segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Quebra de confiança

Valor Econômico de 13/08/2007

Por Angelo Pavini, Luciana Monteiro e Adriana Cotias

A semana será fundamental para se ter uma idéia se o esforço dos bancos centrais da Europa, Estados Unidos e Ásia foi suficiente para afastar o risco de crise bancária e recuperar a confiança perdida dos investidores. A turbulência dos mercados vai continuar ainda por um bom tempo, à medida que os prejuízos dos fundos e bancos que aplicaram nesses papéis forem sendo divulgados, a exemplo do BNP Paribas, dizem os economistas.
Apesar da turbulência, os investidores brasileiros não dão sinais de pânico. Desde que a crise começou, em 24 de julho e até dia 8, os fundos de maior risco captaram recursos, apesar das perdas. Um ponto positivo é que, no Brasil, as carteiras não correm tanto risco como lá fora e os prejuízos se limitam muito mais à parcela de ações que possuem. Com tanta volatilidade, os fundos cambiais se destacaram, liderando os ganhos durante a crise . Já ações e multimercados perderam, segundo dados do site Fortuna. Nesses números, não estão as perdas de quinta e sexta-feira da semana passada, quando o Ibovespa caiu 4,71% e o dólar subiu 3,39%. De 24 de julho até sexta, o Ibovespa caiu 9,30% e o dólar subiu 5,92%.
Em geral, os multimercados estão reduzindo a parcela em ações e aumentando a em ativos menos voláteis, como renda fixa, explica o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, estrategista da Quest Investimentos. "No Brasil, ninguém fica alavancado, no máximo tem 40%, 50% em ações, não é como lá fora que o gestor aplica quatro vezes o patrimônio do fundo", diz. O risco calculado pelo índice VIX, que leva em conta as opções do índice Standard & Poor's (S&P) da bolsa americana, quase dobrou de meados de julho para cá, passando de 15 para 28 pontos.
Para Mendonça de Barros, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já deu dois passos para controlar a crise de liquidez: emprestar dinheiro para os bancos em troca de títulos federais e, depois, receber como garantia papéis hipotecários. Se a coisa continuar piorando, o Fed pode se colocar como emprestador de última instância para todos. O quarto passo seria baixar esses juros. Essa seria a alternativa também na Europa.
O ex-ministro avalia que, apesar da turbulência, o impacto da crise na economia brasileira será limitado. Somente se o dólar subir 10% haverá impacto na inflação, o que levaria o BC a interromper a queda dos juros. "Mas os BCs estão agindo rápido e têm condições de estabilizar os mercados", avalia ele.
A crise do "subprime" entrou em outro nível, mas não dá para dizer que estamos caminhando para o abismo, afirma Carlos Kawall, diretor de fundos multimercados da Rio Bravo e ex-secretário do Tesouro. Para ele, o risco seria surgir outro fundo ou banco com grandes problemas, reduzindo a oferta de crédito da economia e sinalizando retração da atividade mais a curto prazo. Ou ainda, o impacto da queda nas bolsas e no mercado imobiliário na confiança do consumidor americano. "Seria um cenário que poderia levar o Fed e os bancos centrais europeus a reduzirem os juros no curtíssimo prazo", diz. Apesar disso, Kawall não trabalha com um cenário de ameaça ao crescimento global, lembrando o aquecimento econômico da China e da Europa compensaria problemas nos EUA.
No Brasil, ele acha que alta do dólar não chega a ameaçar a inflação, lembrando que a moeda ainda está abaixo das projeções do fim do ano passado. Ele mantém a expectativa de que o Copom cortará os juros em 0,25% na próxima reunião. Apesar disso, Kawall diz que o momento não é de tomar mais riscos, mesmo com mais oportunidades.
Os gestores estão tentando voltar para os mesmos níveis de risco da carteira, o chamado VaR, que tinham antes da crise, diz Francisco Costa, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Personal Investimentos. Para ele, se o mercado continuar ruim e as carteiras encerrarem agosto com perdas, os investidores poderão começar um movimento de saques. "Mas os que vão resgatar são aqueles que entraram nesses produtos pelas razões erradas, já que não se deve olhar para multimercados no curto prazo", diz.
Hoje já há mais resgates em fundos de ações, mas ainda inferiores à aplicações, diz Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management (UAM). "O mês passado fechou positivo e o varejo só costuma sacar quando o mês fecha negativo", diz. Ele não mudou as projeções para o Ibovespa, para 62 mil pontos em 12 meses, mas diz que o momento é de observar o mercado, não de aumentar as aplicações em bolsa. "Não dá para dizer que o mercado vai continuar piorando, mas a certeza é que a volatilidade vai continuar alta", diz.
Diferentemente das outras crises pelas quais os país passou, desta vez, há mais investidores em ativos de maior risco como ações ou multimercados, lembra Rogerio Betti, do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. Para ele, o investidor deve esperar é muita volatilidade pelo menos até setembro, quando sai o balanço da maior parte dos "hedge funds" americanos. "Até lá, não acho nada absurdo a bolsa cair 6% ou 7%", diz. "Mas o que você faz quando vê um furacão vindo em sua direção? Se a sua casa é segura, você entra e espera passar."
A atuação mais agressiva dos BCs europeu, japonês e do Fed vai ajudar o dinheiro a fluir pelo sistema, suavizando o tranco do ajuste das carteiras, afirma Alexandre Horstmann, sócio e diretor de gestão da Meta Asset Management. "Mas a crise será de duração mais longa, vai haver uma sucessão de cotas de 'hedge funds' com prejuízos", alerta ele. Ele não acredita em um movimento de aversão a risco. "Apenas o ritmo de diversificação pode ser mais lento", diz.
Embora a turbulência atual não tenha cara de uma crise sistêmica, há ainda muito ruído por vir como conseqüência dos abalos gerados pelas hipotecas americanas de alto risco, pondera o sócio do Pátria Investimentos, Luís Fernando Lopes. "Os hedge funds não contam com a injeção de liquidez dos bancos centrais e ainda podem surgir alguns cadáveres", diz. Os riscos vão, entretanto, além do problema do "subprime", acrescenta.
Para o investidor com um pouco mais de apetite por risco, a dica de Lopes é garimpar devagar oportunidades, de renda variável a investimentos imobiliários e, num horizonte de longo prazo, diversificar em fundos com diferentes perfis de gestão, evitando ficar só naqueles direcionais, que não vão tão bem quando o mercado vira de ponta cabeça. "Não significa sair do fundo que já tem e, sim, compor a carteira, com uma parcela em DI, da reserva de liquidez, outra num de arbitragem, por exemplo."
Enquanto não conseguir ter a extensão da crise dos "subprimes", os velhos e bons fundos DI podem servir de refúgio para o aplicador que queira ficar fora do risco neste momento de intensa volatilidade, aponta Sérgio Paulino Ferreira, da Banif Primus Asset Management. "Os resultados são mais baixos, mas tendem a ser positivos", diz.
As apostas diretas em títulos prefixados neste cenário são menos recomendadas, mas não é aconselhável o investidor ficar pulando de galho em galho sob o risco de errar no "timing", diz o diretor de Renda Fixa da HSBC Investments, Renato Ramos. "Se tem uma aplicação de longo prazo, não adianta o investidor ficar olhando a cota diária", diz.

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