quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

O dilema da renda fixa

Valor Econômico
Por Catherine Vieira, do Rio
10/01/2008


Depois de um fim de ano de muitas reviravoltas nas previsões dos analistas sobre inflação e juros, a vida do investidor de renda fixa promete não ser lá muito fácil em 2008. Apesar de a interrupção dos cortes na Selic significar que os aplicadores não mais verão seu retorno encolher em progressão, gestores e especialistas no assunto recomendam agora uma análise mais cuidadosa para quem está pensando em investir nessa classe de ativos. O rumo dos juros ficou mais incerto, o que faz com que alguns indiquem os fundos DI para quem vai aplicar dinheiro novo, porque é o mais conservador. Mas há também quem recomende fundos de renda fixa de gestão ativa, para quem pensa em arriscar lucrar um pouco mais com o cenário mais volátil. A compra direta de papéis tem sido considerada opção só para os que pretendem segurar os títulos até o vencimento e estiverem dispostos a assistir a possíveis dias de volatilidade pelo caminho.


Mas, se o juro agora é estável, por que tanta cautela? Bem, apesar de estável o rumo do juro é menos previsível. Em meados de 2007, era unânime a idéia de que a taxa Selic chegaria a dezembro em 10,75% ao ano, mas eis que a inflação e o crescimento começaram a surpreender e mudaram esse cenário traçado pelos gestores. Tanto que a taxa anual está inalterada em 11,25% ao ano desde outubro. Agora, o ano já começa na incerteza. Até novembro, a visão predominante era a de que em 2008 os cortes seriam retomados, embora houvesse divergências sobre quando isso ocorreria. Mas o quadro ficou bem diferente. Já são poucos os que acreditam em novos cortes e muitos gestores começam a considerar até a possibilidade de alta na taxa básica determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).


Tudo isso, é claro, tem impactos no mercado de juros futuros e nos preços dos papéis que são comprados pelos gestores para os fundos, assim como nos títulos do Tesouro Direto. "Para se ter uma idéia de como as coisas mudaram nesse mercado de juros futuros, no início de 2007, os papéis com vencimento em janeiro de 2010 projetavam uma taxa de cerca de 12,17%, chegaram a atingir 10,16% em maio e fecharam o ano projetando um juro de quase 12,8%", lembra Eduardo Castro, diretor do ABN Amro. Isso mostra que, no ano passado, a expectativa do mercado para a taxa média de juro até 2010 começou otimista, ficou mais ainda e chegou ao fim mais pessimista.


Para Castro, os investidores que não acompanham muito o dia-a-dia do mercado devem optar por fundos nesse momento. "O cenário ainda está com incertezas e os gestores estão mais aptos a acompanhar isso de perto e mudar as estratégias com agilidade se e quando for necessário", diz ele. Porém, segundo Marcelo D' Agosto, do site Fortuna, o investidor também pode considerar a compra de LFTs para volumes pequenos e se a taxa de corretagem for baixa. "Os fundos voltam a ser uma opção, mas têm de ter uma taxa de administração baixa, senão comprometerão o ganho do cotista", afirma D'Agosto.


Investidores que forem mais arrojados e tiverem disposição para levar os papéis até o vencimento poderiam avaliar a idéia de comprar títulos, mas com ponderações. "No longo prazo, ainda continuamos a ter um cenário positivo para a economia brasileira, mas no meio do caminho há oscilações previstas, por isso o investidor deve avaliar o próprio perfil e o quanto de risco ele está disposto a aceitar, pois ele deve ter em mente hoje que renda fixa é fixa só na data do vencimento", diz o executivo do ABN.


Um outro gestor lembra que o juro real para o longo prazo, se nenhum grande problema ocorrer pelo caminho, tende a estar menor no futuro. Hoje, essa taxa real equivale ao cupom embutido nas NTN-Bs, em torno de 7,4% ao ano nos papéis com vencimento em 2010 e 7,5% para 2011. Ou seja, quem acreditar que o bom cenário de longo prazo vai vingar no Brasil poderia até pensar nesses papéis com vencimento um pouco mais distante, na expectativa de que o juro real poderá estar, num prazo superior a um ou dois anos, no patamar abaixo dos cupons atuais. Se isso ocorrer, quem aplicar nesses papéis hoje teria ganhos maiores do que aquele que aplicar no juro corrente. Também as LTNs (papéis com juros prefixados) ainda são consideradas arriscadas.


"Mais do que acreditar bastante nesse cenário positivo, o investidor que optar por esses papéis deve ter certeza de que não vai precisar dispor dos recursos no meio do caminho, pois com as variações podem e devem acontecer ", diz um especialista.


Por exemplo, quem comprou NTN-Bs com prazo para 2010 no início de outubro, antes da reunião do Copom que confirmou a interrupção dos cortes nos juros, e precisar vender esses papéis agora, possivelmente não terá ganhos como gostaria ou até ter alguma perda, já que os cupons dos papéis de médio prazo chegaram a ficar abaixo de 7% ao ano e agora já estão a cerca de 7,4%, sendo que chegaram a superar 7,5% nos últimos dias de 2007.


Para Alexandre Póvoa, do Modal Asset, especialmente este primeiro trimestre tende a ser de muita indefinição no terreno da renda fixa e dos fatores que a influenciam. Por isso, acredita ele, o ideal para os mais conservadores é deixar o dinheiro numa aplicação mais líquida, como um fundo DI, mesmo que seja de forma temporária. A natureza da inflação, hoje puxada principalmente por alimentos, é relativamente nova para o país. Portanto, não se sabe ao certo como o Banco Central vai lidar com esses aspectos no âmbito da política monetária, completa Póvoa.


O diretor de investimentos do HSBC Investments, Mario Felisberto, diz que, por enquanto, a previsão para a taxa de juro em 2008 é de estabilidade, ou seja, não sobe e nem cai. Porém, alerta ele, esse prognóstico pode mudar e não está de forma nenhuma descartada a possibilidade de uma alta na taxa básica pelo Copom este ano. "Ainda trabalhamos com a previsão de estabilidade, mas diria que a probabilidade de uma alta nesse momento seria maior do que a de um corte", diz Felisberto, que trabalha com uma projeção de 4,2% para o IPCA em 2008.


O executivo do HSBC diz que o aplicador que se acostumou com apostas no longo período em que o Copom sucessivamente cortou a taxa não deve esperar mais tempos tão fáceis. "Há indefinições e riscos no horizonte, portanto, a quem vai investir dinheiro novo, a melhor opção por enquanto pode ser até um fundo DI", avalia. "Só não recomendo migração de quem está em outros fundos para esses porque isso poderia implicar perda por conta de impostos", diz. (colaborou Rafael Rosas, do Valor Online

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Isento, leasing pode tomar 15% do CDC

Valor Econômico
Fernando Travaglini, de São Paulo
09/01/2008



O setor de leasing para veículos pode ser o grande beneficiado com o pacote de aumento de impostos. O arrendamento mercantil, por ser considerado um serviço, não tem incidência do Imposto sobre Operações Financeira (IOF), cuja alíquota foi elevada no início do ano.


Com as mudanças, o crédito para pessoas físicas ficou até 1,88% mais caro. Para as empresas, a elevação foi de 0,38%. Já no leasing incide apenas o tributo municipal Impostos sobre Serviços (ISS), cuja alíquota é da ordem de 0,25% sobre a operação.


Com isso, a diferença de juros para o crédito tradicional, o Crédito Direto ao Consumidor (CDC), que já favorecia o leasing em cerca de 1 ponto percentual ao ano, subiu para quase 3 pontos. Essa diferença passa a ser considerável, já que no financiamento de veículos a taxa de juros média é de 28,5% ao ano.


O presidente da Associação Brasileira da Empresas de Leasing (Abel), Rafael Cardoso, acredita que o impacto não será tão grande para a demanda de crédito, mas está otimista em relação ao leasing. "Deveremos continuar crescendo entre 30% e 35% em 2008", diz o executivo.


Já o presidente da CSI Leasing, empresa que faz arrendamento operacional de equipamentos de tecnologia, Roberto Mussalem, acha que o setor pode ver uma migração de 10% a 15% do CDC para o leasing por conta dos juros mais baixos. "O leasing já é naturalmente mais barato".


De fato, nos últimos anos o leasing cresce de forma mais acelerada do que o CDC. Em 2007, segundo dados do Banco Central, o crescimento do leasing foi mais forte: 97% no ano, atingindo R$ 27 bilhões, contra 25% do crédito, que chegou a R$ 79,5 bilhões, em novembro.


Com isso, quase um terço das operações de financiamento de veículos para pessoas físicas já são feita via leasing. O CDC tem pouco mais de 42% do total. Esse patamar mostra evolução em relação a 2002, quando o arrendamento respondia por 3% das operações e o crédito, 53%.


Nessa época, o arrendamento passava por uma crise devido à disparada do dólar quando a totalidade dos contratos de arrendamento eram atrelados à moeda americana. "Hoje o mercado aprendeu que a indexação tem de ser feita em moeda local", explica Mussalem.


No setor de veículos comerciais, o líder ainda é o Finame, linha especial do BNDES que agora também tem IOF de 0,38% (mesmo valor antes relativo à Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Até setembro do ano passado, 49% das operações comerciais eram feita via Finame, contra 30% das operações de leasing.


Para o presidente da Associação das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, a recente retomada do leasing e as novas condições tributárias podem elevar a competitividade do setor. "O leasing pode competir até mesmo com o Finame, do BNDES", avalia.


Além das condições favoráveis, o arrendamento é ainda uma importante ferramenta para o planejamento tributário das empresas, lembra Cardoso. Por exemplo, as companhias podem deduzir as parcelas (contraprestações) do Imposto de Renda (para as empresas que declaram o IR por lucro real).

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Cresce dispersão entre os retornos de renda fixa e DI

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
08/01/2008


Em uma economia mais estável, com juros menores, o retorno da renda fixa varia mais. Essa é a conclusão a que se chega ao avaliar o retorno dos fundos de renda fixa e DI mais populares do mercado. Segundo o site Fortuna, essas carteiras tiveram retorno bastante disperso. No ano passado, o retorno dos fundos de renda fixa variou entre 6,94% e 12,18%. Os fundos DI ganharam entre 6,45% e 11,78%. Isso significa que alguns cotistas tiveram praticamente a metade do rendimento de outros na mesma categoria de fundos. Muitos lucraram até menos do que o ganho de 7,70% da caderneta de poupança - que, diferentemente dos fundos, é isenta de imposto de renda. A maior distância entre os melhores e os piores fundos ocorreu no ano em que o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) ficou em apenas 11,81%, o menor retorno do Plano Real.


Quanto menor o CDI, maior é o impacto da taxa de administração nos fundos. Essa é a primeira explicação para a grande dispersão. Além disso, conforme cai o juro corrente, também aumenta a tendência de os fundos correrem mais riscos, com mais papéis privados, de longo prazo, prefixados ou em títulos que rendem segundo índices de inflação. Dessa forma, também as carteiras passam a render de maneira mais distinta do que quando quase todas aplicavam apenas em títulos públicos de curto prazo, como era há poucos anos.


O impacto da taxa de administração aumenta porque elas não variam conforme o retorno dos fundos. Considere duas carteiras que renderam conforme o CDI em 2003, por exemplo (quando o índice variou 23,26%). A primeira, com taxa de administração de 0,5% ao ano, teria apresentado retorno de 22,64% (ou 97% do CDI) e a segunda, com taxa de 4% ao ano, teria valorizado 18,33% (ou 79% do CDI). No mesmo exemplo em 2007, quando o CDI subiu 11,81%, o primeiro fundo, com taxa de 0,5%, teria rendido 11,25%, ou 95% do CDI, e o segundo, com taxa de 4%, teria avançado apenas 7,34%, ou 62% da variação do CDI.


Todos os fundos perdem mais com um juro menor em relação ao CDI, se mantida estável a taxa de administração. Mas os fundos com taxas altas têm recuo ainda mais severo no ganho, por isso a distância maior entre os lucros.


O rendimento dos fundos de renda fixa ficou mais diferenciado também pela mudança de perfil de risco dos gestores, além do peso dos custos. Há alguns anos, os juros altos não exigiam dos gestores grandes esforços para obter bom retorno, mas isso mudou. Em 2007, cresceram as aplicações em taxas prefixadas, títulos de inflação e papéis privados, o que acabou se refletindo no desempenho dos gestores, diz Marcelo de Jesus, gerente operacional de fundos de renda fixa da Caixa Econômica Federal. "Para lucrar mais, os aplicadores tiveram de elevar o risco de mercado", acrescenta.


Também os aplicadores optaram por esse caminho. Em 2007, os fundos com médio e alto riscos - que aplicam em papéis privados e apostam na variação futura dos juros - foram os que mais captaram, com R$ 3,5 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid). Já os fundos regulares perderam R$ 11,6 bilhões.


Segundo dados do Fortuna, no ano passado, o retorno médio de todos os fundos de renda fixa foi de 11,46% e o dos DIs, de 11,22%. Só que essas médias incluem fundos exclusivos e private, com taxas de administração muito inferiores às dos fundos de varejo.


Por essa distorção, Paulo Certain, responsável pela área de gestão de renda fixa da Unibanco Asset Management (UAM), diz que a habilidade dos gestores das categorias deve ser sempre avaliada pela comparação de carteiras de mesma taxa de administração.


No caso dos fundos DI, em que os gestores têm menos espaço para grandes peripécias, a taxa de administração é praticamente o único fator a pesar no retorno dos fundos, observa Ricardo Leal, professor de Finanças do Instituto Coppead/UFRJ. Embora essas carteiras comportem papéis privados, ainda é pequeno o espaço, no Brasil, para se obter retorno extraordinariamente maior com risco privado, porque o juro básico, apesar de menor, ainda é elevado para as empresas. "Na categoria renda fixa, há outros elementos, porque o gestor tem um pouco mais de liberdade para escolher os títulos prefixados ou de inflação, por exemplo."


Leal, do Coppead, diz que o investidor tem de olhar para as taxas de administração dos fundos de investimento como quem compara preços de bens de alto valor em diferentes lojas. É o principal fator para o desempenho dos fundos mais conservadores, ratifica ele. "Tem quem aplique R$ 10 mil em um fundo que aceita depósitos a partir de R$ 100, mas poderia pagar taxas menores em outra carteira , dentro da mesma instituição."


O site Fortuna prevê em seu relatório semanal que, para 2008, dado o cenário esperado de uma maior volatilidade do mercado, é provável que os fundos continuem apresentando uma significativa dispersão de rentabilidades. Vale lembrar que, diferentemente do ano passado, este começa sem consenso do mercado quanto ao rumo da taxa de juros até o fim do ano. Portanto, se os gestores dos fundos de renda fixa elevarem suas apostas em prefixados, opção de maior risco, as variações entre os retornos das carteiras poderá ser ainda maior em 2008.


Se os juros voltarem a cair e as taxas de administração antigas permanecerem, também a dispersão entre os retornos tenderá a aumentar, como ocorreu entre os anos anteriores e o último.


Nos primeiros dois dias do ano, boa parte dos recursos que deixaram os fundos nos últimos dias de 2007 regressou. Até o dia 3, segundo o Fortuna, o setor captou R$ 9,6 bilhões e bateu a barreira de R$ 1,2 trilhão de patrimônio.

Futuros de roupa nova

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro, de São Paulo
08/01/2008



Depois de encerrar 2007 com quase 15 mil participantes cadastrados em 4 meses, o simulador de contratos futuros da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) volta com várias novidades. A partir de agora, os inscritos poderão testar seus conhecimentos operando também contratos de milho e soja. Houve mudança ainda na periodicidade da premiação, que deixa de ser bimestral para ser quadrimestral. Além disso, a bolsa prepara para fevereiro a colocação no simulador dos contratos de juros futuros (de Depósito Interfinanceiro, ou DIs), os mais negociados hoje no pregão da BM&F.


Outra novidade está no tamanho dos contratos agrícolas. Os de café e boi gordo, por exemplo, passarão a seguir no simulador o tamanho padrão usado no mercado, e não mais sua versão míni, que representa uma parcela menor e um valor menor. No caso do do café, o participante podia negociar minicontratos que representavam 10 sacas de 60 quilos. Agora, os cadastrados irão operar 100 sacas de 60 quilos. Os vencimentos se mantêm nos meses de março, maio, julho, setembro e dezembro. Já para o boi, os participantes passarão a operar contratos que representam 330 arrobas líquidas e não mais 33 arrobas (cada arroba equivale a 15 quilos). Os vencimentos acontecem todos os meses.


A idéia de aumentar o número de produtos negociados e o tamanho dos contratos foi melhorar o entendimento sobre o mercado futuro, diz Verdi Rosa Monteiro, diretor de Projetos de Desenvolvimento e Fomento de Mercado da BM&F. "Muitos gerentes de agências bancárias usam o simulador de forma didática para mostrar ao produtor como funcionam os contratos e a versão míni dificultava um pouco", afirma Monteiro.


As mudanças foram bem-recebidas. O estudante do 4º ano de economia da PUC-SP Wladimir Maximilian Scatimburgo gostou do fato de ter mais opções para negociar no simulado. "É bom para conhecer como funcionam outros tipos de contratos, pois normalmente nos concentramos em dólar e índice", diz ele, que hoje trabalha como estagiário numa empresa de aconselhamento financeiro.


Só para se ter idéia da importância dos agropecuários, a BM&F chegou a negociar 2,05 milhões desses contratos entre janeiro e novembro do ano passado. Como no pregão da BM&F, os contratos de milho representam 450 sacas de 60 quilos cada e o vencimento acontece nos meses de janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro. Já no caso da soja, também são 450 sacas de 60 quilos, mas que têm vencimento em março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro e novembro. Os meses com maior negociação são março para o milho e maio para soja.


Quanto à premiação, ela deixa de ocorrer a cada dois meses para ser quadrimestral. O acesso é gratuito e cada investidor recebe uma quantia fictícia de R$ 150 mil para comprar ou vender contratos futuros. Os participantes não ligados ao mercado financeiro e que obtêm os melhores retornos recebem prêmios. Os cinco participantes com melhores rendimentos no período no simulador ganham iPods oferecidos por corretoras parceiras do programa. Além disso, ganham cursos online da bolsa sobre o mercado de derivativos e assinaturas do Valor, também parceiro do projeto de popularização do mercado futuro.


Além disso, os três primeiro colocados no ranking anual receberão laptops, cursos da bolsa e uma assinatura anual do Valor. Os dez participantes que se destacarem no ano poderão até concorrer a um estágio na BM&F.


Segundo Verdi, o ciclo de premiação a cada dois meses se revelou curto demais e, agora, com o novo prazo, o participante poderá aprender a fazer rolagem, ou seja, a renovação dos contratos nos vencimentos. "O cadastrado irá se deparar ainda mais com as situações reais de mercado", avalia. Os usuários do simulador operam o mercado do dia, com cotações reais e dados atualizados, mas com 15 minutos de atraso em relação ao pregão real. O negócio, no entanto, é fechado pelo preço do mercado naquele momento, sem "delay". Além de universidades, algumas corretoras estão utilizando o simulador para ajudar no treinamento de mercado dos estagiários.


Agora, em janeiro, as posições dos cadastrados foram zeradas e um novo ciclo se iniciou. O ranking que mostra a rentabilidade dos participantes também sofreu modificações e passará a ser revelado somente às sextas-feiras, e não diariamente como antes. Será possível ver as colocações, mas sem os percentuais de ganhos teóricos. Para o executivo da BM&F, a medida faz com que mais estudantes se interessem em participar do simulador.


Na opinião do estudante Scatimburgo, o ranking muitas vezes desestimulava o uso do simulador. "Os retornos são meio irreais, já que o dinheiro é fictício e os participantes tomam muito risco", diz. Para ele, muita gente via a rentabilidade e desistia de operar porque achava que não teria condições de obter um desempenho tão interessante como os primeiros colocados. "Acho que a medida dá um novo gás para as pessoas não desistirem", avalia.


Outra novidade que deve chegar aos participantes em meados de fevereiro é a possibilidade de negociar contratos de juros futuros. "São contratos muito demandados e mesmo nas salas de aula são um dos tipos mais estudados", diz Verdi. A BM&F irá retomar também o processo de visitas a universidades. No ano passado, a entidade visitou apenas instituições de ensino da capital paulista. Agora, também estão previstas visitas em faculdades do Rio de Janeiro e do interior de São Paulo.

Persevere e triunfarás

Valor Econômico
Por Adriana Cotias
08/08/2007

Um estrangeiro que tivesse trazido para o Brasil US$ 1 milhão em meados de 2002 e aplicado em uma determinada cesta de ações poderia ver seu patrimônio multiplicado por quase 25 vezes de lá para cá. Se esse capital tivesse aportado por aqui em 1992, teria 68 vezes mais o que possuía e, em 20 anos, o seu milhão teria se transformado em mais de US$ 145 milhões. Esses números são um bom indício de que, nestes tempos de fortes sacolejadas no mercado de ações, a melhor resposta para o aplicador pode ser o longo prazo. Se tiver uma carteira composta por papéis de empresas com bons fundamentos, com perspectivas de expansão para o negócio e crescimento de resultados, não há por que a estratégia de investimento não sair a contento, neutralizando as intempéries vividas em intervalos mais curtos.


Foi sob essa perspectiva que a GAS Investimentos fez uma simulação com uma cesta de dez ações em diferentes janelas de tempo: 5,10, 15 e 20 anos, distribuindo uma aplicação hipotética de US$ 100 mil em cada uma das empresas eleitas. A seleção incluiu Petrobras, Banco do Brasil, Itaúsa, Bradesco, Vale do Rio Doce, Cemig, Unibanco, Randon e Gerdau Metalúrgica , papéis de longa data negociados no pregão e com liquidez razoável. Assim, pôde constatar que mesmo que a gestão não seja das mais ativas, se as escolhas estiverem afinadas, a paciência do aplicador costuma ser recompensada.


Nos últimos cinco anos, o aplicador teria obtido uma valorização, em dólares, de 2.342%, acima do Índice Bovespa (Ibovespa), de 913%, ou do Dow Jones Industrial, de 51%. É claro que nesse período, a conta acabou sendo inflada pela fantástica valorização do real em relação à moeda americana. Mas olhando no prazo mais longo, o investidor teria conseguido, em 20 anos, um retorno médio anual consistente, de 28,3%.


Essa é uma lição para os tempos de intensa volatilidade, afirma o sócio da GAS e autor do levantamento, Alexandre Abuleac. "O investidor, quando faz aplicação em bolsa, se ele está calçado em empresas com bons fundamentos, não pode ficar olhando para o que acontece no curto prazo." A gestora tem como política comprar fatias consideráveis de empresas - ocupando até assentos nos conselhos de administração -, que acredita ter potencial de gerar valor para os minoritários, sem mexer muito nas suas carteiras. "É preciso buscar o retorno no longo prazo, evitar ficar comprando e vendendo e isso vale tanto para a gestão profissional quanto para o pequeno investidor", defende.


Com a herança cultural e financeira do pai, Leivi Abuleac, um dos maiores acionistas individuais do sistema Telebrás no período que antecedeu a privatização, ele ensina que o aplicador de bolsa não deve esperar dobrar de patrimônio em um ano. Mas se conseguir, na média, retornos na casa dos 28% (em dólares), como o observado no intervalo de 20 anos do seu estudo, é uma rentabilidade pra lá de excelente.


Quem entende muito bem de longo prazo é Dório Ferman, o comandante à frente do Lógica II, da Opportunity Asset Management, um dos fundos de ações mais antigos do mercado brasileiro. Criado em março de 1986, no limiar do Plano Cruzado, a gestão atravessou toda sorte de crises e planos econômicos. É por isso que se acostumou a olhar o risco de uma forma diferente da convencional, conta Ferman. "A gente não se impressiona com a volatilidade do dia-a-dia e só avalia se há risco de ocorrer uma crise econômica mais à frente", diz.


Para ele, os riscos no mercado hoje são até menores do que há seis meses, quando a bolsa chinesa caiu 8,5% num único dia, chacoalhando os mercados mundiais e a turbulência foi seguida pelos primeiros indícios de que as hipotecas americanas de alto risco ("subprime") trariam problemas. "A diferença é que agora os riscos estão refletidos nos preços e é isso que nos dá oportunidade de usar o caixa livre para fazer compras em condições mais interessantes."


As aquisições para a carteira do Lógica nunca são para giro rápido, embora seja comum a gestão movimentar todo o portfólio em intervalos de um ano. A posição mais antiga, carregada por mais de 15 anos, conta Ferman, foi de ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras. "Compramos os papéis quando valiam metade do preço das preferenciais e vendemos quando passaram a custar 20% mais." Não há preconceitos na escolha do portfólio, composto por "blue chips" e ações de segunda linha. O mix atual é formado por bancos (34%), incluindo os de menor porte recém-chegados à bolsa; energia elétrica (23%); mineração e siderurgia (15%), o setor imobiliário (8%), também cheio de novatas, com Agra, Abyara, Even, MRV , Tecnisa e Rossi, além de ter uma pequena exposição em tecnologia, com Bematech e Positivo.


Sentar e esperar os resultados frutificarem com uma paciência de Jó é a cultura que vem sendo transmitida pela Geração Futuro aos investidores do seu fundo de ações, que acaba de completar dez anos. Na carteira, há papéis com igual longevidade, caso de Plascar ON, do setor de autopeças. Nesse período, a gestão se defrontou com episódios tão diversos como a mudança do controle da empresa ou a recente incursão no Novo Mercado. "O que temos reafirmado para o cotista é para ele não se desfazer do seu projeto de investimento e manter uma programação de aportes mesmo quando a bolsa cai", diz o diretor Wagner Salaverry. "Nos últimos anos, o aplicador se acostumou a um longo período de alta e ele acabou esquecendo que a volatilidade é inerente ao mercado."


Outras veteranas da carteira da Geração são as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Randon, também da cadeia do setor automobilístico, e a fabricante de armas Forjas Taurus. A baixa liquidez desses ativos é balanceada com papéis de primeiríssima linha como Petrobras, Usiminas, Gerdau e VCP. Nos momentos de baixa da bolsa, a gestão aproveita para aumentar a participação em certas empresas. O desinvestimento, em alguns casos, tem sido feito por meio de ofertas públicas secundárias, como foi em Guararapes e Randon.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

De devedor a poupador

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, de São Paulo
07/01/2008

Em fevereiro, a auxiliar administrativo Patrícia da Penha, de 31 anos, vai quitar um empréstimo que fez em 2005 com a empresa onde trabalha, a ArcelorMittal Tubarão (antiga CST). Será o fim de um período de reestruturação financeira, de mudança de hábitos e de muita disciplina orçamentária. De devedora de R$ 6 mil em linhas caras como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial, a funcionária quer passar à condição de poupadora. Ela pretende, a partir do pagamento da dívida, economizar R$ 10 mil ao ano e até 2011 realizar o sonho da casa própria. E não pensa em recorrer a um financiamento imobiliário, tão em voga. Ela pretende comprar o imóvel à vista, usando o que vai acumular nesse intervalo mais os recursos depositados no FGTS.


A guinada que Patrícia está prestes a dar só foi possível porque junto com o dinheiro camarada (sem juros) veio o apoio de uma espécie de "personal economist", indicado pela empresa. Com o auxílio desse consultor financeiro, ela negociou prazos e descontos, reorganizou gastos e colocou numa planilha absolutamente todas as suas despesas, das fixas às mais banais como um inocente chocolate. Hoje, Patrícia já adota um discurso consciente em relação às estratégias para gerenciar finanças pessoais. "As lojas oferecem prazos para pagar a partir de tal mês em oito, dez parcelas no cartão e isso ilude muito o consumidor, as famílias se endividam e ninguém pára pra pensar que talvez fosse melhor economizar R$ 20 por mês para fazer a compra depois."


O programa de gestão orçamentária em que Patrícia se inscreveu existe na ArcelorMittal Tubarão desde 1996, mas há cerca de cinco anos foi repaginado. Como o planejamento familiar baseado apenas na construção de uma planilha financeira não estava alcançando os resultados esperados, ele ganhou enfoque na economia comportamental e passou a incluir a figura do "personal economist", conta a assistente social Leila Fátima Pinheiro. "A forma como cada um gasta o seu dinheiro está relacionada à história de vida da pessoa, à origem familiar e é esse pano de fundo que explica como ela responde aos apelos de consumo", diz. "E, se esse consumo é compulsivo, sem objetivo, ele tem de ser tratado como uma doença, a oneomania." Hoje, o programa é dividido em dois módulos, um preventivo, pelo qual já passaram 5.343 pessoas entre empregados e familiares, e, o curativo, que conta com a assessoria do especialista, que atendeu a 64 pessoas.


Deixar dívidas para trás e passar à condição de poupador pode ser uma tarefa árdua nesses tempos de crédito fácil, mas é uma transição plenamente possível para qualquer que seja a faixa de renda, defendem os especialistas. Ganhar bem não significa ter as finanças pessoais em ordem, assim como ser assalariado, recebendo entre R$ 1 mil e R$ 2 mil por mês, não é incompatível com fazer reservas para investimentos, diz o economista Hugo Azevedo, autor do livro "500 perguntas (e respostas) avançadas de Finanças". Outro extremo, acrescenta, é ter um patrimônio alto, acima de R$ 1 milhão, com diversificação zero, mantendo tudo na poupança. "Todos esses perfis requerem um replanejamento financeiro", afirma.


Cortar dívidas doentias, aquelas originadas pelo descontrole financeiro ou pelo consumo desordenado, é um primeiro passo para a mudança, defende Azevedo. A dívida sadia é aquela que vem com um planejamento prévio, como a aquisição da casa própria ou de um carro, em prestações que efetivamente caibam no orçamento. De resto, a receita da administração financeira eficiente é a mesma que vale para qualquer empresa ou governo: gastar menos do que se recebe. "O brasileiro não tem cultura de poupança e faz muito pouca conta", diz. "São notórios os casos em que o indivíduo mantém uma aplicação na caderneta ou num fundo de renda fixa que rende 0,70%, 0,90% ao mês e ao mesmo tempo fica pendurado no cheque especial, pagando 12%."


Para disciplinar os gastos pessoais, ele sugere que o consumidor faça um controle diário de todas as despesas, sem negligenciar nenhuma delas, nem mesmo os R$ 2,00 do cafezinho após o almoço. "Se você toma café dia sim dia não, já são mais de R$ 250,00 por ano e se está rolando uma dívida de R$ 800,00 isso faz toda diferença e aí é aconselhável que haja um esforço pelo consumo mais consciente."


Abdicar de tudo aquilo que se sobrepõe à receita corrente é condição vital para restabelecer a saúde financeira, reitera o supervisor da Meta Asset Management, Maurício Gentil. "É bom lembrar que crédito abundante e que tende a ficar mais barato é ótimo para algumas situações, mas perigoso para quem não tem disciplina." Vender um carro, um imóvel e renegociar dívidas e prazos é um caminho para reequilibrar o fluxo de caixa, lista. Vencidas essas etapa e passando ao estágio do investimento, ele defende que é preciso fazer uma reserva considerável em aplicações conservadoras antes de pensar em diversificação.


Se o investidor está bem empregado e numa fase de ascensão profissional, Gentil sugere que ele faça uma poupança equivalente a seis, oito meses de gastos correntes. Quem não tem essa condição e pode ter dias mais incertos pela frente, o recomendável é acumular um ano do padrão médio de vida mensal. Se, por exemplo, as despesas chegam a R$ 10 mil por mês, o ideal é ter R$ 120 mil aplicados em opções de baixo risco. "A partir desse valor, o investidor já deveria assumir riscos adicionais", diz.


O profissional ressalva que se o cenário externo motivar mais insegurança, o melhor mesmo é ficar com ativos de renda fixa. Qualquer que seja o fundo escolhido é preciso ler o prospecto, observar se a carteira pode gerar perdas para os ativos e se essas perdas se restringem ao capital investido ou se podem requerer aportes adicionais. "A CVM, o código de auto-regulação da Anbid transferem claramente para o investidor o entendimento do risco de cada aplicação e ele tem de saber que não está coberto pela instituição financeira onde mantém seus recursos."

Poupança ainda é bom negócio para conservador

Jornal da Tarde
07/01/2008

Mesmo com Selic parada nos 11,25%, mudanças dever ser avaliadas com cautela

MARCOS BURGHI,
marcos.burghi@grupoestado.com.br

A Selic, a taxa básica de juros da economia, estacionou em 11,25% ao ano desde setembro, mas isso não significa que quem tem dinheiro na poupança deva mudar de aplicação. De acordo com especialistas consultados pelo JT, antes de qualquer mudança, o poupador precisa avaliar o risco que está disposto a correr, o tempo que poderá ficar sem movimentar o dinheiro e qual a rentabilidade.

Na opinião do economista Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), as respostas a estes três quesitos servirão para definir o perfil do investidor.

Quem quer segurança deve mesmo deixar os recursos em caderneta de poupança, já que, além de não tributados, os depósitos são garantidos pelo governo. Outro ponto importante apontado pelo economista Oliveira é a liquidez, ou seja, a necessidade de utilização dos recursos aplicados para o pagamento de despesas cotidianas.

Os aplicadores que precisam ou gostam de dispor do dinheiro com freqüência devem tomar cuidado com aplicações como renda fixa ou ações, tributáveis. No primeiro caso, além da tributação do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), que varia de 4% a 96% do rendimento conforme o tempo em que o dinheiro fica aplicado entre 1 e 30 dias, há o desconto de Imposto de Renda (IR), cujas alíquotas variam de 15% a 22,5% conforme as datas de resgate.

O rendimento dos fundos de ações também está sujeito à tributação do IR pela alíquota de 15%, informa Miguel de Oliveira. Trata-se da aplicação que apresentou maior rentabilidade em 2007.

Ele lembra, porém, que é uma aplicação sujeita a altos e baixos. “É preciso aplicar o dinheiro por longo tempo, diz, coisa de cinco ou dez anos para que os frutos apareçam de fato”, diz. Segundo ele, em 2007, o ganho real médio de quem aplicou em ações foi de 37,65%. Os fundos de renda fixa tiveram rendimento de 7,17% no período, enquanto a poupança rendeu 3,2%.

Os porcentuais levam em conta a estimativa de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2007 de acordo com relatório do Banco Central, é de 4,36%.

Oliveira observa, ainda, que a poupança continua a melhor opção para investimentos até R$ 5 mil.Para esta faixa de valores os rendimentos dos fundos perdem para a poupança, já que cobram taxa de administração, cuja média, segundo ele, está em 2,5% ao ano.

Na opinião do consultor em finanças pessoais Tom Coelho, o melhor é diversificar os investimentos. Os mais conservadores, segundo ele, devem deixar 70% na poupança e 30% em fundos de renda fixa, mas nunca sem antes avaliar o tempo em que será possível não movimentar o dinheiro, seja para despesas correntes ou gastos extras. Para quem estiver disposto a arriscar, o chamado investidor moderado, Coelho aconselha aplicações de 70% do valor em renda fixa e outros 30% em fundos de ações e o inverso aos mais arrojados.
Locations of visitors to this page