sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Divergência sobre juros cria oportunidade em taxa pré

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto e Antonio Perez, de São Paulo
26/02/2010

Março começa sob influência do mesmo cenário de incertezas característico deste início de ano. Do lado externo, problemas ainda sem solução de países endividados como a Grécia e dúvidas em relação à recuperação da economia americana reforçam as perspectivas adversas para ativos de risco como a bolsa, apesar dos resultados positivos das empresas brasileiras. No front interno, as divergências sobre o início do ciclo de aperto monetário, especialmente depois da elevação dos compulsórios pelo Banco Central (BC), abrem oportunidades de investimento em títulos prefixados de longo prazo.

O ambiente requer cautela, não é para tomada de risco, avalia o gestor da Fram Capital Luciano Sobral. Segundo ele, vai ser mais negócio para o investidor buscar a preservação do capital ou ganhos próximos da renda fixa do que tentar ser herói investindo em ações. "A bolsa está cara, dificilmente ela vai cobrir o que paga um título prefixado de mais longo prazo e ainda oferecer prêmio pelo risco", diz.

É preciso uma boa dose de convicção para investir em ações, reforça Sobral. "O Brasil não é uma ilha, o mundo está excessivamente endividado e os problemas que desencadearam a crise ainda não foram resolvidos." Entre as oportunidades no segmento de juros, o gestor cita a NTN-F, papel prefixado, com vencimento em janeiro de 2017, que paga cerca de 12,80% ao ano.

Ficar no pós-fixado também pode fazer sentido, acredita. A taxa Selic está em 8,75% ao ano e, pelas projeções de Sobral, deve começar a subir já em março, até atingir 11,75%. Na avaliação do gestor, ao elevar o compulsório, o BC está apenas retirando o estímulo concedido durante a crise. "O BC tem todo o incentivo para puxar o juro o quanto antes, até para antecipar os efeitos do aperto numa economia que está forte." Segundo ele, é pouco provável o BC mexer no juro próximo do período de eleições.

O aperto monetário via elevação do compulsório, conforme destaca o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello, não afasta a necessidade de alta do juro em abril ou até em março por conta da atividade forte. Para o investidor que tiver sangue frio, segundo Mello, a hora é oportuna para montar posições em títulos prefixados com vencimentos longos, acima de 2012.

"O quanto antes o Banco Central subir o juro, mais espaço o investidor vai ter para capturar prêmios nos juros futuros de longo prazo", diz. Isso porque, ao agir com rapidez, a autoridade monetária sinaliza que a dose de aperto pode ser menor e mais curta, derrubando as projeções para os juros mais longos. É nesse momento que o investidor pode ganhar. Mello ressalta, no entanto, que esse tipo de alocação traz volatilidade para a carteira do investidor, dada a incerteza de como esse aperto vai acontecer. "Mas com paciência, no médio e longo prazo o retorno tende a ser satisfatório."

Nicholas Barbarisi, sócio da Hera Investimentos, prefere os papéis públicos atrelados à inflação aos prefixados. Esses títulos têm taxas bem competitivas e trazem segurança ao investidor em momento de indefinição sobre a condução da política monetária, afirma.

Para a bolsa, ele acredita que o próximo mês deve ser melhor que fevereiro. "Março deve trazer diminuição gradual da volatilidade", diz. Ele avalia que os bons resultados das empresas brasileiras e a perspectiva de crescimento dos lucros este ano devem sobrepujar as incertezas no front externo. O investidor deve aproveitar eventuais chacoalhões da bolsa em março para reforçar as apostas em ações.

Em fevereiro, até ontem, a bolsa liderava o ranking de rentabilidade das aplicações, com retorno de 1,10%. Mas, tirando alguns fundos de ações, nenhuma aplicação superava a inflação no mês, medida pelo IGP-M, de 1,18%. A variação do CDI projetada é de 0,59%. No acumulado do ano, o Ibovespa amargava perda de 3,60%, enquanto o CDI era de 1,25%.

Barbarisi recomenda aos investidores que mantenham mais de 50% das aplicações em renda variável. Ele vê boas oportunidades em construção civil, siderurgia e consumo. "Os bancos também são atrativos, já que devem se beneficiar da expansão do crédito", diz o sócio da Hera, ressaltando que o aumento de compulsório e o aperto monetário esperado para este ano não vão abalar o crescimento do mercado interno.

Para Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management, a cautela deve guiar o comportamento do investidor em março. Embora mantenha a perspectiva de Ibovespa ao redor de 80 mil pontos no fim do ano, o gestor vê alta volatilidade no curto prazo, com o índices oscilando entre 62 mil pontos e 69 mil no curto prazo.

A bolsa só vai a andar quando houver um desenlace para a questão fiscal dos países europeus, dissipando, diz Casotti. "O mercado também deve oscilar bastante com base nos indicadores dos EUA."

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mais tempo, mais retorno

Valor Econômico

25/02/2010

Por Alessandra Bellotto, de São Paulo

Uma nova modalidade de Certificado de Depósito Bancário (CDB) vem ganhando espaço no universo dos investimentos de renda fixa. Trata-se do CDB escalonado, caracterizado pelo aumento progressivo da taxa de retorno quanto maior o prazo da aplicação. No ano passado, o estoque desses CDBs no mercado de balcão Cetip saltou de R$ 2,5 milhões em janeiro para R$ 2,1 bilhões em dezembro. As emissões somaram R$ 3,3 bilhões. Neste ano, o crescimento continua: ontem, o estoque já se aproximava dos R$ 2,8 bilhões.

Os CDBs escalonados começaram a ser oferecidos em meio à turbulência de 2008, quando os bancos precisavam de dinheiro para fazer frente à forte demanda por crédito. "Como o CDB é a opção que mais dá para "funding" para bancos, a crise aguçou a criatividade", conta o diretor de investimentos do Bradesco, Marcos Villanova. No banco, o escalonado, batizado de CDB Fidelidade, foi lançado em outubro daquele ano.

Contando os CDBs em geral, só em 2008, os bancos conseguiram captar R$ 234 bilhões, elevando o estoque de papéis de R$ 273 bilhões para R$ 518,5 bilhões. Em 2009, o saldo das aplicações em CDBs ficou negativo em cerca de R$ 7 bilhões - os escalonados, ao contrário, cresceram com força.

A modalidade ainda representa parcela pequena do mercado total de CDBs, cujo saldo gira em torno de R$ 511 bilhões, segundo levantamento do Valor Data. Contudo, com os bancos de caixa cheio e sem interesse para captar, o CDB escalonado tornou-se uma alternativa para o investidor, especialmente pessoa física, conseguir uma rentabilidade melhor. O ambiente de juro baixo também estimulou a procura pela aplicação, já que ela paga taxas progressivas.

No CDB tradicional, que pode ser pós-fixado - em geral atrelado ao CDI - ou prefixado, a taxa é acertada na entrada. Os prazos de emissão variam de acordo com o banco, de 30 dias até quatro anos.

O papel atrelado ao CDI tem liquidez diária, ou seja, pode ser resgatado antes do prazo com o rendimento - ou seja, o percentual do referencial - definido no início da aplicação. No caso do prefixado, em geral, não há liquidez diária. Para sair antes do vencimento, o investidor tem de negociar com o banco, podendo haver impacto no rendimento. Isso porque a referência será a taxa do mercado naquele momento.

No escalonado, que é pós-fixado, são definidas diferentes taxas (ou seja, percentuais do CDI) para prazos diversos. Quanto mais o investidor permanecer no papel, maior vai ser a sua remuneração. Segundo Villanova, a vantagem do CDB em relação a alternativas como o fundo de investimento é que, se o investidor precisar sair antes do prazo, vai saber exatamente o percentual do CDI a receber. E, se ficar até o vencimento, o retorno vai ser melhor do que no CDB tradicional. "É uma forma de compensar o cliente que ficar mais tempo na casa", afirma o diretor de tesouraria institucional do Itaú BBA, Luiz Marcelo Moraes.

O CDB escalonado significa o alongamento do prazo médio de captação dos bancos, já que o investidor vai pensar duas vezes antes de resgatar, avalia Jorge Sant"Anna, diretor superintendente da Cetip. Moraes, do Itaú, conta que essa foi a alternativa encontrada pelas instituições para perenizar a fonte de recursos. Segundo o executivo, em 2009, passada a pior fase da crise, muita gente resgatou CDB para trocar de carro, geladeira por conta da redução do IPI. Nessas horas, os tradicionais tendem a sofrer mais que os escalonados.

Só que o escalonado não é para todo mundo. Segundo Moraes, a demanda maior é da pessoa física, já que a empresa tem fluxo de caixa mais curto e, dificilmente, consegue alongar sua aplicação. "O escalonado não vai arrebentar como o tradicional na crise, mas veio para ficar." À medida que o país se consolida como estável, o investidor passa a confiar em deixar o dinheiro aplicado por mais tempo, argumenta. E o CDB, diz Moraes, é uma aplicação simples, que atrai o investidor de varejo.

No Bradesco, a procura pela modalidade foi muito grande no ano passado. Segundo Villanova, uma das explicações é justamente a nova percepção do investidor de que pode ter benefício se alongar suas aplicações. O escalonado foi também a maneira encontrada pelo investidor para compensar a queda nas taxas pagas pelos CDBs tradicionais. "O cliente optou por essa modalidade para melhorar a rentabilidade."

As taxas, ressalta Villanova, caíram para todos os CDBs independentemente da versão, mas o escalonado traz a possibilidade de o investidor ter um retorno maior lá na frente. No Bradesco, o cliente que tem de R$ 1 mil a R$ 49 mil vai encontrar uma taxa que começa em 83% do CDI para os primeiros 180 dias, sobe para 90% no intervalo de 181 a 360 dias, 95% entre 361 e 720 dias e, por fim, para 99% no período de 721 a 1080 dias, ou cerca de três anos. A remuneração pode até ser maior, dependendo do relacionamento do cliente com o banco. No meio da crise, segundo o executivo, o Bradesco chegou a pagar, em média, 5 pontos percentuais a mais do que hoje.

No Santander, a taxa do CDB Recompensa, como é conhecida a modalidade, chega a 100% do CDI para dois anos e um tíquete mínimo de R$ 30 mil - no ano passado, o papel pagava até 102% para volumes acima de R$ 50 mil. "Essa é uma boa opção para quem gosta de renda fixa e pode separar um dinheiro para deixar aplicado por dois anos", diz a superintendente de investimentos Sinara Figueiredo. No escalonado, além de melhorar o retorno, o investidor é beneficiado com a queda da alíquota de imposto de renda para 15% após dois anos. "Se ele pensar no curto prazo, vai ganhar menos."

Para valores menores, a partir de R$ 5 mil, o banco oferece o CDB Recompensa Fácil. Nesse caso, o investidor tem como ganhar 100% do CDI, mas desde que fique por três anos. Sinara afirma que, no tradicional, a taxa atual gira em torno de 90% do CDI para aplicações entre R$ 25 mil e R$ 30 mil. A carteira de CDBs escalonados no banco - que inclui uma parte que não é registrada na Cetip - já atinge R$ 2 bilhões.

Tanto no Bradesco como no Santander, se o investidor permanecer até o vencimento, a taxa do último período é retroativa a toda a aplicação, o que não acontece no Itaú. "Não temos esse desenho por enquanto, vamos lançá-lo em breve", diz Moraes. Ele não detalhou as condições da aplicação no Itaú.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Clubes em revisão

Valor Econômico

Por Luciana Monteiro e Alessandra Bellotto, de São Paulo
24/02/2010

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quer mais transparência e maior regulação para os clubes de investimento, oferecidos pelas corretoras de valores. O órgão regulador colocou ontem em audiência pública uma minuta de instrução para revisar a legislação dessas aplicações. Entre as principais novidades estão a redução no número máximo de investidores, a obrigatoriedade da realização de assembleias de cotistas e a adoção de limites de exposição a derivativos e alavancagem.

A regra atual é de 1984 e, na avaliação da CVM, está muito defasada para um mercado que cresceu exponencialmente. Em 2000, havia 379 clubes com patrimônio de R$ 1,3 bilhão. Já em dezembro do ano passado, eram quase 3 mil clubes registrados na BM&FBovespa, que reuniam mais de 140 mil investidores e R$ 14,1 bilhões em ativos sob gestão. O total em clubes equivale a 8,2% dos R$ 170,946 bilhões presentes em fundos de ações.

Inicialmente concebidos para incentivar a participação de pequenos investidores reunidos em grupos no mercado de ações, o conceito dos clubes acabou se desvirtuando nos últimos tempos. Algumas corretoras passaram a usar a estrutura para oferecer carteiras abertas a qualquer aplicador, uma forma de oferecer fundos de investimento travestidos de clubes, o que chamou a atenção do órgão regulador.

A atual minuta não impede que isso aconteça, mas deixa a vida dos que tentarem fazer isso bem mais difícil. "Os clubes, que deveriam promover um maior envolvimento dos investidores, acabaram permitindo que eles assumissem uma posição passiva", diz Otávio Yazbek, diretor da CVM. Segundo ele, a preocupação é a de que os clubes estejam servindo para o que ele chama de "arbitragem regulatória". Como nos clubes o rigor é menor, a estrutura é mais simples e menos custosa e sujeita a menores controles que a dos fundos de investimento, muitos potenciais fundos poderiam estar sendo constituídos como clubes. Segundo Yazbek, atualmente há cerca de 60 reclamações de investidores em clubes em análise na CVM.

A primeira mudança proposta está no número de cotistas. A minuta propõe que os clubes passem a ter no mínimo 3 e no máximo 50 cotistas. Hoje, eles podem ter até 150, com possibilidade de aumento em alguns casos. "A CVM entende que esse limite permite a criação de clubes completamente dissociados das finalidades desses veículos, facilitando a arbitragem regulatória e distanciando os cotistas", diz o edital da audiência pública. Na visão da autarquia, a redução no total de cotistas não traria uma grande transformação no setor, já que 90% dos clubes hoje têm menos de 50 cotistas.

De acordo com a proposta, os clubes já existentes poderiam manter o limite antigo de cotistas, mas não receberiam mais investidores. Para as outras regras, por sua vez, o prazo para os clubes se adaptarem será de 120 dias a partir da aprovação pela CVM.

A minuta sugere ainda a proibição de publicidade de clubes. A propaganda institucional, do tipo "invista em clubes de investimento", seria permitida, mas não a de uma carteira específica. Com essa medida, o órgão regulador quer evitar que essas aplicações sejam vendidas como fundos e que os investidores sejam seduzidos por esquemas irregulares de investimento com promessas de rentabilidades "mágicas", diz Yazbek. Recentemente, a CVM aplicou multas de R$ 1,5 milhão à Agente BR Sociedade Corretora de Câmbio e de R$ 1,5 milhão ao diretor responsável Túlio Vinícius Vertullo, por administração irregular de carteiras, formação irregular de clube de investimentos e uso irregular de assinaturas e carimbos da autarquia.

Outra distorção está em clubes que, apesar de aplicarem majoritariamente em ações, cobram taxa de performance sobre um referencial ligado à renda fixa ou mesmo sobre o retorno que exceder a caderneta de poupança. "Pela nova regra, isso não poderia mais acontecer, deixando os clubes mais parecidos com as regras existentes para os fundos", diz Yazbek.

Também é novidade a obrigatoriedade da realização de pelo menos uma assembleia anual de investidores. A fim de evitar custos para as corretoras, entretanto, a sugestão é de que o encontro de cotistas possa ocorrer de forma eletrônica. "Isso estimula a participação dos investidores, valorizando as discussões", avalia o diretor da CVM.

A minuta propõe também o fim da figura obrigatória do representante dos cotistas. Quem quiser mantê-lo, tudo bem, só não haveria mais a obrigação de haver esse representante, que serve como interlocutor entre a corretora e os investidores. "Hoje os cotistas são mais próximos mesmo das corretoras e muitas vezes há um jogo de empurra-empurra entre essas duas figuras quando existe algum problema", afirma Yazbek. Outra proposta é a obrigatoriedade da criação de um serviço de atendimento ao cotista, que poderá estar ligado à estrutura de ouvidoria da corretora.

A nova regra sugere ainda que a corretora estabeleça limites de alavancagem para os clubes. Além disso, adote procedimentos mínimos de administração de riscos no caso das operações com derivativos. Hoje, os clubes já são autorizados a operar derivativos, como os mercados futuros e de opções, mas somente de índice e de ações. "Essa é uma regra que precisa ser modernizada", diz Yazbek, citando como exemplo um clube que tenha uma forte exposição no papel de uma empresa exportadora e que, portanto, poderia fazer um hedge cambial. "É preciso, no entanto, pensar também nos riscos, por isso a ideia de limitar a alavancagem." Pela minuta, os clubes limitariam a sua alavancagem e exposição em derivativos de modo que, em caso de prejuízo, as perdas não sejam superiores ao patrimônio.

A auditoria das demonstrações financeiras dos clubes continuaria facultativa, mas os clubes que não tenham suas demonstrações auditadas devem dar ciência de tal fato aos cotistas.

Será proibida ainda a gestão do clube por um agente autônomo, mesmo que ele seja cotista. Além disso, em caso de gestão por cotistas, não seria permitido que ele tenha mais de um clube sob a sua responsabilidade e que ele recebera qualquer espécie de remuneração ou benefício. Se houver prejuízos aos cotistas, haverá a "chamada responsabilidade solidária" entre administrador e gestor.

Outra proposta para evitar possíveis conflitos de interesse da corretora e dos investidores é a de que os clubes não poderiam adquirir papéis de emissão do administrador ou do gestor. Estaria vedada também a compra de cotas de fundos administrados ou geridos pela instituição. A administradora terá de enviar à CVM até o 15 dia de cada mês relatório consolidado.

Responsável pelo registro dos clubes e fiscalização, em conjunto com a CVM, a bolsa trabalha num código de autorregulação para o setor. Em comunicado, a BM&FBovespa diz que vê de forma muito positiva a revisão das regras para os clubes. "Trata-se de uma oportunidade de modernização e aperfeiçoamento das regras, visando a atender as necessidades de evolução do mercado", diz. Segundo a nota, a bolsa vai analisar a minuta e contribuir com sugestões. "Como autorreguladora do mercado, a bolsa também está trabalhando em nova regulamentação para os clubes, que será concluída e divulgada após a publicação da nova instrução da CVM."

A minuta ficará em audiência pública para receber sugestões até dia 23 de abril.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A ilusão do preço

Valor Econômico

23/02/2010

Por Luciana Monteiro, de São Paulo

Responda rápido: qual ação está mais barata - a de uma empresa negociada a R$ 0,10 ou a de uma outra, cotada a R$ 100,00? A resposta instintiva da maioria das pessoas é que é a de R$ 0,10. Mas, no mercado, o conceito de caro ou barato é bem diferente: papéis com preço alto podem estar mais baratos que os que custam alguns centavos.

É claro que a decisão de investimento não é tão simples assim e vai muito além puramente do preço do papel. Há, no entanto, um mito no mercado financeiro de que as ações negociadas por um valor menor possuem retorno superior ao das mais caras. Mas será que isso é verdade?

Papéis com preço menor causariam a ilusão no investidor de que eles estão baratos e, portanto, essas ações acabam sendo mais negociadas e se valorizam, defendem alguns estudiosos.

Muitos especialistas acham que isso não tem fundamento, mas os números mostram que não é bem assim. Levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (GV-CEF) revela que uma carteira com papéis de menor cotação tem retorno médio maior que uma formada com ações com tíquete mais elevado.

O estudo foi realizado pelos professores William Eid Júnior e Ricardo Rochman, juntamente com o mestrando em economia Dárcio Lazzarini. Foram montadas três carteiras: a baixa, composta por ações com preços inferiores a R$ 10,00; a média, com valores entre R$ 10,00 e R$ 20,00; e a alta, acima de R$ 20,00.

O desempenho dos portfólios foi analisado no período de 3 de janeiro de 2005 a 30 de junho de 2009. Sempre que a carteira completava seis meses, ela era revista. Dessa forma, todo dia 1º de janeiro e de julho, a carteira mudava de composição. O estudo levou em conta as ações mais líquidas da Bovespa no período, chegando a 41 empresas.

Após a montagem dos portfólios, os pesquisadores calcularam o retorno médio das carteiras, a variância (volatilidade) de cada carteira no período todo e em alguns intervalos. Além disso, os pesquisadores analisaram o Índice de Sharpe, um dos indicadores utilizados na mensuração do retorno em relação ao risco. Ou seja, o Sharpe mostra se a rentabilidade obtida está compatível com o nível de risco ao qual o investidor está exposto. Quanto maior o Sharpe, melhor.

Ao avaliar os retornos médios das três carteiras, os pesquisadores perceberam que a baixa teve o maior ganho no período, seguido pelo dos portfólios médio e alto. O desempenho da carteira baixa foi 197,85% maior que o da média. "Isso significa que montar uma carteira com ações baratas é uma boa estratégia se o investidor quer somente maximizar o retorno", afirma Eid, que é coordenador do GV CEF.

Coincidência ou não, dos 20 papéis negociados na BM&FBovespa que mais subiam nos 12 meses encerrados dia 18, 17 deles têm cotação abaixo de R$ 10,00. Nesse conjunto, entretanto, há muitas ações que estavam praticamente esquecidas até pouco tempo atrás, têm baixíssima liquidez e uma situação financeira para lá de complicada - casos de Agrenco e Laep, por exemplo.

Muitos desses papéis são usados por alguns investidos puramente para especulação. Portanto, nada de sair comprando qualquer papel no mercado somente porque o valor é baixo. No lugar de fortuna, o investidor pode é acabar com o mico na mão. Foi para evitar isso que o estudo da FGV levou em conta só as ações mais líquidas.

Um fator importantíssimo é a oscilação do papel. É preciso ver se os retornos maiores das ações com preço mais baixo não vieram acompanhados de uma volatilidade mais alta. "E isso não seria interessante para o investidor porque, para obter um retorno maior, ele estaria tomando risco demais no mercado de capitais", diz Eid.

Para a surpresa dos pesquisadores, a variância mais acentuada foi apresentada pela carteira média, e não pela baixa como era de se esperar. O portfólio médio apresentou um nível de volatilidade 2,6% maior que o da carteira baixa e 18,37% maior que o da alta.

Já a carteira composta por papéis com preços menores registrou volatilidade superior à da carteira alta. "Isso pode ser explicado pelo fato de as ações com valores menores que R$ 20,00 serem em grande parte "small caps"", ressalta Eid, lembrando que as ações de menor liquidez normalmente apresentam picos de negociação. "Geralmente, esses picos ocorrem quando os controladores da empresa negociam ações entre eles mesmos." O objetivo é atualizar e elevar o valor de mercado da empresa.

Por fim, para saber se é financeiramente melhor para o investidor tomar um pouco mais de risco nas carteiras com ações com cotações menores em prol de um maior retorno, os estudiosos analisaram o Índice de Sharpe dos três portfólios. O resultado mostrou que o Sharpe da primeira carteira, a baixa, é o maior de todos, sendo 49,26% maior que o índice da segunda (com preços médios) e 190,78% maior que o da terceira (valores mais altos).

Segundo Eid, isso mostra que um investidor que montou sua carteira em janeiro de 2005, usando um critério de seleção de ações com preço inferior a R$ 10,00, recompondo-a todo começo de semestre, obteve um retorno maior, dado um determinado risco, do que aqueles que montaram suas carteiras com ações com tíquete maior.

Interessante notar que o retorno da carteira baixa foi superior ao das demais até o primeiro semestre de 2008. Depois disso, o desempenho ficou acima do da média, mas abaixo do registrado pelo portfólio composto por ações com preços mais altos. Quando se olha o segundo semestre de 2008, o retorno da carteira média continuou pior, seguido pela baixa e depois a alta. Já no primeiro semestre de 2009, o retorno da carteira média foi o maior de todos, seguido pela alta e, depois, pela baixa.

O fato pode ser explicado pela crise do "subprime" (hipotecas de alto risco), avalia o professor da FGV. "Durante uma crise, as empresas maiores, mais consolidadas e estruturadas, sofrem menos, e essas estão em grande parte nas carteiras com papéis mais caros", diz Eid. "O contrário acontece com a carteira baixa que conta com algumas "small caps", que são mais sensíveis às crises financeiras", conclui.

Após a avaliação de todas essas variáveis, os pesquisadores concluíram que uma carteira de ações formada por papéis com tíquete mais baixo tem um retorno médio maior que uma composta por ações com cotações mais elevadas.

Contudo, em períodos de crise, as carteiras "mais caras" têm uma performance maior. "A melhor estratégia é manter uma carteira com papéis baratos até uma próxima crise e mudar de estratégia para uma carteira mais cara quando a crise chegar", diz Eid.

A questão é sempre como identificar essas mudanças no mercado. O risco é o investidor errar o pé, e vender um papel com potencial e comprar outro que será afetado pela crise, alerta um consultor. Prevalece, portanto, a análise além do preço.

Telebrás vira mania com governo tagarela

Valor Econômico

23/02/2010

Daniele Camba

O cenário é um restaurante francês em São Paulo, no sábado à noite. Na mesa ao lado um homem explica com alguma desenvoltura para um casal mais velho sobre o mercado de ações, no qual ele investe. Num determinado momento, eis que o rapaz conta que vendeu ações da Petrobras e da Vale para comprar os papéis da Telebrás. Ele explica que a Telebrás, que hoje é praticamente uma empresa sem função, está em vias de se tornar uma operadora de banda larga para as classes mais baixas. Isso pode parecer ficção, mas é uma situação real, com esse diálogo entreouvido por esta colunista. O fato é apenas uma pequena amostra de como, do dia para a noite, as pessoas físicas passaram a se interessar pela Telebrás.

As ações tiveram enorme valorização e aumento no volume de negócios nos últimos meses, após afirmações de fontes do governo de que a companhia fará parte do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O último foi o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva a confirmar, na quinta-feira passada, a intenção do governo de colocar a companhia dentro desse projeto. Só neste ano, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da empresa já subiram 249,33% ante uma queda de 2,05% do Índice Bovespa. Ontem, as PN se valorizaram 5,65%.

Era de se esperar que um desempenho dessa magnitude coçasse a mão do pequeno investidor. A grande preocupação é que essas pessoas estão se desfazendo de papéis de alta liquidez, de empresas com sólidos fundamentos, para comprar ações de uma companhia cuja sua ressurreição ainda não passa de uma promessa do governo.

 

 

Para o economista-chefe da Way Investimentos e diretor do curso de relações internacionais da ESPM-RJ, Alexandre Espírito Santo, para decidir se compra ou não um papel, em vez de qualquer dica de amigo, o investidor precisa olhar os fundamentos concretos da empresa. "E a Telebrás, por enquanto, não possui fundamentos que justifiquem a valorização", diz o professor. Outro sinal de movimento infundado é que, pelas suas contas, a Telebrás está valendo 85% da Net.

Vale lembrar que quem comprou as ações da estatal quando elas valiam poucos centavos foram os grandes ganhadores e que quem comprar agora provavelmente vai adquirir um papel caro. "Quando a ação estava uma bagatela até poderia valer a pena o risco, agora a conversa já é bem diferente", completa o professor.

Petrobras patinando nos R$ 34

Desde maio do ano passado, as ações preferenciais da Petrobras patinam na casa dos R$ 34. Ontem, por exemplo, elas fecharam aos R$ 34,65, uma alta de 0,87% ante uma queda de 0,61% do Ibovespa, aos 67.184 pontos. O grande motivo dessa estagnação são as dúvidas sobre a capitalização da empresa. O banco HSBC, no entanto, aumentou a recomendação dos papéis para "overweight" (acima da média do mercado) e o preço-alvo de R$ 38 para R$ 44, um potencial de valorização de 26,98% ante o fechamento de ontem do papel. Segundo o banco, as ações não refletem o expressivo progresso na exploração do pré-sal e o aumento de 109% nas reservas de petróleo e gás no ano passado.

Daniele Camba é repórter de Investimentos

Pagar em prazos longos pode encurtar suas vantagens

Jornal da Tarde

23/02/2010

Carolina Dall'Olio

A economia feita na compra de pacotes turísticos promocionais pode ser anulada caso o interessado decida efetuar o pagamento em prazos muito longos. Hoje é possível parcelar a compra da viagem em até 60 meses, seja por meio de um consórcio ou por financiamento bancário. Mas quem tomar o crédito vai notar que tanto os juros dos financiamentos de passagens aéreas como as taxas de administração dos consórcios estão em alta.
Até fevereiro de 2009, quem aderia a um consórcio para compra de passagens aéreas arcava com uma taxa de administração de 5% ao ano e levava até 38 meses para pagar. Neste mês, segundo dados do Banco Central, a taxa média estava em 18,14%.

O aumento é explicado, em parte, pela nova legislação dos consórcios, que está em vigor há um ano. Se antes a compra de passagens aéreas era feita por um modelo de consórcio especificamente voltado a este fim, agora ela está incluída na modalidade de consórcio de serviços - que tem taxas de administração mais altas que o dos demais consórcios.

"Quem optar por um consórcio em 60 meses, por exemplo, verá que ao fim do prazo terá pago o equivalente a duas viagens, mas só terá passeado uma vez", avisa Bolivar Godinho, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA). O mesmo alerta é válido para quem financiar a compra das passagens pelo banco ou pela companhia aérea.

Azul, Gol e TAM têm parcerias com bancos para vender bilhetes em até cinco anos. Os clientes do Banco do Brasil que forem viajar pela Azul são os que contam com o maior prazo: 60 meses. Mas os juros variam de 1,99% a 3% ao mês. Clientes Itaú Unibanco podem pagar a passagem aérea em até 48 vezes, para voos de Azul e TAM. O banco, entretanto, não divulga os juros. Na Gol, não é preciso ter conta em banco para conseguir parcelar a compra em até 36 vezes. Em contrapartida, os juros chegam a 5,99% ao mês.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Oportunidade para ganhos

Correio Brasiliense

21/02/2010

Trabalhador com conta vinculada do FGTS deve ficar atento às regras que autorizarão investimentos do dinheiro depositado no fundo

  • Vânia Cristino

    Os trabalhadores que quiserem correr risco de mercado e, com isso, ter a opção de um melhor rendimento em parte do dinheiro que possuem na conta vinculada do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) devem ficar atentos. Em breve, a Caixa Econômica Federal soltará as normas que permitirão o uso de até 30% do saldo da conta vinculada na aquisição de cotas do Fundo de Investimento FI-FGTS. Para que o processo de adesão comece, o banco só espera que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dite as regras básicas do investimento. O Conselho Curador do fundo já aprovou a compra de cotas do FI-FGTS pelos trabalhadores ao fixar, para a primeira oferta, um limite global de R$ 2 bilhões. Para que a operação possa ser feita, a Caixa constituirá um fundo de investimento em cotas do FGTS.
    De acordo com a resolução do Conselho Curador, caso a procura seja maior do que a oferta, será feito um rateio proporcional dos valores de intenção de compra, de tal forma que todo trabalhador interessado possa ter acesso a esse tipo de aplicação. Embora o brasileiro tenha na memória o excelente investimento que fez no passado ao adquirir, com o Fundo de Garantia, ações da Petrobras e da Vale, os técnicos da Caixa chamam a atenção para o fato de que o novo investimento não possa ser comparado com o passado. “A Vale e a Petrobras são empresas top de linha e os trabalhadores tiveram incentivos para adquirir as ações. O FI-FGTS aplica em projetos estratégicos, de longa maturação. O rendimento pode compensar, mas vai ser bem menor”, explicou um técnico.
    Restrições
    A Caixa alerta que, ao decidir pela aplicação no FI-FGTS, os trabalhadores perdem a garantia do governo para rendimento creditado nas contas do fundo, equivalente à TR (Taxa Referencial de Juros) mais 3% ao ano. Uma vez feita a opção, é bom também ter em mente que o dinheiro não retornará à conta vinculada do FGTS e que a nova aplicação exigirá um ano de carência. O saque dos recursos aplicados, mesmo após esse período, só poderá ocorrer nas situações previstas na lei do FGTS, como a demissão sem justa causa, doença grave e aposentadoria. Por conta dessas restrições e, principalmente, pelo fato de que a maioria das contas do FGTS possuir saldo baixo, os técnicos da Caixa acreditam que apenas os trabalhadores de maior renda e estabilidade no emprego optarão por adquirir cotas do FI-FGTS.
    Pelos dados do fundo, mais de 60% das 78,6 milhões de contas ativas do Fundo de Garantia possuem saldo de até R$ 121. Outras 19,6% possuem saldo médio de R$ 989. No total, cerca de 85% das contas vinculadas do FGTS possuem saldo entre 4 e 6 salários mínimos (na média R$ 2.282). Apenas 0,5% do total possui saldo acima de 100 salários mínimos. Em média, os titulares dessas contas têm R$ 87.557 depositados. São esses trabalhadores, de acordo com a Caixa, que terão mais apetite pelo risco.

    O número
    R$ 121
    Valor máximo de mais de 60% das contas ativas do FGTS. Ao todo, elas somam 78,6 milhões. Apenas 0,5% delas possuem saldo acima de 100 salários mínimos
    Repasse de pai para filho em risco
    Se depender do governo, o projeto que permite que os pais usem o saldo da sua conta vinculada do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para ajudar os filhos a adquirirem a casa própria não vai vingar. Aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal, a proposta do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) ainda precisa passar pela Comissão de Assuntos Sociais antes de seguir para o plenário da Casa e, de lá, iniciar a tramitação na Câmara dos Deputados. Os técnicos do governo pretendem barrar a tramitação da proposição antes que ela chegue ao plenário. O argumento é de que o FGTS já disponibiliza grande parte de seus recursos para a casa própria, seja mediante mecanismos próprios ou facultando o uso da conta vinculada pelo trabalhador.
    Pela proposta aprovada na CCJ, os recursos da conta de FGTS dos pais poderão ser utilizados para pagamento de parte das prestações do empréstimo habitacional contraído dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Os depósitos da conta vinculada do fundo também poderão ser utilizados para a liquidação ou amortização do saldo devedor do financiamento imobiliário contratado pelo filho ou para o pagamento total ou parcial do imóvel construído. O projeto inclui também a compra de lote urbanizado de interesse social.
    Normas
    Para ter direito ao uso do FGTS dos pais, o filho do titular da conta vinculada do Fundo de Garantia não poderá ser proprietário nem estar em processo de compra de um imóvel. Ele também deverá ser maior de 21 anos, estar casado ou em união estável. Atualmente, de acordo com a Lei nº 8.036, o FGTS só pode ser utilizado pelo titular da conta. O saque dos recursos só acontece por demissão sem justa causa, aposentadoria ou doença grave, como o câncer, por exemplo. O uso para a casa própria é permitido desde que o titular da conta não possua outro imóvel.
    No orçamento aprovado pelo Conselho Curador do FGTS para este ano, estão previstos R$ 18 bilhões para habitação popular e R$ 4,6 bilhões para saneamento básico. Outros R$ 4 bilhões servirão para a concessão de descontos nos financiamentos habitacionais a pessoas físicas. Desse total, R$ 3 bilhões serão exclusivos para subsídios dentro do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. (VC)

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