terça-feira, 29 de julho de 2008

Caderneta brilha menos

Valor Econômico
Por Luciana Monteiro e Alessandra Bellotto, de São Paulo
29/07/2008



Depois de competir em pé de igualdade com os fundos mais conservadores de renda fixa, a boa e velha caderneta de poupança perdeu parte de seu brilho. Com a alta da taxa de juros, hoje em 13% ao ano, para conter as pressões inflacionárias, mesmo os fundos DI ou de curto prazo que cobram salgadas taxas de administração ficaram mais atrativos ante a caderneta, algo que havia mudado quando a trajetória da Selic era de queda.


Quanto maior a taxa de juros, melhor será a rentabilidade dos fundos mais tradicionais ante o retorno da caderneta, que oferece a variação da Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano. E essa relação deve ficar ainda mais desfavorável para a poupança caso se confirmem as projeções de mercado de 14,25% para a taxa Selic no fim do ano. Sem falar do investidor que tem horizonte de longo prazo, em que o imposto de renda nos fundos de renda fixa cai.


Há um ano e meio, quando a taxa Selic estava em 11,75% ao ano, só os fundos com taxa de administração abaixo de 2% conseguiam superar os ganhos da poupança para prazos acima de um ano. Hoje, uma carteira que cobre 3% já rende mais que a caderneta, dependendo do prazo da aplicação.


Simulação feita pelo Valor Data mostra que, mesmo considerando-se as projeções de 14,25% para a Selic no fim do ano, os fundos DI com taxa de administração acima de 3% ao ano ainda perdem para a caderneta de poupança no curto prazo. Isso ocorre por causa do imposto de renda maior cobrado no fundo. Pelos cálculos, num prazo de seis meses, o aplicador de um DI receberia 4,18%, para 4,27% da poupança, que é isenta. A projeção considera o imposto de renda regressivo para os fundos de renda fixa - de 22,5% para aplicações de até seis meses; de 20% para mais de seis meses a um ano; de 17,5% de um ano a dois; e de 15% acima de dois anos.


A situação muda quando se olha o longo prazo. Para as aplicações com prazo superior a dois anos, o ganho desses fundos seria de 20,24%, para 18,22% da poupança. Vale lembrar, no entanto, que a simulação considera a Selic sem alterações nesse período, o que pode não acontecer.


Isso quer dizer que, independente da taxa de administração, é um bom negócio trocar a caderneta por um fundo DI? Não é bem assim. Numa carteira que cobre 4% ao ano, a poupança só deixa de ser interessante para investimentos acima de dois anos. Nesse caso, o ganho líquido do fundo seria de 18,59%, para 18,22%.


Mas, nessa história toda, o aplicador deve considerar também que a própria poupança deve ter um rendimento maior. Isso porque a Taxa Referencial (TR), que corrige a aplicação, é calculada com base na rentabilidade média dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) e dos Recibos de Depósito Bancário (RDB), cujas taxas acompanham a alta da Selic. Sobre essa média, chamada de Taxa Básica Financeira (TBF), é aplicado um redutor. Pelas projeções do mercado, a TR de julho deve ficar em 0,22%, para 0,11% de junho, elevando o ganho da poupança para 0,70% no mês. "No início do ano, a poupança não rendia mais que 0,60%", ressalta Felipe Vaz, gerente de investimentos do Banco Real.


A diferença entre o ganho da caderneta de poupança e a rentabilidade dos fundos ainda é muito pequena, diz Marcos Villanova, superintendente executivo da área de investimentos do Bradesco. "Quem é poupador da caderneta não deve mexer em seus investimentos, porque a diferença é muito pequena, mas isso vai mudar se a Selic for para 14% ao ano", diz.


Mas mesmo mais interessantes que a caderneta no longo prazo, o investidor não deve se acomodar com fundos mais caros, diz Rodrigo Menon, sócio da Beta Advisors. "A Selic agora está em alta, mas o mercado projeta queda dos juros a partir do segundo semestre do ano que vem", lembra. "É interessante que o investidor procure desde já alternativas mais baratas", diz Menon, lembrando, no entanto, que é difícil para o pequeno poupador ter acesso a taxas de administração na faixa de 1% em fundos DI. "Mas ele pode recorrer ao Tesouro Direto, onde a concorrência de taxa é maior."


A caderneta perdeu terreno com a alta dos juros e, no caso dos fundos DI, eles ainda podem ser beneficiados pelas taxas melhores oferecidas hoje pelos CDBs, diz Marcia Dessen, sócia da Bankrisk Consultoria e Treinamento. Isso porque, por lei, os fundos referenciados precisam ter 80% de sua carteira em títulos pós-fixados do Tesouro Nacional ou de emissores classificados como de baixo risco, onde entram os CDBs. Para obter retornos maiores, alguns gestores costumam colocar uma pitada desses títulos privados na carteira.


A poupança sempre foi muito procurada pelos investidores mais tradicionais e deve continuar atraindo recursos, diz Fabio Colombo, administrador de investimentos. Ele ressalta, no entanto, que ela é mais indicada para quem tem até R$ 60 mil, limite coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). "Acima desse valor, o poupador começa a correr o risco de crédito da instituição."


No fundo DI, que aplica majoritariamente em títulos públicos pós-fixados, o risco que o investidor corre é o de o governo não honrar o pagamento da dívida, o que é hoje improvável. Além disso, Colombo destaca que o fundo conta com liquidez diária, enquanto que a poupança tem dia certo para sacar os recursos se o aplicador não quiser perder os rendimentos.

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