sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Divergência sobre juros cria oportunidade em taxa pré

Valor Econômico

Por Alessandra Bellotto e Antonio Perez, de São Paulo
26/02/2010

Março começa sob influência do mesmo cenário de incertezas característico deste início de ano. Do lado externo, problemas ainda sem solução de países endividados como a Grécia e dúvidas em relação à recuperação da economia americana reforçam as perspectivas adversas para ativos de risco como a bolsa, apesar dos resultados positivos das empresas brasileiras. No front interno, as divergências sobre o início do ciclo de aperto monetário, especialmente depois da elevação dos compulsórios pelo Banco Central (BC), abrem oportunidades de investimento em títulos prefixados de longo prazo.

O ambiente requer cautela, não é para tomada de risco, avalia o gestor da Fram Capital Luciano Sobral. Segundo ele, vai ser mais negócio para o investidor buscar a preservação do capital ou ganhos próximos da renda fixa do que tentar ser herói investindo em ações. "A bolsa está cara, dificilmente ela vai cobrir o que paga um título prefixado de mais longo prazo e ainda oferecer prêmio pelo risco", diz.

É preciso uma boa dose de convicção para investir em ações, reforça Sobral. "O Brasil não é uma ilha, o mundo está excessivamente endividado e os problemas que desencadearam a crise ainda não foram resolvidos." Entre as oportunidades no segmento de juros, o gestor cita a NTN-F, papel prefixado, com vencimento em janeiro de 2017, que paga cerca de 12,80% ao ano.

Ficar no pós-fixado também pode fazer sentido, acredita. A taxa Selic está em 8,75% ao ano e, pelas projeções de Sobral, deve começar a subir já em março, até atingir 11,75%. Na avaliação do gestor, ao elevar o compulsório, o BC está apenas retirando o estímulo concedido durante a crise. "O BC tem todo o incentivo para puxar o juro o quanto antes, até para antecipar os efeitos do aperto numa economia que está forte." Segundo ele, é pouco provável o BC mexer no juro próximo do período de eleições.

O aperto monetário via elevação do compulsório, conforme destaca o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Mello, não afasta a necessidade de alta do juro em abril ou até em março por conta da atividade forte. Para o investidor que tiver sangue frio, segundo Mello, a hora é oportuna para montar posições em títulos prefixados com vencimentos longos, acima de 2012.

"O quanto antes o Banco Central subir o juro, mais espaço o investidor vai ter para capturar prêmios nos juros futuros de longo prazo", diz. Isso porque, ao agir com rapidez, a autoridade monetária sinaliza que a dose de aperto pode ser menor e mais curta, derrubando as projeções para os juros mais longos. É nesse momento que o investidor pode ganhar. Mello ressalta, no entanto, que esse tipo de alocação traz volatilidade para a carteira do investidor, dada a incerteza de como esse aperto vai acontecer. "Mas com paciência, no médio e longo prazo o retorno tende a ser satisfatório."

Nicholas Barbarisi, sócio da Hera Investimentos, prefere os papéis públicos atrelados à inflação aos prefixados. Esses títulos têm taxas bem competitivas e trazem segurança ao investidor em momento de indefinição sobre a condução da política monetária, afirma.

Para a bolsa, ele acredita que o próximo mês deve ser melhor que fevereiro. "Março deve trazer diminuição gradual da volatilidade", diz. Ele avalia que os bons resultados das empresas brasileiras e a perspectiva de crescimento dos lucros este ano devem sobrepujar as incertezas no front externo. O investidor deve aproveitar eventuais chacoalhões da bolsa em março para reforçar as apostas em ações.

Em fevereiro, até ontem, a bolsa liderava o ranking de rentabilidade das aplicações, com retorno de 1,10%. Mas, tirando alguns fundos de ações, nenhuma aplicação superava a inflação no mês, medida pelo IGP-M, de 1,18%. A variação do CDI projetada é de 0,59%. No acumulado do ano, o Ibovespa amargava perda de 3,60%, enquanto o CDI era de 1,25%.

Barbarisi recomenda aos investidores que mantenham mais de 50% das aplicações em renda variável. Ele vê boas oportunidades em construção civil, siderurgia e consumo. "Os bancos também são atrativos, já que devem se beneficiar da expansão do crédito", diz o sócio da Hera, ressaltando que o aumento de compulsório e o aperto monetário esperado para este ano não vão abalar o crescimento do mercado interno.

Para Felipe Casotti, gestor de renda variável da Máxima Asset Management, a cautela deve guiar o comportamento do investidor em março. Embora mantenha a perspectiva de Ibovespa ao redor de 80 mil pontos no fim do ano, o gestor vê alta volatilidade no curto prazo, com o índices oscilando entre 62 mil pontos e 69 mil no curto prazo.

A bolsa só vai a andar quando houver um desenlace para a questão fiscal dos países europeus, dissipando, diz Casotti. "O mercado também deve oscilar bastante com base nos indicadores dos EUA."

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