sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Os juros começam a cair nos bancos

Jornal da Tarde 12/10/2007

Pesquisas do Procon mostram que taxas do empréstimo pessoal e do cheque especial dão sinais de redução no embalo das quedas da Selic

MARCOS BURGHI,
marcos.burghi@grupoestado.com.br

Desde setembro de 2005, a Selic, taxa básica de juros da economia, acumula queda de 43,03%, mas os bancos ainda repassam as baixas aos consumidores com timidez. É o que mostra comparação das pesquisas da Fundação Procon de São Paulo (Procon-SP) feitas em outubro de 2006 e em outubro deste ano, das taxas cobradas no empréstimo pessoal e no cheque especial em nove dos principais bancos que atuam no Brasil.

No caso do empréstimo pessoal, das nove instituições consultadas, seis diminuíram os juros que cobravam há um ano. As maiores quedas foram registradas no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, que baixaram a taxa em 4%. Em outubro de 2006, o porcentual cobrado pelo Banco do Brasil era de 4,69% em média. Um ano depois, a taxa encontrada foi de 4,50%. Na Caixa Econômica Federal, a média cobrada em outubro de 2006 estava em 4,68%. Em outubro de 2007, o índice baixou para 4,49%.

Quando o assunto é juro de cheque especial, a redução que os bancos repassaram a seus clientes foi ainda mais tímida. Das nove instituições pesquisadas em outubro de 2006 e outubro deste ano, foram constatadas quedas em apenas quatro. As outras cinco mantiveram os índices.

As maiores baixas foram constatadas no Banco do Brasil e no Bradesco. O primeiro tinha uma taxa média mensal de cheque especial que, em outubro de 2006, estava em 7,7%. Em outubro deste ano, o porcentual encontrado foi de 7,56%, queda de 2,7%. O Bradesco, entre outubro de 2006 e outubro de 2007, reduziu a taxa máxima do cheque especial em 1,98%, de 8,05% para 7,89%. (veja quadro comparativo ao lado).

De acordo com Cristina Martinussi, técnica do Procon, é possível concluir que, ao menos desde abril, os bancos seguem a tendência de queda na mesma proporção que a Selic. 'Os bancos são cautelosos', diz ela.

Apesar das quedas, os tomadores de crédito parecem não ter notado a diferença. A recepcionista Berenice Santos, de 21 anos, tem cheque especial há um ano, com limite de R$ 700. 'Uso no máximo R$ 200, e ainda assim em emergências', garante. Mesmo como usuária esporádica dessa modalidade de crédito, ela afirma que não notou mudanças. 'Continua caro', diz.

O vigilante José Bezerra, de 35 anos, tem um limite de R$ 700 e mensalmente usa pelo menos R$ 300. 'Se os juros caíram, eu não percebi', afirma.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Ajuda de bate-pronto para quem começa ou já sabe de muita coisa

Valor Econômico
Luciana Monteiro
11/10/2007



"500 Perguntas (e Respostas) - Hugo Azevedo.


Campus/Elsevier



"Uma pergunta prudente é metade sabedoria", dizia o filósofo inglês Francis Bacon, que acreditava que a metodologia e o empirismo deveriam ser exaltados, pelos benefícios que trazem ao homem. A frase do fundador da ciência moderna mostra que é possível aprender a partir de algumas simples questões. Nessa linha de perguntas e respostas, o professor da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) Hugo Azevedo lançou recentemente dois livros interessantes.


O primeiro, chamado "500 Perguntas (e Respostas) Básicas de Finanças", é voltado para os iniciantes do mercado financeiro e conta com oito capítulos. Nele, o autor explica alguns dos conceitos básicos de economia até chegar à tributação dos investimentos financeiros no Brasil. Antes disso, Azevedo trata de forma didática das aplicações em renda fixa, renda variável, derivativos e fundos de investimento. Nesse volume, o leitor conseguirá entender, por exemplo, o que é o tão comentado Copom. "O Comitê de Política Monetária foi criado em 20 de junho de 1996, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e de definir a taxa de juros", resume Azevedo.


Mas, à medida que o leitor vai se familiarizando com o assunto, alguns conceitos um pouco mais difíceis vão aparecendo, como é o caso do "zero cupom bond". "É um título de renda fixa que não possui cupom de juros, ou seja, que não paga juros intermediários entre o momento da aplicação e o vencimento do título", escreve o autor.


Para os profissionais de mercado há "500 Perguntas (e Respostas) Avançadas de Finanças". Como aqui o público é mais restrito, o autor coloca conceitos mais complexos ligados à área. Azevedo trata, por exemplo, de assuntos como cálculo de volatilidade, opções exóticas ou convexidade. Apesar de o livro ser voltado para as necessidade de informação dos profissionais do mercado, a preocupação com a linguagem acessível se mantém, ainda que seja difícil fugir do "economês". Um exemplo está nas estratégias de compra de uma "call" sintética. Conforme explica o autor, a compra de uma "call" sintética se traduz na compra simultânea de uma opção de venda e na compra do ativo objeto. "Essa posição combinada tem o mesmo 'pay-off' (resultado no vencimento) de uma posição comprada em uma opção de compra".


Os dois livros de Azevedo funcionam, assim, como uma espécie de glossário ampliado de alguns dos principais conceitos sobre finanças. A vantagem é que o formato de perguntas e respostas permite que o leitor faça consultas rápidas para tirar suas dúvidas e se socorra nas emergências, próprias ou da profissão.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Ofertas apelam para o lado afetivo dos pais

Valor Econômico
De São Paulo
09/10/2007


Se você tiver conta em banco e pelo menos um filho, é praticamente certo que receberá - se já não recebeu - ofertas de investimentos para crianças. Mas, apesar do entusiasmo dos pequeninos, é preciso estar atento para não se encantar apenas com uma boneca bacana ou um prêmio bonitinho. A aplicação é coisa séria e os custos e condições variam bastante.


As campanhas de marketing são agressivas, ressaltando o carinho dos pais pelas crianças para estimular a aplicação. Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira, diz, porém, que, apesar da maior vantagem em se começar o quanto antes, é preciso ter calma para avaliar o produto e o esforço dedicado ao investimento. "Já vi casais que comprometiam o orçamento doméstico para fazer aplicações para o filho."


Na previdência privada, praticamente todas as seguradoras oferecem planos para crianças e jovens. Como diferencial, o Realprev Educar, da Real Tokio Marine, oferece transporte e professores particulares caso a criança sofra algum acidente e tenha de faltar às aulas.


O Prevjovem, da Bradesco Vida e Previdência, acaba de reduzir o investimento inicial a R$ 50 por mês para atrair aplicadores mirins. A Brasilprev oferece, a cada aporte de R$ 100 no Brasilprev Júnior VGBL neste mês, um cupom para concorrer a três sorteios de R$ 700 mil em ouro. Serão 50 sorteados. O Unibanco tem contribuição mínima de R$ 40 por mês no Prever Educação, que oferece, além de seguro que banca uma renda mensal à criança, desconto em escolas de idiomas e de informática.


Fora da previdência, o antigo clube de ações Vida Feliz, da corretora Spinelli, acaba de se tornar um fundo de investimento, aberto a qualquer família. A Link também converteu o clube Link Kids em fundo, com aplicação inicial de R$ 5 mil, movimentações de de R$ 200 e taxa de administração de 2% ao ano. Também a Coinvalores Corretora tem o fundo Coinvalores Kids, com mínimo de R$ 500, movimentação de R$ 100 e taxa de administração de 0,5% ao ano.

Investidor deve ficar atento ao risco legal das operações

Valor Econômico
Bruno Cerqueira
09/10/2007




Com a última queda da taxa Selic, agora em 11,25%, os gestores de recursos e investidores independentes começam a migrar para novos ativos financeiros de renda fixa disponíveis no mercado, materializados em títulos financeiros como Cédula de Credito Bancário (CCB), Cédula de Crédito Imobiliário (CCI), Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Cédula de Produto Rural (CPR), Cédula de Produto Rural Financeira (CPR-F), Certificado de Depósito Agropecuário (CDA), Warrant Agropecuário (WA), Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).


A migração torna-se uma necessidade em virtude de o simples investimento nos títulos públicos (LFTs e LTNs) não garantir mais a alta rentabilidade do passado, sendo necessário ingressar no segmento de crédito privado para aumentar o retorno des carteiras como fundos de investimento multimercado e/ou de renda fixa, bem como o ganho das carteiras das Entidades Abertas e Fechadas de Previdência Complementar.


Os títulos acima têm regulamentações distintas (geralmente bem definidas juridicamente), que devem ser observadas pelos investidores no momento da aquisição, pois a escolha de determinados títulos pode, inclusive, garantir benefícios fiscais na operação, como é o caso da isenção de imposto de renda para investidores pessoa física quando da aplicação em LCI, CDA, WA, CPR-F, CDCA, LCA e CRA.


No entanto, como tais ativos trazem maiores retornos para seus investidores, existe, em contrapartida, maior risco no investimento, seja pelo tradicional risco de crédito do tomador quanto no aumento do risco moral, agravado pelo o risco legal existente nas operações financeiras.


O risco moral é o risco que o investidor corre no momento do desembolso dos recursos, quando o tomador pode tomar medidas em desacordo com o pactuado nos instrumentos financeiros, aumentando a possibilidade de inadimplência dos investidores.


O risco legal é o risco de perdas do investidor em virtude da formalização não adequada dos títulos financeiros ou, ainda, em decorrência da proteção do judiciário aos tomadores dos recursos, os eximindo do cumprimento de obrigações legítimas pactuadas com os investidores.


No caso brasileiro, em virtude de um Poder Judiciário de atuação lenta dentro de aspectos processuais complexos, o risco legal de operações financeiras é relevante. Ele provoca uma maior liberalidade aos tomadores para que sejam adotadas medidas contrárias ao que foi pactuado em virtude dos "benefícios" do nosso judiciário que (i) de forma geral, não tem a especialização necessária para determinadas questões empresariais; (ii) não garante previsibilidade das decisões; e (iii) ainda que decida em favor do investidor, é utilizado pelos tomadores como instrumento de prorrogação no cumprimento das obrigações em virtude da demora de uma ação judicial.


Como forma de minimizar o risco legal, ganha importância uma análise histórica do tomador e uma análise jurídica da estrutura da operação. A primeira corresponde a uma análise histórica e moral do potencial tomador, analisando o comportamento desse indivíduo durante suas operações financeiras, podendo resultar na cobrança de maiores prêmios de risco ou de maiores garantias pelos investidores. Já a segunda, corresponde a uma análise jurídica com foco semelhante aos testes de estresse praticados nos departamentos de risco de instituições financeiras, simulando potenciais condutas dos tomadores, alterando, assim, as estruturas da operação para dar maior segurança para o investidor.


A análise empírica mostra que os investidores que fazem uma análise histórica/moral do tomador, bem como uma análise jurídica da operação, conseguem minimizar o risco legal das operações financeiras, reduzindo sensivelmente o risco de inadimplência.


Ressalta-se, por fim, que o risco legal e moral não é exclusivo das operações envolvendo os títulos financeiros citados nesse artigo, existindo em qualquer título financeiro do mercado, incluindo os investimentos em títulos públicos, debêntures, commercial papers e até na caderneta de poupança. Assim, enganam-se os investidores que não investem em determinados títulos por entenderem que são fracos juridicamente, pois sob o prisma regulatório/segurança jurídica, todos os títulos do mercado financeiro apresentam regulamentações semelhantes, divergindo apenas nos riscos legais distintos em função do tomador.


Bruno Cerqueira é advogado e coordenador da área de Mercado de Capitais do escritório Buranello & Passos Advogado

Criança feliz, feliz a poupar

Valor Econômico
Por Danilo Fariello
09/10/2007


Há um ano, Carlos Paglione Bonadio Vereda começou a investir em um clube de ações. Com esse dinheiro, ele poderá bancar uma viagem ao exterior, uma faculdade ou montar o próprio negócio. Carlinhos, como é conhecido, poderá aprender também o valor real do dinheiro e se conscientizar sobre a necessidade de poupar mensalmente. Na conta dele são depositados R$ 50 todos os meses.


O mais interessante é que Carlinhos tem pouco mais de um ano. Seu pai, o economista Arthur Vereda da Silva, decidiu aplicar no clube para crianças Vida Feliz, da Corretora Spinelli, em julho do ano passado, dois meses antes de Carlinhos nascer e menos de três meses antes de tirar o CPF do filho.


O bebê Vereda não é um caso atípico. São crescentes as aplicações financeiras voltadas para o público infantil e jovem. O apetite de pais e demais parentes para aplicar, principalmente em ações, consiste na confiança em um bom resultado das aplicações no longo prazo e nas vantagens tributárias desses investimentos - principalmente em planos de previdência. Os PGBLs e VGBLs oferecem condições para que os aplicadores paguem apenas 10% de IR em aplicações acima de dez anos, prazo razoável para crianças.


Os números projetados impressionam qualquer um. Segundo simulação da Mongeral, investindo-se R$ 100 em um plano de previdência do dia do nascimento até os 18 anos, o então jovem terá uma reserva estimada de R$ 56.775,20, se considerada uma rentabilidade de 10% ao ano e debitada uma taxa de carregamento de 1,5%. O juro estimado é elevado, mas as variações estão sempre na casa das dezenas de milhares.


Além da vantagem financeira e o dinheiro no bolso para quando o filho estiver na adolescência ou juventude, alguns pais procuram aplicações para instigar as crianças a aprender noções básicas financeiras. "Quero semear algo bom para o futuro dos meus filhos", diz o empresário Luis Alberto Biroli. Ele confessa que, até o ano passado, tinha um medo "lascado" de investir, principalmente em bolsa, mas ele e sua esposa Cristina aplicaram em ações para seus filhos Ana Carolina, de 9 anos, Gabriel, 7, e Luigi, 4. "Mudei minha visão de risco para olhar principalmente para a possibilidade de ganho futuro."


A relação das crianças com o dinheiro é fundamental para o sucesso da aplicação, diz Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira. As intenções originais de se aplicar para os filhos são belas, mas os pais devem ter cuidados sobre como as crianças entendem o investimento, diz ela. Os pais podem colocar uma ênfase excessiva na aplicação ou exagerar o nível do esforço financeiro e, por fim, imputar a eles uma culpa ou uma preocupação que pode ser negativa para a criança, diz ela. "O filho tem de se sentir agradecido, mas não culpado pelo esforço dos pais." Além disso, é preciso cuidado para não ofuscar a motivação dos filhos ao trabalho, que pode ser comprometida se ele tiver todo o dinheiro necessário quando se tornar um adulto, diz Cássia. "Trabalho de pai é fazer o passarinho voar atrás de comida, e não lhe dar tudo na boca sempre."


Biroli diz que suas crianças recebem as informações do clube de ações em que investem e que faz questão de dizer a elas que têm esse dinheiro reservado. "Eles poderão gastar com a faculdade ou quando casarem", diz. Cássia comenta que é importante para os pais não sonharem com um objetivo específico para o dinheiro, como determinada faculdade, por exemplo, porque a decisão será do adulto em que a criança se tornar. "Há quem fique frustrado por poupar para uma universidade e o filho vai viver de surfe na Austrália", diz ela. "A decisão tem de ser do filho, senão será um compromisso para ambos, que não será saudável."


É sempre interessante que pais providenciem algum tipo de investimento para os filhos, mas o caráter educativo vai depender da maneira como os pais aproximam isso da criança, diz Cássia. "Há pais que exageram na aplicação, colocando mais do que deviam, e depois acabam colocando culpa na criança sobre algum mau resultado financeiro." Não há motivo para criar uma preocupação ou uma angústia que não correspondam ao ambiente sadio da criança, alerta. "O investimento não pode virar uma obsessão", diz a especialista. "Dinheiro não tem de ser colocado na frente de tudo", acrescenta.


Vereda, o pai, diz que acha importante criar o sentimento de responsabilidade financeira no filho de um ano. O economista, que também investe em ações e em previdência privada, quer mostrar a Carlinhos o valor do dinheiro e educá-lo a poupar por meio da aplicação em ações. "Mas vou até o momento em que ele ganhar consciência sobre os recursos e tiver a capacidade de tomar suas próprias decisões."

Carteiras de ações ignoram crise e superam renda fixa

Valor Econômico
Por Angelo Pavini
09/10/2007


Os fundos de privatização que aplicam em papéis da Vale do Rio Doce foram os que melhor se saíram no rescaldo da crise das hipotecas de alto risco americanas ("subprime"). Estudo feito pelo site Fortuna do dia 23 de julho, quando a crise começou, até 3 de outubro, mostra esses fundos com ganho de 26,5%, fruto da forte valorização da mineradora, que se refletiu também no Ibovespa. A seguir aparecem os fundos de privatização da Petrobras, com alta de 7,7% no período.


O estudo mostra também que os fundos de ações passaram por cima da crise, fechando o período com ganho de 3,5%, maior que as opções conservadoras como os fundos DI, que ficaram com 2,2% de ganho. Mas os DI ganharam dos fundos de renda fixa, que foram prejudicados pela forte oscilação das taxas de juros, que trouxe perdas para os papéis prefixados comprados com rendimentos mais baixos antes da crise. Os fundos de renda fixa acumularam ganho de 2,1% no período.


O que chama a atenção são os fundos multimercados, que na média apresentaram rendimento de 0,8%, o pior desempenho da lista. O motivo foi que essas carteiras foram surpreendidas pela crise, reduziram suas exposições em mercados como bolsa, dólar e juros para limitar as perdas e, com isso, acabaram perdendo o bonde da recuperação que se seguiu logo após a crise. A velocidade da recuperação foi tão rápida que a maioria dos gestores não conseguiu acompanhá-la. A esse fator soma-se a forma como a recuperação se deu no mercado de ações, concentrada em Vale e Petrobras, o que prejudicou os fundos multimercados de arbitragem (long/short), que estavam apostando na queda dos papéis mais líquidos e na alta dos papéis de segunda linha.


O investidor deve analisar, porém, o desempenho de seus multimercados separadamente, pois essas carteiras têm desempenhos bastante distintos, variando de acordo com a estratégia e o gestor.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Esqueceram de mim

Valor Econômico
Por Daniele Camba e Adriana Cotias
08/10/2007



Nas últimas semanas, a bolsa se recuperou de forma rápida e acentuada do tombo que sofreu com a crise hipotecária americana. Essa volta, no entanto, não foi homogênea e se concentrou em poucas ações de grandes companhias como Vale do Rio Doce, CSN e Usiminas. Como a percepção é de que a melhora do cenário internacional veio para ficar, há uma penca de papéis cujos preços ainda estão defasados e têm tudo para oferecer bons retornos. Até porque os fundamentos das companhias justificam tais expectativas. Entre as empresas que os analistas apontam como oportunidades esquecidas estão as dos setores voltados para o mercado interno. Bancos, consumo, varejo, imobiliário, concessões e infra-estrutura integram a lista.


"As empresas de segunda e terceira linhas ficaram muito para trás, aumentando a diferença sobre as companhias de grande porte e, passado o susto dos 'subprimes', essas ações têm um potencial de valorização maior", diz o superintendente de renda variável do Itaú, Walter Mendes. Os papéis do setor imobiliário vêm sofrendo bastante, mas as perspectivas são boas para essas companhias, com o crescimento econômico do país, queda dos juros e aumento nos prazos de financiamento. "Se acreditarmos que o Brasil irá crescer entre 4% e 5% ao ano nos próximos anos e que o juro real continuará caindo, não tem como não achar que o segmento imobiliário irá deslanchar", afirma Mendes. Mas ele lembra da importância de selecionar bem, até pela quantidade de empresas do ramo que ingressaram na bolsa de 2005 para cá. "Várias prometeram bons resultados e estão entregando."


Papéis de setores voltados ao mercado interno e que de alguma forma se beneficiam da expansão da atividade estão entre os mais indicados pelos analistas desde o fim do ano passado. Com a alta inesperada das commodities metálicas e agrícolas, essas ações foram, porém, atropeladas pelos papéis de empresas como a Vale. "Esses setores devem, enfim, se valorizar, refletindo o bom momento macroeconômico", diz o chefe de análise da empresa de informações financeiras CMA, Luiz Francisco Rogé Ferreira. Para uma carteira de curto prazo, ele recomenda Porto Seguro, Localiza, Brascan Residencial, Gafisa e Natura. "São todos papéis que dependem do Brasil, o que se mostra até como uma espécie de blindagem caso o cenário externo volte a piorar."


Alguns desses papéis têm muito o que andar se comparados ao preço alvo médio de 11 casas de análise. Pelos cálculos da CMA, com base nesse consenso, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Brascan Residencial, por exemplo, têm um potencial de valorização de 52% até o fim do ano. Já as ONs da Localiza e da Natura podem subir 38% e 34%, respectivamente, até dezembro. Rogé também recomenda os papéis preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras e da Itaúsa. O levantamento revela também os setores com os maiores retornos esperados. Entre eles estão: sucroalcooleiro, transporte aéreo, serviços, como Contax e Localiza, saúde e tecnologia.


As ações dos bancos brasileiros, juntamente com os pares estrangeiros, sofreram com o contágio da crise hipotecária americana e agora estão na lista das boas oportunidades. Além da recuperação em si, a compra do ABN Amro deve reabrir a discussão sobre a consolidação do setor. "O mercado deve voltar a especular sobre um possível negócio envolvendo o Unibanco, o que irá se refletir nos papéis", diz o gerente de renda variável da Modal Asset Management, Eduardo Roche. Ele também vê com bons olhos ações dos setores de papel e celulose, tecnologia, concessões rodoviárias e elétrico.


O leilão para a concessão de sete trechos de rodovias federais, programado para amanhã, jogou os holofotes sobre as representantes do setor na Bovespa. OHL ON é uma das indicadas pela chefe de análise do Banif Banco de Investimentos, Catarina Pedrosa. "Por ser menor do que a CCR, se levar algo, a exploração do serviço tende a ter maior peso nos seus resultados."


CCR é também uma sugestão da Concórdia, apesar de o chefe de análise da corretora, Eduardo Kondo, demonstrar pouca empolgação com a disputa. "Se ganhar algo, a CCR terá um retorno menor do que em concessões anteriores e ainda é preciso ver o preço que será pago, o desembolso de investimentos", diz. "É o aumento do tráfego nas rodovias, que já foi bom no segundo trimestre, que deve favorecer a rentabilidade da empresa, independente do leilão."


Com o governo desempacotando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), empresas da cadeia de infra-estrutura tendem a ser melhor avaliadas, pois é mais do que sabido que a expansão da atividade econômica encontra seus entraves em instalações básicas, assinala Kondo. "Especula-se que o Brasil pode ganhar o 'investment grade' (o selo de mercado não especulativo) no início de 2008, e isso vai atrair mais investimentos diretos, e sem a infra-estrutura não há como o país suportar o crescimento."


Na lista das "boas", Kondo ainda inclui Acesita PN, que tem no seu mix de produtos os aços siliciosos, usados em motores pelo setor de energia elétrica, uma das áreas beneficiadas pelo PAC.


A crise do "subprime" ainda respingou nas ações preferenciais da Gerdau, que acabaram ficando muito para trás em comparação à escalada do Ibovespa no mês passado, diz o estrategista de pessoa física da Itaú Corretora, Fábio Anderaos de Araújo. Na sua visão, o mercado puniu os papéis indevidamente, dado que as atividades da empresa nos EUA estão relacionadas a obras de infra-estrutura e não à construção civil, conforme é um dos focos no Brasil. "O padrão de construção lá é totalmente diferente do nosso, não há uso de vergalhão, alvenaria, e sim um produto de qualidade inferior, como a madeira compensada", diz. "Embora, proporcionalmente, a produção física da Gerdau seja maior no exterior, a maior parte da margem/Ebtida (sobre o retorno operacional de caixa) está no Brasil."


Mesmo sem saber qual o tamanho do buraco deixado pelo episódio das hipotecas, a redução do juro dos EUA em dose maior do que se previa deixou a sensação de que o presidente do Fed, Ben Bernanke, está disposto a acudir a economia, diz o analista da corretora do Banco Real Pedro Galdi. É por isso que ele considera que o fluxo externo continuará a fazer festa na bolsa brasileira, dando fôlego para novas altas. Otimista com as premissas para a expansão da atividade no Brasil, ele coloca AmBev PN entre suas sugestões. A melhora da renda do brasileiro, o aumento das temperaturas e a proximidade das festas de fim de ano justificam a escolha. AES Tietê, que não acompanhou a alta recente do índice, também está entre as recomendações. "É uma empresa que se beneficia do modelo de geração de energia e tem um perfil agressivo de pagamento de dividendos."

domingo, 7 de outubro de 2007

Dinheiro não é brincadeira

Folha da Tarde 07/10/2007

Compra consciente: ensine aos pequenos

Giuliana Reginatto

Pedro Talamoni de Abreu quer um presente, a mãe dele quer decorar a nova casa da família. Às vésperas do Dia das Crianças, vence o bom senso: o garoto não vai passar a data sem lembrancinha, mas terá de optar por um brinquedo baratinho. “Estamos gastando muito com a mudança e pedimos a ele que escolhesse algo na faixa de R$ 20. Ele compreendeu bem a situação, sem fazer drama”, diz Danielle Talamoni de Abreu, 28 anos.

No meio de crianças que gritam pelo shopping e se jogam no chão de todo supermercado, o gesto compreensivo do menino parece raro. Afinal, é possível limitar os gastos sem receber birras como resposta? Danielle garante que sim. Pedro tem só sete anos, mas aprendeu a gerenciar o próprio dinheiro quando ainda tinha cinco. “Na época, ele queria muito um brinquedo que custava R$ 80. Dissemos que pagaria com seu porquinho e que completaríamos o restante. Foi o que fizemos: Pedro contribuiu com R$ 35”, conta.

Mestre em psicologia pela USP, a psicoterapeuta Vera Iaconelli explica que o conflito financeiro na família pode ser motivado pela falta de coerência dos próprios pais . “O grande problema é o consumo irrefletido. Crianças não têm condições de refletir sobre isso sozinhas. E, muitas vezes, os próprios pais não servem de exemplo. A criança não consegue mensurar as variáveis envolvidas no seu pedido, mas precisa saber que a decisão de dar ou não um presente não é capricho: às vezes, os pais não aprovam o produto ou não podem comprá-lo. Quanto mais se demora para estabelecer critérios, mais difícil fica. Há pais tentando pagar a culpa que sentem com cheque”, opina.

De acordo com a especialista em educação financeira Cássia D’Aquino, o sucesso da negociação entre pais e filhos se resume à capacidade de planejamento da família. “Se o filho deseja algo que está fora do orçamento, mostre que será preciso criar um plano de poupança: é possível economizar locando menos DVDs ou reduzindo os almoços fora de casa”, sugere.

Maria Cristina Santos Schettini, 47 anos, já aprendeu que planejar as despesas da família é a única forma de satisfazer os cinco filhos. Paula, 10 anos, pediu uma boneca de R$ 290 para o Dia das Crianças, mas teve de escolher outra data para o presente. “Expliquei que agora preciso presentear os irmãos também e combinamos que a boneca ficaria para o aniversário dela, quando conto com a ajuda das vovós”, diz.

Segundo Cristina, pior que o apelo comercial de datas comemorativas como Natal e Dia das Crianças são as inúmeras promoções veiculadas pelos meios de comunicação. No embalo do troque suas tampinhas por um brinde, muitos pais sentem-se coagidos a consumir um determinado produto. “Essas promoções são um sério problema para toda mãe! Enquanto os filhos não juntam todas as embalagens que precisam, não param de pedir.”

Coordenadora do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, a advogada Isabella Henriques enfatiza que até mesmo as propagandas que parecem inofensivas podem conter elementos sedutores para os pequenos. “Às vezes, o produto nem é para consumo infantil, mas é apresentado com mascotes, efeitos especiais e outros elementos que atraem as crianças. Chegamos a uma situação-limite. Os pais já não sabem o que fazer diante disso. Penso que dizer um ‘não’ é necessário, mesmo que a família tenha condições de suprir todas as vontades do filho”, argumenta Isabella. Em 2006, ela escreveu a dissertação de mestrado A Publicidade Abusiva Dirigida para Criança.

A consultora Ivani Rossi, que pesquisa há anos o poder de persuasão da criança junto à família, acredita que a influência crescente dos filhos nas compras está diretamente relacionada à exposição exagerada aos meios de comunicação. “Os pais trabalham muito, a mulher se firmou no mercado de trabalho e os filhos têm passado cada vez mais tempo diante da TV e do computador. Em alguns casos, encher a criança de presentes tem sido uma forma que o pai achou para se redimir da falta de tempo, de afeto”, argumenta.

Para tecer suas conclusões a respeito do comportamento dos pequenos consumidores, Ivani tem feito estudos anuais sobre o tema. Em 2006, ouviu 1.500 mães com filhos entre dois e 14 anos e descobriu que 85% das crianças exerciam influência nas aquisições da família. Em 2000, o índice era de 71%.

Ivani detectou três tipos de crianças: conformadas, estrategistas e rebeldes. “O tipo estrategista predomina, manifesta-se em 58% dos casos. São crianças que negociam com os pais por meio de argumentos conhecidos, tais como: ‘Mereço ganhar! Escovo os dentes sem você mandar’. As conformadas representam 14% do total”, relata a profissional. O estilo rebelde-mirim, aquele tipo que protagoniza as principais cenas de birra que se vê em público, corresponde a 29% das crianças pesquisadas.

Para a diretora clínica do Instituto de Neurociência e Comportamento de São Paulo, Maria Cristina Dotto, o consumismo irrefletido não é provocado apenas pelo excesso de propagandas. “Muitas vezes, pedir algo é muito mais uma forma de chamar a atenção do que a manifestação de um desejo de consumo”, defende. “Há crianças que chegam a substituir as brincadeiras lúdicas pela compra. Elas recebem, sim, a influência dos comerciais, mas também são influenciadas pelos pais”, completa. Ou seja: muitas vezes, o criticado modelo consumista é inspirado em alguém que dorme no quarto ao lado.

85%
das crianças influenciam as compras da família
Este é o resultado de uma pesquisa realizada pela empresa InterScience. Participaram dela 1.500 mães com filhos entre dois e 14 anos. Em 2000, o índice verificado foi de 71%.

30 mil mensagens
publicitárias por ano são oferecidas às crianças do País pelos meios de comunicação, segundo dados do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). Ao todo, portanto, são mais de oitenta mensagens por dia.

53%
de crescimento no mercado infantil de beleza
foi o índice verificado no Brasil entre os últimos cinco anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. O País é o segundo maior mercado do mundo no setor.

R$ 50 bilhões
movimentados por ano no Brasil
é a cifra do mercado infanto-juvenil. Os investimentos publicitários em artigos infantis foram de quase R$ 210 milhões em 2006, segundo o Ibope Monitor. No mundo, a Mitel Internacional apurou que 20% das vendas do mercado de luxo se destinam aos pequenos.


LIVRO

‘Crianças do Consumo’
328 pgs., R$ 38
Susan Linn
Instituto Alana

Sucesso nos EUA, a obra ‘Crianças do Consumo - A Infância Roubada’
discute com propriedade o impacto do consumismo na formação dos valores da criança. Susan é professora de psiquiatria na Harvard Medical School (em Boston).
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