais seletivo e rigoroso com os bons fundamentos. Outros estavam justamente com um caixa mais folgado para aproveitar eventuais oportunidades. É neste último caso que se enquadra a Investidor Profissional (IP), gestora independente de fundos de ações. "Estávamos com um caixa folgado, com cerca de 80% do fundo aplicado e 20% em dinheiro livre para aproveitar oportunidades", explica o sócio Elsen Carvalho. Após a crise, prossegue ele, a carteira ficou com 90% em ações.


De acordo com o sócio da IP, a gestora aproveitou não apenas para adquirir papéis que ficaram extremamente baratos durante a crise - caso de Itaúsa - como também para fazer grandes compras já previstas, uma vez que nesses períodos os preços ficam menos influenciados pela euforia. Isso ocorreu com os papéis da Hering e da Springs Global. Em ambos os casos, a IP fez compras de parcelas significativas do capital das empresas. Essa estratégia é típica da gestora, que costuma comprar pedaços maiores de companhias que considera terem boa governança e grande potencial de criar valor. No ano, o IP Participações acumula ganho de cerca de 33%.


Outra que elevou algumas apostas aproveitando as baixas foi a Franklin Templeton. Segundo o gestor Frederico Sampaio, o fundo aproveita esses eventos para fazer algumas mudanças na carteira. "Nesses momentos, é preciso ser seletivo, pois os ativos de maior qualidade são os que sustentam a recuperação", diz Sampaio. As principais compras foram dos papéis das Lojas Renner e Brasil Telecom. "São dois ativos dos quais gostamos muito e foram prejudicados pela crise", diz ele.


A ação da Renner por exemplo, chegou a valer R$ 40 antes da crise e, no auge da turbulência, caiu até R$ 26, sendo que ontem estava em R$ 34. "A empresa tem boa gestão e números de crescimento melhores que a concorrente direta, além de ter capital pulverizado", lembra Sampaio. Já Brasil Telecom também teve queda, mas já era atraente na visão do gestor. "Esse é um ativo muito barato, porque tinha um desconto em função das questões societárias do passado", afirma. "Mas vem tendo melhoras operacionais e de governança, sem contar a possibilidade da fusão com a Telemar."


O sócio da Argúcia, Ricardo Magalhães, também mexeu na carteira. "Compramos Terna, Rodobens e Ipiranga, além de outros dois papéis que ainda estamos adquirindo devagar", diz Magalhães. "Também aproveitamos para sair de algumas posições que achamos que já tinham subido o previsto", diz. O Argúcia Income, fundo com patrimônio de R$ 228 milhões e com variação de 36% no ano, é bastante focado em fundamentos e empresas com perspectivas de pagar bons dividendos.


O Rio Bravo Fundamental, fundo que tem como estratégia se concentrar em poucos ativos por longo prazo, também foi às compras. "Elevamos a aposta em Eternit", explica o gestor Rafael Rodrigues, da Rio Bravo.


Já o diretor de gestão da Máxima Asset, Saulo Sabbá, usou a estratégia de vender um pouco das ações blue chips para tentar surfar nas pechinchas criadas pela crise. "Focamos bastante em papéis que tinham forte presença de estrangeiros, que foram os mais prejudicados", explica. Segundo ele, entre os setores mais interessantes durante a turbulência estavam os de construção, consumo e bancos. "O de construção estava quase 80% nas mãos de investidores externos", lembra ele. "E os bancos acabaram sofrendo por tabela, já que o setor lá fora foi afetado, mas aqui não se justifica, as perspectivas são muito boas", completa. A idéia era comprar antes da recuperação que ele previa para os papéis.


Como a recuperação começou a ocorrer, até antes do que alguns imaginavam, os gestores afirmam que há lições importantes a tirar dessa turbulência. Para José Alberto Tovar, da Arx Capital, os solavancos foram um teste interessante para os novos investidores que chegaram há pouco ao mercado de ações. "A primeira lição é: esse é um mercado que tem, sim, volatilidade", diz ele. "E a segunda lição é que se deve focar ativos que tenham bons fundamentos e perspectivas para o longo prazo, pois assim se pode ficar mais confortável em momentos como esses" , completa.


Tovar lembra que, em momentos em que a maioria está em pânico, quem mantém a calma é que consegue tirar o melhor proveito. "É psicologicamente difícil resistir firme no pior momento, mas o investidor precisa ter isso em mente, principalmente em crises desse tipo, que são de liquidez e não corporativas", conclui. Sampaio, da Templeton, lembra que a carência de resgate acaba ajudando a evitar que os investidores sejam movidos pelo pânico e façam saques nos piores momentos.

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