sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ofensiva dos CDBs

Valor Econômico
10/06/2011

Luciana Monteiro | De São Paulo




O investidor de varejo vem sendo bombardeado por propagandas de bancos, especialmente dos menores, oferecendo Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com taxas para lá de atrativas. A ofensiva ocorre num momento em que as pequenas instituições disputam mercado com as grandes, aumentando o volume dessas operações. Em maio, os CDBs captaram líquidos R$ 15,033 bilhões - o segundo melhor mês do ano, perdendo apenas para os R$ 19,672 bilhões de março. Em 2011, até maio, os CDBs captam R$ 38,621 bilhões.

Para quem está disposto a manter o dinheiro por mais tempo, como três ou quatro anos, e um valor mais alto, é possível encontrar CDBs de bancos de primeira linha com taxas que podem chegar a 102% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro interbancário que serve de referencial para as aplicações mais conservadoras). Pela atual taxa de juros, de 12,25% ao ano, isso equivale a um retorno de 12,49% anuais. Já nos menores, a remuneração atinge até 110% do CDI, ou 13,47% ao ano.

Os CDBs podem ser mais atrativos que os fundos, que cobram taxa de administração e reduzem o ganho em relação ao CDI. Podem ser mais interessantes, em alguns casos, que os títulos do Tesouro Direto, em que o investidor tem de pagar as taxas de corretagem e custódia para a bolsa. Mas é preciso ressaltar que o risco dos CDBs também é maior, já que representam uma dívida do banco.

A novidade é que essas taxas acima do CDI estão mais próximas do pequeno investidor graças ao esforço dos bancos de menor porte. O cuidado é apenas observar o risco de crédito, ou seja, a saúde financeira do banco, nos casos em que o valor supere o protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que é de R$ 70 mil por CPF. O investidor pode até formar uma carteira de vários CDBs de bancos menores dentro do limite de garantia.

Entre os que entraram na disputa pelos investidores pessoa física estão Sofisa e Ficsa, que lançaram programas de venda de CDBs pela internet. No caso do primeiro, por meio do Sofisa Direto, o investidor pode obter taxa de 110% do CDI nos CDBs de três anos, com liquidez apenas no vencimento. O retorno oferecido é o mesmo para qualquer valor investido, de R$ 1 a R$ 1 milhão.

Já no caso do Ficsa, a plataforma on-line batizada de CDB Direto recebe aplicações entre R$ 200,00 e R$ 70 mil. "Quando se fala do investidor de pequenas aplicações, as pessoas querem ter certeza de que seu patrimônio estará protegido e seguro", diz Sandro Tordin, executivo do Ficsa. Por isso, o banco limitou as aplicações a R$ 70 mil

O sistema financeiro tem se mostrado sólido e montar um portfólio com vários CDBs, mesmo de instituições menores, se mostra interessante, desde que os limites se restrinjam ao garantido pelo FGC, avalia Mauro Calil, professor do Centro de Educação e Formação de Patrimônio Calil & Calil. "Mas o melhor é que o investidor aplique até R$ 60 mil em cada um deles, para a garantia cobrir também os juros", diz. "Aplicar R$ 70 mil é correr um risco à toa já que, em caso de quebra do banco, o cliente terá de volta somente o principal investido."

A estratégia de marketing das instituições menores é oferecer a mesma taxa de retorno para os pequenos ou grandes investidores. Mas vale lembrar que os bancos menores estão num momento em que precisam captar recursos para emprestar, enquanto o Banco Central adota medidas para conter o nível de crédito a fim de conter a escalada da inflação. Portanto, para quem pensar em ir além da garantia, pode haver um risco imponderável que o investidor deve levar em conta em troca de uma rentabilidade levemente acima do CDI.

Há também a necessidade desses bancos, a partir do ano que vem, de reduzir os volumes de Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE), que são cobertos até R$ 20 milhões. Criar uma base pulverizada de investidores usando o FGC pode ser uma alternativa para os pequenos.

Entre os grandes bancos, a principal estratégia está centrada nos CDBs com retornos progressivos, cuja remuneração aumenta conforme o prazo. Quando o investidor não sabe se vai precisar do dinheiro, o CDB tradicional é mais vantajoso, pois não se perde liquidez, diz Edson Franco, superintendente-executivo de Investimentos do Santander. Já para os que podem deixar o dinheiro investido por um tempo mais longo, os papéis com rendimento progressivo são mais indicados, avalia.

No Santander, aplicações entre R$ 1 mil e R$ 30 mil podem conseguir até 100% do CDI se permanecerem pelo menos três anos no CDB Recompensa Fácil. Entre R$ 30 mil e R$ 250 mil, a taxa chega a 101% do CDI e, acima de R$ 250 mil, 102% do referencial, ambos para prazos superiores a dois anos. Vale lembrar que esses retornos podem variar, conforme o volume já aplicado pelo cliente no banco. De acordo com Franco, entre janeiro e maio deste ano, o Santander já captou R$ 889 milhões em CDBs, valor bem acima dos R$ 139 milhões registrados no mesmo período do ano passado.

O aumento da massa salarial e ascensão das classes D e E estão trazendo novos investidores ao mercado, diz Osvaldo do Nascimento, diretor-executivo de produtos de investimento e previdência do Itaú. No CDB progressivo do banco, batizado de Plus, as taxas podem chegar a até 103,5% do CDI para os volumes maiores e para prazos acima de três anos. Para quantias menores, de R$ 1 mil, o máximo é 99% do CDI. Outra opção é a operação compromissada, semelhante ao CDB, que paga um pouco mais, mas não tem garantia do FGC.

Com o aumento da taxa básica de juros (Selic), os CDBs vêm atraindo os investidores com perfil mais conservador, conta Marcos Daré, diretor do departamento de investimentos do Bradesco. No CDB Fidelidade, com R$ 1 mil, é possível obter taxas de 100% do CDI após dois anos. Com mais de R$ 50 mil, a taxa vai para 101% do CDI e, acima de R$ 500 mil, 102% do CDI. "É uma aplicação que privilegia quem permanece por mais tempo."

Cresce apelo de títulos prefixados

Valor Econômico
10/06/2011



Renda fixa: Investidor aposta em aperto e reduz demanda por papéis indexados à inflação

Lucinda Pinto | De São Paulo

A preocupação com a inflação, que vinha pautando os negócios de renda fixa este ano, perdeu força nas últimas semanas e mudou o tipo do apetite do investidor por títulos públicos. Em vez das NTN-Bs, papéis atrelados ao IPCA, considerados uma forma de proteção em tempos de preços em alta, o foco do mercado agora são os papéis prefixados, como LTNs e NTN-Fs, que ganham atratividade quando o mercado acredita que a inflação controlada abrirá espaço para a queda da taxa Selic no futuro.Como consequência, a inflação que os títulos públicos projetam começou a cair com força. Na terça-feira passada, a NTN-B com vencimento em 2012, por exemplo, tinha uma taxa de inflação implícita (diferença entre a rentabilidade do papel indexado ao IPCA e a taxa prefixada de prazo equivalente) de 5,09%. Um mês atrás, essa taxa era de 5,86% e, em 6 de abril, no auge da preocupação com a disposição do BC em subir os juros para fazer frente à piora da inflação corrente e esperada, chegou a 6,25%.

O que está por trás desse movimento, segundo especialistas, é uma mudança no cenário traçado pelo mercado para o rumo da inflação, provocada por um conjunto de fatores: a percepção de que o BC será mais firme no processo de aperto monetário; o alívio, em meados de maio, dos preços das commodities; e os sinais de desaceleração da economia local e de fraqueza persistente da atividade no exterior. "A indicação deixada pelo Copom, de que haverá pelo menos mais um aumento da taxa Selic na próxima reunião, reforça a leitura de que a hora é de apostar na desaceleração da inflação", afirma o sócio tesoureiro do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella.

De fato, o leilão de títulos prefixados, realizado ontem pelo Tesouro Nacional, mostrou uma grande demanda pelos papéis. Foi vendido um total de 8,250 milhões de LTNs, distribuídos entre três vencimentos. O grande apetite se traduziu em taxas mais baixas pagas pelo Tesouro. O papel com vencimento em 2013, o maior lote da oferta de ontem, saiu com taxa média de 12,62%, ante 12,55% no leilão da semana anterior. A expectativa dos especialistas é que, nos próximos leilões, o Tesouro continue "agressivo" na colocação desses títulos, aproveitando o bom momento do mercado para antecipar a rolagem do vencimento de cerca de R$ 100 bilhões, do dia 1º de julho (R$ 84 bilhões em LTNs e cerca de R$ 15 bilhões em cupom de NTN-Fs).

O desenho do cenário para a inflação começou a mudar em maio, quando os preços das commodities tiveram uma queda abrupta. Até então, havia uma grande preocupação com a possibilidade de a alta das matérias-primas no exterior contagiar outros preços e alimentar um processo inflacionário de longo prazo. Ao mesmo tempo, o álcool combustível, fonte de pressão sobre os preços nos primeiros meses do ano, recuou, garantindo queda também no preço da gasolina. Esse ajuste deu força ao alívio da inflação, já esperado para o segundo trimestre. E foi um dos principais motivos para o recuo da inflação medida pelo IPCA para 0,47% em maio, ante 0,77% em abril.

Os sinais de fraqueza da atividade econômica, aqui e no exterior, ajudam a compor o cenário favorável. Foi emblemático o resultado da produção industrial de abril, divulgado pelo IBGE no dia 31 de maio. Houve queda de 2,1% em abril ante março, enquanto as expectativas eram de uma taxa próxima à estabilidade. Embora seja um dado defasado, a surpresa que ele causou levou muitos economistas a rever suas projeções para o desempenho da atividade no ano. E, com isso, o mercado passou a considerar que a demanda pode se retrair com mais força, reduzindo a pressão sobre os preços.

Por fim, um elemento fundamental para a correção de rota das projeções de inflação, principalmente para o longo prazo, foi a mudança, em abril, do discurso do BC em relação à política monetária. A estratégia adotada até então, de dar um peso maior às chamadas medidas macroprudenciais no combate à inflação, havia sido lida pelo mercado como uma postura mais "frouxa" por parte do BC. E contribuiu para a piora das expectativas de inflação. Mas, quando o BC afirmou, em abril, que o ajuste monetário no país se daria por um "período suficientemente prolongado", o mercado entendeu que o aperto monetário poderia durar mais tempo do que o previsto, ainda que com doses menores, de 0,25 ponto percentual - mensagem confirmada na reunião dessa semana. A aposta é que, se o BC for rigoroso no combate à inflação agora, colherá índices mais baixos lá na frente, o que abrirá espaço para queda futura da taxa Selic.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Rentabilidade de CDBs e fundos DIs vai melhorar

O Globo

9/6/2011

Efeito em empréstimo bancário e crediário será pequeno

RIO e SÃO PAULO. O quarto aumento consecutivo da Taxa Selic este ano vai melhorar a rentabilidade de aplicações como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e fundos DI (pós-fixados), que se tornam cada vez mais atraentes frente à caderneta de poupança. Levantamento do site www.comdinheiro.com.br mostra que o ganho de um fundo DI sobe dos atuais 9,80% para 10,05% ao ano, considerando a antiga e a nova Selic (12% e 12,25% ao ano, respectivamente). Os percentuais já descontam uma taxa de administração de 2% anuais, mas são anteriores à dedução do Imposto de Renda (IR), que varia de 22,5% a 15%, conforme o tempo da aplicação.

Nos CDBs - que pagam um percentual do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro), que acompanha a Selic - uma aplicação de mil reais em um banco de primeira linha (que pague 85% do CDI) geraria ganho de R$81,70 ao fim de um ano com a Selic a 12%. A 12,25% ao ano, esse ganho atinge R$85,15. Na poupança, o mesmo valor teria um ganho de R$74,48. O professor Rafael Paschoarelli Veiga, professor da FEA/USP e responsável pelo site, diz que a poupança fica cada vez "mais feia" em relação a outras aplicações.

Já sobre os juros dos empréstimos bancários e do crediário, o efeito da alta da Selic será muito pequeno. Segundo a Anefac, os financiamentos oferecidos pelo varejo subirão de 5,73% mensais (95,15% ao ano) para 5,75% (95,6%), alta de 0,35%. No cheque especial, a taxa média deve avançar apenas 0,25%, de 8,12% ao mês (155,2% anuais) para 8,14% (155,76%). A alta será maior no CDC dos bancos: 0,83%. A taxa média passará de 2,42% mensais (33,23% ao ano) para 2,44% (33,55%). A taxa dos empréstimos pessoais subirá de 4,75% mensais (74,52% ao ano) para 4,77% (74,92%), elevação de 0,42%. Já nos cartões de crédito haverá um incremento de 0,19%, de 10,69% ao mês (238,3% anuais) para 10,71% (239,03%). (Bruno Villas Bôas e Ronaldo D"Ercole)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Idoso investe aposentadoria e eleva renda

Folha de São Paulo

30/05/2011

Aposentado segue na ativa e aplica o benefício recebido do INSS para complementar rendimento na velhice

Um em cada três aposentados continua na ativa e recebem R$ 977,55, em média; fator reduz os valores

PAULO MUZZOLON
EDITOR-ASSISTENTE DE MERCADO

Devido ao baixo valor da aposentadoria, muitos brasileiros optam por continuar trabalhando após receber o benefício.
Como a aposentadoria é concedida em plena idade produtiva, quem segue na ativa pode aproveitar para aplicar o dinheiro para usufrui-lo apenas quando realmente parar de trabalhar.
Dados da Previdência de 2007 mostram que a idade média na concessão da aposentadoria por tempo de contribuição é de 54,3 anos, no caso dos homens, e 51,4 anos, no caso das mulheres.
Como a aposentadoria não rompe o contrato de trabalho, esses segurados não correm o risco de perderem direitos como, por exemplo, multa em caso de rescisão.
Há, no país, 15,76 milhões de aposentados, aponta a Previdência. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calcula -dados de 2009-que 5,1 milhões de aposentados estão na ativa.
Hoje, um em cada três aposentados continua na ativa e recebendo um benefício médio de R$ 977,55, considerando apenas os dos centros urbanos, segundo o Ministério da Previdência Social.

CORTE
Quem pede o benefício muito cedo sofre um corte brusco no valor a ser recebido devido ao fator previdenciário. Aos 51 (mulher) e 54 (homem) anos de idade, o benefício não chega a 70% da média salarial do trabalhador, que por sua vez é limitada ao teto de R$ 3.689,66.
Porém, mesmo quem sempre contribuiu pelo valor máximo permitido pelas regras atuais não terá essa média salarial, mas de R$ 3.369,77, segundo a Conde Consultoria Atuarial, devido à correção monetária aplicada.
"Trabalhadores de todas as faixas de renda têm dificuldade em entender o cálculo da aposentadoria e só descobrem o valor baixo que irão receber na hora da concessão", diz a advogada previdenciária Marta Gueller, do escritório Gueller e Portanova Sociedade de Advogados.
Se um homem que sempre contribuiu pelo teto se aposentar aos 55 anos de idade e 35 de contribuição, terá um benefício de R$ 2.425,52.

INVESTIMENTO
Aplicado na poupança, em sete anos esse dinheiro poderá acumular R$ 261.688, aponta William Eid Junior, professor do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas.
O rendimento mensal desse valor é de R$ 863,57. Se optar por poupar o dinheiro da aposentadoria por dez anos, o rendimento, após esse período, será de R$ 1.383,34.
"A aplicação em renda fixa é melhor para quem não pode correr riscos. E como o investimento mensal é pequeno, o CDB pode não valer a pena, porque essa aplicação tem desconto do Imposto de Renda, ao contrário da poupança", diz o professor.
Para quem não vai depender desse dinheiro no futuro e não tem receio de procurar rendimentos maiores, outras aplicações, como a Bolsa de Valores, podem valer a pena.
Como a aposentadoria permite o saque do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), esse dinheiro pode ser usado para engordar essa aplicação.
Outra opção é investir em imóveis, como fez o técnico em eletrônica Laercio Ramos de Andrade, 61. Quando pediu a aposentadoria, em 1994, aproveitou o dinheiro do Fundo de Garantia para comprar um terreno. "Como continuei trabalhando, usei o dinheiro da aposentadoria para construir duas casas no terreno", afirma.
Os imóveis ficaram prontos em 1998. "Hoje os aluguéis ajudam para complementar a renda", diz.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Quanto vale seu dinheiro?

Folha de São Paulo

23/05/2011


Gustavo Cerbasi



Corte dos seus planos de compra o prazer que dura pouco e tira a oportunidade de consumo mais produtivo


HÁ DOIS MESES, estive em Lisboa para o lançamento de mais um livro meu em Portugal.
Na época, não haviam eclodido ainda os mais graves sinais da crise econômica, como o rebaixamento da nota de risco do país e o pedido de socorro à União Europeia.
Porém, o país já dava claros sinais da dificuldade de recuperação, incluindo desemprego e inflação em alta e esperança em baixa. Enquanto no Brasil nos referíamos à crise "de" 2008, em Portugal o termo usado era a crise "desde" 2008.
Em meio ao desânimo generalizado, demonstrei minha preocupação a meus editores, questionando se seria interessante, para eles, lançar novos títulos em um momento tão ruim do mercado.
Supunha que os trabalhadores portugueses tinham menos dinheiro no bolso para consumir qualquer coisa, incluindo livros.
Para minha surpresa, a resposta foi enfaticamente contrária às minhas suposições. Segundo meus editores, a crise que impunha mudanças até nos hábitos alimentares dos portugueses pouco influenciava o mercado de livros.
Acreditando que havia tropeçado em alguma diferença linguística entre os países, reformulei a pergunta com outras palavras, e recebi a confirmação estarrecedora: os portugueses realmente não abrem mão do consumo de livros.
Precisei de alguns minutos para digerir a informação, e a explicação foi admirável. Segundo meus editores, a compra de livros não tem exatamente a ver com a preocupação com educação ou com a flexibilidade de novos formatos de leitura.
Para os portugueses, assim como para a maioria dos europeus, leitura é lazer. Cinema, teatro, viagens, comer fora, práticas esportivas e jogos também são lazer, mas a procura por essas práticas havia caído drasticamente com a crise portuguesa.
O argumento para a sustentação na venda de livros era o de que o lazer obtido com um livro era barato, durava vários dias, podia ser repassado para toda a família e, ainda, doado a famílias com poder de consumo mais oprimido.
Em suma, o que sustentava o comércio livreiro em um país em crise era a durabilidade do prazer ou do benefício obtidos com esse tipo de produto. Nada traduz melhor o conceito de qualidade de consumo do que a ideia de obter do dinheiro um benefício mais duradouro.
Quando compramos um carro, levamos em consideração o benefício de contar com transporte por um longo período. Mas, ao comprar um carro com design diferenciado, maior potência e apetrechos tecnológicos, corremos o risco de desembolsar muito mais por benefícios apenas eventuais.
Só desfrutamos do design em situações sociais em que a imagem do carro seja associada à nossa.
O benefício da maior potência será tão frequente quanto forem nossas viagens. Os apetrechos tendem a cair em desuso, se não forem realmente funcionais. Comprar um carro popular e bem equipado tende a ser, na maioria dos casos, um consumo de mais qualidade do que comprar um carrão.
Quanto mais benefícios obtemos do nosso dinheiro, menos impulsos de consumo temos. O consumismo está diretamente relacionado à incapacidade de obter prazer duradouro nas compras, como uma droga que gera dependência. Por isso, a velha ideia de refletir antes de uma compra continua sendo uma das mais importantes ferramentas não só de consumo mas também de sobrevivência de nosso minguado saldo no banco.
Você quer mesmo aquilo que pensa em comprar? Ou é apenas um estímulo vindo de um vendedor habilidoso? Se quer, você precisa do que vai comprar? Se não lhe trouxer utilidade duradoura, esqueça. Há uso mais inteligente para seu dinheiro.
Se você quer e precisa, pergunte-se: você pode comprar?
Essa resposta só será obtida se você fizer a lição de casa antes de ir às compras. Não saia antes de checar o saldo na conta, a fatura do cartão e o orçamento doméstico.
Prazer que dura pouco e tira a oportunidade de consumos mais produtivos é justamente o que deve ser cortado de seus planos.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Investimentos Inteligentes" (Thomas Nelson).

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Inflação em alta engole rendimento de poupador

Correio Braziliense

09/05/2011


Poupança rende de 0,55% a 0,68% ao mês, conforme o dia do aniversário, e continua batendo vários fundos de renda fixa. Com elevação do custo de vida, saída é acompanhar os investimentos e comparar o ganho líquido das diversas opções oferecidas pelos bancos.
Ana D"angelo
Victor Martins

Nem mesmo a alta da taxa básica de juros da economia, a taxa Selic, desbancou a caderneta de poupança entre as melhores aplicações financeiras neste ano. O investimento preferido do brasileiro está rendendo entre 0,55% e 0,67% ao mês, acima da rentabilidade líquida de vedetes do mercado, como diversos fundos de renda fixa DI para valores de aplicação mais baixos, em torno de R$ 100 a R$ 5.000. A má notícia é que, a exemplo do ano passado, quase todas as aplicações estão perdendo para a inflação nos primeiros quatro meses do ano.

O “surto inflacionário” que atingiu a economia brasileira, como denominou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está engolindo a rentabilidade de quase todos os investimentos de renda fixa. A caderneta de poupança, com aniversário no dia 1º, totalizou ganho de 2,3% nos quatro primeiros meses do ano. Bem abaixo da inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, que acumula 3,23% de alta no ano. A estimativa para o INPC, também do IBGE, deve ficar em 2,9% de janeiro a abril.

A maior parte dos fundos de renda fixa dos bancos, mesmos os chamados fundos DI (atrelado à taxa Selic), rendeu entre 2% e 3,65% brutos de janeiro a abril, dependendo da instituição e da característica do fundo. Como essas aplicações pagam Imposto de Renda entre 22,5% (prazo de até seis meses) e 15% (se ficar aplicado por mais de dois anos), o rendimento míngua para algo em torno de 1,6% e 2,9%. Em abril, tiveram ganho líquido em torno de 0,58% e 0,60%, conforme pesquisa feita nos sites do Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil. Tal rentabilidade faz com que vários desses fundos estejam atrás também da poupança.

Só os grandes fundos, aqueles que exigem depósitos maiores, de R$ 20 mil para cima, ainda estão oferecendo ganho líquido igual ou pouco maior que a inflação. Mesmo assim, porque destinam parte dos recursos para o mercado de derivativos, de mais risco, como de commodities.

Nesse cenário de inflação em alta e aumento da Selic, o diretor da corretora Easynvest, Amerson Magalhães, aconselha concentrar os investimentos nos chamados fundos DI pós-fixados, ou seja, atrelados à variação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário). “A Selic vai subindo, a rentabilidade também vai acompanhando”, afirma ele. É a saída para o poupador conseguir ganhar pelo menos igual à inflação.

“No quadro atual, a mais prejudicada é a poupança, que tem rentabilidade fixa”, diz ele, referindo-se aos 6% de rentabilidade ao ano, ou 0,5% ao mês, embora receba também a variação da TR (Taxa Referencial de Juros), que tem ficado entre 0,04% e 0,17% ao mês, menos de 1% ao ano. Segundo ele, com o aumento das taxas de juros, os fundos de renda fixa prefixados também sofrem, pois têm o rendimento calculado sobre uma taxa de juros anterior.

Magalhães alerta, no entanto, que o investimento mais interessante hoje é o Tesouro Direto, que é a compra de títulos públicos online pelo site da Secretaria do Tesouro Nacional, em especial daqueles atrelados à inflação, IPCA ou IGP-M (leia mais nesta página).

A economista Camila Beraldo, 30 anos, manteve suas economias na poupança desde a queda da Selic, em meados de 2009, mas agora está revendo a estratégia. “Investir diretamente nos títulos públicos, no Tesouro Direto, é mais garantido atualmente”, acredita ela.

A superintendente de investimentos do Santander, Sinara Polycarpo, recomenda também as aplicações pós-fixadas e que acompanham a taxa Selic. Ela considera a aplicação em CDB-DI uma excelente opção. “Garante um percentual da Selic e, dependendo do tempo que o dinheiro ficar aplicado, o cliente pode conseguir uma taxa ainda melhor”, observa. Em geral, os fundos DI que pagam mais exigem valores iniciais e novas aplicações maiores, a partir dos R$ 10.000.

Os CDBs estão entre as melhores aplicações, assegurando rendimento melhor — um percentual do CDI, que vai de 80% a 95%, conforme o tempo de aplicação.

IPCA e INPC
O índice reflete o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos (R$ 21.800), residentes nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, além do Distrito Federal e do município de Goiânia. Já o INPC reflete a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias desses municípios e DF até oito salários mínimos (R$ 4.360).

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Bolsa? Volto amanhã


06/05/2011

Alessandra Bellotto | De São Paulo

Abolsa de valores não está preparada para acolher o investidor iniciante. É o que mostra uma experiência com dez candidatos a investidor realizada pela empresa de planejamento estratégico de marca CO.R Inovação, a pedido da BM&FBovespa. Cada pessoa do grupo - formado por homens e mulheres de 25 a 35 anos das classes A e B - recebeu R$ 500 para um "test-drive" na bolsa. Com tantos tropeços pelo caminho, todos teriam desistido de estrear no mercado se não estivessem participando da pesquisa, diz a diretora de projetos da CO.R, Nathalia Souza.

A iniciativa, que tinha como objetivo converter aspirantes em investidores, foi realizada no fim do ano passado e apontou falhas que podem estar atrasando o crescimento do número de pessoas físicas na bolsa no ritmo esperado. Só nos primeiros quatro meses deste ano, 6,9 mil investidores deixaram o mercado - em abril, o número de contas de pessoas físicas caiu para 596.571. Uma ressalva: o ambiente atual, de bolsa em baixa, inflação pressionada juro em alta e crise internacional, não está favorável para a aplicação em ações. "Esses últimos quatro meses não ajudaram", destaca o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto.

Mas ele também acredita que faz parte do trabalho de educação da bolsa mostrar para as pessoas que essa é a dinâmica do investimento em ações. E reconhece que há um desafio enorme para vencer as barreiras que têm afugentado, especialmente, os decididos a experimentar a bolsa, conforme apontou a pesquisa, e colocado a meta da bolsa de alcançar a marca de 5 milhões de investidores pessoas físicas até o início de 2015 mais distante.

O projeto liderado pela CO.R Inovação teve duas fases. Na primeira, o objetivo foi identificar o estilo de vida do público potencial, sua relação com o dinheiro, perfil e valores. Já nesse momento, alguns obstáculos foram detectados. Entre eles, conta Nathalia, percebeu-se que a bolsa não é lembrada quando se fala em investimento e está envolta em mitos, ao ser associada a um mercado para grandes investidores ou especialistas. Também se notou falta de conhecimento sobre como iniciar um investimento em ações, e foi isso que levou à segunda fase do projeto: o de acompanhar dez aspirantes a investidor na sua "conversão".

Uma vez selecionado o grupo, cada um dos participantes recebeu a missão de investir R$ 500 na bolsa. A opção por um valor inicial baixo para aplicação, explica Nathalia, teve como objetivo deixar os desafios ainda mais latentes. Em seguida, foram definidos cinco passos. No primeiro, o aspirante tinha de garimpar informações sobre como investir. A maioria recorreu ao sistema de busca Google, sem sucesso. Além de o site da BM&FBovespa não aparecer nos resultados da pesquisa, outra constatação desse potencial investidor foi que as corretoras indicadas usavam uma linguagem específica do mercado, nada amigável ao iniciante.

Também nesse momento, descobriu-se que, para operar na bolsa, é preciso de um intermediário. "Eles não sabiam que existia corretora, nem ligada à banco, o que provocou uma certa insegurança", afirma Nathalia. O segundo passo do processo de conversão era justamente entender o papel do intermediário para poder fazer a escolha. A experiência, mais uma vez, frustrou os potenciais investidores, postergando o investimento.

Segundo Nathalia, o estudo deixou o candidato a investidor com o sentimento de que a corretora é um pedágio, uma instituição para executar as ordens, e não para facilitar a vida do cliente. Além de colocar barreiras como investimento mínimo, as instituições mostraram que não estão preparadas para acolher o estreante, que sente falta da relação humana, de alguém para tirar dúvidas. O investidor iniciante, ressalta a diretora, não olha se a corretora tem o melhor preço, tecnologia avançada, equipe de análise premiada, distribuição de relatórios. "Ele quer a melhor orientação, de um jeito simples e claro, a um custo compatível", diz. E até está disposto a perder dinheiro nesse primeiro momento em troca da aprendizagem.

No banco, compara a executiva, há sempre um gerente para socorrer o cliente. E foi para essa fonte, diga-se de passagem, que boa parte dos participantes da pesquisa recorreu na busca por informações, obtendo como resposta a sugestão de investir em um fundo de ações, sob o argumento da gestão profissionalizada. "O gerente do banco, muitas vezes, acaba tirando a possibilidade de o cliente migrar para a corretora", destaca.

Outro obstáculo enfrentado no processo de investimento foi na hora de escolher as ações. As corretoras, em geral, trabalham com carteiras recomendadas, que incluem sugestões de alguns papéis. Mas o candidato a investidor percebeu que o valor inicial que tinha para aplicar não era suficiente para replicar a aplicação sugerida. Nem mesmo para comprar um lote de ações. E aí mais uma decepção: com R$ 500 só dava para operar no mercado fracionário, o que levou esse potencial investidor a acreditar que a bolsa, de fato, é para gigantes.

Como esse aspirante a investidor sempre ouviu dizer que diversificar é fundamental, a estreia na bolsa foi feita com baixa convicção, conta Nathalia. "Operar no mercado fracionário não foi considerado uma experiência completa", diz. Mas o investidor seguiu em frente, escolheu a ação e passou para a fase seguinte, que era explorar o sistema de negociação.

Também, segundo a diretora, além de não entender a dinâmica de preços do mercado, poucos sabiam operar no home broker, sistema de negociação on-line de ações. Nathalia conta que alguns compraram ações a um preço mais alto do que o médio, outros, papéis de baixa liquidez, acreditando que o fato de haver menos investidores negociando a ação era um bom sinal. "Eles fecharam os olhos e deram o clique", conta. Mas ainda ficaram na dúvida se o negócio tinha sido concretizado.

"Há um elo perdido no processo de conversão", afirma Nathalia. Segundo ela, quando um candidato a investidor decide aplicar na bolsa, não há quem o ajude a fazer esse caminho. "As corretoras precisam melhorar a comunicação com o iniciante, até porque ele pode vir a se tornar um grande investidor." Tudo vai depender da primeira experiência, acrescenta Nathalia.

No caso dos que participaram da pesquisa, apesar dos vários obstáculos que enfrentaram ao longo do processo, a diretora diz que todos manifestaram a vontade de fazer cursos e passar a acompanhar o mercado.

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