quarta-feira, 21 de maio de 2008

Dinheiro traz a felicidade?

Valor Econômico - 20/5/2008

O senso comum nos informa que a felicidade pode ser considerada como o objetivo último na vida de cada pessoa. O estudo da satisfação com a vida tem interesse intrínseco, bem como outras motivações, como a avaliação de políticas públicas alternativas e a solução de quebra-cabeças empíricos da economia. Em relação a este último aspecto, provavelmente o paradoxo mais intrigante a ser explicado é a correlação extremamente fraca que diversos estudos apresentam entre renda, a variável mais venerada em economia, e felicidade. Inúmeros países que experimentaram um aumento drástico na renda real desde a Segunda Guerra não observaram um aumento no bem-estar auto-avaliado pela população, pelo contrário, a mesma diminuiu. Em um dado ponto no tempo, a renda mais alta está positivamente associada à felicidade das pessoas, mas ao longo do ciclo de vida e ao longo do tempo esta correlação é fraca, como no chamado Paradoxo de Easterlin. As pessoas adaptam suas aspirações aos maiores ingressos e se tornam mais exigentes à medida que a renda sobe. Como veremos mais adiante, esta visão foi recentemente desafiada por resultados empíricos apresentados por Angus Deaton (2007). É muito cedo para escolher o lado da discussão, mas o lançamento dos novos dados do Gallup World Poll que cobrem mais de 132 países ampliou o horizonte geográfico da discussão, e o trabalho pioneiro de Deaton baseados neles embaralhou novamente as cartas de felicidade com as notas de dinheiro. Sem ainda fazer apostas em dinheiro como causa principal da felicidade, discutimos a partir dos microdados deste mesmo conjunto de informações, cujo acesso foi propiciado pelo projeto sobre Qualidade de Vida do Banco Interamericano (BID), as relações entre renda e felicidade.



A fraca e volúvel relação entre renda e felicidade nos estudos empíricos motivou pesquisadores a irem um passo adiante da posição "objetivista" da teoria econômica, baseada somente nas escolhas feitas pelos indivíduos e que podem ser observadas. Na abordagem tradicional, a utilidade individual depende apenas de bens tangíveis, serviços e lazer, e é inferida quase que exclusivamente do comportamento (ou preferência revelada). A abordagem axiomática da preferência revelada explica que as escolhas feitas fornecem toda a informação necessária a partir da utilidade dos indivíduos. De acordo com Sen (1986), "a popularidade desta visão pode ser atribuída à crença peculiar de que escolha (...) é o único aspecto humano que pode ser observado". A partir do trabalho de Easterlin (1974), cuja relevância aumenta a partir da última parte da década de 90 - quando um conjunto de economistas começou a realizar análises empíricas de larga escala sobre os determinantes da felicidade em diferentes países e períodos -, o interesse econômico na mensuração do bem-estar individual subjetivo cresceu consideravelmente.



Uma visão subjetiva de utilidade reconhece que cada pessoa tem suas próprias idéias sobre felicidade e sobre o que é uma vida boa. Nesta perspectiva, o comportamento observado seria um indicador incompleto para o bem-estar individual. A felicidade dos indivíduos poderia ser captada perguntando diretamente às pessoas o quão satisfeitas estão com suas vidas. As variáveis de interesse estão baseadas no julgamento das pessoas por elas mesmas, de acordo com a premissa de que elas são os melhores juízes sobre a qualidade geral de suas vidas e, portanto, nenhuma estratégia poderia ser mais direta do que perguntar a elas sobre seu nível de bem-estar. A principal idéia é que o conceito de felicidade subjetiva nos possibilitaria captar diretamente o bem-estar humano em vez de mensurar renda ou outras coisas que não são exatamente o que, ao fim e ao cabo, as pessoas querem, mas são os meios através dos quais se pode conseguir - ou não - usufruir da felicidade.




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A elasticidade-renda de longo prazo da felicidade geral das nações é constante: para cada 10% de incremento de renda, a felicidade sobe 1,5%
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Como as pessoas medem seu nível de bem-estar subjetivo em relação às circunstâncias pessoais e às outras pessoas, incluindo experiências passadas e expectativas futuras, alguns sugerem que medidas de bem-estar subjetivo sirvam como medidas de utilidade. Além disso, de acordo com Diener (1984) - baseado em estudos como Fernandez-Dols e Ruiz-Belda (1995), que apontam a alta correlação entre felicidade reportada e sorriso, e Honkanen Koivumaa et alli (2001), que encontram a mesma relação entre infelicidade, cérebro e atividade cardíaca - "estas mensurações subjetivas parecem conter quantidades substanciais de variação válida".



Angus Deaton (2007) desafia as interpretações mais ou menos estabelecidas da literatura empírica prévia, em particular que "dinheiro não traz felicidade" (ou seja, satisfação com a vida no longo prazo), através dos dados do Gallup World Poll, algo mais rico em número de países em relação às pesquisas anteriores. O artigo de Deaton (2007) é a referência-chave dissonante da literatura empírica.



Iniciamos pelos mesmos dados do Gallup World Poll de 2006 que está disponível para 132 países, explorando exercícios simples bivariados de satisfação com a vida em níveis e diferenças, através de diferentes horizontes, em comparação com o PIB per capita ajustado por paridade de poder de compra, a fim de compararmos laranjas com laranjas entre países. O mergulho inicial do impacto da renda mundial sobre a satisfação com a vida nos informa que Togo ocupa a lanterninha, com 3,2, numa escala de 0 a 10, e a Dinamarca o ápice, com 8,02. O Brasil está numa posição mais chegada à nação européia do que à africana, atingindo 6,64, situando-se acima da norma internacional de felicidade dado o seu PIB per capita.



Deaton trabalha basicamente com regressões de médias entre países (cross-country regressions) e sugere que uma especificação log-linear se ajusta melhor aos dados do que uma especificação em nível implicando numa relação côncava. A dupla relação em logaritmos aqui proposta parece adequar-se melhor aos dados - é inclusive mais condizente com o modelo teórico usado pelo próprio Deaton. Neste último caso, o coeficiente estimado nos informa diretamente a elasticidade-renda de longo prazo da felicidade, que seria constante: para cada 10% de incremento de renda, a felicidade subiria algo como 1,5% no longo prazo.


Marcelo Côrtes Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais do IBRE/FGV e professor da EPGE/FGV, é autor de "Retratos da Deficiência". E-mail: mcneri@fgv.br

Mesmo com a regra nova, consignado é o melhor crédito

Jornal da Tarde
21/05/2008


Para dificultar a ação de golpistas contra os aposentados, governo criou uma série de restrições ao uso desse tipo de crédito, mas, mesmo assim, ele continua a ser o mais barato do mercado. Saiba qual a melhor forma de utilizá-lo

CAROLINA DALL’OLIO,
carolina.dallolio@grupoestado.com.br

O consignado continua a ser o crédito mais barato do mercado, mesmo com a nova regulamentação para empréstimos voltados a aposentados e pensionistas. Na segunda-feira, o Ministério da Previdência Social anunciou mudanças na concessão e uso do crédito - entre elas, o valor limite de 20% da renda para empréstimos pessoais e 10% para cartão de crédito. Mas não alterou os juros baixos: que permanecem em 2,5% para empréstimo e 3,5% para cartão de crédito.

“As restrições no crédito consignado só servem para o aposentado organizar suas finanças e começar a pensar melhor no uso que vai fazer do dinheiro”, afirma Fabio Gallo Garcia, professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas e da PUC-SP. De acordo com Garcia, a melhor utilização para esse dinheiro é quitar as dívidas já contraídas. “Quem fez outro tipo de empréstimo, certamente está pagando juros mais altos que os do consignado. Então, é um bom negócio recorrer a esse crédito e liquidar as outras pendências de uma vez”, recomenda o professor.

Uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), referente ao mês de março, revela que 17% dos cidadãos utilizam o crédito consignado. Entre eles, 55% usam esse dinheiro para pagar dívidas. “Os aposentados devem sempre se livrar das prestações, pois eles precisam guardar dinheiro para custear produtos de extrema necessidade - como alimentos e remédios - que podem sofrer aumentos a qualquer hora”, aconselha Marcel Domingos Solimeo, superintendente de Economia da ACSP.

Para quem pretende adquirir algum produto mas não tem dinheiro para comprar à vista, também é recomendável pedir empréstimo pessoal consignado em vez de recorrer aos carnês das lojas. Na ponta do lápis, as vantagens são imensas.

Cálculos realizados por Miguel de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), mostram que o aposentado que comprar uma geladeira no valor de R$850 em 12 vezes com cartão de crédito convencional vai pagar, no final das contas, R$1.551,12. Mas se ele pedir um empréstimo pessoal consignado para quitar a dívida à vista na loja, poderá pagar o valor em até 60 meses para o banco e gastar R$1.650 - só R$98, 88 a mais por um prazo muito mais longo. Mas é preciso lembrar que o empréstimo é abatido direto do pagamento. Portanto, representa uma receita a menos todo mês.

COMO FICAM AS REGRAS

ANTES

Não estava claro se o consignado poderia ou não ser usado como financiamento

As parcelas do empréstimo poderiam comprometer, no máximo, 30% da renda

Desde que não ultrapassasse esse valor, o número de empréstimos era ilimitado

Os bancos podiam retardar a cobrança das parcelas e cobrar juros pelo período de carência

O crédito poderia ser tomado em qualquer região do país

O limite do cartão de crédito era de três vezes a renda mensal e podia ser sacado em dinheiro

AGORA

Agora, ficou proibido vincular o empréstimo ao pagamento de qualquer produto

A regra ainda vale. Mas o destino está especificado: 20% para
empréstimo e 10% para cartão

Cada aposentado pode adquirir, no máximo, seis empréstimos e um cartão de crédito

Para evitar que os aposentados se afundem nos juros, o governo proibiu a concessão de carência

O empréstimo só pode ser feito no Estado onde mora o aposentado

O valor baixou para equivalente a dois meses de benefício e o
saque em espécie está proibido
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