terça-feira, 22 de julho de 2008

Doutores do dinheiro

Valor Econômico
Por Danilo Fariello, de São Paulo
22/07/2008


Quando se tem um problema jurídico, consulta-se um advogado. Se doente, procura-se um médico. É seguindo esses princípios que começa a aparecer no Brasil a figura do consultor financeiro esporádico. Ele atua como um freelancer, auxiliando, por exemplo, quem acaba de receber uma herança, quem avalia uma proposta de trabalho, aquele que quer planejar a aposentadoria, melhorar sua estrutura tributária ou apenas fazer uma check-up para saber se a vida financeira está em linha com os seus objetivos pessoais para o futuro.


O consultor financeiro já é uma profissão reconhecida e respeitada entre os endinheirados brasileiros. Nos últimos anos, prosperam os private banks e "family offices", que cuidam das questões ligadas a dinheiro de famílias milionárias. Geralmente, esses escritórios cobram um percentual fixo sobre o patrimônio administrado em troca de seus préstimos.


Agora, diante da demanda por esses profissionais, alguns jovens começam a popularizar a consultoria financeira atuando de maneira mais flexível, cobrando por hora de consulta, por exemplo. Eles ainda possuem a vantagem ante outros profissionais de não ter conflitos de interesse, uma vez que são pagos apenas pelos clientes, enquanto privates banks e family offices podem ter parte da receita oriunda das entidades onde o cliente aplica. "A minha simples presença no banco com o cliente já fez com que o atendimento pelo gerente fosse diferente", diz Marcelo Junqueira Angulo, um consultor independente.


A hora cobrada por uma assessoria financeira, por enquanto, varia de R$ 300 até mais de R$ 1 mil, dependendo da experiência do consultor. Normalmente, há um contrato sobre os serviços prestados. A expectativa é de que a atividade seja cada vez mais popular, prevê Giuliano DeMarchi, diretor do Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). "E um dos caminhos para a popularização é a cobrança por hora de consulta." Os consultores autônomos reconhecem, porém, que ainda há dificuldades em cobrar pelos serviços por conta da falta de cultura da profissão no país. Por isso, o escritório de Fabiano Calil, especializado em consultoria financeira, promoverá neste mês a primeira palestra para os interessados que quiserem tirar suas dúvidas, a R$ 50,00.


A consulta financeira por hora já é mais tradicional nos EUA, onde a pioneira delas, a Sheryl Garrett, acabou montando uma empresa com consultores franqueados. Por enquanto, aqui o contato com os consultores ainda é no boca-a-boca, a partir de conhecidos de clientes ou amigos.


A maior demanda por esse tipo de consulta cobrada por hora parte, principalmente, dos mais jovens, que estão começando a estruturar a vida financeira, entendem melhor o valor da assessoria financeira e começam a pensar no longo prazo, conta Angulo. "Eu costumo indicar inicialmente livros e palestras para ele ir se inteirando do assunto", diz ele, autor do livro "Suasfinanças.com: os 101 melhores sites para cuidar do seu dinheiro e ajudá-lo a enriquecer", da editora Campus Elsevier.


Apesar da pouca idade que esses pioneiros na consulta financeira por hora têm, eles já possuem experiência comprovada no ramo. Eles possuem o Certified Financial Planner (CFP) - crédito internacional a planejadores financeiros com critérios de experiência, conhecimento e ética -, têm livros publicados, blog ou site e títulos acadêmicos na bagagem.


Ao se formar na faculdade, em 2005, Caio Fragata Torralvo, de 28 anos, trabalhava na área de gestão de recursos de um dos maiores bancos do país, mas achou que já era a hora de virar a carreira. Tirou o CFP e uniu-se ao escritório de Fabiano Calil, consultor já de maior renome, para fazer a consultoria financeira personalizada. "No consultório, as pessoas abrem a sua vida financeira e buscam uma luz de como dirigi-la", diz Torralvo, que também é pesquisador de temas ligados à psicologia econômica. Além de Torralvo, Calil tem outros consultores atendendo clientes por hora em seu escritório e pensa em expandir diante da forte demanda.


Angulo diz que atende pessoas que ainda não são milionárias, mas que querem trilhar esse caminho ou lidar melhor com questões específicas e pontuais. "Muitas querem saber como começar a se planejar, querem os caminhos para alcançar suas metas."


Ambos fazem questão de frisar que a consulta não tem relação com auto-ajuda e, por ser técnica, a pessoa que os procurar tem de estar disposta a abrir toda sua vida financeira para a assessoria valer a pena. Como os profissionais são certificados, o cliente tem mais segurança porque, se houver problema, é possível recorrer ao IBCPF, responsável pelo título CFP no Brasil. O IBCPF tem um código de ética rígido e as apurações de casos suspeitos envolvendo seus afiliados é julgada abertamente.


Como acontece em um consultório médico, na primeira fase do atendimento, os consultores financeiros fazem um diagnóstico financeiro, a partir do qual se busca entender a realidade e as metas do cliente. "Verificamos principalmente o orçamento e o patrimônio, mas também os anseios da pessoa", diz Angulo. Em seguida, é a vez de colocar a mão na massa e fazer a gestão do patrimônio, completa Torralvo que, juntamente com o professor de finanças das FEA/USP Almir Ferreira de Souza escreveu o livro "Aprenda a administrar o próprio dinheiro", da Editora Saraiva.


Mesmo que se trate de um problema esporádico, como a escolha de uma alternativa para financiamento imobiliário, Calil diz que há aqueles clientes que retornam em consultas periódicas para fazer uma espécie de check-up da evolução financeira. "Dúvidas e novas questões surgem todos os dias", explica.
Locations of visitors to this page