sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cresce apelo de títulos prefixados

Valor Econômico
10/06/2011



Renda fixa: Investidor aposta em aperto e reduz demanda por papéis indexados à inflação

Lucinda Pinto | De São Paulo

A preocupação com a inflação, que vinha pautando os negócios de renda fixa este ano, perdeu força nas últimas semanas e mudou o tipo do apetite do investidor por títulos públicos. Em vez das NTN-Bs, papéis atrelados ao IPCA, considerados uma forma de proteção em tempos de preços em alta, o foco do mercado agora são os papéis prefixados, como LTNs e NTN-Fs, que ganham atratividade quando o mercado acredita que a inflação controlada abrirá espaço para a queda da taxa Selic no futuro.Como consequência, a inflação que os títulos públicos projetam começou a cair com força. Na terça-feira passada, a NTN-B com vencimento em 2012, por exemplo, tinha uma taxa de inflação implícita (diferença entre a rentabilidade do papel indexado ao IPCA e a taxa prefixada de prazo equivalente) de 5,09%. Um mês atrás, essa taxa era de 5,86% e, em 6 de abril, no auge da preocupação com a disposição do BC em subir os juros para fazer frente à piora da inflação corrente e esperada, chegou a 6,25%.

O que está por trás desse movimento, segundo especialistas, é uma mudança no cenário traçado pelo mercado para o rumo da inflação, provocada por um conjunto de fatores: a percepção de que o BC será mais firme no processo de aperto monetário; o alívio, em meados de maio, dos preços das commodities; e os sinais de desaceleração da economia local e de fraqueza persistente da atividade no exterior. "A indicação deixada pelo Copom, de que haverá pelo menos mais um aumento da taxa Selic na próxima reunião, reforça a leitura de que a hora é de apostar na desaceleração da inflação", afirma o sócio tesoureiro do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella.

De fato, o leilão de títulos prefixados, realizado ontem pelo Tesouro Nacional, mostrou uma grande demanda pelos papéis. Foi vendido um total de 8,250 milhões de LTNs, distribuídos entre três vencimentos. O grande apetite se traduziu em taxas mais baixas pagas pelo Tesouro. O papel com vencimento em 2013, o maior lote da oferta de ontem, saiu com taxa média de 12,62%, ante 12,55% no leilão da semana anterior. A expectativa dos especialistas é que, nos próximos leilões, o Tesouro continue "agressivo" na colocação desses títulos, aproveitando o bom momento do mercado para antecipar a rolagem do vencimento de cerca de R$ 100 bilhões, do dia 1º de julho (R$ 84 bilhões em LTNs e cerca de R$ 15 bilhões em cupom de NTN-Fs).

O desenho do cenário para a inflação começou a mudar em maio, quando os preços das commodities tiveram uma queda abrupta. Até então, havia uma grande preocupação com a possibilidade de a alta das matérias-primas no exterior contagiar outros preços e alimentar um processo inflacionário de longo prazo. Ao mesmo tempo, o álcool combustível, fonte de pressão sobre os preços nos primeiros meses do ano, recuou, garantindo queda também no preço da gasolina. Esse ajuste deu força ao alívio da inflação, já esperado para o segundo trimestre. E foi um dos principais motivos para o recuo da inflação medida pelo IPCA para 0,47% em maio, ante 0,77% em abril.

Os sinais de fraqueza da atividade econômica, aqui e no exterior, ajudam a compor o cenário favorável. Foi emblemático o resultado da produção industrial de abril, divulgado pelo IBGE no dia 31 de maio. Houve queda de 2,1% em abril ante março, enquanto as expectativas eram de uma taxa próxima à estabilidade. Embora seja um dado defasado, a surpresa que ele causou levou muitos economistas a rever suas projeções para o desempenho da atividade no ano. E, com isso, o mercado passou a considerar que a demanda pode se retrair com mais força, reduzindo a pressão sobre os preços.

Por fim, um elemento fundamental para a correção de rota das projeções de inflação, principalmente para o longo prazo, foi a mudança, em abril, do discurso do BC em relação à política monetária. A estratégia adotada até então, de dar um peso maior às chamadas medidas macroprudenciais no combate à inflação, havia sido lida pelo mercado como uma postura mais "frouxa" por parte do BC. E contribuiu para a piora das expectativas de inflação. Mas, quando o BC afirmou, em abril, que o ajuste monetário no país se daria por um "período suficientemente prolongado", o mercado entendeu que o aperto monetário poderia durar mais tempo do que o previsto, ainda que com doses menores, de 0,25 ponto percentual - mensagem confirmada na reunião dessa semana. A aposta é que, se o BC for rigoroso no combate à inflação agora, colherá índices mais baixos lá na frente, o que abrirá espaço para queda futura da taxa Selic.

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