quinta-feira, 29 de abril de 2010

Fundos populares já são superados pela poupança

 Valor Econômico

 29/04/2010

Apesar de o patrimônio dos fundos de investimento estar se expandindo a olhos vistos - apenas nos três primeiros meses do ano, a captação somou R$ 22,9 bilhões -, as aplicações realizadas pelos pequenos investidores diminuem, perdendo espaço para os segmentos de alta renda, fundos de pensão ou mesmo empresas. Muitas vezes relegados a segundo plano pelos bancos, os fundos populares já são superados pelo saldo das cadernetas de poupança.

Antes da crise, em dezembro de 2007, os fundos dedicados ao varejo somavam R$ 293 bilhões de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Passados mais de dois anos, em março deste ano, as carteiras destinadas aos pequenos investidores regrediram para R$ 282,9 bilhões. No mesmo período, o total investido em fundos cresceu 26,8%, de R$ 1,2 trilhão para R$ 1,5 trilhão. Os recursos aplicados em caderneta de poupança, por sua vez, registraram expansão de quase 40% no período, saltando de R$ 235,261 bilhões em dezembro de 2007 para R$ 327,885 bilhões em março.

Longe das massas

 
 

Luciana Monteiro, de São Paulo

Enquanto os investimentos em fundos voltados para o varejo caem, o patrimônio dos clientes mais abonados, os chamados private, cresce. Em março deste ano, os fundos voltados para a alta renda acumulavam R$ 209 bilhões, 37% mais do que os R$ 152 bilhões de dezembro de 2007.

O crescimento dos fundos para milionários coincide com a expansão dos negócios das áreas de private banking dos bancos, dos escritórios de aconselhamento financeiro voltados para a alta renda ou mesmo dos gestores de fortunas ("family offices"), diz o consultor de investimentos Marcelo D"Agosto, autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento". "A situação ideal almejada por muitas instituições é o de uma operação com relativamente poucos clientes, mas com aplicações individuais elevadas."


 

Apesar da expansão geral do setor de fundos, isso não vem acontecendo na área de varejo, diz D"Agosto. Aparentemente, avalia ele, o pequeno investidor tem optado por aplicar em caderneta de poupança ou em CDBs. Com a crise que eclodiu em 2008, muitos investidores deixaram de aplicar em fundos de investimento rumo a aplicações mais conservadoras e, ao que tudo indica, não voltaram mesmo após a recuperação, acredita.

Levantamento do consultor revela que, do total das aplicações do segmento de varejo em fundos, 75% estão investidos em carteiras DI ou de renda fixa, 16% em fundos de ações e 8% em multimercados. "O principal fator para a fase atual de elitização do mercado de fundos é a dificuldade que o investidor encontra para acessar boas carteiras", afirma. "Ao não encontrar fundos DI e de renda fixa que consigam ao menos rivalizar com a caderneta de poupança, os pequenos investidores passaram a simplesmente descartar os fundos." Segundo D"Agosto, os fundos de investimento de varejo representavam 18% do total da poupança financeira do país em 2005, fatia que caiu para 11% agora.

Não há, porém, sinais de migração dos recursos de fundos mais populares para outros tipos de aplicação, ressalta Demósthenes Madureira Pinho Neto, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Assim, o que estaria ocorrendo é que as novas aplicações de varejo estão indo para outras alternativas. Na visão dele, o pico de patrimônio registrado em 2007 foi motivado também pela forte valorização dos ativos naquele ano.

O executivo observa que, dentro do segmento institucional, que também cresceu, estão os planos de previdência das pessoais físicas, que aparecem em outra categoria porque o cotista é a seguradora. E não é possível fazer a separação desses números. "De qualquer forma, acredito que o que vamos ver ao longo deste ano é um crescimento tímido no varejo", admite Pinho Neto, ressaltando que, além do bom retorno da caderneta de poupança, que rende a variação da Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano livre de imposto, os bancos estão captando recursos com CDBs.

O dinheiro do varejo que saiu de fundos durante a crise ainda não voltou, avalia Ricardo Torres, professor de Finanças da Brazilian Business School. A maior competitividade da caderneta proporcionada pela redução do juro é um argumento forte para esse movimento. "A queda da taxa de juros abaixo de 10%, para os atuais 8,75%, mostrou que as taxas de administração de alguns fundos eram bastante exageradas", diz. Com isso, muitos investidores preferiram a boa e velha caderneta de poupança.

Investir em fundos é algo que demanda tempo e estudo para entender as estratégias da aplicação, além de profissionais qualificados com paciência para tirar as dúvidas dos investidores, afirma o consultor Marcelo D"Agosto. Na dúvida, o investidor busca a caderneta de poupança e o CDB, que são mais fáceis de serem entendidos, diz.

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