sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Prepare-se para agosto

Valor Econômico
Por Angelo Pavini e Luciana Monteiro, de São Paulo
01/08/2008


Agosto costuma ter uma fama negativa, de mês agourento. Mas, depois de dois meses seguidos de queda da bolsa, com o Ibovespa recuando 18,03%, 8,48% só em julho, o investidor está mais do que escaldado para enfrentar o "mês do cachorro louco". Será preciso ficar de olho no comportamento da inflação, no Brasil e no exterior, na safra de balanços do segundo trimestre, nos preços das commodities, especialmente do petróleo, e na situação do sistema financeiro americano. Da combinação dessas variáveis deverá sair boa parte dos ganhos e das perdas de agosto.


Em julho, o Ibovespa não resistiu à realização de preços das commodities e às perdas dos balanços do setor financeiro lá fora. No ano, o índice perde 6,86%. E, para este mês, as perspectivas não são lá muito animadoras. No curto prazo, a bolsa brasileira pode ter uma certa recuperação, mas a mensagem é que ainda se espera um período de volatilidade nos mercados, diz Eduardo Roche, gerente de Análise da Modal Asset Management. "Não dá para dizer que, depois dessa forte realização recente e dessa alta do fim do mês, o mercado vai retomar a tendência de alta", diz.


Algum refresco para o mercado pode vir com as divulgações dos balanços do segundo trimestre neste início de mês. O Bradesco, no dia 4, e o Itaú, no dia 5, dão a largada nos números do setor de bancos, que devem vir bem melhores do que os vistos no exterior, especialmente nos EUA. O resultado da Vale, esperado na quarta, também promete boas novas, uma vez que trará o reajuste do minério de ferro de 71%, recuperando as quedas com o níquel no primeiro trimestre. Já Petrobras sai no dia 11 e pode ajudar a recuperar o papel.


Petrobras e Vale são fundamentais para a definição da tendência do Ibovespa. No caso da mineradora, a expectativa é com o preço das commodities e com uma eventual aquisição, cujo impacto no curto prazo vai depender do preço pago, das condições de financiamento e da importância estratégica que a compra terá para a Vale. Na Petrobras, além do preço do petróleo, há o impacto das discussões sobre a forma como o governo vai regular a exploração do pré-sal, se com aumento nos royalties ou com a criação de uma nova estatal.


Os balanços no exterior também podem ajudar a reduzir o receio em torno de uma recessão mundial, como ocorreu na semana passada, com os resultados das siderúrgicas internacionais mostrando números fortes de demanda. "Mas o investidor têm de ter cautela, pé no chão, pois o mercado ainda está muito sensível, as variáveis externas como inflação e crescimento continuam sem solução clara", explica Roche, da Modal. O fato de Petrobras e Vale serem muito líquidas, com 30% do Ibovespa, é um fator importante, pois se houver um retorno do investidor estrangeiro para a Bovespa, elas devem ser as primeiras beneficiadas.


No mês passado, as carteiras de Petrobras e Vale sofreram bastante, perdendo 26,07% e 24,13%, respectivamente, até o dia 28. No ano, os fundos compostos por ações da estatal perdem 19,86% e os da mineradora, 27,21%. Os números ainda não levam em conta a alta de 4,42% da ação da Petrobras e de 7,62% da Vale entre os dias 29 e 31.


A combinação de alta da inflação e elevação da taxa de juros deixa o ambiente inóspito para os investimentos em bolsa. "As perspectivas para os mercados emergentes são mais positivas no longo prazo, já que essas economias estão com seus sistemas financeiros mais saudáveis, pois não têm problemas de crédito", diz Francisco Meirelles de Andrade, sócio da Nest Investimentos. Para ele, nos próximos seis meses ou um ano, as bolsas mundiais devem continuar sofrendo. "A crise nos EUA não atingiu seu pico e, enquanto isso não acontece, o momento não é de compras", diz. "É prematuro achar que agora é um momento que traz oportunidade de compras."


Após a forte realização da bolsa no mês passado, os investidores devem ficar atentos às oportunidades, mas não esperar uma recuperação vigorosa, diz Nicholas Barbarisi, sócio da Hera Investment. "Há oportunidade, mas é preciso fracionar as compras, com foco maior nas 'blue chips' de commodities e bancos", afirma. "O mercado ainda pode apresentar novas perdas, mas, em caso de melhora do cenário, os papéis mais líquidos tendem a se recuperar mais rápido." Já as ações de menor liquidez, as "small caps", tendem a continuar esquecidas e as perspectivas de médio prazo não são animadoras, diz.


Agosto promete ser mais calmo, pelo menos em comparação a junho e julho, quando houve uma saída de R$ 15 bilhões em investimentos estrangeiros da bolsa, afirma Joaquim Kokudai, gestor de fundos multimercados e de renda fixa da Rio Bravo Investimentos. "Apesar de ser o mês do cachorro louco, a tendência é dar uma acomodada, tem muita ação barata e os bancos americanos já mostraram suas perdas no mês passado."

CVM flexibiliza regras para fundos com cotas em bolsa

Valor Econômico
Por Catherine Vieira, do Rio
01/08/2008


A partir de agora, poderá ficar mais fácil investir em fundos semelhantes aos do Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB), que foi formatado pelo BNDES e reproduz o índice IBrx-50. Ontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu flexibilizar, por meio de uma análise caso a caso, alguns requisitos de estruturação, emissão, registro e distribuição de cotas de fundos de índices de mercado. Conhecidos como Exchange-Traded Funds (ETF) no mercado externo, esses fundos são parecidos com os diversos fundos de índices que já existem no mercado local sob o ponto de vista da composição da carteira, mas guardam semelhanças com o PIBB por serem negociados em bolsa.


De acordo com o superintendente de relações com investidores institucionais da CVM, Carlos Alberto Rebello Sobrinho, a decisão da autarquia de analisar dispensas de requisitos caso a caso poderá viabilizar fundos de índices que não sejam apenas aqueles que comportam as empresas mais líquidas. "As regras exigem que o fundo replique a carteira de um índice, na exata proporção, mas como alguns índices são compostos por empresas que não têm ampla liquidez, isso se tornava um fator que dificultava a criação de algumas carteiras", explica.


Em alguns países, nos quais o mercado de ETFs já é mais desenvolvido, as instituições buscam resolver os problemas dos ativos com baixa liquidez e que fazem parte dos índices a serem seguidos com operações que envolvem outros ativos e que possuem alta correlação com eles, por exemplo. Nos Estados Unidos, o Barclays criou um sistema especialmente dedicado a esse mercado, chamado Ishares, com uma grande família de ETFs, ou seja, fundos de índice de mercado de diversos tipos.


Com isso, é possível que surjam produtos semelhantes ao PIBB, porém, replicando inúmeros outros índices sejam eles setoriais ou com um determinado foco, como governança ou sustentabilidade. A Bovespa vem criando ao longo dos anos diversos indicadores que poderão servir de base para esses fundos nos moldes dos ETFs.


Na visão da CVM, os ETFs são produtos que podem ser interessantes para o mercado local por serem uma alternativa de aplicação em fundo de ações a um custo mais baixo. Isso porque a taxa de administração costuma ser menor em produtos como o PIBB do que nos fundos abertos de ações que replicam índices.


No comunicado divulgado ontem, a autarquia ressaltou que há evidências de que fundos como os ETFs ajudam a aumentar a liquidez dos ativos que compõem os índices seguidos. "Produtos como os ETFs podem contribuir para a diversificação de riscos dos investidores e para o aumento da competição entre produtos de investimento e, por isso, são desejáveis", diz a nota da autarquia.


Por enquanto, o colegiado da CVM decidiu apenas analisar caso a caso as possibilidades de dispensa ou abrandamento de requisitos da Instrução 359, que rege esses fundos. Porém, a autarquia não descarta uma futura mudança nas regras, caso as experiências indiquem que esse é o melhor caminho e vai ouvir também as sugestões do mercado sobre o assunto.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Rentabilidade de prefixados dispara com alta da Selic

Valor Econômico
Por Adriana Cotias, de São Paulo
30/07/2008


A alta da Selic na semana passada, em proporção maior do que muitos previam, pegou os gestores de renda fixa na mão certa. O aumento de 0,75 ponto percentual imposto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) ao juro primário, para 13% ao ano, representou um adicional e tanto nas cotas dos fundos prefixados passivos, que têm o compromisso de aplicar em ativos com rentabilidade definida no momento da compra ou se valem de derivativos na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).


O resultado se observa no desempenho desses fundos em julho. Até o dia 25, as carteiras prefixadas tinham um retorno de 1,86% em comparação ao 0,73% dos referenciados DI ou o 0,50% dos portfólios atrelados a índices de preços. O CDI ficou em 0,87% no período. Os dados são do site financeiro Fortuna.


Tradicionalmente comprados em taxas longas (apostando na queda dos juros no decorrer do tempo), os portfólios prefixados levaram a melhor justamente porque o remédio do juro veio em dose maior do que o 0,50 ponto percentual projetado pela maioria dos analistas. O ajuste teve o efeito de pressionar as taxas das Letras do Tesouro Nacional (LTN, prefixada) e contratos de depósitos interfinanceiros (DI) curtos, ao mesmo tempo em que suavizou os prêmios embutidos nos papéis com prazo acima de dois anos.


"No longo prazo a curva (de juros) está invertida e a alta da Selic só pronunciou essa tendência", diz o economista Marcelo D'Agosto, diretor do Fortuna. Tal comportamento explica-se pela leitura de que a aceleração do aumento do juro de curto prazo surtirá resultado mais rápido no controle dos índices de custo de vida logo adiante. "Ao ser mais conservador, o Banco Central (BC) passou a mensagem de que será vigilante e não deixará a inflação escapar do controle", diz o gestor de Renda Fixa da Unibanco Asset Management (UAM) Paulo Certain.


Enquanto as taxas dos DIs com vencimento em 2008 e 2009 subiram para se adaptar à aceleração do ciclo de alta, os contratos de 2010 seguiram a rota contrária. Conforme exemplifica Certain, o DI de janeiro, que chegou a bater 15,48% ao ano, ontem era negociado a 14,91%. O contrato com vencimento em 2012 caiu de 15,2% no início do mês para os atuais 14,29%. Para a UAM, a Selic fecha o ano em 15%, tem mais um ajuste de 0,25 ponto percentual no início de 2009, mas já começa a cair a partir do segundo semestre, virando 2010 a 13,5% ao ano. Se tal previsão se concretizar, vale investir em fundos de renda fixa que tenham prefixados longos, defende.


Em julho, quem possuía esses papéis registrou um lucro contábil na marcação a mercado, explica o operador da SLW Corretora Rogério Adriani Rosa. Isso ocorreu porque a redução das taxas longas vem acompanhada pela alta do preço unitário dos papéis, valorizando, portanto, os ativos que estavam nos portfólios.


O aumento do diferencial de juros locais e externos também elevou a atratividade dos prefixados aos olhos do investidor estrangeiro, resultando em demanda extra, conta Renato Ramos, diretor de Renda Fixa, da HSBC Global Asset Managment. Maior procura significa preços mais altos - e taxas em queda. Isso não quer dizer que os prefixados serão uma aposta de lucro certeira, adverte. O cenário para a renda fixa permanece nebuloso, com a inflação mundial de alimentos e a alta das commodities jogando uma sombra sobre o futuro da política monetária brasileira. "Neste momento, talvez seja melhor privilegiar títulos de inflação." As projeções da HSBC são de IPCA em 6,5% neste ano, caindo a 5% em 2009, com a Selic em 14,75% em dezembro próximo, cedendo a 14% no fim de 2009.


Na conta de 2008, os fundos prefixados ainda ficam para trás, com rentabilidade de 4,37%, quando comparados às carteiras que têm os índices de preços como referência, com retorno de 5,84%, ou os DIs, com 5,12%. Todos aquém do CDI, em 6,31%. Isso explica por que os portfólios de renda fixa perderam R$ 16,6 bilhões do patrimônio nos sete primeiros meses do ano - só em julho, as saídas líquida alcançaram R$ 3,1 bilhões. Os multimercados tiveram desempenho pior, perdendo R$ 22,2 bilhões no ano e R$ 2,7 bilhões no mês, até o dia 25

terça-feira, 29 de julho de 2008

Caderneta brilha menos

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro e Alessandra Bellotto, de São Paulo
29/07/2008



Depois de competir em pé de igualdade com os fundos mais conservadores de renda fixa, a boa e velha caderneta de poupança perdeu parte de seu brilho. Com a alta da taxa de juros, hoje em 13% ao ano, para conter as pressões inflacionárias, mesmo os fundos DI ou de curto prazo que cobram salgadas taxas de administração ficaram mais atrativos ante a caderneta, algo que havia mudado quando a trajetória da Selic era de queda.


Quanto maior a taxa de juros, melhor será a rentabilidade dos fundos mais tradicionais ante o retorno da caderneta, que oferece a variação da Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano. E essa relação deve ficar ainda mais desfavorável para a poupança caso se confirmem as projeções de mercado de 14,25% para a taxa Selic no fim do ano. Sem falar do investidor que tem horizonte de longo prazo, em que o imposto de renda nos fundos de renda fixa cai.


Há um ano e meio, quando a taxa Selic estava em 11,75% ao ano, só os fundos com taxa de administração abaixo de 2% conseguiam superar os ganhos da poupança para prazos acima de um ano. Hoje, uma carteira que cobre 3% já rende mais que a caderneta, dependendo do prazo da aplicação.


Simulação feita pelo Valor Data mostra que, mesmo considerando-se as projeções de 14,25% para a Selic no fim do ano, os fundos DI com taxa de administração acima de 3% ao ano ainda perdem para a caderneta de poupança no curto prazo. Isso ocorre por causa do imposto de renda maior cobrado no fundo. Pelos cálculos, num prazo de seis meses, o aplicador de um DI receberia 4,18%, para 4,27% da poupança, que é isenta. A projeção considera o imposto de renda regressivo para os fundos de renda fixa - de 22,5% para aplicações de até seis meses; de 20% para mais de seis meses a um ano; de 17,5% de um ano a dois; e de 15% acima de dois anos.


A situação muda quando se olha o longo prazo. Para as aplicações com prazo superior a dois anos, o ganho desses fundos seria de 20,24%, para 18,22% da poupança. Vale lembrar, no entanto, que a simulação considera a Selic sem alterações nesse período, o que pode não acontecer.


Isso quer dizer que, independente da taxa de administração, é um bom negócio trocar a caderneta por um fundo DI? Não é bem assim. Numa carteira que cobre 4% ao ano, a poupança só deixa de ser interessante para investimentos acima de dois anos. Nesse caso, o ganho líquido do fundo seria de 18,59%, para 18,22%.


Mas, nessa história toda, o aplicador deve considerar também que a própria poupança deve ter um rendimento maior. Isso porque a Taxa Referencial (TR), que corrige a aplicação, é calculada com base na rentabilidade média dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) e dos Recibos de Depósito Bancário (RDB), cujas taxas acompanham a alta da Selic. Sobre essa média, chamada de Taxa Básica Financeira (TBF), é aplicado um redutor. Pelas projeções do mercado, a TR de julho deve ficar em 0,22%, para 0,11% de junho, elevando o ganho da poupança para 0,70% no mês. "No início do ano, a poupança não rendia mais que 0,60%", ressalta Felipe Vaz, gerente de investimentos do Banco Real.


A diferença entre o ganho da caderneta de poupança e a rentabilidade dos fundos ainda é muito pequena, diz Marcos Villanova, superintendente executivo da área de investimentos do Bradesco. "Quem é poupador da caderneta não deve mexer em seus investimentos, porque a diferença é muito pequena, mas isso vai mudar se a Selic for para 14% ao ano", diz.


Mas mesmo mais interessantes que a caderneta no longo prazo, o investidor não deve se acomodar com fundos mais caros, diz Rodrigo Menon, sócio da Beta Advisors. "A Selic agora está em alta, mas o mercado projeta queda dos juros a partir do segundo semestre do ano que vem", lembra. "É interessante que o investidor procure desde já alternativas mais baratas", diz Menon, lembrando, no entanto, que é difícil para o pequeno poupador ter acesso a taxas de administração na faixa de 1% em fundos DI. "Mas ele pode recorrer ao Tesouro Direto, onde a concorrência de taxa é maior."


A caderneta perdeu terreno com a alta dos juros e, no caso dos fundos DI, eles ainda podem ser beneficiados pelas taxas melhores oferecidas hoje pelos CDBs, diz Marcia Dessen, sócia da Bankrisk Consultoria e Treinamento. Isso porque, por lei, os fundos referenciados precisam ter 80% de sua carteira em títulos pós-fixados do Tesouro Nacional ou de emissores classificados como de baixo risco, onde entram os CDBs. Para obter retornos maiores, alguns gestores costumam colocar uma pitada desses títulos privados na carteira.


A poupança sempre foi muito procurada pelos investidores mais tradicionais e deve continuar atraindo recursos, diz Fabio Colombo, administrador de investimentos. Ele ressalta, no entanto, que ela é mais indicada para quem tem até R$ 60 mil, limite coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). "Acima desse valor, o poupador começa a correr o risco de crédito da instituição."


No fundo DI, que aplica majoritariamente em títulos públicos pós-fixados, o risco que o investidor corre é o de o governo não honrar o pagamento da dívida, o que é hoje improvável. Além disso, Colombo destaca que o fundo conta com liquidez diária, enquanto que a poupança tem dia certo para sacar os recursos se o aplicador não quiser perder os rendimentos.
Locations of visitors to this page