sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ofensiva dos CDBs

Valor Econômico
10/06/2011

Luciana Monteiro | De São Paulo




O investidor de varejo vem sendo bombardeado por propagandas de bancos, especialmente dos menores, oferecendo Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com taxas para lá de atrativas. A ofensiva ocorre num momento em que as pequenas instituições disputam mercado com as grandes, aumentando o volume dessas operações. Em maio, os CDBs captaram líquidos R$ 15,033 bilhões - o segundo melhor mês do ano, perdendo apenas para os R$ 19,672 bilhões de março. Em 2011, até maio, os CDBs captam R$ 38,621 bilhões.

Para quem está disposto a manter o dinheiro por mais tempo, como três ou quatro anos, e um valor mais alto, é possível encontrar CDBs de bancos de primeira linha com taxas que podem chegar a 102% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário que serve de referencial para as aplicações mais conservadoras). Pela atual taxa de juros, de 12,25% ao ano, isso equivale a um retorno de 12,49% anuais. Já nos menores, a remuneração atinge até 110% do CDI, ou 13,47% ao ano.

Os CDBs podem ser mais atrativos que os fundos, que cobram taxa de administração e reduzem o ganho em relação ao CDI. Podem ser mais interessantes, em alguns casos, que os títulos do Tesouro Direto, em que o investidor tem de pagar as taxas de corretagem e custódia para a bolsa. Mas é preciso ressaltar que o risco dos CDBs também é maior, já que representam uma dívida do banco.

A novidade é que essas taxas acima do CDI estão mais próximas do pequeno investidor graças ao esforço dos bancos de menor porte. O cuidado é apenas observar o risco de crédito, ou seja, a saúde financeira do banco, nos casos em que o valor supere o protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que é de R$ 70 mil por CPF. O investidor pode até formar uma carteira de vários CDBs de bancos menores dentro do limite de garantia.

Entre os que entraram na disputa pelos investidores pessoa física estão Sofisa e Ficsa, que lançaram programas de venda de CDBs pela internet. No caso do primeiro, por meio do Sofisa Direto, o investidor pode obter taxa de 110% do CDI nos CDBs de três anos, com liquidez apenas no vencimento. O retorno oferecido é o mesmo para qualquer valor investido, de R$ 1 a R$ 1 milhão.

Já no caso do Ficsa, a plataforma on-line batizada de CDB Direto recebe aplicações entre R$ 200,00 e R$ 70 mil. "Quando se fala do investidor de pequenas aplicações, as pessoas querem ter certeza de que seu patrimônio estará protegido e seguro", diz Sandro Tordin, executivo do Ficsa. Por isso, o banco limitou as aplicações a R$ 70 mil

O sistema financeiro tem se mostrado sólido e montar um portfólio com vários CDBs, mesmo de instituições menores, se mostra interessante, desde que os limites se restrinjam ao garantido pelo FGC, avalia Mauro Calil, professor do Centro de Educação e Formação de Patrimônio Calil & Calil. "Mas o melhor é que o investidor aplique até R$ 60 mil em cada um deles, para a garantia cobrir também os juros", diz. "Aplicar R$ 70 mil é correr um risco à toa já que, em caso de quebra do banco, o cliente terá de volta somente o principal investido."

A estratégia de marketing das instituições menores é oferecer a mesma taxa de retorno para os pequenos ou grandes investidores. Mas vale lembrar que os bancos menores estão num momento em que precisam captar recursos para emprestar, enquanto o Banco Central adota medidas para conter o nível de crédito a fim de conter a escalada da inflação. Portanto, para quem pensar em ir além da garantia, pode haver um risco imponderável que o investidor deve levar em conta em troca de uma rentabilidade levemente acima do CDI.

Há também a necessidade desses bancos, a partir do ano que vem, de reduzir os volumes de Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE), que são cobertos até R$ 20 milhões. Criar uma base pulverizada de investidores usando o FGC pode ser uma alternativa para os pequenos.

Entre os grandes bancos, a principal estratégia está centrada nos CDBs com retornos progressivos, cuja remuneração aumenta conforme o prazo. Quando o investidor não sabe se vai precisar do dinheiro, o CDB tradicional é mais vantajoso, pois não se perde liquidez, diz Edson Franco, superintendente-executivo de Investimentos do Santander. Já para os que podem deixar o dinheiro investido por um tempo mais longo, os papéis com rendimento progressivo são mais indicados, avalia.

No Santander, aplicações entre R$ 1 mil e R$ 30 mil podem conseguir até 100% do CDI se permanecerem pelo menos três anos no CDB Recompensa Fácil. Entre R$ 30 mil e R$ 250 mil, a taxa chega a 101% do CDI e, acima de R$ 250 mil, 102% do referencial, ambos para prazos superiores a dois anos. Vale lembrar que esses retornos podem variar, conforme o volume já aplicado pelo cliente no banco. De acordo com Franco, entre janeiro e maio deste ano, o Santander já captou R$ 889 milhões em CDBs, valor bem acima dos R$ 139 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

O aumento da massa salarial e ascensão das classes D e E estão trazendo novos investidores ao mercado, diz Osvaldo do Nascimento, diretor-executivo de produtos de investimento e previdência do Itaú. No CDB progressivo do banco, batizado de Plus, as taxas podem chegar a até 103,5% do CDI para os volumes maiores e para prazos acima de três anos. Para quantias menores, de R$ 1 mil, o máximo é 99% do CDI. Outra opção é a operação compromissada, semelhante ao CDB, que paga um pouco mais, mas não tem garantia do FGC.

Com o aumento da taxa básica de juros (Selic), os CDBs vêm atraindo os investidores com perfil mais conservador, conta Marcos Daré, diretor do departamento de investimentos do Bradesco. No CDB Fidelidade, com R$ 1 mil, é possível obter taxas de 100% do CDI após dois anos. Com mais de R$ 50 mil, a taxa vai para 101% do CDI e, acima de R$ 500 mil, 102% do CDI. "É uma aplicação que privilegia quem permanece por mais tempo."

Cresce apelo de títulos prefixados

Valor Econômico
10/06/2011



Renda fixa: Investidor aposta em aperto e reduz demanda por papéis indexados à inflação

Lucinda Pinto | De São Paulo

A preocupação com a inflação, que vinha pautando os negócios de renda fixa este ano, perdeu força nas últimas semanas e mudou o tipo do apetite do investidor por títulos públicos. Em vez das NTN-Bs, papéis atrelados ao IPCA, considerados uma forma de proteção em tempos de preços em alta, o foco do mercado agora são os papéis prefixados, como LTNs e NTN-Fs, que ganham atratividade quando o mercado acredita que a inflação controlada abrirá espaço para a queda da taxa Selic no futuro.Como consequência, a inflação que os títulos públicos projetam começou a cair com força. Na terça-feira passada, a NTN-B com vencimento em 2012, por exemplo, tinha uma taxa de inflação implícita (diferença entre a rentabilidade do papel indexado ao IPCA e a taxa prefixada de prazo equivalente) de 5,09%. Um mês atrás, essa taxa era de 5,86% e, em 6 de abril, no auge da preocupação com a disposição do BC em subir os juros para fazer frente à piora da inflação corrente e esperada, chegou a 6,25%.

O que está por trás desse movimento, segundo especialistas, é uma mudança no cenário traçado pelo mercado para o rumo da inflação, provocada por um conjunto de fatores: a percepção de que o BC será mais firme no processo de aperto monetário; o alívio, em meados de maio, dos preços das commodities; e os sinais de desaceleração da economia local e de fraqueza persistente da atividade no exterior. "A indicação deixada pelo Copom, de que haverá pelo menos mais um aumento da taxa Selic na próxima reunião, reforça a leitura de que a hora é de apostar na desaceleração da inflação", afirma o sócio tesoureiro do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella.

De fato, o leilão de títulos prefixados, realizado ontem pelo Tesouro Nacional, mostrou uma grande demanda pelos papéis. Foi vendido um total de 8,250 milhões de LTNs, distribuídos entre três vencimentos. O grande apetite se traduziu em taxas mais baixas pagas pelo Tesouro. O papel com vencimento em 2013, o maior lote da oferta de ontem, saiu com taxa média de 12,62%, ante 12,55% no leilão da semana anterior. A expectativa dos especialistas é que, nos próximos leilões, o Tesouro continue "agressivo" na colocação desses títulos, aproveitando o bom momento do mercado para antecipar a rolagem do vencimento de cerca de R$ 100 bilhões, do dia 1º de julho (R$ 84 bilhões em LTNs e cerca de R$ 15 bilhões em cupom de NTN-Fs).

O desenho do cenário para a inflação começou a mudar em maio, quando os preços das commodities tiveram uma queda abrupta. Até então, havia uma grande preocupação com a possibilidade de a alta das matérias-primas no exterior contagiar outros preços e alimentar um processo inflacionário de longo prazo. Ao mesmo tempo, o álcool combustível, fonte de pressão sobre os preços nos primeiros meses do ano, recuou, garantindo queda também no preço da gasolina. Esse ajuste deu força ao alívio da inflação, já esperado para o segundo trimestre. E foi um dos principais motivos para o recuo da inflação medida pelo IPCA para 0,47% em maio, ante 0,77% em abril.

Os sinais de fraqueza da atividade econômica, aqui e no exterior, ajudam a compor o cenário favorável. Foi emblemático o resultado da produção industrial de abril, divulgado pelo IBGE no dia 31 de maio. Houve queda de 2,1% em abril ante março, enquanto as expectativas eram de uma taxa próxima à estabilidade. Embora seja um dado defasado, a surpresa que ele causou levou muitos economistas a rever suas projeções para o desempenho da atividade no ano. E, com isso, o mercado passou a considerar que a demanda pode se retrair com mais força, reduzindo a pressão sobre os preços.

Por fim, um elemento fundamental para a correção de rota das projeções de inflação, principalmente para o longo prazo, foi a mudança, em abril, do discurso do BC em relação à política monetária. A estratégia adotada até então, de dar um peso maior às chamadas medidas macroprudenciais no combate à inflação, havia sido lida pelo mercado como uma postura mais "frouxa" por parte do BC. E contribuiu para a piora das expectativas de inflação. Mas, quando o BC afirmou, em abril, que o ajuste monetário no país se daria por um "período suficientemente prolongado", o mercado entendeu que o aperto monetário poderia durar mais tempo do que o previsto, ainda que com doses menores, de 0,25 ponto percentual - mensagem confirmada na reunião dessa semana. A aposta é que, se o BC for rigoroso no combate à inflação agora, colherá índices mais baixos lá na frente, o que abrirá espaço para queda futura da taxa Selic.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Rentabilidade de CDBs e fundos DIs vai melhorar

O Globo

9/6/2011

Efeito em empréstimo bancário e crediário será pequeno

RIO e SÃO PAULO. O quarto aumento consecutivo da Taxa Selic este ano vai melhorar a rentabilidade de aplicações como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e fundos DI (pós-fixados), que se tornam cada vez mais atraentes frente à caderneta de poupança. Levantamento do site www.comdinheiro.com.br mostra que o ganho de um fundo DI sobe dos atuais 9,80% para 10,05% ao ano, considerando a antiga e a nova Selic (12% e 12,25% ao ano, respectivamente). Os percentuais já descontam uma taxa de administração de 2% anuais, mas são anteriores à dedução do Imposto de Renda (IR), que varia de 22,5% a 15%, conforme o tempo da aplicação.

Nos CDBs - que pagam um percentual do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), que acompanha a Selic - uma aplicação de mil reais em um banco de primeira linha (que pague 85% do CDI) geraria ganho de R$81,70 ao fim de um ano com a Selic a 12%. A 12,25% ao ano, esse ganho atinge R$85,15. Na poupança, o mesmo valor teria um ganho de R$74,48. O professor Rafael Paschoarelli Veiga, professor da FEA/USP e responsável pelo site, diz que a poupança fica cada vez "mais feia" em relação a outras aplicações.

Já sobre os juros dos empréstimos bancários e do crediário, o efeito da alta da Selic será muito pequeno. Segundo a Anefac, os financiamentos oferecidos pelo varejo subirão de 5,73% mensais (95,15% ao ano) para 5,75% (95,6%), alta de 0,35%. No cheque especial, a taxa média deve avançar apenas 0,25%, de 8,12% ao mês (155,2% anuais) para 8,14% (155,76%). A alta será maior no CDC dos bancos: 0,83%. A taxa média passará de 2,42% mensais (33,23% ao ano) para 2,44% (33,55%). A taxa dos empréstimos pessoais subirá de 4,75% mensais (74,52% ao ano) para 4,77% (74,92%), elevação de 0,42%. Já nos cartões de crédito haverá um incremento de 0,19%, de 10,69% ao mês (238,3% anuais) para 10,71% (239,03%). (Bruno Villas Bôas e Ronaldo D"Ercole)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Idoso investe aposentadoria e eleva renda

Folha de São Paulo

30/05/2011

Aposentado segue na ativa e aplica o benefício recebido do INSS para complementar rendimento na velhice

Um em cada três aposentados continua na ativa e recebem R$ 977,55, em média; fator reduz os valores

PAULO MUZZOLON
EDITOR-ASSISTENTE DE MERCADO

Devido ao baixo valor da aposentadoria, muitos brasileiros optam por continuar trabalhando após receber o benefício.
Como a aposentadoria é concedida em plena idade produtiva, quem segue na ativa pode aproveitar para aplicar o dinheiro para usufrui-lo apenas quando realmente parar de trabalhar.
Dados da Previdência de 2007 mostram que a idade média na concessão da aposentadoria por tempo de contribuição é de 54,3 anos, no caso dos homens, e 51,4 anos, no caso das mulheres.
Como a aposentadoria não rompe o contrato de trabalho, esses segurados não correm o risco de perderem direitos como, por exemplo, multa em caso de rescisão.
Há, no país, 15,76 milhões de aposentados, aponta a Previdência. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calcula -dados de 2009-que 5,1 milhões de aposentados estão na ativa.
Hoje, um em cada três aposentados continua na ativa e recebendo um benefício médio de R$ 977,55, considerando apenas os dos centros urbanos, segundo o Ministério da Previdência Social.

CORTE
Quem pede o benefício muito cedo sofre um corte brusco no valor a ser recebido devido ao fator previdenciário. Aos 51 (mulher) e 54 (homem) anos de idade, o benefício não chega a 70% da média salarial do trabalhador, que por sua vez é limitada ao teto de R$ 3.689,66.
Porém, mesmo quem sempre contribuiu pelo valor máximo permitido pelas regras atuais não terá essa média salarial, mas de R$ 3.369,77, segundo a Conde Consultoria Atuarial, devido à correção monetária aplicada.
"Trabalhadores de todas as faixas de renda têm dificuldade em entender o cálculo da aposentadoria e só descobrem o valor baixo que irão receber na hora da concessão", diz a advogada previdenciária Marta Gueller, do escritório Gueller e Portanova Sociedade de Advogados.
Se um homem que sempre contribuiu pelo teto se aposentar aos 55 anos de idade e 35 de contribuição, terá um benefício de R$ 2.425,52.

INVESTIMENTO
Aplicado na poupança, em sete anos esse dinheiro poderá acumular R$ 261.688, aponta William Eid Junior, professor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas.
O rendimento mensal desse valor é de R$ 863,57. Se optar por poupar o dinheiro da aposentadoria por dez anos, o rendimento, após esse período, será de R$ 1.383,34.
"A aplicação em renda fixa é melhor para quem não pode correr riscos. E como o investimento mensal é pequeno, o CDB pode não valer a pena, porque essa aplicação tem desconto do Imposto de Renda, ao contrário da poupança", diz o professor.
Para quem não vai depender desse dinheiro no futuro e não tem receio de procurar rendimentos maiores, outras aplicações, como a Bolsa de Valores, podem valer a pena.
Como a aposentadoria permite o saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), esse dinheiro pode ser usado para engordar essa aplicação.
Outra opção é investir em imóveis, como fez o técnico em eletrônica Laercio Ramos de Andrade, 61. Quando pediu a aposentadoria, em 1994, aproveitou o dinheiro do Fundo de Garantia para comprar um terreno. "Como continuei trabalhando, usei o dinheiro da aposentadoria para construir duas casas no terreno", afirma.
Os imóveis ficaram prontos em 1998. "Hoje os aluguéis ajudam para complementar a renda", diz.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Quanto vale seu dinheiro?

Folha de São Paulo

23/05/2011


Gustavo Cerbasi



Corte dos seus planos de compra o prazer que dura pouco e tira a oportunidade de consumo mais produtivo


HÁ DOIS MESES, estive em Lisboa para o lançamento de mais um livro meu em Portugal.
Na época, não haviam eclodido ainda os mais graves sinais da crise econômica, como o rebaixamento da nota de risco do país e o pedido de socorro à União Europeia.
Porém, o país já dava claros sinais da dificuldade de recuperação, incluindo desemprego e inflação em alta e esperança em baixa. Enquanto no Brasil nos referíamos à crise "de" 2008, em Portugal o termo usado era a crise "desde" 2008.
Em meio ao desânimo generalizado, demonstrei minha preocupação a meus editores, questionando se seria interessante, para eles, lançar novos títulos em um momento tão ruim do mercado.
Supunha que os trabalhadores portugueses tinham menos dinheiro no bolso para consumir qualquer coisa, incluindo livros.
Para minha surpresa, a resposta foi enfaticamente contrária às minhas suposições. Segundo meus editores, a crise que impunha mudanças até nos hábitos alimentares dos portugueses pouco influenciava o mercado de livros.
Acreditando que havia tropeçado em alguma diferença linguística entre os países, reformulei a pergunta com outras palavras, e recebi a confirmação estarrecedora: os portugueses realmente não abrem mão do consumo de livros.
Precisei de alguns minutos para digerir a informação, e a explicação foi admirável. Segundo meus editores, a compra de livros não tem exatamente a ver com a preocupação com educação ou com a flexibilidade de novos formatos de leitura.
Para os portugueses, assim como para a maioria dos europeus, leitura é lazer. Cinema, teatro, viagens, comer fora, práticas esportivas e jogos também são lazer, mas a procura por essas práticas havia caído drasticamente com a crise portuguesa.
O argumento para a sustentação na venda de livros era o de que o lazer obtido com um livro era barato, durava vários dias, podia ser repassado para toda a família e, ainda, doado a famílias com poder de consumo mais oprimido.
Em suma, o que sustentava o comércio livreiro em um país em crise era a durabilidade do prazer ou do benefício obtidos com esse tipo de produto. Nada traduz melhor o conceito de qualidade de consumo do que a ideia de obter do dinheiro um benefício mais duradouro.
Quando compramos um carro, levamos em consideração o benefício de contar com transporte por um longo período. Mas, ao comprar um carro com design diferenciado, maior potência e apetrechos tecnológicos, corremos o risco de desembolsar muito mais por benefícios apenas eventuais.
Só desfrutamos do design em situações sociais em que a imagem do carro seja associada à nossa.
O benefício da maior potência será tão frequente quanto forem nossas viagens. Os apetrechos tendem a cair em desuso, se não forem realmente funcionais. Comprar um carro popular e bem equipado tende a ser, na maioria dos casos, um consumo de mais qualidade do que comprar um carrão.
Quanto mais benefícios obtemos do nosso dinheiro, menos impulsos de consumo temos. O consumismo está diretamente relacionado à incapacidade de obter prazer duradouro nas compras, como uma droga que gera dependência. Por isso, a velha ideia de refletir antes de uma compra continua sendo uma das mais importantes ferramentas não só de consumo mas também de sobrevivência de nosso minguado saldo no banco.
Você quer mesmo aquilo que pensa em comprar? Ou é apenas um estímulo vindo de um vendedor habilidoso? Se quer, você precisa do que vai comprar? Se não lhe trouxer utilidade duradoura, esqueça. Há uso mais inteligente para seu dinheiro.
Se você quer e precisa, pergunte-se: você pode comprar?
Essa resposta só será obtida se você fizer a lição de casa antes de ir às compras. Não saia antes de checar o saldo na conta, a fatura do cartão e o orçamento doméstico.
Prazer que dura pouco e tira a oportunidade de consumos mais produtivos é justamente o que deve ser cortado de seus planos.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Investimentos Inteligentes" (Thomas Nelson).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Inflação em alta engole rendimento de poupador

Correio Braziliense

09/05/2011


Poupança rende de 0,55% a 0,68% ao mês, conforme o dia do aniversário, e continua batendo vários fundos de renda fixa. Com elevação do custo de vida, saída é acompanhar os investimentos e comparar o ganho líquido das diversas opções oferecidas pelos bancos.
Ana D"angelo
Victor Martins

Nem mesmo a alta da taxa básica de juros da economia, a taxa Selic, desbancou a caderneta de poupança entre as melhores aplicações financeiras neste ano. O investimento preferido do brasileiro está rendendo entre 0,55% e 0,67% ao mês, acima da rentabilidade líquida de vedetes do mercado, como diversos fundos de renda fixa DI para valores de aplicação mais baixos, em torno de R$ 100 a R$ 5.000. A má notícia é que, a exemplo do ano passado, quase todas as aplicações estão perdendo para a inflação nos primeiros quatro meses do ano.

O “surto inflacionário” que atingiu a economia brasileira, como denominou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está engolindo a rentabilidade de quase todos os investimentos de renda fixa. A caderneta de poupança, com aniversário no dia 1º, totalizou ganho de 2,3% nos quatro primeiros meses do ano. Bem abaixo da inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, que acumula 3,23% de alta no ano. A estimativa para o INPC, também do IBGE, deve ficar em 2,9% de janeiro a abril.

A maior parte dos fundos de renda fixa dos bancos, mesmos os chamados fundos DI (atrelado à taxa Selic), rendeu entre 2% e 3,65% brutos de janeiro a abril, dependendo da instituição e da característica do fundo. Como essas aplicações pagam Imposto de Renda entre 22,5% (prazo de até seis meses) e 15% (se ficar aplicado por mais de dois anos), o rendimento míngua para algo em torno de 1,6% e 2,9%. Em abril, tiveram ganho líquido em torno de 0,58% e 0,60%, conforme pesquisa feita nos sites do Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil. Tal rentabilidade faz com que vários desses fundos estejam atrás também da poupança.

Só os grandes fundos, aqueles que exigem depósitos maiores, de R$ 20 mil para cima, ainda estão oferecendo ganho líquido igual ou pouco maior que a inflação. Mesmo assim, porque destinam parte dos recursos para o mercado de derivativos, de mais risco, como de commodities.

Nesse cenário de inflação em alta e aumento da Selic, o diretor da corretora Easynvest, Amerson Magalhães, aconselha concentrar os investimentos nos chamados fundos DI pós-fixados, ou seja, atrelados à variação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). “A Selic vai subindo, a rentabilidade também vai acompanhando”, afirma ele. É a saída para o poupador conseguir ganhar pelo menos igual à inflação.

“No quadro atual, a mais prejudicada é a poupança, que tem rentabilidade fixa”, diz ele, referindo-se aos 6% de rentabilidade ao ano, ou 0,5% ao mês, embora receba também a variação da TR (Taxa Referencial de Juros), que tem ficado entre 0,04% e 0,17% ao mês, menos de 1% ao ano. Segundo ele, com o aumento das taxas de juros, os fundos de renda fixa prefixados também sofrem, pois têm o rendimento calculado sobre uma taxa de juros anterior.

Magalhães alerta, no entanto, que o investimento mais interessante hoje é o Tesouro Direto, que é a compra de títulos públicos online pelo site da Secretaria do Tesouro Nacional, em especial daqueles atrelados à inflação, IPCA ou IGP-M (leia mais nesta página).

A economista Camila Beraldo, 30 anos, manteve suas economias na poupança desde a queda da Selic, em meados de 2009, mas agora está revendo a estratégia. “Investir diretamente nos títulos públicos, no Tesouro Direto, é mais garantido atualmente”, acredita ela.

A superintendente de investimentos do Santander, Sinara Polycarpo, recomenda também as aplicações pós-fixadas e que acompanham a taxa Selic. Ela considera a aplicação em CDB-DI uma excelente opção. “Garante um percentual da Selic e, dependendo do tempo que o dinheiro ficar aplicado, o cliente pode conseguir uma taxa ainda melhor”, observa. Em geral, os fundos DI que pagam mais exigem valores iniciais e novas aplicações maiores, a partir dos R$ 10.000.

Os CDBs estão entre as melhores aplicações, assegurando rendimento melhor — um percentual do CDI, que vai de 80% a 95%, conforme o tempo de aplicação.

IPCA e INPC
O índice reflete o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos (R$ 21.800), residentes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. Já o INPC reflete a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias desses municípios e DF até oito salários mínimos (R$ 4.360).

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Bolsa? Volto amanhã


06/05/2011

Alessandra Bellotto | De São Paulo

Abolsa de valores não está preparada para acolher o investidor iniciante. É o que mostra uma experiência com dez candidatos a investidor realizada pela empresa de planejamento estratégico de marca CO.R Inovação, a pedido da BM&FBovespa. Cada pessoa do grupo - formado por homens e mulheres de 25 a 35 anos das classes A e B - recebeu R$ 500 para um "test-drive" na bolsa. Com tantos tropeços pelo caminho, todos teriam desistido de estrear no mercado se não estivessem participando da pesquisa, diz a diretora de projetos da CO.R, Nathalia Souza.

A iniciativa, que tinha como objetivo converter aspirantes em investidores, foi realizada no fim do ano passado e apontou falhas que podem estar atrasando o crescimento do número de pessoas físicas na bolsa no ritmo esperado. Só nos primeiros quatro meses deste ano, 6,9 mil investidores deixaram o mercado - em abril, o número de contas de pessoas físicas caiu para 596.571. Uma ressalva: o ambiente atual, de bolsa em baixa, inflação pressionada juro em alta e crise internacional, não está favorável para a aplicação em ações. "Esses últimos quatro meses não ajudaram", destaca o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.

Mas ele também acredita que faz parte do trabalho de educação da bolsa mostrar para as pessoas que essa é a dinâmica do investimento em ações. E reconhece que há um desafio enorme para vencer as barreiras que têm afugentado, especialmente, os decididos a experimentar a bolsa, conforme apontou a pesquisa, e colocado a meta da bolsa de alcançar a marca de 5 milhões de investidores pessoas físicas até o início de 2015 mais distante.

O projeto liderado pela CO.R Inovação teve duas fases. Na primeira, o objetivo foi identificar o estilo de vida do público potencial, sua relação com o dinheiro, perfil e valores. Já nesse momento, alguns obstáculos foram detectados. Entre eles, conta Nathalia, percebeu-se que a bolsa não é lembrada quando se fala em investimento e está envolta em mitos, ao ser associada a um mercado para grandes investidores ou especialistas. Também se notou falta de conhecimento sobre como iniciar um investimento em ações, e foi isso que levou à segunda fase do projeto: o de acompanhar dez aspirantes a investidor na sua "conversão".

Uma vez selecionado o grupo, cada um dos participantes recebeu a missão de investir R$ 500 na bolsa. A opção por um valor inicial baixo para aplicação, explica Nathalia, teve como objetivo deixar os desafios ainda mais latentes. Em seguida, foram definidos cinco passos. No primeiro, o aspirante tinha de garimpar informações sobre como investir. A maioria recorreu ao sistema de busca Google, sem sucesso. Além de o site da BM&FBovespa não aparecer nos resultados da pesquisa, outra constatação desse potencial investidor foi que as corretoras indicadas usavam uma linguagem específica do mercado, nada amigável ao iniciante.

Também nesse momento, descobriu-se que, para operar na bolsa, é preciso de um intermediário. "Eles não sabiam que existia corretora, nem ligada à banco, o que provocou uma certa insegurança", afirma Nathalia. O segundo passo do processo de conversão era justamente entender o papel do intermediário para poder fazer a escolha. A experiência, mais uma vez, frustrou os potenciais investidores, postergando o investimento.

Segundo Nathalia, o estudo deixou o candidato a investidor com o sentimento de que a corretora é um pedágio, uma instituição para executar as ordens, e não para facilitar a vida do cliente. Além de colocar barreiras como investimento mínimo, as instituições mostraram que não estão preparadas para acolher o estreante, que sente falta da relação humana, de alguém para tirar dúvidas. O investidor iniciante, ressalta a diretora, não olha se a corretora tem o melhor preço, tecnologia avançada, equipe de análise premiada, distribuição de relatórios. "Ele quer a melhor orientação, de um jeito simples e claro, a um custo compatível", diz. E até está disposto a perder dinheiro nesse primeiro momento em troca da aprendizagem.

No banco, compara a executiva, há sempre um gerente para socorrer o cliente. E foi para essa fonte, diga-se de passagem, que boa parte dos participantes da pesquisa recorreu na busca por informações, obtendo como resposta a sugestão de investir em um fundo de ações, sob o argumento da gestão profissionalizada. "O gerente do banco, muitas vezes, acaba tirando a possibilidade de o cliente migrar para a corretora", destaca.

Outro obstáculo enfrentado no processo de investimento foi na hora de escolher as ações. As corretoras, em geral, trabalham com carteiras recomendadas, que incluem sugestões de alguns papéis. Mas o candidato a investidor percebeu que o valor inicial que tinha para aplicar não era suficiente para replicar a aplicação sugerida. Nem mesmo para comprar um lote de ações. E aí mais uma decepção: com R$ 500 só dava para operar no mercado fracionário, o que levou esse potencial investidor a acreditar que a bolsa, de fato, é para gigantes.

Como esse aspirante a investidor sempre ouviu dizer que diversificar é fundamental, a estreia na bolsa foi feita com baixa convicção, conta Nathalia. "Operar no mercado fracionário não foi considerado uma experiência completa", diz. Mas o investidor seguiu em frente, escolheu a ação e passou para a fase seguinte, que era explorar o sistema de negociação.

Também, segundo a diretora, além de não entender a dinâmica de preços do mercado, poucos sabiam operar no home broker, sistema de negociação on-line de ações. Nathalia conta que alguns compraram ações a um preço mais alto do que o médio, outros, papéis de baixa liquidez, acreditando que o fato de haver menos investidores negociando a ação era um bom sinal. "Eles fecharam os olhos e deram o clique", conta. Mas ainda ficaram na dúvida se o negócio tinha sido concretizado.

"Há um elo perdido no processo de conversão", afirma Nathalia. Segundo ela, quando um candidato a investidor decide aplicar na bolsa, não há quem o ajude a fazer esse caminho. "As corretoras precisam melhorar a comunicação com o iniciante, até porque ele pode vir a se tornar um grande investidor." Tudo vai depender da primeira experiência, acrescenta Nathalia.

No caso dos que participaram da pesquisa, apesar dos vários obstáculos que enfrentaram ao longo do processo, a diretora diz que todos manifestaram a vontade de fazer cursos e passar a acompanhar o mercado.

domingo, 1 de maio de 2011

Um clube para investir


01/05/2011

TETÊ MONTEIRO

Os clubes de investimentos são considerados a porta de entrada no mercado de ações para quem não tem tanta folga no orçamento ou mesmo para os aplicadores que não dispõem de tempo e conhecimentos suficientes para fugir das armadilhas das aplicações em renda variável. O certo é que a modalidade vem ganhando robustez na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). Atrai, a cada dia, a atenção de mais e mais pessoas. Só em março, foram abertos 38 clubes no centro financeiro paulista. Hoje, são mais de 131 mil cotistas distribuídos em 3.008 grupos, que movimentaram patrimônio líquido de R$ 10,97 bilhões até fevereiro.
Para efeito de comparação, os números consolidados de 2010 somaram 3.054 registrados de clubes na BM&FBovespa, com ativos que atingiram R$ 11,39 bilhões.
Se a modalidade é a ideal para animar o investidor que quer aplicar pouco em ações — e, ainda assim, ter uma carteira diversificada —, o mais importante é saber quem vai cuidar do dinheiro. O primeiro passo ao aderir a um clube de investimentos é verificar se a corretora ou a instituição financeira que vai administrá-lo está cadastrada na bolsa. Seja uma pessoa ou uma empresa, o gestor do clube também tem que estar inscrito na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) — outra exigência legal. Caso contrário, não é recomendável correr riscos. Aplicar com quem não tem autorização é certeza de problemas.
“Na prática, o gestor é o ‘dono’ do clube. É ele que define a hora de comprar ou vender as ações”, explica Juliano Lima Pinheiro, superintendente da Petra Corretora. A seu ver, a procura pelos clubes de investimentos voltou a se acentuar depois da crise mundial de 2008. Na semana passada, a CVM editou novas regras para essa modalidade de aplicação, que foram muito bem recebidas pelo mercado, como a limitação do número de participantes — uma redução de 150 para 50 pessoas. “O clube com 150 pessoas, na verdade, era um fundo disfarçado”, diz Pinheiro.
Rentabilidade
Luiz Gustavo Lage, operador de bolsa da Sita Corretora, destaca que o investidor tem que acreditar no clube que está participando. “Se há rentabilidade acima do mercado, é preciso desconfiar”, aconselha. Uma das principais vantagens da modalidade, na sua opinião, é a diversificação do risco: “O pequeno poupador não consegue isso, pois com pouco dinheiro vai conseguir comprar apenas um papel”. Para ele, um dos motivos que justifica a volta da procura por essa modalidade é o bom desempenho dos clubes — eles vêm batendo o Ibovespa, o principal índice de variação de ações da bolsa paulista.
Na Sita, o investidor Marcelo Coelho, 27 anos, não titubeou ao aderir a um clube criado por colegas de trabalho. “Estou investindo há quatro anos. É a minha aposentadoria. Tem meses que aplico R$ 400, em outros R$ 1 mil. Isso me dá liberdade”, diz. Para ele, outro motivo positivo é a aproximação com quem dirige a aplicação. “Não tenho conhecimento suficiente para operar no mercado acionário. Se tenho dúvidas, consigo falar (com o gestor). O melhor é que já deu para ter um bom ganho”, relata. Em clubes de investimentos, o pouco de cada um ganha força com o volume investido por todos os cotistas.
PASSO A PASSO
Como criar um clube de investimento
1º - É fundamental procurar uma corretora para ficar por dentro das regras ao abrir um clube. A instituição também vai ser responsável pela orientação na escolha dos papéis a serem comprados e por qualquer operação realizada pelos aplicadores.
2º - Definir a quantidade e do valor de cada cota do clube é o passo seguinte. A atribuição é dos próprios participantes, que decidem quantas cotas e o volume em dinheiro que cada um vai investir. Pelas regras atuais, nenhum investidor pode ter mais de 40% do valor aplicado.
3º - Prepare um estatuto do clube junto à corretora escolhida . É necessário que cada participante tenha um cadastro, incluindo cópias de seus documentos.
4º - Com toda a documentação e os dados corretos, o clube precisa ser registrado na BM&FBovespa e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
5º - Depois do registro, o clube pode começar a operar. Os membros do decidem aonde o dinheiro vai ser investido. A corretora escolhida vai realizar a transação. O ideal é que, periodicamente, o clube realize assembleias para decidir estratégias de aplicação. Pelas novas regras da CVM, é obrigatório esse tipo de reunião pelo menos uma vez ao ano.
Fonte: BM&FBovespa

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Previdência além da aposentadoria


28/04/2011

 

Alessandra Bellotto e Antonio Perez | De São Paulo

Nem seguro de vida nem previdência, mas uma espécie de seguro com previdência. Esse foi o plano que uma investidora adquiriu do Bradesco, na fila de uma agência bancária, por impulso, após ter sido abordada por uma atendente do banco.

Na hora do investimento, ela, influenciada pela fala da atendente, pensou ter adquirido um plano de previdência de perfil tradicional para seus filhos, com débito em conta corrente de cerca de R$ 80 por mês. Seis anos depois - quando atentou para a possibilidade de deduzir contribuições previdenciárias da base de rendimentos tributáveis -, descobriu que o plano misturava seguro com previdência, e não permita abatimento do Imposto de Renda. E decidiu sacar tudo.

Mas, depois de contribuir com cerca de R$ 6,2 mil, ela conseguiu retirar R$ 5,2 mil. A diferença refere-se ao custo relativo à cobertura do risco de morte do participante pelo período em que manteve o plano. Na verdade, o que a investidora comprou foi um pecúlio resgatável, ou seja, um plano de previdência para cobrir risco, e não de acumulação para aposentadoria.

Revoltada, a investidora, que prefere não ter seu nome citado, diz que o banco não lhe explicou corretamente as características do plano. "Eles me venderam como previdência, mas só se for previdência divina, porque eu teria que morrer para meus filhos receberem o valor total", desabafa. A investidora, contudo, confessa que, no momento da aquisição do plano, não prestou a devida atenção. "Achei que um plano de previdência para os meus filhos era uma coisa interessante e, como R$ 80 por mês não iam "pesar" no meu orçamento, acabei aceitando", diz.

O plano era um pecúlio no qual, em caso de morte do participante, um determinado valor é pago a um ou mais beneficiários indicados. Não se trata do valor contribuído, mas segurado - no caso da investidora, girava em torno de R$ 60 mil. Em geral, o pecúlio é pago ao beneficiário de uma vez. Na Bradesco, esse tipo de plano, batizado de Multiplano Geração 2, é vendido desde 1988 e cobre morte acidental a partir da contratação e morte por qualquer causa após carência inicial de 24 meses. O pecúlio pode ser pago também como renda programada por até 120 meses.

Após 24 meses de contribuições, se o participante, por algum motivo, não tiver mais interesse no benefício do pecúlio, poderá optar por sair do plano e, aí sim, receber um percentual de todas as suas contribuições. "Isso acontece quando a cobertura do risco de morte deixa de fazer sentido", explica o diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio de Oliveira. Não se resgata tudo porque parte do dinheiro vai para o carregamento do risco. "No seguro de vida tradicional, não há a possibilidade de resgate das contribuições", acrescenta.

Simulação feita pela seguradora mostra que, se uma mulher de 30 anos fizesse um pecúlio resgatável com capital segurado de R$ 200 mil, contribuiria com uma mensalidade de R$ 176,00. Após 60 meses, sem considerar correção pelo índice de preços (para facilitar a simulação), teria contribuído com R$ 10.560. Se resolvesse resgatar, teria de volta com R$ 7.280. A diferença, de R$ 3.280, refere-se ao valor efetivamente destinado à cobertura do risco. Se distribuído nos 60 meses, esse valor corresponderia a uma mensalidade de R$ 54,66.

Num seguro tradicional com o mesmo capital segurado (R$ 200 mil), compara Oliveira, o prêmio mensal sairia em torno de R$ 85,00. E sem a possibilidade de resgate em vida. Segundo o executivo, o pecúlio resgatável é uma espécie de poupança que cobre risco de morte.

Na Bradesco, o valor mínimo de contribuição é de R$ 30,00 mensais ou de R$ 3 mil para aporte único. Tanto a cobertura como o valor da contribuição são corrigidos pelo IGP-M. O participante ganha ainda o direito de participar de um programa de relacionamento da seguradora, concorrendo mensalmente a cinco prêmios em dinheiro, num total de R$ 50 mil.

No ano passado, a Bradesco Vida e Previdência vendeu 223 mil propostas do pecúlio resgatável, que representaram uma arrecadação de R$ 80,62 milhões. A arrecadação média mensal foi R$ 6,72 milhões, e o valor médio por proposta, de R$ 361,26. Também em 2010, a Bradesco pagou R$ 54,33 milhões de pecúlio a 1.194 beneficiários, um valor médio de R$ 45,51 mil por beneficiário.

Oliveira destaca que a previdência vai além dos planos de acumulação para aposentadoria, os tradicionais PGBL e VGBL. Há os planos para cobertura de riscos, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), entre eles o pecúlio por morte, com ou sem resgate em vida, ou pecúlio por invalidez. Nesse último caso, o dinheiro é pago ao próprio participante em decorrência de invalidez total ou permanente.

Outras modalidades de plano para risco são a pensão por morte, em que um beneficiário passa a receber uma renda no caso de morte do participante, e a pensão por invalidez, em que a renda é paga ao próprio participante.

Nos planos de aposentadoria, como o PGBL e o VGBL, as contribuições dos participantes são aplicadas em um fundo de investimento para ser "engordadas" até que se atinja a fase do benefício da aposentadoria. Nesse momento, o participante pode optar por resgatar o patrimônio acumulado ou receber uma renda temporária ou vitalícia.

O dinheiro a ser recebido vai depender de fatores como rentabilidade do fundo de investimento e custos envolvidos como taxas de carregamento (uma espécie de corretagem cobrada sobre as contribuições) e de administração da carteira. No caso de conversão do patrimônio em renda, é preciso observar ainda a tábua biométrica, usada pela seguradora para calcular a expectativa de vida do participante, e a taxa de juros, base para calcular a previsão dos rendimentos futuros.

No PGBL, as contribuições podem ser deduzidas até o limite de 12% da renda bruta anual para quem faz a declaração completa de Imposto de Renda. A tributação ocorre no momento do resgate ou recebimento de benefício e incide sobre o valor total recebido. O VGBL, apesar de ter a mesma função de acumulação de recursos para a aposentadoria, é na verdade um plano de seguro de pessoas com cobertura por sobrevivência. Como ele não permite a dedução das contribuições do imposto de renda, a tributação, também no momento do resgate ou recebimento de benefício, incide somente sobre os rendimentos obtidos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Reserva de títulos da Caixa vai até sexta


25/04/2011

 

Os investidores que quiserem participar da operação de securitização da Caixa Econômica Federal têm até sexta-feira para fazer a reserva. O banco transformou parte de sua carteira de crédito imobiliário em um título para venda no mercado de capitais.

Esta é a primeira vez que os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) estão disponíveis para o varejo. Os títulos, que têm como benefício principal a isenção de Imposto de Renda, serão remunerados por uma taxa fixa de 10% mais TR (Taxa Referencial) ao ano.

Os papéis têm valor unitário de R$ 1 mil, mas os investidores precisam de aplicação mínima de R$ 10 mil. Se a procura for maior que a oferta, cada um receberá menos títulos do que o reservado.

sábado, 23 de abril de 2011

O mundo vendeu, eles compraram

Revista Exame
16/04/2011

Os investidores que fizeram pequenas fortunas durante a crise de 2008 ao aplicar quase tudo o que tinham em ações
Thiago Bronzatto

O assessor financeiro André Machado, de 43 anos, ficou milionário durante a crise de 2008. Enquanto a maioria dos investidores - de fundos de hedge e de pensão internacionais a pequenos poupadores - corria para aplicações ultraconservadoras, ele colocou 100000 reais, um terço do que tinha no banco na época, no arriscadíssimo mercado futuro de opções. Seu objetivo era apostar na queda das ações da Vale. Se errasse, poderia perder ainda mais do que havia aplicado. Como acertou - o valor de mercado da mineradora caiu pela metade em poucos meses -, ganhou 150000 reais. Quando achou que as ações da Vale haviam chegado ao fundo do poço, no" fim de 2008, investiu 150000 reais na empresa, e embolsou mais 350000 reais. "Comprei um carro de luxo e reformei toda a minha casa com o que ganhei", diz Machado, que passou quase um ano acordando às 4 horas da manhã para acompanhar as ações das principais concorrentes da Vale, a BHP Billiton e a Rio Tinto, listadas na bolsa de Londres, e decidir o que faria com seu investimento aqui. "Nunca sabia com que surpresa eu acordaria, porque o mercado estava muito volátil. Mas achava que tinha uma chance única de ganhar bastante dinheiro", diz.
Olhando pelo retrovisor, parece óbvio que os últimos meses de 2008 eram o momento ideal para aplicar mais em ações. O Índice Bovespa caiu para 29435 pontos, o menor patamar em três anos, e dezenas de empresas passaram a ter valor de mercado inferior à soma de seus ativos - o que, na matemática que rege o mercado acionário, significa que estavam extremamente baratas. Investir quando o pessimismo está no auge é um dos conselhos mais repetidos pelos consultores financeiros -no século 19, quando a Europa estava mergulhada em guerras, o barão Nathan Rothschild, um dos maiores banqueiros da história, disse que "a hora de comprar é quando o sangue corre pelas ruas". O problema é que, em meio ao caos que tomou conta do mercado no final de 2008, boa parte dos especialistas fechou os livros de finanças e não recomendou a seus clientes que aplicassem mais na bolsa. Primeiro, porque havia o risco real de ver as ações desvalorizar ainda mais. Segundo, por um aguçado instinto de autoproteção. "Estávamos sendo processados por investidores que diziam que os havíamos induzido a arriscar demais antes da crise. Tínhamos de ser conservadores", afirma Peter Weiss, dono da corretora SLW. A maioria dos investidores abandonou o mercado de ações naquela época: os estrangeiros sacaram 25 bilhões de reais da Bovespa, o volume de negócios da bolsa caiu 40% e quase 30000 pessoas físicas venderam todos os papéis que tinham.
O sangue, portanto, estava nas ruas.
"Meus amigos diziam que eu estava louco, mas, para mim, ninguém é mais habilidoso que banqueiro para ganhar dinheiro. Por isso, apostei na retomada desse setor", diz Júlio Sergio Cardozo, ex-presidente da consultoria Ernst & Young Terco no Brasil. No fim de 2008, ele aplicou 1 milhão de reais em ações de bancos estrangeiros, como Citi e Deutsche Bank, que haviam caído mais de 40%. Também investiu em papéis de instituições brasileiras, como Banco do Brasil e BicBanco, que estavam em baixa em razão do temor generalizado em relação aos bancos. Ganhou 1,1 milhão de reais, e mantém boa parte do lucro aplicada nos mesmos papéis. "Minha carteira ainda tem potencial, principalmente com a retomada da economia americana", diz. O dono de uma consultoria de investimentos de São Paulo conta que vendeu seu carro e o da mulher para investir em papéis de grandes companhias, como Gerdau, vale e Itaú, em outubro de 2008. "No escritório, organizávamos espécies de grupos de investimento toda semana: cada funcionário dava uma quantia para fazermos grandes,aplicações na bolsa. Depois dividíamos o lucro de acordo com o que cada um havia colocado. Até a faxineira ganhou dinheiro", diz ele.
INTUIÇÃO
A melhor explicação para o comportamento dos investidores durante a crise
de 2008 vem de estudos de uma área relativamente nova da economia, a psicologia financeira. No livro O Espírito Animal, o americano Robert Shiller, professor da Universidade Yale e um dos maiores estudiosos do tema, diz que
é a intuição, e não o pensamento racional, que influencia as decisões econômicas da maioria das pessoas. "Ainda que achassem que a queda das ações era exagerada, muitos investidores decidiram simplesmente seguir seus instintos e vender, como a maioria estava fazendo", diz Vera Rita de Mello Ferreira, principal especialista brasileira em psicologia econômica. "É uma reação comum durante as crises." Para tentar evitar esse tipo de armadilha, investidores experientes costumam criar uma rotina de aplicações para ser seguida qualquer que seja a situação do mercado. É o que faz o microempresário mineiro Antonio Marcos. Sua regra é colocar 80% do patrimônio em ações quando a bolsa está em queda, e reduzir o valor para apenas 20% se houver valorização. A grande tacada de Marcos na crise foi aplicar 500000 reais em ações ordinárias da fabricante de papel e celulose AraCnIZ em outubro de 2008, quando os papéis custavam 5 reais e a empresa tinha acabado de naufragar devido a operações desastradas com derivativos exóticos. Vendeu tudo três meses depois, com lucro de 130%.
Hoje, esses três investidores que fizeram pequenas fortunas após a quebra do banco americano Lehman Brothers têm aplicado de forma mais conservadora. André Machado, que já voltou a dormir a noite toda, passou a diversificar sua carteira de ações e a fazer investimentos de curto prazo: em meados de abril, comprou papéis da BM&F Bovespa e da Usiminas. Para ele, essas ações estão baratas em relação à média de seus setores. Antonio Marcos está com quase todo o patrimônio aplicado em CDBs de grandes bancos e títulos públicos para se proteger da inflação. Na opinião dele, quase todas as ações de empresas brasileiras estão caras. Além de manter os papéis de bancos comprados durante a crise, Júlio Cardozo divide seu patrimônio em fundos de ações e de renda fixa. "Está mais difícil ganhar dinheiro na bolsa agora", diz.
Entre os grandes investidores institucionais, os que mais ganharam dinheiro nos últimos três anos foram os que fizeram apostas dealtíssimo risco. O maior exemplo é o gestor americano John Paulson. Desconhecido antes da crise de 2008, ele embolsou 4 bilhões de dólares - o maior bônus já pago em Wall Street até então - ao apostar na falência das hipotecas subprime nos Estados Unidos quando esse segn1ento estava em ascensão. No ano passado, bateu seu próprio recorde e ganhou mais 5 bilhões de dólares, obtidos com investimentos pesados feitos no mercado de ouro. "São números que impressionam, mas é importante lembrar que foi esse tipo de investidor, que toma riscos muito acima da média, que ajudou a provocar a crise de 2008", diz David Laibson, professor de economia e psicologia na Universidade Harvard. "Existem pesquisas que mostram que 70% dos investidores extremamente agressivos, aqueles que compram ações de empresas em dificuldades esperando que elas se recuperem, perdem tudo ou quase tudo o que aplicaram alguns meses depois." Em 2005, André Machado teve um prejuízo de 200000 reais ao apostar na valorização das ações da empresa de telefonia Telemar no mercado futuro. Ele achou que ficaria milionário naquela época, mas acabou mergulhado em dívidas. Sua estratégia deu certo em 2008. O desempate fica para a próxima crise.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Saiba como investir seu dinheiro na compra de títulos públicos

Folha de São Paulo

11/04/2011


FINANÇAS PESSOAIS

MÁRCIA DESSEN


Você venceu a primeira etapa do planejamento financeiro pessoal e como mantém o orçamento sob controle, consegue poupar parte de sua receita criando uma saudável reserva financeira, além de acumular recursos para atingir objetivos futuros.
Provavelmente a caderneta de poupança foi, acertadamente, o seu primeiro investimento. Mas, à medida que tomou gosto pelo hábito de poupar e observa o crescimento do capital, fruto da disciplina e dos juros que recebe, é natural seu interesse por outras alternativas de investimento.
Além da diversificação, o investidor busca rentabilidade competitiva com baixo risco. O Tesouro Direto é uma opção que deve ser analisada com carinho.

RISCO
O governo gasta mais do que arrecada e precisa captar recursos para zerar seu fluxo de caixa. Faz isso com a venda de títulos que representam uma dívida do governo perante o investidor, que aceita emprestar dinheiro para o governo em troca do recebimento de juros pelo prazo definido da operação.
Portanto, o risco do investidor é o risco de crédito, ou seja, o risco de o governo federal não devolver seu capital na data do vencimento do empréstimo. Qual é a probabilidade de ocorrer o risco? Baixíssima. É que os títulos públicos são considerados os mais seguros do mercado.

RENTABILIDADE
Você escolhe a rentabilidade de acordo com seu objetivo de investimento, seu horizonte de tempo e sua expectativa em relação aos rumos da economia.
Se seu horizonte de tempo for relativamente curto, procure uma das Letras do Tesouro. A LTN (Letra do Tesouro Nacional) paga taxa de juros prefixada e é adequada para quem quer saber exatamente quanto vai ganhar e tem a expectativa de queda das taxas de juros.
A LFT (Letra Financeira do Tesouro) é mais adequada para quem tem expectativa menos otimista e acha que pode ocorrer a alta da taxa de juros praticada no mercado. A rentabilidade da LFT é a variação da taxa Selic. Se a média da taxa Selic durante o prazo da operação for 11%, o investidor receberá 11%; se for 13%, receberá 13%.
Se seu horizonte de tempo for mais longo, procure pelas Notas do Tesouro, que se caracterizam por pagar cupom de juros semestralmente.
A NTN-B paga a variação do IPCA mais cupom de juros. É ideal para quem deseja proteger o capital investido contra a possível alta da inflação.
Se você não quer receber os juros semestrais e prefere capitalizar esses juros, compre a NTN-B Principal, que paga a variação do IPCA e a taxa de juros somente na data de vencimento. A NTN-F é um título de taxa prefixada que credita semestralmente a taxa de juros do cupom do título.
Ambas, NTN-B e NTN-F, são indicadas para quem precisa reforçar o fluxo de caixa semestralmente, com o recebimento de juros.

LIQUIDEZ
O Tesouro realiza compras semanais, às quartas-feiras, permitindo que o investidor venda todo ou parte de seu investimento, recuperando o capital desejado antes do vencimento. As taxas são divulgadas no mesmo portal.

COMO INVESTIR
Para operar nesse mercado, abra uma conta em uma corretora, que fará a intermediação entre você e o Tesouro Direto. Consulte no site do Tesouro quais são e quanto cobram as corretoras credenciadas.

CUSTOS E TRIBUTOS
Corretora: livre negociação, de zero a 1% ao ano. CBLC: taxa de custódia de 0,3% ao ano. q Imposto de Renda: alíquota entre 22,5% e 15%, definida em função do prazo da operação. No site da Receita Federal (www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto) há mais informações.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

domingo, 27 de março de 2011

Rendimento do CDB pode ser inferior ao da caderneta de poupança


27/03/2011

Bancos diferenciam os valores aplicados e pagam menos aos pequenos investidores

Fábio Monteiro

Várias instituições financeiras definem o Certificado de Depósito Bancário (CDB) — título emitido pelos bancos que tem o objetivo de captar recursos para serem empregados na concessão de empréstimos e financiamentos — como uma das aplicações mais seguras entre as opções existentes no mercado. Mas a operação requer atenção do cliente a detalhes que, se não observados, podem acabar com a atratividade do investimento, resultando em rendimentos inferiores aos de outras modalidades, como a caderneta de poupança.
O cliente que optar pela contratação de CDB deve, antes de mais nada, analisar se a modalidade é a mais compatível com o atual momento econômico. O volume a ser investido é fundamental para determinar o sucesso da aplicação. Segundo especialistas, valores inferiores a R$ 100 mil têm rendimento menor do que as alternativas de renda fixa.
O educador financeiro Álvaro Modernell lembra que o CDB, como toda aplicação muito segura, possui baixa rentabilidade. Apesar disso, ele pode ser interessante para quem tiver capital e disposição para negociar. “É bom que o cliente nunca aceite a primeira oferta, principalmente se estiver investindo uma grande quantia”, avalia.
Na análise de Modernell, o resgate antes do tempo contratado junto ao banco também não é interessante e, por isso, é bom que o cliente não crie expectativas a curto prazo com relação ao dinheiro. “Quanto maior o prazo estabelecido para receber os dividendos, melhor. Algumas pessoas contratam um CDB de curto prazo para receber logo o dinheiro e, em seguida, firmam novo contrato. Mas fazer isso é perder dinheiro, pois cada renovação gera juros menos vantajosos”, afirma. Para o educador financeiro, o ideal é que, caso o dinheiro seja destinado exclusivamente a investimentos, o poupador feche um contrato com prazo mais longo, que terá rendimentos melhores que aqueles com renovação constante.
Custo
Para as instituições bancárias, o custo operacional de quem está investindo R$ 3 mil ou R$ 300 mil é o mesmo. Por isso, a disposição com as pessoas que aplicam mais recursos tende a ser maior. “É importante que o consumidor entenda que o banco precisa do dinheiro e vai ter gastos na operação. Com isso em mente, o cliente pode focar suas energias em barganhar opções interessantes durante a negociação”, explica Modernell.
O consultor em finanças Alexandre Lignos explica que estudar as diversas opções e as expectativas pessoais é um ótimo passo antes de decidir qual caminho deve ser seguido. “O investidor precisa fazer uma autoavaliação para saber o que espera da aplicação. Quem tem muito dinheiro e uma postura mais agressiva nos negócios com certeza vai ficar insatisfeito”, destaca. Lignos afirma que até o horário da negociação pode ser relevante. “Pela manhã, os bancos procuram captar recursos para repassarem ao longo do dia. Então, a chance de conseguir melhores taxas são maiores”, explica.
Lignos ainda destaca que estudar a saúde financeira da instituição na qual o CDB é contratado pode ser uma medida de segurança bastante válida. “É muito bom para o cliente quando ele consegue negociar boas taxas. Mas se o banco pagar um valor alto demais, muito fora do padrão de mercado, isso pode significar que a instituição está precisando de recursos, tornando a operação um pouco arriscada. Isso pode acontecer principalmente com bancos menores”, revela. Para o consultor, apesar de o risco ser baixo, a aplicação precisa ser acompanhada com seriedade. “Investimento não é para tentar a sorte, é para crescer financeiramente”, comenta.
Escolha
Basicamente, existem duas opções de contratação do título: com rendimentos pré-fixados ou pós-fixados. A escolha deve levar em conta a conjuntura econômica do momento. Se a taxa básica de juros (Selic) está estagnada ou com tendência de queda, a opção mais adequada é fechar o valor do rendimento no ato da contratação. Já em um cenário com alta de juros, fica mais interessante contratar a modalidade no pós-fixado, quando o pagamento é feito de acordo com a taxa Selic referente ao dia do vencimento do título. Atualmente, a tendência da taxa básica de juros é de alta.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dívida "saudável" inspira cuidados

Correio Braziliense

21/03/2011

A estabilidade monetária e o desemprego em baixa estimulam os trabalhadores a fazer empréstimos ou a parcelar compras de bens duráveis, em especial carros e imóveis, para construir um patrimônio. Mas é preciso estar atento às armadilhas, como os juros altos
Luciano Pires


A estabilidade econômica fez o brasileiro perder o medo de se endividar. Há quase duas décadas convivendo com taxas de inflação relativamente civilizadas e, nos últimos anos, com níveis de desemprego controlados, famílias e jovens espremem o orçamento doméstico com carnês e financiamentos a perder de vista. As prestações fazem parte da rotina de quem sonha em morar no que é seu, daqueles que trocaram o ônibus pelo carro ou dos que apenas investem hoje para colher amanhã.

Essa última classe de pessoas tem se destacado. São assalariados que, apesar dos juros altos e de alguma incerteza futura, preferem sacrificar parte da renda em troca do conforto que a ideia de ser dono de algo caro traz. É o chamado “endividamento saudável”, fenômeno típico de economias que ficaram marcadas no passado por longos períodos de estagnação, que ainda não amadureceram, mas que caminham a passos ligeiros rumo ao seleto clube das nações ricas.

Preocupado com o futuro, o servidor público Marcos Vieira Baeta Neves, 29 anos, financiou seu primeiro imóvel em 360 vezes, o equivalente a 30 anos. “Há um tempo, isso era uma ideia distante de mim, mas venho juntando dinheiro e consegui dar entrada e dividir o restante”, comemora. O apartamento, em Águas Claras, deve ser ocupado depois que a dívida for quitada. “Moro em uma república e alugo o meu imóvel, por enquanto. Só que eu penso em me casar e ir para lá.” Ele paga uma prestação de R$ 2 mil e recebe R$ 1,3 mil do locatário. “É um prejuízo de R$ 700 por mês. Espero que valha a pena.”

Neves diz que, por causa da valorização imobiliária, viu-se obrigado a fechar o negócio antes do previsto. “Os preços estão subindo muito rapidamente. Fiquei com medo de deixar para depois e pagar um absurdo”, explica, ressaltando que o mercado no Distrito Federal é um dos mais dinâmicos do país. Empolgado com o projeto pessoal, ele não esconde a satisfação.

O economista Luiz Carlos Ewald, autor do livro Sobrou dinheiro: lições de economia doméstica, alerta para os perigos do endividamento sem controle. “Muitos dizem que alugar é jogar dinheiro fora. Mas, na verdade, os juros também não têm retorno. A pessoa paga R$ 300 mil em um apartamento que vale R$ 200 mil, no máximo. Com carro, é a mesma coisa. Na ponta do lápis, andar de táxi é mais barato do que ter um automóvel. Não tem seguro nem despesas com manutenção. Essas pequenas despesas o comprador não leva em conta na hora de somar”, adverte.

Inadimplência
Ewald afirma que o comprador deve ter consciência de que o bem só passa a ser dele após a amortização do financiamento. “O número de imóveis que voltam para o banco por inadimplência é muito grande, principalmente na classe C. Se a pessoa comprou uma casa em 20 anos e só pagou cinco, ainda não é dona dela”, indica. Para ele, o endividamento é válido no ponto de vista comportamental. “Se o comprador contrai uma dívida, mas se programa para pagar em um prazo, ele é precavido, embora tenha que pagar juros exorbitantes. Pode ser a realização de um sonho”, contrapõe. “É preciso avaliar a compra.”

A corrida para formar patrimônio, no entanto, tem consequências. Seis em cada 10 brasileiros têm contas vencendo todo mês. Especialistas culpam a farta oferta de crédito como a principal alavanca para o endividamento, que não para de crescer. Dados do Banco Central apontam para um volume de R$ 208 bilhões em dívidas só com o cheque especial. Outros R$ 188 bilhões irrigam linhas de crédito para automóveis. O cartão de crédito responde por R$ 30 bilhões, enquanto o cheque especial deixa em apuros pessoas que devem R$ 18 bilhões.

É o caso do servidor Arcelino Alves da Costa, 56 anos, que se enrolou na hora de comprar a casa própria. “Peguei três empréstimos e financiei o restante na Caixa Econômica Federal. Vou morrer sem terminar de pagar as prestações”, lamenta. “Nunca pensei que seria possível. Tenho medo de que a economia volte a oscilar. Antes não havia prestação fixa.” Costa trata o investimento como herança. “Fiz malabarismo para conseguir comprar o apartamento, mas meus filhos não ficarão desamparados.”

O educador financeiro Mauro Calil explica que a maior parte da população extrapola os limites recomendáveis de endividamento contando que a compra de bens de alto valor agregado são investimentos que, mais cedo ou mais tarde, terão retorno. Na avaliação do analista, cada caso é um caso. “O mundo das finanças tem dois lados: aquele de quem paga e aquele de quem recebe juros. E os juros retardam a formação de patrimônio”, ensina.

Distorções
Autor do livro A receita do bolo, que ensina a enriquecer com disciplina, o educador financeiro Mauro Calil lembra que o desejo de consumo reprimido nas pessoas que conviveram com a hiperinflação distorceu conceitos econômicos básicos. “Patrimônio ativo é aquilo que gera renda. Um imóvel nem sempre é um ativo. Depende se está alugado, se valorizou”,diz. O especialista adverte que casas e apartamentos financiados só passam a ser da pessoa após paga a última prestação.


Para aliviar o orçamento

» Pagar à vista é sempre a melhor opção

» Se for financiar a compra de algum bem, o ideal é negociar juros menores

» Imóveis na planta são mais baratos, mas é importante negociar, já que eles carregam maior risco

» Uma regra básica é não comprometer mais que 30% da renda familiar com dívidas de cartão, cheque especial e prestações

» Na hora de refinanciar a dívida, livre-se dos juros antes de tudo

» Coloque todas as despesas na ponta do lápis e não perca o controle

» Faça uma análise e veja se estará preparado para cobrir as prestações no prazo prometido

» Quando possível, poupe

Fonte: especialistas ouvidos pelo Correio

domingo, 20 de março de 2011

Taxa de administração superior a 1,5% torna fundos péssimo negócio


20/03/2011

 

SEU BOLSO

Bancos cobram de 0,5% a 4% sobre o valor aplicado para gerir o investimento. Tarifa elevada faz rendimento perder da poupança

Vera Batista

Fábio Monteiro

Fundos de investimento se tornaram as aplicações preferidas de quem entende pouco de mercado financeiro e não tem muito dinheiro disponível. Com sua ascensão, as classes C, D e E se tornaram alvo da cobiça de gestores, administradores e distribuidores do produto ao mesmo tempo em que bancos e corretoras abriram uma guerra pela melhor oferta. O que faz a diferença ao escolher onde aplicar os recursos é a taxa de administração. Às vezes, ela está disfarçada sob o pomposo nome de taxa de performance (penduricalho cobrado, caso o gestor do fundo ultrapasse os objetivos de rentabilidade).
A taxa de administração varia de 0,5% a 4% sobre o valor aplicado — não sobre o rendimento. Se R$ 10 mil forem investidos à taxa de 2%, serão descontados R$ 200 ao ano (ou cerca de R$ 17 ao mês). Os investidores devem ficar atentos: qualquer cobrança superior a 1,5% pode tornar a aplicação nos fundos um péssimo negócio porque come excessivamente o rendimento. Como ainda é preciso recolher o Imposto de Renda, os ganhos ficam muito pequenos, frequentemente menores do que os da caderneta de poupança, que é isenta tanto da taxa como do tributo.
Segundo estudo da Associação Brasileira de Entidades Financeiras e de Capitais (Anbima), as taxas das principais categorias de fundos caíram de dezembro de 2010 para janeiro, mas as cobradas dos investidores de varejo ficaram acima do nível médio. A categoria Referenciado DI subiu 0,46 ponto percentual, para 1,35%; e a de Renda Fixa teve alta de 0,28 ponto percentual, ficando em 1,12%.
O professor César Frade, 39 anos, começou a investir em 1996. À época, por não dominar o assunto, optou pelos fundos dos bancos. Após 10 anos, entendeu que as taxas são abusivas. “Dependendo do quanto você investe, a taxa de administração pode ficar muito alta”, analisa. Hoje, paga mensalidade de R$ 10 para uma corretora e faz movimentações por conta própria. “Resolvi cuidar sozinho porque aprendi como funciona e sei o que quero investir. Estava pagando caro por uma coisa que posso fazer.” Mas o professor alerta: ganhar autonomia requer estudo e experiência. “Cuidar das próprias aplicações é um caminho arriscado e perigoso para quem não entende.”
Os bancos se defendem afirmando que os custos das operações levam em conta a experiência dos profissionais envolvidos. “Temos uma equipe especializada, que acompanha as movimentações do mercado. Isso, evidentemente, gera custos, mas garante tranquilidade ao cotista que não tem tempo ou conhecimento”, argumenta Clayton Calixto, gerente de Relacionamento do grupo Santander. Saulo Sappir Sabbá, diretor de Gestão da Máxima Asset, ressalta que as “casas menores” oferecem melhor atendimento, maior rentabilidade e cobram menos.
Para Francisco José Santos, superintendente de Relações com Investidores Institucionais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo porte do setor, que envolve patrimônio de R$ 1,5 trilhão, 10 mil fundos e 10 milhões de cotistas, a incidência de problemas e reclamações é bem pequena, até mesmo se comparada a estatísticas internacionais. Assim mesmo, para os investidores, todo cuidado é pouco. “Façam análise do seu perfil de risco, verifiquem se os gestores e os administradores são registrados na CVM e procurem estudar o histórico desses profissionais”, aconselha.
Lucro gordo
Não é à toa que os fundos de investimento estão em alta. Nos cálculos de Saulo Sappir Sabbá, diretor de Gestão da Máxima Asset, quem comprou cota de um fundo de renda fixa, no valor de R$ 1 mil, em 2001, e “esqueceu o dinheiro lá por 10 anos”, acordou em 2011 com um lucro de 323,81% e pôde resgatar R$ 4.238. Se investiu em bolsa de valores, ganhou 329,32% (R$ 4.293). “Só perdeu 13,89% se optou pelo fundo cambial (acompanha a variação do dólar). Acabou ficando com R$ 861”, garantiu Sabbá.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Poucos com tanto...

Valor Econômico

09/03/2011

Daniele Camba e Luciana Monteiro | De São Paulo


Concentração é a marca do mercado de gestão de recursos no Brasil. As dez maiores assets respondem hoje por nada menos do que 77,6% do patrimônio do setor de fundos de investimentos. Um percentual ainda bastante elevado, apesar de ligeiramente abaixo dos 79,8% do fim de 2009. O levantamento foi feito pelo Valor com base nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Essa concentração traz um efeito perverso para o investidor, que fica à mercê de taxas de administração altas, mesmo para carteiras conservadoras, e poucas opções de aplicação, especialmente no varejo. Para aplicações de R$ 100,00 em fundos renda fixa e DI, por exemplo, os grandes bancos de varejo cobram, em média, de 3,5% a 5% ao ano. Como resultado, após a tributação, eles chegam a render menos que a poupança.

As seis primeiras colocações ainda são ocupadas pelos grandes bancos de varejo, que detêm 67,6% do mercado de gestão de fundos, número que chegava a 70,2% no fim de 2009. Mas, enquanto os grandes perdem um pouco, as assets independentes ganham espaço, ainda que também lentamente. Os números levam em conta o patrimônio total do setor em fundos de investimento, sem seguradoras.

Algumas instituições, em especial, vêm sofrendo mais nesse processo de perda gradual de participação. É o caso do Itaú, que se fundiu com o Unibanco em novembro de 2008. Em dezembro daquele ano, juntando-se os recursos geridos pelos dois bancos, a participação no setor de fundos era de 16,87%. Dois anos depois, já com o processo de integração concluído, a fatia caiu para 14,83%.

A perda de fatia de mercado chama ainda mais a atenção no caso do Itaú Unibanco por conta do bom resultado do setor de fundos no ano passado, que registrou captação recorde de R$ 108,7 bilhões. O segmento cresceu 18% ante 2009, atingindo patrimônio líquido de R$ 1,618 trilhão. Mas, apesar do ano tão positivo, o maior banco privado brasileiro encerrou 2010 com resgates de R$ 4,257 bilhões.

Num processo de fusão, é natural que ocorram perdas, já que grande parte dos investidores institucionais mantém limites de concentração nas instituições, explica o consultor Marcelo D"Agosto, autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento". Nesses casos, há um corte nas aplicações, não uma soma, diz.

Um executivo que pediu para não ser citado observa, no entanto, que o ranking de gestão da Anbima leva em conta também os fundos de direitos creditórios (FIDCs), cujo patrimônio oscila muito. E os números revelam que o Itaú Unibanco teve resgates concentrados justamente nesse seguimento em 2010. Os fundos de recebíveis da instituição registraram saques de R$ 3,898 bilhões dos R$ 4,257 bilhões perdidos no período.

Os números do banco também teriam sido afetados pela estratégia de um fundo de pensão administrado pelo banco que, por uma questão de custos, preferiu migrar R$ 3 bilhões de fundos para carteiras administradas, cujos dados não aparecem no ranking.

Mas, no mercado, comenta-se que a perda de participação no ranking e os resgates têm a ver com o processo de fusão. Segundo uma fonte que acompanhou o processo de perto, houve um choque entre as culturas de gestão do Itaú e do Unibanco, resultando na saída de vários profissionais experientes.

Outro executivo que também acompanhou a fusão lembra que o processo decisório ficou muito mais concentrado nas mãos de poucos, que estão na cúpula, tirando agilidade da gestão. Ele afirma que esse perfil de alta concentração é muito mais resquício da herança da gestora do Unibanco, que acabou predominando. Vários cargos-chave ficaram com profissionais que vieram do Unibanco. Já no Itaú, antes da fusão, as decisões eram descentralizadas, com cada gestor tendo muito mais autonomia para responder por sua estratégia. Procurado, o Itaú Unibanco preferiu não se manifestar.

Enquanto o Itaú Unibanco perde espaço, a gestora do BTG Pactual foi a que mais recebeu recursos no ano passado, depois do gigante Banco do Brasil. A asset do banco de André Esteves captou R$ 9,632 bilhões em 2010, e ocupa o sétimo lugar no ranking dos maiores gestores, com patrimônio de R$ 65,355 bilhões. Com isso, a instituição passou a deter 4,08% do setor de fundos, ante 3,75% em 2009. A gestora do BTG cresceu principalmente em fundos de participações e multimercados.

O Banco do Brasil (BB) ainda ocupa a colocação de maior gestora, com patrimônio de R$ 363,211 bilhões até janeiro deste ano. Os números da BB DTVM já levam em conta os fundos da Nossa Caixa, adquirida em novembro de 2008.

Líder de captação no ano passado, com ingresso de R$ 18,552 bilhões, a BB DTVM atraiu R$ 44,470 bilhões para a previdência. Mas a gestora teve pesados resgates em fundos de renda fixa e curto prazo, de R$ 3,931 bilhões e R$ 2,041 bilhões, respectivamente. A asset fechou 2010 respondendo por 21,55% dos ativos sob gestão em fundos - fatia praticamente igual à de 2009, que somava 21,57%.

Essa concentração do setor de fundos é ruim especialmente para os investidores de varejo, que possuem pouco poder de barganha e condições de se movimentar rumo a outros gestores, diz o professor de finanças do Insper Ricardo José de Almeida. "Essa falta de poder se reflete em taxas de administração que ainda são altas para o varejo."

O professor lembra que a Instrução 409 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre fundos dá ao investidor o direito de pedir a abertura dos custos que estão embutidos dentro da taxa de administração. Essa medida deveria, em tese, acabar com as cobranças abusivas. O detalhe é que o pequeno investidor nem sabe desse direito e, portanto, essa fiscalização adicional não acontece na prática.

Para o professor do Insper, o fato de os bancos de varejo não oferecerem na rede de agências produtos de outros gestores contribui para que as taxas de administração continuem salgadas. "Nenhum banco tem interesse em levar a concorrência para dentro da sua própria casa", completa Almeida.

O setor de fundos no Brasil também é concentrado por conta do tipo de ativo demandado pelos investidores, que focam na renda fixa. "Os grandes bancos são justamente os maiores na gestão de fundos de renda fixa", lembra Francisco Costa, sócio da Capital Investimentos. "Mas à medida que os segmentos de multimercados e de ações cresçam, esse processo de concentração deve ficar menor."

Contribui para esse panorama o fato de as corretoras de valores não atuarem fortemente no mercado de distribuição de fundos, avalia o consultor. "As corretoras ainda são muito voltadas para estimular a negociação de ações e não a aplicação em fundos, em que o investidor tende a permanecer por mais tempo", diz o consultor D"Agosto.

Para os gestores independentes, é difícil fugir da "máquina de venda" dos bancos de varejo, já que as áreas "private" dos grandes bancos são os maiores distribuidores de fundos do país.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Clubes de investimento terão mais controle


07/03/2011

 

SEU BOLSO

Para evitar que clubes de investimentos virem fundos “disfarçados’’, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prepara uma nova regulamentação, que deve entrar em vigor em cerca de 30 dias. Segundo o diretor do órgão, Otávio Yazbek, as versões finais da regulamentação estão em fase de discussão interna.
No Brasil, há 3.054 clubes, com um patrimônio líquido total de R$ 11,4 bilhões e 131.521 participantes, segundo a Bovespa.
Por meio dos clubes, é possível entrar na Bolsa com R$ 200. Para aplicações individuais, o valor é baixo. Mas, com esse montante e um grupo de pessoas com um objetivo em comum, é possível organizar um clube.
– Aquelas pessoas que conhecem pouco e têm medo do risco investem coletivamente, colocando um pouquinho de dinheiro na aplicação. Conforme aprendem, alteram a quantia – explica Tércia Rocha, consultora da Bovespa.
Em geral, um clube pode ter entre três e 150 pessoas e deve ter um representante. Os integrantes podem ser, por exemplo, de uma mesma empresa ou família. No caso de funcionários de uma mesma empresa ou entidade, pode ser um grupo até maior.
As principais mudanças, explicou Yazbek, devem ser justamente em relação à restrição no limite do número de cotistas e à exigência de assembleias, que poderão ser realizadas por meio de ferramentas eletrônicas, pois envolvem menos custos para as corretoras de valores.
O objetivo é valorizar o caráter pedagógico e fortalecer o controle sem aumentar demais os custos. Conforme Yazbek, um dos motivos que levaram a criar a nova regulamentação foi um mal-estar em relação a clubes que viravam fundos:
– É o que se chama de arbitragem regulatória. Usar um meio mais barato para atingir aquilo que é mais caro. Se quiser desconto regulatório, terá de ser uma estrutura diferente. Não pode ser um fundo disfarçado.

Recuo na criação

- A criação de clubes teve desaceleração no último ano:

- Em 2009, houve avanço de 6,4% na quantidade de clubes em relação ao ano anterior.

- No ano passado, a alta foi de só 3,3% em relação a 2009.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tesouro direto rende o triplo da Poupança


27/02/2011

Investir em títulos públicos é uma maneira segura de multiplicar o dinheiro

Gabriel Caprioli

Garantir uma boa renda no futuro não depende mais apenas de uma gorda aposentadoria ou da sorte em aplicações de risco — como a compra de ações de empresas privadas no mercado de capitais. Uma nova maneira de investimento, segura e rentável, vem ganhando adeptos dia a dia. É o Tesouro Direto, modalidade que já atraiu quase 220 mil brasileiros desde 2002. A aplicação permite a qualquer pessoa, por meio da compra de títulos do governo pela internet, tornar-se credora do Tesouro Nacional sem intermediários.
Especialistas garantem que a rentabilidade e a segurança dos ativos públicos ainda são imbatíveis, quando comparados às opções mais tradicionais do mercado. Alguns papéis com prazo de vencimento mais longo, nos últimos 12 meses, chegaram a render mais de 19% aos compradores — uma fábula, quando comparada aos 6,5% da poupança. E passar a ser dono de parte da dívida pública do país é mais fácil do que parece (veja passo a passo abaixo). Com valores a partir de R$ 100 na conta bancária e o número do CPF, é possível ingressar no programa pelo endereço eletrônico www.tesourodireto.gov.br.
O site oferece uma série de ferramentas para esclarecer até mesmo os menos familiarizados com a dinâmica dos títulos públicos, como um curso virtual desenvolvido em parceria com a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) — o mecanismo traz um simulador de compra e uma calculadora de rendimentos. “Quando lançamos o Tesouro Direto, recebemos várias sugestões que deixavam clara a necessidade de trabalhar essa questão da educação financeira. Então desenvolvemos esses instrumentos”, explica André Proite, gerente de relacionamento com os investidores do Tesouro.
Custo baixo
Há nove anos, quando o programa foi criado, a única forma de as pessoas físicas adquirirem títulos públicos era via fundos de investimentos, carteiras que normalmente detêm esse tipo de papel. “A diferença principal em optar pelo Tesouro Direto é que você não precisa pagar uma taxa de administração para o fundo e, apesar de ter que arcar com alguns custos, eles são muito mais baixos”, afirmou Armando Castelar, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV). A única taxa cobrada pela aplicação é a de 0,1% sobre o valor da compra (em uma única vez) e 0,3% (ao ano) para a custódia dos títulos, que ficam sob a guarda da Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). Os 87 bancos e instituições que operam o sistema podem cobrar uma taxa fixada entre zero e 4%. No site do Tesouro, há um ranking de operadores e tarifas.
Proteção
O programa oferece uma série de papéis com características diferentes que podem ser adequados aos planos dos investidores. “O primeiro passo a ser feito é definir qual tipo de poupança se quer. Se é para comprar um carro daqui a dois anos, incrementar a aposentadoria ou ter um rendimento contínuo. Para cada opção, há um papel diferente”, diz o gerente de renda variável da corretora TOV, Pedro Alceu. Na avaliação de Castelar, os títulos mais indicados para quem não acompanha de perto o vaivém da economia são os atrelados a índices de preço (NTN-B e NTN-B principal).
Dessa forma, os investidores ficam protegidos contra a perda de valor da moeda e ainda ganham algo acima da inflação. “Para sair disso e escolher, por exemplo, um papel ligado à Selic (taxa básica de juros), é preciso fazer uma espécie de aposta em variações macroeconômicas — no caso, na alta dos juros”, pondera. Atualmente, R$ 4,7 bilhões em dívidas da União estão em poder de pequenos investidores particulares graças ao Tesouro Direto. A maior parte (51,3%) está em aplicações menores do que R$ 5 mil. Somente em janeiro, foram emitidos R$ 360,26 milhões, sendo a maior procura por papéis prefixados (54,81%), seguida pelos indexados à inflação (35,16%) e pelos atrelados à Selic (10,04%).
O estoque do programa ainda representa muito pouco, apenas 0,1%, de toda a dívida pública federal (atualmente, de R$ 1,6 trilhão). Mas, para Proite, a parcela diminuta em relação ao total negociado não diminui a importância do programa. “Criamos o Tesouro Direto para aumentar a participação do investidor pessoa física como credor do governo. A intenção é democratizar o acesso.” O Tesouro trabalha com uma meta, guardada sob segredo, de ampliação da participação dos investidores pessoas físicas no total da dívida pública. “Queremos elevar essa fatia expressivamente em dois anos”, diz Proite.
Papéis confiáveis
Forma eficaz de financiamento dos gastos da máquina federal, os títulos públicos são emitidos pelo governo e comercializados no mercado financeiro. A administração da dívida da União tem por objetivo rolar esses compromissos, substituindo os que vencem por outros novos. Quanto mais confiável é a economia de um país, mais seguros são os papéis que compõem sua dívida.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pirâmides provocam perdas de vários bilhões a incautos

Valor Econômico

23/02/2011



De São Paulo

A lista de investidores vítimas de esquemas que prometiam rentabilidades altas nos últimos anos é grande. Boi Gordo, Gallus, Avestruz Master, clubes de investimentos e forex são exemplos de estruturas que acabaram se revelando golpes no estilo pirâmide, nos quais o dinheiro dos novos investidores paga os antigos. Somados, esses esquemas provocaram um prejuízo total em torno de R$ 4 bilhões - R$ 2,5 bilhões só da Boi Gordo, R$ 1 bilhão da Avestruz Master e R$ 200 milhões da Gallus. Só os casos mais recentes - Agente BR, Firv, Dinero e outros menores - já superam R$ 200 milhões.

As pirâmides também são chamadas de esquema Ponzi, em referência ao ítalo-americano Charles Ponzi, que deu um grande golpe com selos nos Estados Unidos nos anos 1920. O maior escândalo recente envolvendo pirâmides foi orquestrado pelo americano Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa americana Nasdaq e que, em 2008, deu prejuízo de US$ 50 bilhões a investidores do mundo todo.

O caso veio à tona 9 de dezembro depois que um investidor tentou sacar US$ 7 milhões. Dois dias depois, Madoff foi detido pelo FBI e acusado de fraude. Em junho de 2009, seis meses depois do caso vir à tona, Madoff foi sentenciado a 150 anos de prisão.

Normalmente, os esquemas guardam algumas semelhanças: a oferta é feita via internet ou no boca a boca. Esse clima de que a aplicação está aberta somente para alguns poucos escolhidos acaba fazendo com que as perdas ocorram em grupos familiares, de amigos ou de colegas de trabalho, já que um vai indicando para o outro.

No Brasil, alguns esquemas também ficaram famosos nos últimos tempos. Um deles foi realizado pela Agente BR, que era uma corretora de câmbio. Após a morte do controlador da instituição, seu filho, Túlio Vinícius Vertullo, antes mesmo de transferir a empresa para o seu nome, passou a oferecer clubes de investimento sem registro. A aplicação garantia retorno de 5% ao mês, no mínimo. Havia reuniões em churrascarias para comemorar os ganhos e atrair novos investidores para o esquema.

Em julho de 2008, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou um alerta ao mercado sobre a irregularidade da oferta feita pela Agente BR, mas a empresa continuou captando recursos até janeiro de 2009, quando o Banco Central interveio e decretou a liquidação da instituição. Os interventores do BC, no entanto, não encontraram nenhum registro dos clubes, nem das aplicações, que se descobriu depois foram transferidas para um site. Mesmo assim, calcula-se que 3 mil aplicadores tiveram um prejuízo de cerca de R$ 100 milhões.

A falência da Agente BR foi decretada, mas os credores têm poucas chances de recuperar suas aplicações pois nem a corretora, nem os sócios possuem bens que cubram a dívida. Vertullo e a corretora foram multados pela CVM em R$ 1,5 milhão cada.

Outra história recente ocorreu em Belo Horizonte, que resultou na prisão de Thales Emmanuelle Maioline, em dezembro do ano passado. Conhecido como o Madoff mineiro, ele passou 140 dias foragido depois de ser acusado de sumir com R$ 86,1 milhões de 2 mil investidores de 14 cidades.

Maioline teria criado um portfólio chamado Ficap (Fundo de Investimento Capitalizado), que na verdade não existia. O fundo era oferecido pela Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros, que funcionava em um bairro nobre da capital mineira. No site da empresa, o Ficap era apresentado como o "clube dos vencedores", prometendo uma renda fixa garantida a partir de operações de arbitragem. Assim como no Agente BR, não havia, no entanto, qualquer informação sobre onde o dinheiro era investido.

A aplicação também prometia rentabilidade elevada, de 6% ao mês e, ao fim de seis meses, uma bonificação de 30%. Em julho de 2010, a CVM divulgou um alerta sobre a oferta irregular da Firv. A pirâmide, no entanto, só caiu no fim de julho, quando um investidor tentou sacar R$ 3 milhões.

Quem tiver conhecimento ou suspeita de alguma oferta irregular de investimento pode alertar a CVM por meio de uma central telefônica, no número 0800 722 5354, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h. Pode, ainda, fazer a denúncia por carta ou pelo site www.cvm.gov.br, na seção "Fale com a CVM".

Já quem foi vítima ou acredita que uma empresa merece ser investigada pode também fazer uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) de seu Estado. Para quem está em São Paulo, o procedimento é acessar o site www.prsp.mpf.gov.br. Em seguida, a pessoa deve clicar em "Envie sua denúncia ao MPF do Digi-Denúncia". Permite-se o anonimato, mas os casos nos quais a pessoa se identifica acabam tendo mais credibilidade. A partir daí, abre-se uma investigação, que pode dar origem a um inquérito policial ou a um Procedimento de Investigação Criminal (PIC). (LM)
Locations of visitors to this page