sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Leão dá um desconto

Valor Econômico

Por Luciana Monteiro e Antonio Perez, de São Paulo
22/01/2010

Cerco da Receita ao investidor com ganho em bolsa amplia procura pelo Refis, que teve 169 mil pedidos no ano passado.

O cerco da Receita Federal, em especial aos investidores em ações, está aumentando o interesse das pessoas físicas pela renegociação de débitos com o Leão. Pelo menos 169 mil aproveitaram o Programa de Recuperação Fiscal (Refis), encerrado no fim do ano passado, para parcelar suas dívidas. Muitos são investidores que não declaravam os ganhos obtidos em bolsa. Tanto que 59% dos que aderiram ao programa - ou 99.810 pessoas - estão justamente na modalidade que compreende, entre outros casos, os débitos não declarados por ganhos de capital em vendas de ações no mercado à vista.

A Receita já deixou claro que está aumentando a fiscalização e vai cada vez mais atrás de quem aplica em bolsa. Isso está estimulando a procura por consultoria na área e incentivando as corretoras a lançar serviços de orientação fiscal aos investidores de home broker.

Os números mostram que a BM&FBovespa encerrou o ano passado com 552.364 contas de pessoas físicas. E, diante da valorização de 82,66% do Ibovespa em 2009, o número de investidores que terão de declarar os lucros com ações não será pequeno. O problema é que pelo menos 70% desses investidores não recolhem o tributo, avalia Meire Bomfim Poza, da Arbor Contábil.

Muitos simplesmente não declaram os ganhos em bolsa, nunca caíram na malha fina e acham que não serão pegos pela Receita, diz Meire. "Tem muita gente que nem sabe que é ele, investidor, o responsável por apurar o imposto, pensam que isso é responsabilidade da corretora." Caso seja pego, o contribuinte terá de pagar, além do valor devido, juros e as multas regulares, outra multa, que pode variar de 75% do valor do imposto, para casos de erro, a 225%, quando há indícios de fraude ou sonegação.

A forma de cálculo do imposto também é complicada, exige que o aplicador guarde todos os documentos das negociações por muito tempo e faça várias contas. Todo investidor que vende ações num valor superior a R$ 20 mil por mês precisa pagar 15% de imposto de renda sobre os ganhos. A apuração do tributo é mensal e vence no último dia útil do mês seguinte ao da venda das ações.

Se o total vendido no mês não superar R$ 20 mil, não há imposto. Mas não é R$ 20 mil por operação. O cálculo deve levar em conta a soma de todas as vendas realizadas no mês. Se o total superar em um real que seja o limite, o investidor tem de pagar 15% sobre todos os ganhos líquidos, já descontadas eventuais perdas naquele mês ou em meses anteriores. Ou seja, não é só sobre o que ultrapassar R$ 20 mil, é sobre o valor total.

A confusão é tanta que as corretoras já se movimentam a fim de facilitar a vida dos clientes. A Gradual Investimentos, por exemplo, estreou nesta semana um portal exclusivamente com informações sobre o recolhimento do imposto. Com mais de 30 mil clientes no home broker, o portal recebeu 40% mais acessos que a página da corretora, diz Marcelo Smarrito, diretor de clientes. Para ele, as corretoras têm a obrigação de orientar os clientes, já que investiram pesadamente na atração da pessoa física para o mercado acionário. "As pessoas desconhecem completamente as regras; a Receita está certíssima em apertar o certo", afirma.

Já a Ágora lançará até o fim do primeiro trimestre um software para o cálculo do imposto, informa Helio Pio, gerente comercial da corretora. O programa vai capturar e consolidar automaticamente as operações dos clientes pelo home broker, emitindo a cada mês um formulário com o imposto devido. Basta o cliente imprimir e pagar. "Era grande a demanda por algo que simplificasse o recolhimento", explica Pio. A ferramenta serve para quem opera apenas pela Ágora.

A corretora Socopa atende pelo menos um cliente por dia com dúvidas sobre como declarar o imposto de renda, afirma Michel Campanela, gerente de Home Broker da instituição. "A procura aumentou muito de um ano para cá; tem cliente que pede de um sistema automático até um contador." A corretora oferece em sua página na internet um guia sobre a declaração, com um exemplo do cálculo do imposto a partir das notas de corretagem.

Com o crescente interesse dos investidores pela questão tributária, a Investeducar, empresa especializada em educação financeira, realizou este ano um workshop dedicado ao tema. "A parte tributária ganha cada vez mais importância nos nossos cursos", diz Márcio Rodrigues, professor da Investeducar.

O imposto sobre o ganho de capital obtido com a venda de ações é pago pelo investidor em forma de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf), com o código 6015. Na hora de fazer a declaração anual do imposto de renda, o investidor deve informar mês a mês o ganho de todas as operações na seção "Renda Variável".

Uma mão na roda para o investidor é baixar o arquivo SICALC, no site da Receita, para preencher e imprimir o Darf. Mas se o valor vendido em ações não ultrapassar R$ 20 mil por mês, o investidor declara no IR só o ganho na ficha "Rendimentos Isentos e Não Tributáveis", no item "Outros".

É muito comum os investidores não fazerem o recolhimento do imposto já que, no ato da venda das ações , a corretora recolhe na fonte 0,005% sobre o valor, avisando a Receita da operação, lembra Meire, da Arbor. Esse percentual pode ser deduzido na hora de pagar o imposto sobre o ganho de capital. "Mas muito investidor vê esse recolhimento no extrato da corretora e acha que já pagou o imposto, o que não é verdade", diz.

Quem estava com impostos atrasados poderia aderir ao Refis para parcelar débitos registrados de 2005 a 2008 (até o dia 30 de novembro daquele ano). A adesão permitia o parcelamento do débito em até 180 meses com desconto na multa e nos juros. Se optasse por pagar à vista, o contribuinte ficaria livre da multa e abateria 45% dos juros do período.

Mas, e quem perdeu o prazo? A saída é fazer um refinanciamento ordinário, que permite pagar a dívida em até 60 meses, mas sem desconto das multas e juros. É preciso também apresentar garantias, como imóveis, por exemplo.

Na declaração, as ações em carteira devem ser informadas na seção "Bens e Direitos", empresa por empresa, papel por papel, separadamente, pelo valor de compra, sem atualização. Eventuais proventos provisionados e não recebidos também devem ser informados lá.

Os dividendos devem ser declarados na linha 5 da ficha de "Rendimentos Isentos e Não Tributáveis". Já os juros sobre capital próprio devem entrar em "Rendimentos Sujeitos à Tributação Exclusiva". As operações de compra e venda no mesmo dia, o chamado "day-trade", pagam 20% sobre os ganhos e mais 1% na fonte

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Número de novos cadastros no Tesouro Direto cai 33%

Valor Econômica

21/01/2010

De São Paulo

O Tesouro Direto - sistema de negociação de títulos públicos pela internet - atraiu menos investidores em 2009. No ano passado, 28.719 aplicadores se cadastraram no programa, elevando em 19,7% o total acumulado em relação a 2008. Apesar disso, a quantidade de novos cadastros caiu um terço, ou 33%, em relação aos 42.946 que aderiram ao programa no ano anterior.

A redução no ritmo de crescimento de cadastros ocorreu justamente num ano em que a crise financeira internacional arrefeceu, fazendo com que muitos investidores buscassem ativos um pouco mais arriscados.

 

 

O Índice Bovespa, por exemplo, encerrou 2009 com valorização de 82,66% . Com o mercado acionário em alta, o interesse por ações também aumentou. A BM&FBovespa encerrou o ano passado com 552.364 contas de pessoas físicas, 15.501 a mais do total registrado em 2008.

É preciso ressaltar, entretanto, que o forte crescimento do número de cadastros novos no Tesouro Direto em 2008 se deveu aos impactos da crise financeira, que levou os investidores a buscar refúgio em alternativas de investimento mais conservadoras.

A queda no ritmo de crescimento do número de cadastros ocorreu justamente no ano em que o Tesouro Direto fechou uma parceria com a BM&FBovespa, que passou a divulgar o programa em sua campanha de popularização. Além disso, as duas instituições fizeram um processo de integração do sistema de negociação eletrônica de ações, o home broker, com o de venda de títulos públicos para as pessoas físicas, para facilitar as operações.

Os números do balanço das operações do sistema mostram que os pequenos investidores ainda são maioria nas aplicações. A venda de títulos para valores até R$ 1 mil representou 28,2% das operações no ano passado. Já a fatia para investidores com investimentos de até 5 mil atingiu 67,5% do total.

Os títulos mais procurados em 2009 foram as Letras do Tesouro Nacional (LTN, títulos com rentabilidade prefixada), com 28,53%. Em seguida ficaram as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), com 21,16%. Esses papéis remuneram o investidor com juros definidos no momento da compra mais a variação do IPCA.

As Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F, títulos prefixados com pagamento de juros semestral) representaram 19,61% das vendas no ano. Em quarto lugar ficaram as NTN-B Principal - que têm as mesmas características da NTN-B, mas sem pagamento de juros semestral -, com 17,73%. As Letras Financeiras do Tesouro (LFT, pós-fixadas), que seguem a variação da Selic, obtiveram fatia de 12,96%.

As vendas de títulos públicos por meio do Tesouro Direto somaram R$ 1,562 bilhão no ano passado, valor praticamente estável em comparação ao R$ 1,558 bilhão registrado em 2008 - crescimento de 0,27%. Os papéis com prazo entre um e cinco anos representaram 48,88% das vendas. Já os títulos com vencimento acima de cinco anos tiveram participação de 44,45%. Os papéis com vencimento em até um ano representaram apenas 6,67% do volume de vendas.

As NTN-B Principal com vencimento em 2024 foram as mais rentáveis no ano passado, com retorno de 25,55%. Em seguida vieram as NTN-B 2045, com rendimento de 24,91%. A rentabilidade dos títulos atrelados a índices de preços, que inclui também a NTN-C, indexada ao IGP-M, variou entre 11% e 25,6% no ano passado.

Entre as LTN, o destaque ficou por conta dos papéis que vencem em janeiro de 2011, com 14,41%. Considerando LTN e NTN-F, os títulos prefixados apresentaram rentabilidade entre 12,2% e 15,2%. Já os pós-fixados obtiveram retorno de 9,9%.

O estoque total do Tesouro Direto atingiu R$ 3,268 bilhões no fim de 2009, o que representa um acréscimo de 32,9% em relação ao anterior, no valor de R$ 2,460 bilhões.

Luiz Sérgio Guimarães

Valor Econômico

21/01/2010

Juro ignora efeito da aversão global e sobe

Para sintonizar-se com a feroz aversão a risco exibida ontem no mercado internacional, os juros deveriam ter caído no pregão de CDI futuro da BM&F. Afinal, se os EUA, como revelam os balanços do quarto trimestre do ano passado, não estão se recuperando com a desenvoltura imaginada e se a China se empenha em restringir o crédito, aumentará a possibilidade de os bancos centrais adiarem o início de movimentos de aperto monetário. O prolongamento de uma fase de crescimento moderado - conjugada com a queda de preço das commodities - favorece políticas monetárias mais frouxas. Apesar disso, os juros continuaram subindo na BM&F. A taxa do swap de 360 dias avançou de 10,43% para 10,45%. E o CDI para a virada do ano subiu de 10,32% para 10,33%.

O motivo para a autonomia doméstica de juros é a percepção de que a economia brasileira está se expandindo num canal próprio de alta, não inteiramente vinculado ao que acontece lá fora. Os dados algo decepcionantes do Caged não esmoreceram a sensação de que o Brasil crescerá mais do que a média dos emergentes, com exceção da China e da Índia. Mesmo tendo apontado o fechamento líquido (415,2 mil) de mais postos de trabalho do que o previsto (340 mil) pelos analistas, o Caged não sinalizou a interrupção da recuperação do mercado de trabalho. A consultoria LCA observa que no ano passado foram gerados 995 mil postos formais, resultado inferior ao observado em 2008 (1,452 milhão), "mas bastante significativo se levarmos em conta a importante retração sofrida pelo mercado formal entre novembro de 2008 e março de 2009". E se o crescimento brasileiro desacopla-se em certa medida ao que acontece nos EUA e na Europa, a onda mundial de valorização da moeda americana poderá produzir mais facilmente algum efeito inflacionário. O dólar fechou ontem cotado a R$ 1,7930, com acréscimo de 1,19%. Apenas nos 13 primeiros dias úteis do ano, a moeda avançou 2,87%.

Os players do mercado futuro de juros não ignoram que o "pass-through" cambial para os preços no varejo tende a ser amortecido pela queda das commodities, cuja oferta ao mercado interno cresceria se houvesse resistência à sua colocação nos mercados globais. Mas os analistas temem que o aquecimento do consumo leve a uma ampliação da importação de bens de consumo independentemente do preço em dólar. Como diz o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, se o déficit em transações correntes não é problema, a balança comercial preocupa. O déficit em conta corrente registrado em dezembro surpreendeu negativamente. Foi de US$ 5,9 bilhões, elevando para US$ 24,3 bilhões o rombo do ano. Para 2010, o BC projeta um déficit maior ainda, na casa da US$ 40 bilhões. Mas, como no ano passado, o deste ano será amplamente financiado pelo investimento direto, estimado na faixa de US$ 45 bilhões. Sem problema.

 

 

O quadro para a balança comercial não é tão reconfortante assim. Se ao crescimento das importações forem agregados o fator externo da aversão e o interno do ruído eleitoral, o dólar parece ter um potencial inquietante de valorização. A variável decisiva vem mesmo lá de fora. A moeda americana costuma se comportar de maneira desconcertante: ela assume como verdadeira a direção indicada pelo mercado externo e sobe ou cai assimetricamente em relação ao fluxo cambial. A lei da oferta e da procura não vale muito para o câmbio. Em teoria, o dólar deveria subir se falta moeda na praça e cair se sobra.

Na prática, o superávit ou o déficit do fluxo cambial são compensados pelas intervenções de compra do BC e pela contração ou expansão das posições registradas à vista pelos bancos. Na primeira semana do mês, o fluxo cambial foi negativo em US$ 1,77 bilhão, mas a reviravolta foi impressionante na segunda (superávit de US$ 1,86 bilhão) a ponto de na quinzena a balança cambial exibir saldo de US$ 95 milhões. Apesar dessa sobra muito pequena, o BC não teve dó: comprou US$ 783 milhões na primeira semana e US$ 476 milhões na segunda. Era para o dólar ter subido bem mais do que os 2,87%. Não subiu mais do que o indicado pela tendência externa porque os bancos decidiram reduzir suas posições compradas de US$ 3,39 bilhões para US$ 2,23 bilhões, pelos cálculos da corretora NGO.

Com modulações locais, a tendência do dólar vem das praças de câmbio desenvolvidas. Quem manda é o grande investidor insatisfeito com os balanços de bancos e corporações americanas e temeroso das consequências globais das tentativas empreendidas pelo governo chinês de furar a bolha de crédito.

Luiz Sérgio Guimarães é repórter de finanças

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Análise de perfil de aplicador de varejo deve revelar gosto maior por risco

Valor Econômico

Antonio Perez, de São Paulo
20/01/2010

A chegada da "suitability" aos fundos de investimento voltados ao varejo deve revelar que o investidor brasileiro está mais disposto a assumir riscos para elevar a rentabilidade de seu portfólio. Essa é a avaliação de executivos de grandes bancos de varejo que integram à Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A "suitability" consiste na avaliação do perfil do investidor para que a venda de um produto financeiro seja feita de maneira correta.

Desde 4 de janeiro, todos os clientes de varejo que procuram fundos de ações, multimercados e renda fixa com crédito privado devem passar pelo processo de "suitability". Os bancos montaram questionários com perguntas envolvendo aspectos como idade, experiência em investimentos, horizonte de aplicação, finalidade, valor aplicado e tolerância ao risco. Adotado no segmento de "private banking" desde julho de 2008, a "suitability" chega ao varejo com o nome de Análise do Perfil do Investidor (API).

O Itaú Unibanco começou a aplicar questionários ao varejo de alta renda, do Itaú Personalité, em setembro. Após analisar cerca de 20% da base de clientes, a análise revelou que apenas 35% possuem carteira de investimentos compatível com seu perfil de risco. Já 40% deveriam ter parcela maior de investimentos em ativos de risco e outros 25% assumiam mais riscos do que deveriam.

Hoje, cerca de 70% do patrimônio dos fundos do Itaú Unibanco está em aplicações conservadoras, como fundos DI e de renda fixa. "Claramente, deveria haver uma mudança, com parcela maior em ativos de risco em temos de captação", afirma o diretor de produtos de investimento do Itaú Unibanco, Claudio Sanches.

Segundo o coordenador da Comissão de Distribuição de Produtos de Varejo da Anbima, Marcos Villanova, do patrimônio total de R$ 1,4 trilhão do setor de fundos, apenas 11% está em fundos que incluem ativos de risco, como ações e crédito privado. Do patrimônio mundial de U$ 26 trilhões em fundos, de 40% a 45% estão em ativos de risco, isso levando em conta pessoas físicas e jurídicas. Excluindo as pessoas jurídicas, a fatia sobe para 80%.

Villanova identifica uma clara tendência de aumento da aplicação em ativos de risco, que deve ser revelada à medida que o API avance sobre a base de clientes das instituições. "O cliente de varejo no Brasil vai caminhar para isso", diz. "Com o juro menor, o investidor vai ter de arriscar mais para manter a rentabilidade."

Apesar de o cliente de varejo estar mais propenso a correr riscos para manter a rentabilidade elevada de seus investimentos, no início não deve haver uma mudança grande no fotografia do setor de fundos no Brasil, avalia Rosaline Nunes, superintendente do HSBC. "Esse rebalanceamento da carteira é delicado e vai demorar" , diz a executiva.

A Anbima não fixou prazo para que toda a base de clientes de fundos de varejo dos bancos associados passe pelo API. A perspectiva é de que a adoção ocorra à medida que os clientes decidam realizar novos investimentos.

Os investidores que optarem por aplicar em fundos que sejam mais arriscados do o questionário revelou terão de assinar um termo reconhecendo que estão cientes dos riscos de perdas. O mesmo se aplica ao cliente que não quiser passar pelo API, já que o processo não é obrigatório.

Segundo a Anbima, até o momento 100% dos investidores que resolveram aplicar em fundos com ativos de risco aceitaram responder ao questionário.

65% aplicam em desacordo com perfil

Jornal da Tarde

20/01/2010

Pesquisa apura que maioria dos clientes investe em fundos inadequados ao seu estilo

PAULO JUSTUS, paulo.justus@grupoestado.com.br

A maior parte dos investidores brasileiros não aplica de acordo com seu perfil de risco. Esse é o principal resultado de um levantamento feito pelo Itaú Unibanco com clientes Itaú Personnalité, de setembro a dezembro de 2009.

De acordo com o estudo, 40% dos clientes que têm perfil arrojado, típico de quem aceita o risco do mercado de ações, têm aplicações conservadoras como a poupança. Na outra ponta, 25% dos clientes investem em papéis de risco, mas têm um perfil conservador. Apenas 35% aplicam de acordo com o perfil indicado.

A pesquisa foi feita com 20% dos clientes do Itaú Personnalité, que aceitaram fazer a Análise de Perfil do Investidor (API). A análise cruza dados relativos ao risco que o investidor está disposto a correr com o momento da vida em que ele se encontra.

Nela são considerados seis quesitos: idade, experiência, horizonte de investimento, finalidade da aplicação, valor para investimento e aversão ao risco. "Com a API, temos mais uma ferramenta para mostrar ao investidor que seu dinheiro pode render mais", diz Osvaldo Nascimento, diretor-executivo de produtos de investimento do Itaú Unibanco.

A API se tornou obrigatória neste mês para novas aplicações em fundos que envolvem maior risco: de ações, multimercados ou de crédito privado. O cliente que tiver interesse em saber o seu perfil de investidor também pode solicitar aos bancos, nas agências, internet ou atendimento telefônico a aplicação do questionário.

Em alguns bancos, como no Bradesco e Itaú Unibanco, o resultado da API avalia também os investimentos que o cliente já tem na instituição e diz se eles estão de acordo com seu perfil. No Itaú, ao fim do questionário o cliente recebe sugestões de investimentos que podem ser feitos no banco.

A intenção dos bancos é ofertar produtos de acordo com a demanda do mercado e oferecer mais possibilidades de ganho para os clientes. "Quando a taxa básica de juros chega aos patamares atuais de 8% a 9% ao ano, o investidor passa a procurar melhores opções de retorno", diz o coordenador da Comissão e Distribuição de Produtos de Varejo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Marcos Villanova.

Falta de informação

Para o diretor de produtos de investimento Itaú Unibanco, Claudio Sanches, o desafio é trazer cada vez mais a assessoria financeira ao cliente que deseja investir. Segundo ele, o maior acompanhamento dos clientes pode encorajar muita gente a investir. "Alguns clientes permanecem com o dinheiro em conta, sem rendimento, por falta de conhecimento das opções que têm", diz.

A superintendente do HSBC, Rosaline Nunes, diz que com a API, os bancos passarão a ter uma base de dados que vai permitir estabelecer o perfil de investimento de seus clientes. "Na medida em que conhecemos mais o cliente, podemos orientar o desenvolvimento de determinados produtos adequados ao seu perfil", diz.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Estudo do filho por quase meio milhão

Estado de Minas


 

18/01/2010


 

Valor inclui apenas a mensalidade escolar, que chega a R$ 4 mil nos cursos mais caros. Até fiador as faculdades passaram a exigir do estudante na hora da matrícula


 

Marinella Castro

 
 

O preço para educar um filho, do maternal à faculdade, pode atingir R$ 428 mil, se considerados  23 anos de estudos no sistema privado de ensino. Para garantir que as famílias se mantenham em dia com o alto custo das mensalidades, as escolas de medicina, as mais caras do mercado, lançaram a figura do fiador. Uma exigência polêmica, que não é recomendada pela Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), mas que se torna cada vez mais comum. A exigência tira o sono de muitas famílias, que, além de desembolsarem valores que variam entre R$ 3 mil e R$ 4 mil por mês, têm de recorrer a bancos quando não encontram um avalista disponível na família ou entre amigos.

Bom lembrar também que o custo de educar é ainda mais elevado, já que os valores acima não incluem gastos indiretos, como roupas (uniformes), livros e transporte, entre outros.

Da educação infantil, iniciada aos 3 anos, ao ensino médio, o custo da educação pode variar entre R$ 70 mil e R$ 176 mil. O estudo foi feito pelo site Mercado Mineiro com exclusividade para o Estado de Minas. Foi considerado o custo de escolas em Belo Horizonte que atendem às classes A, B e C. Se o curso escolhido for o de medicina, os valores podem atingir R$ 428 mil para a classe A, R$ 382 mil para a classe B e R$ 314 mil para a classe C .

Os fiadores devem comprovar renda com valores no mínimo três vezes superiores ao preço da mensalidade e ainda ter imóvel registrado em seu nome. Segundo as escolas ouvidas pela reportagem, essa é uma política preventiva contra inadimplência.

"É muito difícil encontrar esse fiador. Sei de casos de pais que são obrigados a pagar de uma só vez 12 prestações, porque não apresentaram o avalista", comenta a funcionária pública Sônia do Carmo Campos, mãe de uma estudante do quarto período de medicina. A cada ano, ela renova o aval para conseguir pagar em parcelas, a escola da filha.

Este ano, as instituições particulares vão endurecer ainda mais as regras, passando a exigir de seus novos alunos uma declaração de ausência de débitos com a escola anterior. A prática está baseada na Lei 12.007, aprovada no ano passado. "Não orientamos as escolas a pedir fiador, mas elas só devem efetuar a matrícula com essa declaração. É uma forma de evitar o calote. Devem também enviar o nome dos devedores para o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC)", aponta o presidente da Fenepe, José Augusto de Mattos. Apesar de admitir que esse não é um problema para a instituição, Flávio Amaral, diretor da Fundação Educacional Lucas Machado, mantenedora da tradicional faculdade Ciências Médicas, aponta que a prática já se tornou comum para o curso de medicina, que custa quase quatro vezes mais que os demais. "A inadimplência não é um problema para nós. A taxa é de aproximadamente 5%. O fiador é só uma segurança."

A moda do avalista é uma tranquilidade para as instituições, mas um transtorno para os pais. "Só consegui o fiador porque os padrinhos da minha filha se dispuseram a nos ajudar. Se não fosse isso, não sei o que faríamos", diz Sônia Campos. "É certo que as faculdades devem receber, mas não podemos deixar de lembrar que são instituições que não visam ao lucro." Segundo a reitora do UNI-BH, Sueli Balisa, a exigência do fiador é justa. "A escola garante que o aluno tenha uma boa qualidade de ensino e pede em troca uma garantia pessoal de que ele vai honrar os seus compromissos."

Do maternal ao ensino médio, Ludmilla e Vitor, filhos da professora Cibele Houara, estudaram em escola particular. "A mensalidade disputa com a alimentação o maior peso do orçamento. Quando os filhos vão para a faculdade ela se torna o primeiro peso", comenta a mãe. Vitor vai iniciar o terceiro ano do ensino médio e Ludmila se prepara para o vestibular de medicina. Apesar de a educação ser uma prestação de serviço, Cibele diz ter ficado chocada ao saber da exigência do avalista. "Os pais já têm que comprovar que podem pagar a escola. Não é fácil conseguir dois amigos com essa renda e ainda dispostos a serem fiadores."

A exigência do tal fiador é polêmica. Para o advogado Marcelo Barbosa, coordenador do Procon Assembleia, não existe lei que proíba as faculdades de cobrar mais essa garantia. A advogada da Associação Nacional dos Consumidores de Crédito, Lílian Salgado considera a cobrança abusiva, já que pode dificultar o acesso ao ensino. "A educação é um direito garantido pela Constituição, mas a exigência de avalista pode impedir a matrícula."

Brasileiros poupam para comprar a casa própria

Correio Braziliense

18/01/2010

Liana Verdini


Se tem uma coisa que mobiliza o brasileiro é a compra da casa própria. E é para isso, prioritariamente, que as pessoas poupam. A conclusão é de uma enquete do site do programa Educação Financeira, iniciativa conjunta da BM&FBovespa e TV Cultura. Segundo a pesquisa, o dinheiro armazenado por 72% dos entrevistados visa a compra da moradia; 15% poupam para comprar um carro zero e 13% querem juntar recursos para pagar uma viagem.

O programa Educação Financeira faz parte de uma ampla estratégia da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), iniciada em 2002, de divulgar o mercado de ações. Desde então, mais de 1,5 milhão de pessoas já participaram de iniciativas do programa de popularização do mercado, como visitas monitoradas ao Espaço BM&FBovespa, palestras, cursos gratuitos, concursos estudantis, parcerias com instituições de ensino, entre outras. Em agosto de 2009, ainda com o país se recuperando do estrago da crise mundial, a TV Cultura começou a veicular o programa Educação Financeira, com o objetivo de difundir os conceitos de economia, finanças pessoais e tipos de investimento. O programa tem também uma versão na internet, onde as enquetes são feitas.

Para a gerente dos Programas de Popularização da BM&FBovespa, Patrícia Quadros, tais iniciativas têm conseguido alcançar o objetivo de trazer mais pessoas para o mercado de ações. Em 2002, quando a bolsa decidiu divulgar o mercado, existiam cerca de 85 mil investidores pessoas físicas. Atualmente, são 552,7 mil, 6,5 vezes mais do que há sete anos. "Temos visto um crescimento substancial de pessoas físicas no mercado e uma procura intensa pelos cursos que oferecemos gratuitamente", diz.

Patrícia lembra que, no início do trabalho de popularização, quando a Bovespa começou a difundir a aplicação em ações, as pessoas confessavam que nunca haviam pensado na alternativa que estava sendo apresenta. "Havia uma crença de que este tipo de investimento era apenas para grandes volumes de dinheiro, para grandes investidores. Apostamos, então, que mais do que divulgar o mercado de ações, deveríamos também promover a educação financeira. Acho que estamos no caminho certo", frisa.

Sobra de caixa

O resultado desta estratégia começa a se refletir no comportamento das pessoas. Pelo menos daquelas que acompanham os programas de Educação Financeira pela televisão. A grande maioria (89%) reconhece que é possível ter ganhos em qualidade de vida com a educação financeira. O público também está preocupado em evitar o endividamento. Isso fica claro quando 50% daqueles que responderam à enquete afirmam que têm "comportamento azul", isto é, ganham mais do que gastam. E mais: 40% têm dinheiro guardado, enquanto 21% nem deve nem poupa.

"É extremamente gratificante o resultado que estamos conseguindo com a educação financeira", afirma Patrícia. "Procuramos usar uma linguagem bem simples, para alcançar o maior número possível de pessoas. E parece que estamos conseguindo". O programa tem batido consecutivos recordes de audiência, sendo assistido por 140.250 pessoas no estado de São Paulo, segundo dados do Ibope.

Isso ajuda a explicar as estatísticas oficiais da própria bolsa. Em 1999, o pregão da bolsa era dominado por instituições financeiras, que respondiam por 39,1% do movimento financeiro. As pessoas físicas eram responsáveis por apenas 15,9%. Em 2008, as compras de ações eram feitas predominantemente pelos investidores estrangeiros (35,5%), seguidos pelos investidores institucionais (27,1%) e pelas pessoas físicas (26,7%). As instituições financeiras responderam por 7,8% do movimento.

No mês passado, depois da instituição do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para a compra de ações por parte de estrangeiros, essa relação se inverteu: pessoas físicas (30,3%); estrangeiros (29,5%); institucionais (27,8%) e instituições financeiras apenas 7,6%.

O número
552, 7 mil
Total de investidores pessoas físicas aplicando diretamente em ações


Ganho maior no FGTS

Com a remuneração do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) perdendo constantemente para a inflação, uma das alternativas para tornar os depósitos mais rentáveis pode ser a destinação de parte dos recursos para investimentos em infraestrutura. Portanto, avisam os analistas, os trabalhadores devem se preparar, pois tal opção deverá estar disponível a partir de março, por meio do Fundo de Investimento em Cotas (FIC-FGTS), que será administrado pela Caixa Econômica Federal.

Segundo os especialistas, o FIC-FGTS comprará cotas do Fundo de Investimentos de FGTS (FI-FGTS), que hoje já aplica nas áreas de energia, rodovias, portos, ferrovias, hidrovias e saneamento básico. Em 2009, o FI registrou ganho de 9%, muito acima dos 3,9% do FGTS. Cada trabalhador poderá, no entanto, investir, no máximo, 30% do seu saldo no FIC. Mas o resgate dos recursos só poderá ser feito depois de um ano, mesmo em caso de demissão ou da compra da casa própria. Outro detalhe importante: se o FIC der prejuízo, o trabalhador não poderá reclamar.

No governo, ninguém acredita que os trabalhadores conseguirão destinar para o FIC os 30% do saldo. É que, inicialmente, o patrimônio do FIC não poderá superar os R$ 5 bilhões. Mas há chance de esse teto ser ampliado, devido à demanda por recursos para financiar obras de infra-estrutura.

Investir em infraestrutura pode 'engordar' seu FGTS

Jornal da Tarde

18/01/210

Trabalhador terá a opção de colocar dinheiro do Fundo em uma aplicação cujo rendimento é bem superior à remuneração convencional do FGTS. Recursos serão destinados a cotas de obras de rodovias, ferrovias e saneamento

PAULO JUSTUS, paulo.justus@grupoestado.com.br

Investir em infraestrutura pode ser a saída para quem pretende obter mais rentabilidade nos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A alternativa deve estar disponível para o trabalhador a partir de março, quando está prevista a regulamentação do Fundo de Investimento em Cotas (FIC-FGTS) administrado pela Caixa Econômica Federal.

Por meio do FIC, o trabalhador vai poder participar do Fundo de Investimento (FI-FGTS), que aplica recursos do FGTS em energia, rodovias, portos, ferrovias, hidrovias e saneamento. No ano passado, o FI obteve um rendimento de 9%, bem acima dos 3,9% obtidos pela remuneração do FGTS (veja simulação ao lado).

A aplicação será limitada a 30% do saldo do trabalhador e terá carência de um ano para o resgate. Durante esse período, o dinheiro investido não poderá ser resgatado nem nos casos previstos nas regras para saque do FGTS, como demissão e compra da casa própria. O investimento também terá riscos. Se o fundo der prejuízo, o trabalhador vai arcar com as perdas, e o pior, não vai poder resgatar o dinheiro antes do prazo mínimo previsto. Ao contrário do FGTS, que assegura 3% de ganho ao ano, o FIC não terá rentabilidade garantida.

Mesmo com o risco envolvido na aplicação, para o presidente do Instituto FGTS Fácil, Mario Avelino, a aplicação compensa. "Esse instrumento vai ser uma opção para aumentar o rendimento do fundo e, na minha opinião, o risco é praticamente nulo", diz. Avelino projeta um rendimento de 10% para o FI-FGTS nos próximos anos, graças ao perfil de investimento do fundo. "O fundo investe nos projetos mais rentáveis do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)", diz.

Embora o governo tenha aberto a possibilidade de investimento de até 30% do saldo do FGTS, Avelino diz que dificilmente o trabalhador vai poder fazer a aplicação máxima. Isso porque o total de investimento dos trabalhadores no FIC, inicialmente está limitado em R$ 5 bilhões. Como a procura deve superar esse valor, será feito um rateio proporcional ao volume de pedidos. Avelino estima que a demanda pelo FIC vai chegar a R$ 20 bilhões, quatro vezes mais que o liberado pelo governo. Nesse caso, o máximo que o trabalhador poderia investir seria de 7,5% de seu saldo.

Dependendo da procura, o governo também deve autorizar a ampliação da cota dos trabalhadores no fundo, em pacotes de R$ 5 bilhões. A ampliação das cotas também deve seguir a procura por investimento em infraestrutura do País. De acordo com o secretário executivo do Conselho Curador do FGTS, Paulo Furtado, a necessidade de investimentos nas áreas em que o FI-FGTS atua é de R$ 31 bilhões.

Atualmente o FI-FGTS administra um patrimônio de R$ 17,1 bilhões, dos quais R$ 14,5 bilhões já foram desembolsados em projetos e financiamento de infraestrutura. De acordo com o vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da Caixa, Bolivar Moura, responsável pela coordenação do fundo, a maioria dos recursos (80%) está aplicada em renda fixa, enquanto o restante está em renda variável. "O fundo também pode adquirir ações de empresas ligadas à infraestrutura", afirma.

A entrada em funcionamento do FIC depende ainda de aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Embora a estimativa em setores do governo seja que o fundo comece a operar em março, a CVM não forneceu estimativa de quando deve aprovar a regulamentação do FIC.

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